Arquivos Colunistas - Página 289 De 298 - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco

Colunistas

Cerveja com churrasco: o que já é bom fica ótimo! (Por Rivaldo Neto)

Uma das parcerias mais gratificantes de quando estamos saboreando aquela cerveja é o churrasco. Nos finais de semana, volta e meia estamos a beira de uma churrasqueira  preparando cortes especiais, que vão de uma deliciosa picanha, a uma suculenta costelinha de porco. Que tipo de cerveja devemos experimentar para deixar ainda mais gratificantes esses momentos? A princípio, nós cervejeiros, achamos que as combinações tendem a ser as mais simples, mas podemos entrar em conceitos mais complexos  propiciando que essa experiência fique ainda melhor. Como sabemos o preparo do churrasco envolve outros ingredientes que vai dos molhos, saladas, vinagretes até aquele pãozinho de alho. O ideal é que o start seja dado com rótulos mais leves, menos complexos e intensos como as Pilsens e as Lagers, daí vamos chegando aos mais fortes, estes estilos  equilibram o índice alcoólico da bebida com o teor de gordura do prato. Existem estilos que combinam muito bem carnes assadas na brasa como as Vienna Lager, American Pale Ale, American Amber Ale, Irish Red Ale e Flanders Red Ale. Cortes como maminha, fraldinha e alcatra a harmonização é muitos simples, uma cerveja muito interessante para dar conta do recado perfeitamente é a Camila Camila, da cervejaria Bamberg. Ela é dourada, com o excelente lúpulo Saaz que é floral e condimentado, bem malteada, com 5,0% Vol e tem um final caramelizado e refrescante. Mas se quer ousar mais temos a Burgman Red Ale do estilo Flanders Red Ale, cerveja que se caracteriza por ser azeda (mais ácida que o normal) produzida maioritariamente na Bélgica. Apesar de dividir um ancestral comum com a cerveja Porter, sendo a Flanders bem mais clara.   Tem a coloração avermelhada, com 5,5% Vol e também com aroma de caramelo no final. O caramelo presente nestes estilos de cerveja harmoniza por afinidade com as proteínas e os açúcares caramelizados da carne devido ao fogo da churrasqueira. Como sempre afirmamos que cerveja se harmoniza por aproximação. Uma costela de porco defumada, com uma cerveja com as características a seguir é uma boa pedida.. Pois bem, a dica é a Aecht Schlenkerla Rauchbier. Essa é para quem gosta de sabores complexos. Se trata de um estilo alemão muito tradicional que nasceu na região de Bamberg. No processo de malteação os grãos são secos em fornos a lenha. A fumaça produzida pela madeira “tempera o malte” com as notas defumadas. O sabor do defumado invade a boca dando uma sensação extremamente interessante. É vermelha bem escura, com 5,1%Vol, sem muito amargor, justamente pelo defumo do líquido para não mascarar sua principal característica. Para as linguiças de porco ou frango, principalmente as de porco, o ideal é uma cerveja forte, uma Strong Ale, por exemplo. Se quiser uma experiência verdadeiramente marcante experimente  uma Delirium Tremens, belga, considerada por muitos uma das melhores cervejas do mundo, a famosa cerveja do elefante rosa. Ela é complexa, muito rica em aromas, brilhante, frutada e cítrica, com seus imponentes 8,5%Vol, um verdadeiro deleite para os amantes desse estilo. Chegando na estrela do churrasco, o destaque das carnes vermelhas, a picanha é o corte preferido pela maioria pela sua maciez e seu marcante traço de gordura lateral. Experimente uma cerveja aos estilo Brown Ale. A americana Anchor Brekle's Brown, com 6,0%Vol, avermelhada, espuma bege de boa duração. Aroma de lúpulo cítrico boa dose de malte, refrescante, de corpo leve, com final suave. Boa carbonatação e ótima drinkability. Em um churrasco, as possibilidades de carnes são muitas. Assim como os tipos de cervejas, brevemente voltamos ao assunto para dar outras dicas de como nossos sábado e domingos podem ficar ainda mais divertidos! *Rivaldo Neto (rivaldoneto@outlook.com) é designer e cervejeiro gourmet nas horas vagas

Cerveja com churrasco: o que já é bom fica ótimo! (Por Rivaldo Neto) Read More »

Cerveja com Sushi. Qual a que combina? (Por Rivaldo Neto)

Sushi ou Niguiri, comida japonesa que caiu nas graças dos Pernambucanos, que se baseia numa antiga técnica de conservação da carne de peixe com arroz avinagrado. A forma de como ele é hoje tem em torno de 200 anos. A comida era comercializado na rua, uma espécie de fast-food japonês da antiguidade. Mas é possível harmonizar sushi com cerveja? Como podemos variar os diversos tipos de sushis, sashimis e temakis? Então vamos deixar a sua clássica harmonização com saquê, que também é uma bebida fermentada, e substituí-la por uma boa cerveja. Para quem não tem o hábito de comer um sushi com cerveja é interessante buscar estilos com um paladar mais suave e até porque o prato tem uma delicadeza peculiar, por isso devemos justamente aproximar essa características com cervejas de baixa fermentação como as Pilsens ou Lagers. E que tenham em sua composição uma boa presença de lúpulo, que indiscutivelmente vai combinar muito bem com o wasabi (tempero em forma de uma pastinha verde usado para apimentar os pratos). Mas pode ser também uma cerveja Kolsh, tal designação é exclusiva para um pouco mais de 20 cervejarias localizadas nos arredores da cidade alemã de Colónia. Este estilo passa por um processo de armazenamento mais longo, pois trata-se de uma cerveja com alta fermentação . Tem uma leveza no sabor, mas bem frutada e se destacam por afirmar que usam o melhor do lúpulo alemão (dos gêneros Hallertau, Tettnang, Spalt ou Hersbrucker) e de água bastante leve e se possível beber em uma copo Stange (imagem). Este estilo tem um final doce que pode dar uma boa sensação com o molho shoyo. Uma deliciosa cerveja neste estilo é a Fruh, de cor amarelo ouro, puro malte, com boa formação de espuma, de sabor intenso, mas suave e refrescante com um acabamento seco e lupulado, com 4,8% Vol, uma das melhores do estilo. No mercado nacional temos a Eisenbahn Kölsch produzida com quatro tipos de malte, entre eles o malte de trigo, de corpo leve, coloração dourada e de paladar e amargor baixos, possui aroma levemente frutado e possui os mesmos 4,8%Vol da Fruh. Mas se estamos nos enveredando no mundo da culinária japonesa, porque não entrarmos de vez nesta onda e harmonizarmos com uma cerveja também japonesa, no caso a Sapporo Premium, uma American Lager, levemente lupulada, mas com bom amargor, tem boa espuma no final, levemente doce, dourada e com seus 4,9%Vol. Excelente pedida! As cervejas weiss não ficam de fora. Por serem ácidas têm um lugar cativo nessa harmonização. Especialmente uma witbeer. Um caprichado sunomono misto de atum, peixe branco, salmão e lula, com pepinos é uma ótima pedida para se experimentar com esse estilo. Então indico uma das melhores cervejas que conheço. Produzida pela mesma fabricante da Duvel, a Vedett é considerada uma das melhores witbiers existentes no mundo. Além do trigo, como de costume na Bélgica, sua receita tem coentro e cascas de laranja para dar um sabor cítrico e refrescante. O aroma de ervas é uma característica muito forte desta cerveja. Como de costume, sofre a segunda fermentação na garrafa e não é filtrada, criando uma cerveja extremamente refrescante, saborosa e muito perfumada com coloração amarela e turva e com 4,7%Vol. Mas, se seu estilo preferido não foi citado, não se incomode. Na gastronomia o mais importante é o prazer e a vontade de experimentar novos sabores. Kampai (um brinde em japonês)!   *Rivaldo Neto (rivaldoneto@outlook.com) é designer e cervejeiro gourmet nas horas vagas

Cerveja com Sushi. Qual a que combina? (Por Rivaldo Neto) Read More »

Confira: 6 concursos e 360 vagas em Pernambuco

Estão abertas as inscrições para seis grandes concursos em Pernambuco, que juntos somam 360 vagas. Os candidatos tem poucos dias para realizar o cadastro e fazer o pagamento para participar da concorrência. Confira as oportunidades. Até o dia 9 de outubro -  processo seletivo da Secretaria Executiva de Ressocialização (SERES), que preencherá 181 vagas imediatas. Existem vagas para profissionais de nível médio, técnico e superior, nas áreas de: administrador de empresa, assistente de consultório dentário, advogado, assistente social, engenheiro civil, enfermeiro, farmacêutico, fisioterapeuta, médico, nutricionista, odontólogo, psicólogo, professor de educação física, técnico em enfermagem e terapeuta ocupacional. Os salários são de até R$ 7.514,74. Inscrições e informações completas no site www.institutodarwin.org Com inscrições até o dia 17 de outubro, o Instituto Federal do Sertão Pernambucano (IF Sertão-PE) lançou concurso público para técnicos-administrativos. São 27 vagas para profissionais de nível médio e superior, com salários de até R$ 3.868,21. As vagas são para os municípios de Salgueiro, Floresta, Serra Talhada, Petrolina, Ouricuri e Santa Maria da Boa Vista. Inscrições no site: concurso.ifsertao-pe.edu.br/copese. Mais informações no site: http://www.ifsertao-pe.edu.br/index.php/editais?id=2794   Estão abertas as inscrições para concurso do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE), com 74 oportunidades para concorrentes no ensino médio/técnico e superior, com salários de até R$ 9.114,67. O edital traz vagas para Arquiteto, Arquivista, Engenheiro Elétrico, Engenheiro Civil, Revisor de Texto, Administrador, Técnico em Eletrotécnica, Técnico de laboratório (Eletrotécnica), Técnico de laboratório (Mecânica), Técnico de laboratório (Informática para Internet), Técnico de laboratório (Eletroeletrônica), Técnico de laboratório (Manutenção e Suporte em Informática), Técnico de laboratório (Mecatrônica), Secretário Executivo e Professores de diversas áreas. Para esse processo seletivo foram abertos dois editais, um que tem inscrições encerradas no dia 18 de outubro e o outro no dia 8 de novembro. Confiram os detalhes no site: http://cvest.ifpe.edu.br. Mais informações: concurso@reitoria.ifpe.edu.br ou concurso.docente@reitoria.ifpe.edu.br.   Só vão até o dia 6 de outubro as inscrições para a Secretaria de Administração e Secretaria Estadual de Saúde (SES), que abriu concurso para 11 candidatos de ensino superior nas áreas de Ciências Biológicas/Gestão Ambiental ou Medicina Veterinária, Fonoaudiologia, Enfermagem, Psicologia e Sanitarista, com salários de R$ 3.720. As inscrições acontecem na sede da Secretaria Executiva de Vigilância em Saúde (Rua Dona Maria Augusta Nogueira, 519, Bongi – Recife). Mais informações sobre a seleção no site www.saude.pe.gov.br . Até o dia 10 de outubro estão abertas as inscrições para o concurso da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). As oportunidades são para 63 profissionais de todos os níveis de ensino, com cargos nas áreas de Assistente em Administração, Auxiliar em Administração, Arquivista, Analista de Tecnologia da Informação/área Sistemas, Biólogo, Bibliotecário-Documentalista, Contador, Estatístico, Psicólogo, Auditor, Mestre de Edificações e Infraestrutura, Técnico de Laboratório (áreas: Biologia, Microscopia Eletrônica, Oceanografia, Paleontologia, Topografia), Técnico de Tecnologia da Informação (Governança de TI e Processos, a Segurança da Informação, Sistemas, Suporte ao Usuário, Suporte/Redes), Operador de Câmera de Cinema e TV, Técnico em Contabilidade, Técnico em Eletrônica, Técnico em Som, Confeccionador de Instrumentos Musicais, Técnico em Arquivo, Técnico em Eletroeletrônica,Tradutor e Intérprete de Linguagem de Sinais, Técnico em Assuntos Educacionais, Técnico Desportivo, Tecnólogo/formação: Audiovisual, Tradutor Intérprete: Libras, Engenheiro (áreas Civil, Elétrica e Telecomunicações), Físico, Programador Visual, Pedagogo, Fonoaudiólogo, Músico e Nutricionista. A lotação dos profisisonais será em Caruaru ou em Vitória de Santo Antão e os salários vão até R$ 3.868,21. O cadastro dos concorrentes é através do site: www.covest.com.br. Você pode conferir o edital completo no link: http://www.progepe.ufpe.br/index.php?option=com_content&view=article&id=27&Itemid=114. Até o dia 20 de outubro estão abertas as inscrições para o concurso público do Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE). As oportunidades são para cargos de nível médio e superior e os salários variam de R$ 6.071,97 a R$ 9.962,39. As inscrições acontecem no site: www.cespe.unb.br/concursos/tre_pe_16. O edital completo do concurso e retificação pode ser verificado no site: www.cespe.unb.br/concursos/tre_pe_16

Confira: 6 concursos e 360 vagas em Pernambuco Read More »

Dá para combinar a cerveja com a dieta? (por Rivaldo Neto)

É uma unanimidade dizer que o álcool é um vilão para a dieta alimentar, por ser calórico, cada copo de 300ml tem em média 150 kcal aproximadamente. Isso pode variar de acordo com os insumos que compõem a bebida. Alguns estilos são mais calóricos que outros. Na realidade quanto mais álcool tiver a bebida, mas calórica ela será, mas é preciso fazer um contraponto, a cerveja é mais leve e acessível que muitas bebidas, isso as vezes faz com que seu consumo seja maior, e assim consequentemente, ingerida em maior quantidade que as demais. O exemplo é o seguinte, em uma taça de vinho 200ml , temos 170 kcal. Em um copo de cerveja, daqueles servidos em bares, que são em média com 300 ml, contendo 150 kcal você irá consumir mais facilmente os 6 chopes, e não 6 copos de vinho. Então, o vinho mesmo sendo mais calórico, bebe-se menos. Por ser a bebida mais popular do mundo, a cerveja só perde para a água e o chá (não alcólicas) e no Brasil o consumo da bebida é de 62 litros da bebida por habitante a cada ano. A cerveja é uma bebida que não possui proteínas, sendo produzida através da fermentação de cereais. Geralmente, a cerveja é composta por água, lúpulo e malte de cevada. A grande questão está no que geralmente acompanha a cerveja.Se ingerimos três ou quatro latinhas, termos umas 600 kcal. Na verdade, o que engorda são as comidas que a gente escolhe para acompanhar a cerveja. E quase sempre optamos por coisas ricas em gordura como frituras, pastéis,queijos, linguiças e carnes. Uma boa dica é apostar em acompanhamentos menos calóricos. Como brusqueta, carpáccio e até queijos mais leves, como por exemplo o mussarela de búfula. Infelizmente o mercado nacional, as cervejas light ainda são muito restritas. Se está de dieta, evite consumir ao mesmo tempo alimentos muito salgados, pois eles só aumentarão sua sede e farão você beber mais do que havia planejado. Vejamos as calorias de algumas das marcas de cerveja: A Dos Equis é muito leve, a cerveja de origem mexicana possui “apenas” 68 kcal por copo de 200 ml, o que a torna uma das cervejas menos calóricas no mercado.   A belga Stella Artois é mais antiga que o Brasil, é fabricada há mais de 600 anos, e em sua garrafa de 255ml contém 122kcal. Nascida em 1759 na Irlanda, a cerveja Guinness é conhecida por seu sabor forte e pouco adocicado. Uma lata padrão de 440 ml da cerveja contém 159 kcal.   A americana Samuel Adams, é uma das poucas cervejas light que encontramos no mercado nacional, e possui 119 Kcal. E a clássica Bud Light, líder de vendas no mercado americano contém, 110 Kcal. Tudo também vai depender do seu metabolismo e dos seus hábitos de vida. O mais recomendado é procurar um acompanhamento nutricional para fazer uma dieta balanceada e iniciar uma atividade física regular. Dessa forma você vai conseguir perder peso e ter uma vida saudável, sem precisar abrir mão da sua cervejinha! Graças a Deus!   *Rivaldo Neto (rivaldoneto@outlook.com) é designer e cervejeiro gourmet nas horas vagas

Dá para combinar a cerveja com a dieta? (por Rivaldo Neto) Read More »

Por que os médicos escrevem? Parte II (Por Paulo Caldas)

Dentre os renomados vultos da Literatura, são incontáveis os de formação nas áreas do Direito, da Filosofia, da Política e outras profissões cujo cotidiano os motiva ao hábito da escrita. Mas e os médicos? Por ter uma vida a lidar com as mazelas alheias, o que os estimula o apego às letras? Como definir o surgimento do genial Tchekhov, de um João Guimarães Rosa, Conan Doyle, Jorge de Lima e tantos mais que se tornaria cansativo citar? Qual então o motivo desse fascínio pelo ato de escrever? Será a chamada vocação ou o estímulo vem do contato com o humano? E a especialidade médica, contribui para essa tendência? Vejamos pois o que dizem: Gentil Porto "Sinto-me à vontade para falar sobre o meu outro lado ou então do outro lado do birô. De um lado estou como médico ouvindo as queixas do cliente e sem a preocupação açodada – quase onipresente nos dias de hoje – da requisição  da malfazeja ‘bateria’ de exames. À moda antiga, ainda acredito no velho axioma de ‘curar se possível, amenizar a dor frequentemente... Mas confortar sempre’. Do outro lado está o escritor-ouvindo, lendo e escrevendo. Diz Rostand Paraíso que a ‘Literatura sempre exerceu sobre os médicos uma inegável paixão’. No meu caso, ainda menino, decidi ser médico embora o outro lado estivesse sempre presente. Talvez influência do meu avô paterno leitor impenitente, do meu avô materno tabelião e poeta da cidade de Pesqueira, sem esquecer o meu pai autodidata que costumava escrever para os jornais de Caruaru, cidade da minha infância e adolescência. Como exercício de memória poderia citar grandes nomes da literatura que eram médicos, mas se tornaria repetitivo. Por aqui, a Academia Pernambucana de Letras tem vários médicos e a Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – Regional PE, é uma das mais atuantes do país”. Gentil tem publicado, entre outros, os títulos: Diário de Bordo, Cartas, crônicas e outras coisas, Antônio Gasolina – Romance, Vento Norte– Romance, Porto Gentil – Crônicas, E o Tempo Passou– Crônicas. Rostand Paraíso “Não é de hoje a paixão dos médicos pela Literatura. Isso se explica pelo farto material que dispõe dada a convivência com o sofrimento e a morte. E sabemos que o sofrimento propicia à Literatura. Aliás, Orígenes Lessa dizia ‘Sem sofrimento não há Literatura’. O professor Rui João Marques afirmava ‘o médico conhece o homem, suas reações diante do cotidiano e do imprevisto, as singularidades e aberrações, temas para romancistas e poetas’. No meu caso diria que o desejo de escrever me veio de repente, sem uma razão aparente. Desde a juventude, gostei de ler. Revistas, as poucas que tínhamos então (O Malho, Fon-Fon, o Tico-Tico, a Careta, o Eu-Sei- Tudo, a Scena Muda), os almanaques do Capivarol, do Biotônico Fontoura, o da Saúde da Mulher e livros, principalmente os policiais e os de aventuras (Júlio Verne, Dumas, Conan Doyle, Agatha Christie, Edgar Wallace), histórias que me deslumbravam pelos desenhos soberbos (Flash Gordon, Jim das Selvas, Príncipe Valente, Agente Secreto X-9) e textos inteligentes, elaborados por escritores já famosos. Essa paixão pelos quadrinhos cresceria e me levaria, nas minhas viagens, a visitar editoras italianas (em Roma e em Gênova), especializadas em reedições de luxo das histórias clássicas, e, criei uma grande biblioteca sobre elas. Nos poucos momentos que a atividade médica me permitia, eu que só escrevia roteiros de aulas e artigos para congressos, comecei, sem maiores pretensões, a rabiscar sobre os meus heróis dos comics. Escritos mantidos inéditos com receio do que pensariam meus alunos e clientes. Alguém, no entanto, me dedurou e, em 1989, o Jornal do Commercio publicou Quadrinhos, paixão de toda uma vida, com fotos minhas e da coleção de gibis. Foi surpresa para mim a boa repercussão e assim ousei publicar aqueles artigos engavetados. Aproveitando os momentos disponíveis comecei a escrever sobre outros temas, e lembrando Conan Doyle, criador das histórias de Sherlock Holmes e os contos de ringue, de piratas e de mistério, que o tornariam célebre. Estimulado pelos amigos, comecei a pôr no papel lembranças dos tempos da faculdade, e, como se estivesse numa máquina do tempo, fui ter a um passado mais distante, às brincadeiras de infância, aos velhos carnavais e tanta coisa mais. Daí, como se tivesse engolido uma “pílula-escrevente”, no começo escrevi febrilmente depois, de uma maneira mais calma, mas sem parar. Foram, ao todo, 15 livros, quase todos sobre o Recife e apenas um – não podia faltar – sobre os quadrinhos (A magia dos quadrinhos)”, concluiu. Dentre os títulos publicados por Rostand, estão: Livros, livreiros e livrarias, O Recife e a Segunda Guerra, A indefinível cor do tempo, Tantas estórias a contar..., e Esses ingleses...

Por que os médicos escrevem? Parte II (Por Paulo Caldas) Read More »

A cerveja que combina com a culinária nordestina (por Rivaldo Neto)

Nordeste, praias, calor... e uma gastronomia de dar água na boca. Da galinha à cabidela a uma buchada, passando por um sarapatel, uma peixada e uma caldeirada, são tantas iguarias que a cultura nordestina proporciona. O que podemos incluir para acompanhar nossos pratos com cervejas artesanais, importadas e também as tipicamente pernambucanas que estão indo muito bem obrigado. Começaremos por uma galinha à cabidela que é um excelente prato tradicional da cozinha colonial do Brasil. O sangue da ave é coletado no abate e fica avinagrado no preparo, esse processo proporciona a coloração escura do molho. Também chamado de “Galinha ao Molho Pardo”. Difícil realmente é não gostar. É servido basicamente com arroz, farofa e feijão verde. Para acompanhar a dica é uma cerveja escura e leve para se degustar. Opte por uma Brooklyn Brown Ale que tem uma coloração marrom, mas límpida, frutada e com um amargor muito equilibrado e com 5,6%Vol, sendo também leve e adocicada (com menos álcool que as tradicionais Brow Ale) bom aroma causando assim uma refrescância gratificante combinando com o molho. Outro prato que contém sangue no seu preparo é o sarapatel, guisado de sangue, tripas e miúdos de porco ou carneiro ou bode (até mesmo de galinha), bem condimentado. Possui sabor mais intenso que a galinha cabidela e também bem mais gorduroso. Uma curiosidade também é que em Portugal existe uma prato semelhante chamado Sarrabulho. Com uma dica, se você gostar de um sarapatel apimentando opte por uma cerveja com amargor intenso. A cervejaria pernambucana Debron Bier, lançou uma excelente IPA com 6,8%vol e 70 IBU (índice que mede o grau de amargor da bebida) combina perfeitamente. E quanto mais picante for a comida, mais lupulada e amarga deve ser a cerveja. O lúpulo consegue combinar bem o efeito das pimentas, permitindo que você consiga sentir melhor os sabores tanto do prato quanto da bebida. Partindo para uma Buchada, que é feita com as entranhas (rins, figado e vísceras) de bode originalmente, mas também é feita de boi ou porco. As partes são lavadas, fervidas, cortadas, temperadas e cozidas em bolsas (que medem cerca de 8 cm de diâmetro), feitas com o próprio estômago do animal e acompanha arroz um pirão feito do molho das carnes cozidas. Por ser um prato mais “pesado” experimente comer com uma American Lager, como a Serra Malte, com 6,0%Vol, e possui uma cor forte, baixa fermentação, amargor acentuado, composto de extrato primitivo extra. Com boa quantidade de lúpulo essa cerveja harmoniza muito bem com pratos mais condimentados como é esse o caso.     Mas se vamos comer frutos do mar como uma boa peixada pernambucana, onde o peixe é cozido com verduras e legumes ou uma caldeirada , contendo camarão, sururu, marisco, lagosta e outros frutos do mar, podemos harmonizar com os estilos witbier ou munich helles. A The White IPA, da cervejaria Dortmund é uma excelente opção. Muito refrescante, cítrica na medida certa, muito aroma, mas nada exagerado, com 50 IBU, com dry-hopping de lúpulo cascade e 4,5%Vol. E pra Munich Hells ou também chamada Münchner Hell, que significa Clara de Munique, temos a da pernambucana cervejaria Ekäut, perfeita para acompanhar esses tipos de pratos, com 4,7%Vol, refrescante, leve e translúcida.    Não é a toa que o consumo de cerveja no nordeste foi impulsionado em 40% nos últimos três anos, tanto pela efervescência do mercado, quanto pela clima que proporciona o consumo da bebida, e nada como também ter uma gastronomia que ajude! Alguém duvida?! MUNDO CERVEJEIRO Grand Mercure Summerville promove fins de semana dedicados à cerveja Sempre inovando no quesito entretenimento, esportes e lazer para todas as idades, o Grand Mercure Summerville Resort - localizado em Muro Alto, Porto de Galinhas (PE) - investe em finais de semana temáticos com programações especiais, exclusivas para os hóspedes, no seu “Pub Sport Bar”. O espaço, que tem inspiração inglesa e foi concebido em parceria com a Eisenbahn, marca de cerveja da Brasil Kirin, promove, nos dias 23 e 30 de setembro, atrações destinadas exclusivamente para os adultos envolvendo experiências sensoriais com a popular bebida alcoólica produzida a partir da fermentação de cereais. Dentre os assuntos abordados nos workshops promovidos pelos Mestres Cervejeiros especialistas da marca Brasil Kirin, Christian Teixeira de Carvalho e Guilherme de Oliveira Gusmão, estarão “Origem e história da cerveja”, “Descrição das famílias e estilos de cerveja”, “Caracterização dos principais ingredientes utilizados na fabricação de cerveja” e “Explicação de cada etapa do processo de fabricação de cerveja”. Além das aulas, os participantes vão poder fazer degustação de diferentes rótulos assinados pela brand. Contato para reservas: (81) 3302-4446 *Rivaldo Neto (rivaldoneto@outlook.com) é designer e cervejeiro gourmet nas horas vagas

A cerveja que combina com a culinária nordestina (por Rivaldo Neto) Read More »

Inflação e desemprego: duas maldições

Inflação e desemprego são terríveis males econômicos quando vistos individualmente. Um ou outro já derrotaram muitos candidatos a altos cargos eletivos em todo o mundo. São, por conseguinte, antipopulares e implacáveis com os governantes que os geraram ou que com eles tergiversaram. Todavia, mais estragos fazem à economia quando se apresentam conjuntamente, de mãos dadas. Infelizmente esse é o caso brasileiro. E Pernambuco não é exceção. Esse quadro, típico do que os economistas denominam de estagflação, ou seja, a combinação perversa de estagnação (na verdade recessão) com aumento persistente, em patamar elevado, do nível geral de preços, tem sido uma das características mais marcantes da atual crise econômica brasileira, a mais profunda e longa desde a década dos 30 do século passado. É fato que os preços estão crescendo menos rapidamente, mas isso não nos conforta dado que não apenas a inflação se situa em nível alto, em torno de 8,74% nos últimos 12 meses até julho, mas que também vem perdendo folego muito lentamente. O custo social é elevado, comprometendo a qualidade de vida de milhões de brasileiros. O desemprego retira renda nominal das pessoas que perderam seus postos de trabalho enquanto a inflação retira renda real (perda de poder de compra) de todos os brasileiros, quer estejam ou não ocupados. Isso alimenta um círculo vicioso segundo o qual mais desemprego e menos renda conduzem à queda na massa salarial que leva a menos consumo, menos produção e a mais perdas de postos de trabalho. Os dados para inflação e desemprego são inequívocos. O IPCA-15, para o Brasil como um todo, apontou uma inflação de 0,45% em agosto último, inferior a de julho (0,54%), mas ainda maior do que a observada no mesmo período do ano passado (0,43%). Isso conduziu a uma inflação acumulada em 12 meses até meado de agosto de 8,95% e a acumulada no ano a 5,66%. Os mesmos dados para o Recife que teve em agosto uma inflação três vezes menor (0,15%) do que a média nacional (0,45%) foram, respectivamente, 8,51% e 5,69%. Observe que para este ano no Recife a inflação acumulada até meados de agosto está acima da média do País. Alimentos e bebidas são os principais vilões. A taxa de desemprego brasileira no segundo trimestre de 2016 subiu para 11,3%, alcançando cerca de 13,4 milhões de pessoas. Entre estas estão as que perderam o emprego e que estão tentando reconquistar uma ocupação, e aquelas que entraram pela primeira vez ou que reentraram no mercado de trabalho. Entre as macrorregiões do País o Nordeste viu a taxa de desemprego elevar-se de 10,3% para 13,2% em relação às observadas no segundo trimestre de 2015. Em Pernambuco, a taxa alcançou 14%, a terceira maior do País. Para o Brasil e suas macrorregiões as taxas são maiores entre as mulheres do que entre os homens e também mais alta para os jovens, especialmente entre os que situam na faixa etária entre 14 e 24 anos de idade, atingindo com muita força aqueles que têm ensino médio completo ou equivalente. Portanto, o desemprego atinge as pessoas de forma diferente, por idade, sexo e grau de instrução, penalizando os mais vulneráveis, especialmente os jovens, as mulheres e aqueles com pouca educação. Portanto, Pernambuco e Recife apresentaram até o primeiro semestre deste ano dois números malditos e preocupantes: desemprego de 14% e inflação de 8,51%, respectivamente. O desemprego não é maior porque o País está vivenciando fenômeno demográfico que tem reduzido o crescimento do número de pessoas buscando emprego. Com menos filhos por mulher em idade reprodutiva (1,7 em 2016, inferior à necessária para manter a população constante) a taxa de crescimento da população brasileira caiu de 1,1% ao ano, entre 2004 e 2009, para 0,9% entre 2009 e 2016. Entre esses dois períodos a taxa de crescimento da força de trabalho reduziu-se de 1,9% para 1%. Como está crescendo menos, os empregos disponíveis vão encontrar menos jovens a sua procura. Contudo, esta janela de oportunidade vai se fechar em breve. Se esse fenômeno inexistisse, as taxas de desemprego agora enfrentadas pelo País seriam ainda maiores. A demografia, e não o Governo, está evitando que o drama do desemprego seja ainda maior. Enfrentar preços altos e crescentes junto com desemprego elevado e seletivo é desafio para políticos, governos e sociedade. O que os políticos que são candidatos agora e em 2018 têm a dizer sobre isso?

Inflação e desemprego: duas maldições Read More »

Pernambuco depois da crise

A julgar pelos indicadores que vão sendo publicados pela imprensa nacional, a crise está começando a ficar para trás embora muito ainda precisará ser feito para que se dê a retomada do crescimento econômico. O governo federal tem diante de si a tarefa gigante de promover o ajuste fiscal indispensável à retomada da confiança dos agentes econômicos para que se disponham a voltar a investir e a consumir, fazendo com que a roda da economia volte a girar novamente. Acredito que mais cedo ou mais tarde esse ajuste fiscal se fará e o ciclo virtuoso do crescimento será retomado. A análise da série histórica dos índices de desempenho do PIB no País, desde 1900 quando as medições começaram a ser feitas, evidencia isso: após cada recessão há uma retomada do crescimento que atinge os patamares de antes da crise (no caso recente, de 2,5 a 3% de crescimento ao ano). No que diz respeito a Pernambuco, após o ciclo de investimentos estruturadores do início do Século 21, a desaceleração já estava de certa forma contratada. Acontece que, junto com essa queda projetada, veio o coice da crise nacional que terminou por afetar o Estado de maneira muito forte. Tão forte que nós da TGI entendemos ser necessário retomar a Pesquisa Empresas & Empresários realizada desde 1990 com inúmeros levantamentos, seminários, relatórios e três livros básicos publicados: Pernambuco Afortunado (passado), Pernambuco Competitivo (presente) e Pernambuco Desafiado (futuro). Acontece que depois da dupla crise (do final dos investimentos estruturadores e da recessão da economia nacional) o futuro de Pernambuco mudou e precisa ser revisitado. Daí, a necessidade de dar prosseguimento ao estudo dos setores dinâmicos da economia pernambucana pesquisados e publicados no livro Pernambuco Competitivo: (1) Sucroalcooleiro; (2) Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC); (3) Turismo e Cultura; (4) Metalmecânico; (5) Varejo Moderno; (6) Moda e Confecção; (7) Logística; (8) Construção Civil; (9) Fruticultura e Vitivinicultura; e (10) Serviços Modernos. Além do Automotivo e do Petroquímico que vieram depois. Ao caso atual de Pernambuco aplica-se com propriedade a frase do poeta francês Paul Valéry: “O problema do nosso tempo é que o futuro não é mais o que costumava ser”.

Pernambuco depois da crise Read More »

Sobre coragem

Medo de tomar decisões todos temos. Mas coragem vale a pena. Lembro daquela disputa de pênaltis nos jogos internos do Colégio Atual. O ano era 1990. Éramos 8ª série. Nem sei como chama isso hoje. Acho que é “nono ano”. Ninguém quis bater o último. “Deixa que eu bato”, gritei. A perna tremia. Mas fui lá e... Se você acha essa decisão fácil é porque nunca jogou uma partida na quadra do colégio repleta de gente, estando ali todos os seus amigos, professores, paqueras, familiares e adversários. Aos 15 anos, meu universo era aquele. Minha decisão, portanto, era do tamanho do meu mundo. Talvez a mais importante por mim já tomada, até aquele momento. Quantas bolas na marca do pênalti nos deparamos ao longo da vida? Ter outro filho. Abrir aquele negócio. Mudar de endereço. Convidá-la ou não para jantar. Fazer aquele mestrado em outro país. Entrar naquele avião. Terminar aquela sociedade. Parar de fumar. Fazer aquela cirurgia. Mudar de profissão. Morar sozinho. A vida requer coragem. Se não tomarmos decisões importantes nessa vida, em qual vida tomaremos? Eu não tenho lá tanta certeza de que haverá outra chance. O importante é ser quem realmente somos. Ou você quer passar o resto da vida sendo quem as pessoas querem que você seja? Puxa, acabo de me dar conta que este é um texto de autoajuda. Daqueles que são vendidos em livraria de aeroporto. Quem sabe não ganhe um dinheirinho com isso. Dizem que a literatura mais frutífera é essa. Mas a tentativa era falar sobre vida. Graciliano Ramos dizia que para escrever você tem que fazer igual às lavadeiras de Alagoas, que contorcem, esfregam e batem a roupa sobre a pedra, dezenas e dezenas de vezes, até atingir o ponto ideal. Aqui parece que contorci pouco, porque me sai um texto de autoajuda, ora bolas! O intuito era falar sobre essa coisa que acontece entre o dia em que você nasce e o dia em que você morre. Felicidade era sobre o que tentava escrever. Mas lembrei que até para ser feliz é preciso tomar decisões. Para ser feliz é preciso ter coragem. Não conheço covarde feliz. Abandonar tudo aquilo que te põe para baixo ou que te tira o sagrado sono. Livrar-se de tudo o que faz mal à saúde. Afastar-se de quem te arranca a autoestima. Mudar hábitos que te prejudicam. Largar coisas e pessoas que te diminuem. Tudo isso requer coragem. São bolas na marca do pênalti que precisam ser chutadas. Há decisão mais corajosa, por exemplo, do que resolver ter hábitos simples na vida? No mundo do consumo considero-a revolucionária. Daquela que pode nos libertar das armadilhas mundanas. Lembro de conversa que tive com meu pai. Um médico bem-sucedido que recebeu o convite de um partido político para concorrer a cargo parlamentar. Pronto, a bola na marca do pênalti. O cabra aperreado para decidir. Abandonar uma carreira bem-sucedida para entrar para a política? Quantas pessoas já se depararam com situações análogas? Aparentemente, errou meu pai. Elegeu-se vereador e perdeu a clientela. Mais tarde, os mesmos “parceiros” que fizeram o convite fritaram o coitado. Assim é a política. Assim é a vida. Ora peixe-vivo, ora peixe-frito. Mas meu pai não se arrependeu nenhum dia da decisão que tomou. Seu sonho era a política. Sonho realizado. Ah! A propósito daquele pênalti no colégio, meti a bola na trave. Ter coragem também é isso. Tomar decisões e errar. Mas, quer saber? Não me arrependo nem um segundo. Jamais me arrependerei da coragem que tive.

Sobre coragem Read More »

A última do português (por Joca Souza Leão)

Antigamente, as piadas eram de português, Juquinha e papagaio. Português burro, Juquinha safo e papagaio irreverente. Juquinha era um garoto esperto da idade da gente, suponho, porque ainda estudava com professora e não com professor como os meninos mais velhos do ginásio. “Quem desenhou isso aqui?” – a professora pergunta por perguntar, pois já sabia quem tinha desenhado o grande pênis no quadro-negro. “Vão todos para o recreio. Menos Juquinha!” – diz ela, trancando a porta da sala de aula. “Dessa vez, ele tá ferrado” – pensam os colegas. Passado algum tempo, abre-se a porta e sai Juquinha todo prosa, atacando a braguilha: “Nada como uma boa propaganda.” O “currupaco, paco” pontuava a fala do irreverente e sacana papagaio de anedota. Brasileiríssimo. Tanto latia, imitando cachorro pra afugentar ladrão de galinha (bons tempos, aqueles, em que ladrões roubavam galinhas), quanto imitava a fala da empregada assediada pelo patrão, para denunciá-lo à esposa ameaçada de traição. E a última de português, pá, é ganhar dinheiro da gente, os brasileiros sabidos das piadas de antigamente. Seguinte. Os portugueses, que não são burros nem nada, preservaram suas cidades. Não uma ou outra, mas todas. Preservaram a história, os monumentos, casas, aldeias, ruas e becos. Preservaram sua identidade. Lá, há o que ver. Aqui, nós, os remediados, moramos empoleirados em edifícios sem graça e os endinheirados vivem confinados em condomínios, ameaçados pela violência, resultante da brutal desigualdade social. Lá, moramos no primeiro andar de um sobrado. Compramos frutas e verduras na quitanda da esquina. Hoje, quem tem uma graninha, não precisa nem ser muita, prefere ter uma casinha em Portugal a uma casa de campo ou de praia por aqui. Se, nas férias, em vez de subir as Ruças (subir as “russas” também é bom, mas é outra coisa), você decidir subir para Montesinho, em Trás-os-montes, Norte de Portugal, vai gastar menos do que indo pra Gravatá, pá! Em ’78, voltando para o Brasil depois de quatro anos em Londres, pensei ficar em Portugal. Portugal recém-saído da Revolução dos Cravos. Tudo era efervescência política e intelectual. Fim do salazarismo e libertação das colônias. Se tivesse encontrado com meu amigo Duda Guennes, que não estava em casa porque tinha viajado de férias, talvez tivesse ficado. A vida, por certo, teria sido outra. Eu nem estaria aqui pra contar. E, no final das contas, sabe lá se teria sido melhor ou pior! Sabe lá, pá!

A última do português (por Joca Souza Leão) Read More »