Rafael Dantas, Autor em Revista Algomais - a revista de Pernambuco - Página 433 de 435

Rafael Dantas

Rafael Dantas

Brilho Feminino

Ana Cecília Santos Leal é um dos destaques do nosso mundo social. Hoje, está dividida entre o Recife e São Paulo, mas mantém sua atividade empresarial no Recife, junto com a educação dos filhos Pedro, Antônio e Júlia. Durante muito tempo comandou o Club Du Vin, de tão boas lembranças, e agora está à frente da representação do designer de joias Antônio Berardo e do espaço infantil Pé de Moleque. É também uma figura elegante e simpática, muito querida pelos amigos. A nova criação de César Santos César Santos, o chef pernambucano que é referência na gastronomia nacional, comemora os 23 anos do seu restaurante Oficina do Sabor, em Olinda, lançando um novo Prato da Boa Lembrança, usando frutos do mar. É um dos espaços que se tornou visita obrigatória dos turistas que visitam nosso Estado. Sem jatinho Nas suas constantes idas a Brasília, em busca de recursos para o Estado, Paulo Câmara utiliza voos de carreira, jatinho só em ocasiões especiais, em que se vê obrigado a viajar de urgência. Na maioria das idas ao interior, vai, com seus assessores de van. Nunca de helicóptero, que o governador confessa ter medo. Construção A rede internacional de materiais de construção Leroy Merlin, que tem 33 lojas no Brasil, faz prospecção para abrir uma filial no Recife, uma das três que projeta para nossa região. Raquel Lyra será candidata Raquel Lyra continua fazendo um elogiadíssimo trabalho como presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa, enquanto se movimenta nos bastidores para ser candidata a prefeita de Caruaru. Vai disputar o pleito, preferencialmente pelo PSB, mas pode optar por outra legenda, caso não seja a escolhida pelo seu partido. Futebol O governo do Estado já decidiu que o programa Todos com a Nota, que distribuía ingressos para jogos do Campeonato Pernambucano, acabou definitivamente. Trânsito Os acidentes automobilísticos já são a quinta causa de morte no Brasil, mais que a marca mundial, onde está em nono lugar. E outros países, como a África do Sul, Tailândia e Rússia têm problemas com o grande número de acidentes com motos. Internacional Gustavo Krause confessa que o direito internacional foi a matéria que mais o atraiu na Faculdade de Direito do Recife. E brinca: "é o único ramo do Direito que conheço."

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CADÊ OS OVOS DO BRIGADEIRO?

O brigadeiro Eduardo Gomes foi um brilhante cidadão brasileiro. Entrou na Segunda Guerra Mundial, saiu herói e depois foi por duas vezes candidato a presidente do Brasil. Perdeu primeiro para Eurico Gaspar Dutra e depois para Getúlio Vargas. Mesmo sendo reconhecido por todos como do bem, de grande espírito público, combatente das mazelas sociais e amante da liberdade, não fez sucesso na política. Bem diferente da carreira militar, onde está inclusive carimbado como Patrono da Aeronáutica. Viveu tomando conta da mãe viúva e morreu aos 84 anos. Um metro e 75 de altura, pesando menos de 70 quilos, musculoso, nariz afilado, boca pequena, cabelo arrumado, ele era daquele tipo que nos anos 70 as moças chamavam de “pão”. Muito criticado como orador, mas tão festejado pela beleza, que a mulherada cantava: “Vote no brigadeiro. Ele é bonito e solteiro.” E cadê os ovos? Ou colhões, como dizem os desbocados? Ninguém nunca abriu as pernas dele para confirmar, mas o Brasil inteiro dizia que não tinha: havia perdido na explosão de uma granada. Restou ao nosso herói a homenagem feita com o famoso doce “brigadeiro”. O doce ganhou esse nome porque, como o brigadeiro Eduardo Gomes, não contém ovos. LIGADO EM PERNAMBUCO Quando o estudante de direito Demócrito de Souza Filho foi assassinado por motivação política, na Praça do Diário, a família dele recebeu um telegrama do brigadeiro Eduardo Gomes com a frase de Victor Hugo: “Quem morre pela liberdade renasce para a eternidade.” O BOI VIRA BIFE Ele está pronto para o abate quando pesa 450 quilos. Para não morrer estressado, o bicho é levado por um caminho arborizado num pasto de vacas lésbicas. O boi come e bebe água até ficar bem relaxado. Depois leva choques elétricos e um disparo na nuca. É morte de gado! FELICIDADE APRENDIDA A pesquisa durou 15 anos. Depois de 1.600 estudos, uma universidade francesa está soltando o resultado: você pensa na felicidade, afugenta tudo que de ruim vier pra sua cabeça e pode partir para o abraço. Felicidade é uma questão de prática: exercite e seja feliz.

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Por que mudar os nomes das ruas?

Como eram lindos os nomes das ruas da minha infância”..., confidenciava o poeta Manuel Bandeira, enquanto o poeta e compositor Antônio Maria, numa de suas crises de banzo da terra pernambucana, cantava: “Rua antiga da Harmonia, da Amizade, da Saudade, da União... são lembranças noite e dia...”. Os nomes das ruas e demais logradouros de uma cidade por vezes se perpetuam através dos séculos, como acontece com cidades portuguesas, de Lisboa, Porto ou Évora... Mas entre nós, só para atender a modismos e aos políticos de plantão, estão sempre a mudar designações tradicionais: Cais do Apolo, para Avenida Martin Luther King; Estrada da Imbiribeira, para General Mascarenhas de Morais; Estrada do Brejo, para Vereador Otacílio Azevedo; Travessa do Gasômetro, para Rua Lambari; Rua Formosa, para Conde da Boa Vista; Rua dos Sete Pecados Mortais, para Tobias Barreto; Rua do Crespo, para Primeiro de Março; Rua Lírica, para Visconde de Uruguai; Travessa João Francisco, para Cassimiro de Abreu; Beco do Quiabo, para Eurico Chaves; Beco da Facada, para Guimarães Peixoto, numa sucessão de contínuas mudanças. Nesta cidade de Santo Antônio do Recife – “Ingrata para os da terra, boa para os que não são”–, ainda conserva algumas ruas que, como nos engenhos de Ascenso Ferreira, só os nomes nos fazem sonhar: da Concórdia, da União, da Saudade, do Sossego, da Amizade, Nova, da Hora, do Progresso, Imperial, Real da Torre, Real do Poço, Flor de Santana, Direita, Velha, da Glória, da Alegria, dos Prazeres, dos Aflitos, das Graças, das Flores, da Praia, das Calçadas, do Padre Muniz, do Dique, do Porão, dos Pescadores, da Carioca, do Marroquim, do Rangel, do Observatório, do Arsenal de Guerra, da Praia, da Congregação, da Matriz, do Hospício, do Aragão, do Veras, Estreita e Larga do Rosário, do Livramento, do Fogo, das Águas Verdes, do Chora Menino, da Aurora, do Sol, da Fundição, do Futuro, das Ninfas, do Veiga, da Matriz, dos Artistas, do Lima, do Pombal, do Padre Inglês, do Cupim, do Encanamento, das Ubaias, numa sequência de nomes que a voragem do “progresso” ainda não corrompeu. Nos dias atuais, eis que um forte movimento se faz presente em favor de acrescer nomes de certas figuras às tradicionais denominações de nossas ruas e avenidas. Neste sentido, a Lei Orgânica do Município, que em seu artigo 164, estabelece que seja obrigatoriamente ouvido o Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano quando da mudança de qualquer nome de rua, praça ou avenida da cidade do Recife, vem sendo atropelada pelos “Senhores Vereadores”. Fazendo ista grossa para tal dispositivo, contrariando formalmente o que determina a Lei Orgânica do Município do Recife, os chamados “representantes do povo” ensaiam agora o expediente de acrescer aos nomes tradicionais, novas denominações que nada têm a ver com a consagrada toponímia da cidade do Recife. Tal expediente teve início com a mudança da denominação do Aeroporto dos Guararapes, que, como num passe de mágica, recebeu o adendo de Gilberto Freyre, seguindo-se da Avenida Norte, hoje acrescida com o nome do Governador Miguel Arraes, e, mais recentemente, a antiga Estrada de Beberibe que veio a ser Avenida Beberibe Santa Cruz Futebol Clube! E o expediente não parou por aí... Já se encontra em pauta a mudança da Praça do Arsenal da Marinha agora acrescentada com o nome do passista amazonense Nascimento do Passo; a mudança do tradicional Largo dos Coelhos, com o nome acrescido do cantor Reginaldo Rossi... De quebra, teremos a Estrada Velha do Bongi que já tem o seu nome encomendado (!) Com tais mudanças propostas pelos nossos vereadores, logo mais teremos dezenas de tradicionais nomes de ruas e avenidas do nosso Recife, consagrados por séculos pela toponímia popular, mudados para “doutor ou vereador fulano de tal”... Tudo como previra o poeta Manuel Bandeira em 1925! Pelo andar da carruagem, a canção de Alceu Valença e Vicente Barreto, não mais contará em seus versos com o tempo presente, mas no tempo passado, por obra e graça daqueles que hoje se intitulam “fiéis representantes do Povo do Recife”. Na Madalena revi teu nome/Na Boa Vista quis te encontrar/Rua do Sol, da Boa Hora/Rua da Aurora, vou caminhar /Rua das Ninfas, Matriz, Saudade/Na Soledade de quem passou/Rua Benfica, Boa Viagem/Na Piedade, tanta dor/Pelas ruas que andei, procurei/Procurei, procurei... te encontrar/Pelas ruas que andei, procurei/Procurei, procurei te encontrar.

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Lebret e o Recife

O padre dominicano Louis Joseph Lebret realizou um Estudo sobre Desenvolvimento e Implantação de Indústrias Interessando a Pernambuco e ao Nordeste, que foi publicado sobre a forma de livro, em 1955, pela então Comissão de Desenvolvimento de Pernambuco (Codepe). Um dos líderes do movimento Economia e Humanismo, Lebret lançava um olhar humano e cristão sobre o debate político-ideológico entre os adeptos do capitalismo e os do socialismo, muito presente na década dos 50 como reflexo da Guerra Fria e dos rumos do desenvolvimento econômico no mundo que emergiu após o final da Segunda Guerra Mundial. A concepção de Lebret repousava na noção de organização do espaço ou de gestão do território dentro da tradição francesa de Aménagement Territoire. A sugestão de Lebret era fortalecer uma rede de cidades tanto no entorno mais próximo quanto longínquo do Recife para filtrar ou mitigar as migrações para a capital de forma a evitar que a cidade atingisse a “monstruosidade de um milhão de habitantes” (p.94). Para o Recife em si Lebret tinha propostas para a economia e para a organização urbana e colocava o porto como estratégico para o desenvolvimento da cidade. Lebret argumentava que o Porto do Recife teria que se expandir para o sul, limitado que estava a leste pela cidade e ao norte pela Marinha de Guerra (Escola de Aprendizes Marinheiros). O porto seria de cabotagem, pois não teria condições de receber grandes navios e deveria se expandir ao sul, na direção da bacia do Pina, onde proximamente existia um terreno favorável para acolher um estaleiro naval, tanques de combustíveis e possivelmente uma refinaria. Essa área identificada por Lebret no mapa que acompanha o estudo se situaria hoje por trás do Cais José Estelita, incluindo o Cabanga, território objeto de conflitos de interesse e de polêmicas urbanísticas que tem envolvido amplos setores da opinião pública recifense. Lebret concebia Recife então como uma cidade que deveria se industrializar, inclusive acolhendo empreendimentos pesados como uma refinaria. Essa concepção, por certo, seria hoje objeto de grande questionamento e de severas críticas por planejadores urbanos. Lebret também tinha uma preocupação com a mobilidade pois queria evitar que os trabalhadores se deslocassem grandes distâncias para chegarem ao local de trabalho e, por isso, recomendava que as áreas industriais deveriam ser construídas próximas das residenciais, constatando que no Recife “a descontinuidade é muito grande entre os locais de habitação e de trabalho da população operária” (p.95). A questão da mobilidade já era, portanto, abordada por ele. Sugere assim construir grandes anéis circulares estendendo-os até Olinda até encontrar “a grande estrada” que vai para o norte e que se conecta com a que “vai para o sul”, via de grande densidade de tráfego pela qual rodariam rápidos “trolley-bus” em faixas de 40 metros de largura. Essa era a antevisão de uma Agamenon Magalhães. Assim, Lebret argumenta que a cidade seria descongestionada “porque, de outro modo, se chegaria a uma circulação impossível com tais engarrafamentos por toda parte, que qualquer movimento seria inviável” (p.97). Se Lebret voltasse ao Recife 60 anos depois descobriria que a cidade se tornou monstruosa com 1,6 milhão de habitantes, que se desindustrializou, que sua sugestão para o Cais José Estelita e entorno seria muito polêmica, se não recusada, e que a mobilidade da cidade piorou muito apesar de terem surgido avenidas tipo Agamenon Magalhães. Descobriria também que a refinaria e o estaleiro estariam em Suape onde, de forma visionária, apontou que na “altura do Cabo existe um grande terreno para ser integrado ao Grande Recife” (p. 89). Isso se tornou realidade!

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João Pernambucano: O que há em um nome?

Não está muito longe o tempo em que os apaixonados faziam serenatas para a mulher amada, que pelas frestas das venezianas faziam escapar suspiros de amor. Lá fora, sob o brilho da lua-cheia, o cantor, com seu fiel companheiro – o violão – colado ao peito, transformando, por essas artes que só o amor explica, batimentos cardíacos em compassos musicais. Violão, esse companheiro fiel, tem uma longa história a contar. Não indiscrições, mas o relato de uma longa caminhada na estrada do tempo. O começo teria sido há quase dois mil anos antes de Cristo, na antiga Babilônia, onde já se usavam instrumentos parecidos com o violão. No Egito e em Jerusalém, o povo usava um instrumento de cinco cordas também assemelhado ao violão, ao passo que em Roma, eram corriqueiras as serenatas ao som de um instrumento de bojo e cordas também parecido com o violão. O fato é que por volta do ano 300, o instrumento já se difundira pela França e Alemanha e, mais tarde, na Idade Média, o instrumento chegara à Espanha, onde sempre foi muito executado pelos virtuoses da época e onde também ganhou a sexta corda. Em seguida, já com as características atuais, foi levado para Lisboa. Para uns, o violão descende do alaúde árabe, chegado à península Ibérica com os mouros, enquanto para outros, ele é filho da cítara romana, cujo uso se expandiu com a expansão de Roma. No Brasil, no entanto, registra-se que tudo começou com a introdução da viola, trazida pelos portugueses quando da época colonial. Não se confunda, no entanto, viola com violão. A utilização deste é das mais diversificadas, tanto na música instrumental, quanto no acompanhamento da voz. A propósito, diga-se, só como curiosidade, que durante muito tempo o violão foi tido como instrumento dos boêmios e seresteiros. Instrumento de capadócios, como dizia o seresteiro Sílvio Caldas. Por aqui, um dos pioneiros do instrumento foi João Pernambuco, um pernambucano, como se pode imaginar pelo nome. Nascido em Jatobá – atual Petrolândia – em 2 de novembro de 1883, em verdade seu nome de batismo era João Teixeira Guimarães. Ainda na infância, ele começou a tocar viola, influenciado por cantadores e violeiros locais como Bem-te-vi, Mandapolão, Manuel Cabeceira, o cego Sinfrônio, Fabião das Queimadas e Cirino Guajurema. Aos 12 anos de idade, ele já tocava em festas. E assim se fez músico, violonista e compositor que criou mais de 100 choros, e também jongos, valsas, toadas, maxixes, emboladas, cocos, canções, prelúdios e estudos. Após o falecimento do seu pai, ele se mudou para o Recife, onde trabalhou como ferreiro e em outros postos de menor importância e salário. Então, buscando dias melhores, em 1902 ele se mudou para o Rio de Janeiro, onde passou a trabalhar como operário. Não deixou, contudo, de tocar e compor. Ali travou contato com violonistas populares, ao mesmo tempo em que varava jornadas de até 16 horas diárias. Para os seus amigos e admiradores, em número sempre crescente, diga-se, sempre encontrava tempo para contar e cantar coisas de sua terra, daí o apelido de João Pernambuco. Passados seis anos, transcorria 1908, ele era considerado um dos expoentes do choro, ombreado com Quincas Laranjeiras, Ernani Figueiredo, Zé Cavaquinho e Sátiro Bilhar, os maiorais da época. Pode ser que você não saiba ou não se lembre de quem foi João Pernambuco, mas vai lembrar, sem esforço, de uma das músicas que ele compôs. O nome original era Engenho de Humaitá, mas depois de celebrada uma parceria com Catulo da Paixão Cearense, a música passou a se chamar Luar do Sertão. Ainda não lembra? Então eis os primeiros versos: Não há, ó gente, ó não | luar como este do sertão... É quase um hino à beleza sertaneja, mas sobre essa música há um fato não tão belo a ser comentado. Como João Pernambuco era analfabeto, costumava dar suas composições para que outros pudessem escrevê-las e, por conta disso, Luar do Sertão terminou sendo registrada exclusivamente em nome de Catulo da Paixão Cearense, o mesmo ocorrendo com outra criação, a toada Caboca di Caxangá, memorável sucesso do carnaval de 1913. Posteriormente, porém, a coautoria de João Pernambuco foi reconhecida. Sabendo dos problemas do compositor pernambucano com o apoderamento de suas canções, Heitor Villa-Lobos se propôs, de boa-fé, a registrar e transcrever várias de suas canções, o que fez sem nenhum problema. Considere-se, no entanto, que a associação com Catulo da Paixão Cearense também trouxe benefícios para João Pernambuco, como o acesso à alta burguesia e à intelectualidade, em cujas tocatas ele exibia o seu talento para figuras de proa daquela época, como Afonso Arinos e Rui Barbosa. De 1928 até 1935 João Pernambuco morou em um casarão onde funcionava uma república que abrigava, em sua maioria, músicos e jogadores de futebol. Ali ele organizava animadas e concorridas rodas de choro que contavam com a participação de Donga, Pixinguinha, Patrício Teixeira, Rogério Guimarães e, ocasionalmente, Villa-Lobos. Foi lá que ele conheceu, por intermédio do amigo Levino Albano da Conceição, um jovem violonista chamado Dilermando Reis. Mente criativa, João Pernambuco formou o Grupo de Caxangá, um estrondoso sucesso com a participação de Pixinguinha e Donga, e introduziu a percussão nordestina no Sudeste. Fez mais: participou, também com Pixinguinha, dos grupos Os Oito Batutas e Os Turunas Pernambucanos. E ainda com Donga e Pixinguinha, ele percorreu o Brasil coletando música folclórica brasileira, por encomenda de Arnaldo Guinle. Como violonista, gravou pela primeira gravadora brasileira estabelecida, Casa Edison, e também para os selos Columbia e Phoenix. A santíssima trindade dos precursores do violão brasileiro foi constituída por Quincas Laranjeiras, João Pernambuco e Levino Albano da Conceição, mas a obra violonística de João Pernambuco era de tal densidade e profundidade que, a respeito dela, disse Villa-Lobos: Bach não se envergonharia em assinar os estudos de João Pernambuco como sendo seus. Mozart de Araújo, renomado musicólogo, não poupou elogios: João Pernambuco está para o violão assim como Ernesto Nazareth está para o piano. Já o violonista Maurício Carrilho certa vez escreveu sobre

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Recife Cidade-Parque aos 500 Anos

Victor Hugo, o grande escritor francês, uma vez disse: “Nada como o sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã.” A meu ver, essa frase se aplica na integra à descoberta feita pelo grupo de pesquisa do Parque Capibaribe, convênio entre a Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura do Recife e a Universidade Federal do Pernambuco, de que o Recife ainda pode vir a ser uma cidade-parque até completar 500 anos em 2037. Os pesquisadores do Parque Capibaribe (mais de 50 da UFPE e da UFRPE) chegaram a essa conclusão depois de projetarem a recuperação da cidade a partir do rio, começando pelo parque do seu entorno, depois sua ampliação, em cinco anos, para o parque irradiado da cidade e, por fim, na terceira cena até 2037, a cidade-parque com a ampliação da área verde atual por habitante dos ínfimos 1,2 para os 12 metros quadrados recomendados pela ONU (incorporando ao uso público cerca de 2 mil ha das áreas verdes de Dois Irmãos/Guabiraba, Brennand e Parque dos Manguezais). O fantástico desta projeção é que ela recupera a esperança ambiental, em forma de sonho possível, para uma cidade cuja carência de planejamento e de perspectivas de futuro, há décadas, fez com que não só seu tecido se fragmentasse (a ideia que me dá hoje é de um quebra-cabeças desmontado) como se fragmentasse também a ideia de cidade na cabeça das pessoas dando asas à moda, um tanto cult, de falar mal dela (#hellcife, #recifede etc). Só por isso, por trazer de volta a esperança tecnicamente embasada de uma cidade bem melhor dentro de um horizonte de tempo razoável (cerca de 20 anos), num ambiente em que a desesperança passou a imperar, já merece ser seriamente considerada e amplamente debatida. Em especial neste momento em que se começa a discutir, de forma estruturada, o futuro econômico, social, ambiental e espacial da nossa capital no projeto Recife 500 Anos coordenado pela Aries – Agência Recife de Inovação e Estratégia. Até onde entendo, o conceito do Recife Cidade-Parque, esboçada a partir do Capibaribe como fio condutor e recosturador do território fragmentado, tem todo potencial de ser a diretriz estruturadora da dimensão espacial do Recife 500 Anos. Deixar passar esse verdadeiro ovo de colombo urbanístico ou não considerá-lo adequadamente seria um equívoco que não podemos nos dar o luxo perdulário de cometer.

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A voz cristalina de Paulo Molin

Américas, Europa, Ásia, África, Oceania... Nos cinco continentes, quase todos os países comemoram o Dia da Criança. Em muitos, no mês de outubro, como no Brasil. Entre nós, a data foi criada em 1924, mas só em 1960, quando a Estrela e a Johnson & Johnson lançaram a Semana do bebê robusto, começou a ser comemorada. Desde então, é de grande importância no calendário promocional das empresas. Nesta página, no entanto, não se busca falar do calendário promocional. Neste momento, o Dia da Criança é um motivo para falar de uma criança pernambucana, um menino-prodígio. Seu nome, Paulo Fernando Monteiro Molin, que ganhou fama como o pequeno grande cantor Paulo Molin, um descendente de franceses nascido no Recife em 2 de janeiro de 1938. Aos 8 anos de idade ele começou a cantar, e com apenas 12 anos gravou, em 1950, seu primeiro disco, um 78rpm, contendo as músicas Olinda, cidade eterna e Recife, cidade lendária, ambas de Capiba. Ainda tão jovem, Paulo Molin já era um cantor profissional, contratado da Rádio Tamandaré (Recife), tinha suas músicas tocadas nas emissoras de rádio de todo o Nordeste, e seus discos eram disputados. Recife começava a ficar pequena para o seu talento, levando-o a migrar para o Sudeste. Primeiro para o Rio de Janeiro e em seguida para São Paulo. Ali ele experimentou uma fase de intenso trabalho. Foi contratado pela Rádio Nacional, gravou Igarassu, cidade do passado, de Capiba, e a canção A chama, de Capiba e Ascenço Ferreira. Gravou o bolero Bem sabes, o samba-canção Por quê?, com acompanhamento de Lírio Panicalli e sua orquestra; gravou também o fox-canção Daqui para a eternidade, uma versão de Lourival Faissal; e o samba-canção Se você vai embora, de Luiz Fernando e Nelson Bastos. Naquele mesmo ano, gravou ainda o samba Não tenho lar, e participou da coletânea Carnaval 1955, da gravadora Sinter, com a marcha Não aguento este calor. Em 1955, ano que marcou o auge do seu sucesso, Paulo Molin foi tema de reportagem da então famosa Revista do Rádio, e participou do LP Feira de Ritmos, da gravadora Sinter, interpretando o fox-canção Daqui para a eternidade. Chegou 1956, e ele lançou, pela Mocambo, a saudosa gravadora pernambucana, o tango Caminho errado e o samba Desligue este rádio. No ano seguinte, gravou as baladas-rock Sereno, que veio a fazer parte da trilha sonora da novela Estúpido cupido, da Rede Globo; Como antes (Come prima), sucesso da música italiana; o samba Quem sabe; os boleros Sinto que a vida se vai e Prece do perdão; além da guarânia Serenata suburbana, de Capiba. Entrava ano saía ano, a agenda de Paulo Molin era repleta de compromissos. Em 1958, ele gravou os rocks-balada Minha janela, de Fernando César e Ted Moreno, e Se aquela noite não tivesse fim, de Nelson Ferreira e Ziul Matos. Mais um ano de trabalho intenso se passou, e chegado 1959, gravou as marchas A vida é boa e Bebo sem parar. Em 1960, ele gravou o samba Estamos quites, o bolero Fui eu, e lançou, pela Mocambo, o LP Surpresa com diferentes músicas gravadas em 78 rpm, além da balada És a luz do meu olhar, de sua autoria. Passou a integrar o elenco da gravadora Copacabana e participou da coletânea Tudo é carnaval - Nº 1 interpretando a marcha Eu não sou doutor, de G. Nunes, B. Lobo e F. Favero. Em 1961, gravou Olhando estrelas, um fox de M. Anthony e Paulo Rogério, e a guarânia A deusa da montanha, de Hilton Acioli e Marconi da Silva. Em 1962, participou da coletânea Tudo é carnaval - Nº 2, com a marcha Viva a cegonha, de Silvio Arduino e Ercilio Consoni. No mesmo ano, de volta à gravadora Continental, gravou a balada Chorando por você, de Roy Orbison e Noe Nelson, em versão de Romeu Nunes; e o samba É tua vez de sorrir, de Fernando César e Luiz Antônio. Ainda em 1962, ingressou na gravadora Philips e gravou, com acompanhamento de Portinho e sua orquestra, o bolero-mambo Teimosia e a Balada do desespero, ambas de Francisco de Pietro. No mesmo ano, gravou pela Mocambo o samba-canção Inconstante, de Aloísio T. de Carvalho, e o samba Rosa do mato, de Sérgio Ricardo e Geraldo Serafim. Em 1963, lançou, pela gravadora Philips, o LP Meu bom amigo Capiba, interpretando as belas Olinda cidade eterna, Recife cidade lendária, Praia da Boa Viagem, Maria Betânia, Cais do porto, Igaraçu cidade do passado e Que foi que eu fiz, todas composições solo de Capiba, e mais Depois, de Capiba e Talma de Oliveira; e A mesma rosa amarela, Claro amor e Não quero amizade com você, de Capiba em parceria com poeta Carlos Penna Filho. Ainda naquele ano, participou da coletânea Carnaval bossa nova, da gravadora Fermata, com a marcha Quem tem mulata, parceria dele com Vicente Longo e Waldemar Camargo. Em 1964, gravou duas marchas para a coletânea Carnaval - Vol. 1, da Philips, Balzac disse, de Denis Brean e Osvaldo Guilherme, e Me leva, de Waldemar Camargo e Vicente Longo. Assim, ao longo da carreira Paulo Molin gravou 15 discos em 78 rpm e três LPs pelas gravadoras Continental, Mocambo, Copacabana, Philips e Fermata. Foram seus anos de ouro, em que ele chegou a atuar também no cinema, fazendo parte do elenco do filme Zé do periquito, produzido e estrelado por Mazzaropi. O tempo, contudo, indiferente ao que as pessoas almejam, passara. Novos valores eram surgidos, mudavam as predileções musicais. Paulo Molin, então, resolveu fixar-se em Guaxupé, interior de Minas Gerais, onde, lado a lado com a atividade jornalística exercida na Folha do Povo, um jornal local, prosseguiu em sua carreira de cantor, embora àquela altura da vida a voz estivesse muito distante daqueles tempos do Recife. Em Guaxupé ele construiu amizades, conquistou a admiração de todos, criou fama, marcou positivamente a cidade. Tanto, aliás, que recebeu o título honorífico de cidadão guaxupeano. Paulo Molin calou-se para sempre no dia 26 de agosto de 2004, aos 66 anos, em

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Virose, um diagnóstico vago?

Quem nunca saiu irritado de um consultório médico após receber um diagnóstico de virose, que atire o primeiro comprimido de anti-inflamatório. A sensação é de que os médicos já não sabem mais detectar com precisão uma simples gripe. Mas a história não é bem assim. Não é tão fácil quanto se pensa descobrir com exatidão qual a doença que acomete o paciente. Isso porque vários tipos diferentes de viroses – como gripe, dengue, zika, resfriado, mononucleose, entre outras – apresentam sintomas semelhantes, como febre, dor de cabeça, fadiga. Mas, afinal, o que é virose? “É toda infecção causada por vírus”, responde o infectologista Filipe Prohaska, do Hospital Português. Uma doença infecciosa também pode ser causada por outros tipos de micróbios - ou como dizem os especialistas micro-organismos - como como fungos e bactérias. Mas, segundo Prohaska, cerca que 90% das pessoas atendidas nas emergências com infecção possuem sintomas clássicos provocados por vírus. As viroses, porém, compõem uma gama ampla de doenças, desde um resfriado, passando pela dengue, zika, até hepatites e Aids. Boa parte daquelas que acometem os pacientes, no entanto, é benigna, os sintomas desaparecem em menos de uma semana. Além de apresentarem sintomas semelhantes, as viroses são causadas por micro-organismos que muitas vezes são difíceis de serem detectados em exames. “Muitos vírus não alteram tanto o teste laboratorial”, explica o infectologista. Na Europa, de acordo com Prohaska, já existem exames que identificam de forma mais precisa 20 tipos diferentes de vírus. A má notícia, porém, é que custam cerca de R$ 4 mil. “O custo benefício não vale a pena. Essa é uma vertente para o futuro”, estima o médico. Para algumas viroses, como a dengue, já existem testes disponíveis no País. É a sorologia, obtida por meio do hemograma. Por isso, quando você vai à emergência com sintomas de infecção o médico, muitas vezes, solicita um exame de sangue. Nele são identificados os anticorpos presentes no seu organismo, que são uma espécie de exército de defesa do nosso corpo capaz de combater os micro-organismos. Para cada tipo de vírus, existem anticorpos específicos para combatê-los. A dengue, por exemplo, é diagnosticada pela presença de anticorpos chamados  IgM e IgG. Mais recentemente a virose também é detectada pela presença de um antígeno – substância que produz anticorpos – chamado NS1. Mesmo nesse caso, porém, o diagnóstico não é tão simples de ser feito. Se o resultado der negativo para a presença dessas substâncias não significa que a pessoa não esteja com a doença. “Os anticorpos, muitas vezes, demoram a aparecer nos testes e só por volta do sétimo dia a contar do início da doença, é que vão ser detectáveis”, esclarece Danylo Palmeira infectologista dos Hospitais Jayme da Fonte e Português. Resultado: a pessoa tem o vírus mas o exame não é capaz de identificá-lo. Apesar dessas dificuldades, você pode ajudar o médico nessa difícil arte de diagnosticar a virose, oferecendo o maior número de informações sobre os sintomas. Por isso, é fundamental a chamada anamnese, isto é o interrogatório que o especialista faz nas consultas com o paciente procurando detalhes para formar um diagnóstico. “Se alguém, por exemplo, reporta que está com tosse com secreção amarelada e febre, ao invés de um resfriado ou gripe, podemos estar diante de uma infecção bacteriana, sendo necessário o uso de antibióticos”, deduz Palmeira. Não se espante se o médico não prescrever um medicamento quando você estiver com virose, porque não existem remédios que eliminem a grande quantidade de vírus que provocam a infecções como gripes, resfriados, dengue, rotavírus, entre muitos outros. Mas não se preocupe: em alguns dias a infecção desaparece. “Costumo dizer que o curso da doença não vai mudar com, sem ou apesar do remédio. O procedimento é usar medicamentos para aliviar os sintomas”, orienta Prohaska. Assim, prescreve-se um analgésico para dor, um antiemético para vômitos, antitérmicos para febre. Fique longe, porém, dos anti-inflamatórios se estiver com suspeita de dengue. “Nesse caso, pode provocar hemorragias”, alerta Danylo Palmeira. Nem pense também em tomar antibióticos. Eles só combatem bactérias. ÁGUA É importante tomar muita água pois o corpo se desidrata quando sofre uma infecção. Isso acontece porque nos vasos sanguíneos não há apenas sangue, mas água também. A febre provoca uma dilatação nos vasos expulsando essa água para outras partes do corpo. “Hidratar-se é fundamental para evitar queda da pressão arterial”, explica Palmeira, alertando que a hipotensão pode levar ao choque, um estado potencialmente letal para o organismo. Crianças e idosos devem ter atenção especial quando são acometidos por infecção, porque não costumam tomar muita água. Cuidado redobrado também com pessoas com baixa resistência, como indivíduos em tratamento oncológico, com Aids ou grávidas devido à fragilidade do seu sistema de defesa. Também é muito importante estar atento aos sinais de alerta que podem indicar um quadro mais grave. Caso a pessoa com virose sinta dor abdominal intensa, alteração de comportamento (ficar desorientada ou até agressiva), alterar o nível de consciência e ficar muito sonolenta, apresentar queda de pressão, desidratação, falta de ar, desmaios, começar a suar frio ou vomitar com muita frequência deve ser levada imediatamente para a emergência. Mas na maioria das vezes as infecções virais que nos acometem não provocam grandes consequências e desaparecem depois de alguns dias. Durante a recuperação a dica fundamental é manter o repouso. E, agora, que você já sabe o quanto é difícil detectar um vírus, não precisa mais ficar irritado quando receber o diagnóstico de virose. Descanse, tome bastante água e tenha paciência que logo, logo o vírus vai embora.

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Um intelectual a serviço do Reino de Deus

Jerônimo Gueiros, nasceu numa família de 12 filhos, sendo o filho homem mais novo, do casal Francisco de Carvalho Silva Gueiros e Rita Francisca Barbosa da Silva. Nasceu no dia 30 de setembro de 1880, dia esse, dedicado a “São Jerônimo”, na localidade de Queimadas de Santo Antônio (Jurema), município de Quipapá (PE). O pai de Jerônimo descendia de uma antiga família pernambucana com raízes na região de Garanhuns. O avô de Francisco, Manoel da Silva Gueiros, foi o primeiro a ter esse sobrenome, uma possível corruptela de Queiros. Jerônimo assim como todos da família não teve uma vida fácil, pelo contrário, os filhos mais novos de Francisco de Carvalho Silva Gueiros, após a abolição da escravatura, e a perda da mão-de-obra familiar, foram obrigados a trabalhar como marceneiros, para o sustento da família. Jerônimo também trabalhou de cigarreiro, chegando a fabricar 1,2 mil cigarros em um só dia. Além das condições humildes, Jerônimo assim como os seus irmãos, eram adeptos entusiastas das farras semanais e das bebidas alcoólicas. Na realidade, Jerônimo já no início da adolescência, tinha uma vida desregrada, entregando-se à bebida e aos jogos de azar. O historiador David Vieira lembrando dessa época, diz que, “sua frustração com a vida que levava, foi provavelmente o que levou ao vício das bebidas alcoólicas e a jogatina, tendo se tornado um jogador profissional, aos 13 anos de idade. Todavia, Jerônimo converteu-se ao Protestantismo, através dos esforços do trabalho realizado pelo Rev. George W. Butler e da sua esposa, Rena Butler, um casal de missionários norte-americano, os quais chegou em Garanhuns no final do século dezenove, mas especificamente, no ano de 1895. Na realidade, esses foram a primeira grande influência que Jerônimo Gueiros teve em sua vida, de evangélico e de intelectual. Após a sua conversão, Jerônimo passou a ter gosto pelos estudos e, foi aos pés dos Butlers que ele começou a sua carreira acadêmica. Vieira lembra que: “Nos três primeiros anos que estudou com D. Rena Butler, de 1895 a 1898, entre outras matérias, aprendeu o inglês. Isto o habilitou a consultar livros naquela língua, que lhe abriram um amplo leque de informações, não disponíveis a alguém que fosse apenas monoglota, especialmente em um Brasil daquela época, tão carente de livros didáticos, e de literatura erudita de todos os tipos. [...] Mrs Butler recordava como Jerônimo, ainda menino e estudando com ela, constantemente vinha buscar auxílio na leitura dos textos em inglês, perguntando: Mama Butler, o que quer dizer isso? Em seguida, continuou os seus estudos na primeira escola paroquial, criada pelo pastor Martinho de Oliveira [...].” A ordenação para o ministério pastoral, aconteceu no dia 15 de setembro de 1901, pelo presbitério de Pernambuco, como pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil. Dr. Butler em uma de suas correspondências chega a mencionar a aparência física do seu discípulo e da sua postura no púlpito, pois, segundo ele, Jerônimo era “alto, esbelto, de pele alva, de maneira autoritária no púlpito, porém humilde”. Devido a sua importância no mundo acadêmico, bem como, o seu destaque no âmbito ministerial, Jerônimo, por esses motivos, passou a ganhar alguns adjetivos que refletiam o seu perfil. Esses adjetivos dependiam da localização geográfica, por exemplo, entre os evangélicos do Norte era conhecido como A Águia do Norte. Entre os do Sul, talvez por ser pernambucano, era conhecido como O Leão do Norte. Ambas essas denominações sublinhavam o grande poder de suas palavras, como pregador e orador, jornalista e polemista. Devido a sua grande influência e capacidade não tardou para que naturalmente, Jerônimo se destacasse e chamasse a atenção até mesmo do governador pernambucano. Em 1920, o então governador de Pernambuco, o Dr. José Bezerra Cavalcanti, o convida para dirigir a Escola Normal Oficial do Estado, da qual, além de diretor, foi docente de História da Civilização. Quando eleito para ocupar uma das cadeiras na Academia Pernambucana de Letras, ocupada anteriormente pelo patrono, o general Abreu e Lima, Jerônimo, no seu discurso de posse, demonstra ter total consciência da relevância do seu papel social, relembra as suas origens, mas, não se furta de externar publicamente a sua missão primordial, que segundo ele mesmo, era pregar o Evangelho: “[...] Senhores acadêmicos: Há alguma coisa que nos irmana e nos vincula nesta oficina de luz. Somos todos sonhadores de alguma coisa além da vida com seus pendores subalternos. Vivemos do ideal com que sonhamos. Pelo menos, minha vida tem sido uma urdidura de sonhos em que sobressai minha tendência associativa com escopo superior. E todos os meus sonhos objetivaram-se em doces realidades, tanto quanto o permitiram a contingência e relatividade das cousas humanas. Sonhei, primeiro, na obscuridade da minha vida sertaneja, no meio da pobreza extrema de rude operário, com ilustrar-me para fazer-me afanoso obreiro espiritual, de modo a poder levar a minha gente o influxo do Livro que inspirou a civilização das maiores potências do Velho e Novo Mundo. E o sonho foi realidade. Através de trinta anos, desdobro, ininterruptamente, minha atividade espiritual com a profunda convicção que me levará ao seio de Deus e com esse entusiasmo crescente e insopitável que a fé inspira e me faz exclamar com o apostolo dos gentios: “Ai de mim, se eu não evangelizar!”. Jerônimo Gueiros morrera no dia 07 de abril de 1953. A morte do Reverendo Jerônimo Gueiros foi sentida no meio intelectual pernambucano, não só porque pertencia à Academia Pernambucana de Letras, ao Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco, além de várias associações culturais brasileiras e estrangeiras e, assim, conseguira firmar, com sua personalidade, o caminho de uma obra literária de grande valor e que, vale salientar, expressava forte teor humanista. Após a notícia da sua morte, não custou para que todos os jornais locais, e ainda outros, até mesmo fora do estado de Pernambuco, lamentassem a sua triste partida. No Diário da Noite, datado em 7 de abril de 1953, encontramos a seguinte afirmação: “A sociedade do Recife está de luto. Faleceu o professor Jerônimo Gueiros, respeitável figura de homem de bem, espécie de

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Pesqueira do doce, da renda e dos caiporas

Ela já foi chamada de “A Terra das Chaminés”, “A Terra do Doce e da Renda” e, por último, "A Saída do Agreste". O Sertão vem logo depois. Todos os títulos fazem jus. Os seus 135 anos parecem estar impressos nos vários casarões e sobrados, alguns do século 18, ainda conservados. Isso nos leva a imaginar o movimento da cidade no início do século 20. O cenário traz uma bela história de um passado glorioso. Vamos conhecer Pesqueira pelo roteiro de Carlos Sinésio Cavalcanti, jornalista, poeta e escritor nascido ali. A cidade fica a 215 km do Recife. Por ser um local de peregrinação religiosa, nosso ponto de partida começa no Centro da cidade, na Catedral de Santa Águeda, a padroeira , reformada recentemente. O templo recebe elogios dos visitantes. Em seguida, vamos até o Convento São Francisco, construído em 1908. Ali pertinho, temos o castelo de Edvonaldo, obra de estilo indefinido, inacabada, iniciada há mais de uma década. É vista de longe devido aos seus "minaretes" altos e extremamente coloridos. Virou uma curiosa atração turística. Sinésio nos leva à Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens, na Rua Cardeal Arcoverde, onde encontramos o Palácio do Bispo e um museu. A igreja foi a primeira da cidade, erguida em 1802. Visitar o famoso Seminário de São José, por onde passou tanta gente famosa, é quase obrigatório. Vizinho, temos o imponente prédio da prefeitura, que já foi a casa do industrial Antonio Didier, fundador da tradicional fábrica de doces Rosa. Bem pertinho, também, está o Centro Comercial Rosa, onde funcionou a fábrica de derivados do tomate Rosa. O local abriga, atualmente, o Museu do Doce, com rico acervo em máquinas, fotos e tachos de cobre. O espaço é muito bom para comprar peças de renda renascença nos diversos boxes. Aliás, Pesqueira desenvolveu e deu fama a essa renda que teve na vizinha cidade de Poção o seu nascedouro. Hoje, a renda é exportada para o mundo todo, com sucesso, e até merece festa no mês de setembro. Um dos projetos do governo municipal é construir o Memorial da Renascença. TERRA SANTA. O Santuário da Graça passa a ser a parada seguinte. Fica em Cimbres, no Sítio Guarda, a 24 km de Pesqueira. Lugar místico e milagroso, onde Nossa Senhora das Graças apareceu às Marias - Conceição e da Luz - em agosto de 1936. Ambas adolescentes. O fato mereceu profundos estudos da Igreja Católica e a aparição da Virgem não foi imaginação infantil, atestam os religiosos. Desde então, o solo sagrado foi transformado em centro de peregrinações por todas as classes sociais. Artistas famosos, políticos e populares frequentam o santuário, com fé, pedindo ou agradecendo graças. Alcançar a imagem da santa (com dois metros de altura), protegida numa gruta, requer um razoável preparo físico, pois são 306 degraus, além de um percurso a pé. De lá, avista-se quase toda a cidade, e ninguém resiste à contemplação e admiração por tudo que o mirante oferece. E faz frio. A palavra cimbres significa “armação que suporta pesos em construção civil”, e o local que leva esse nome é o maior reduto indígena do Nordeste. Dista do Centro 18 km em estrada quase totalmente pavimentada, mas carece de alguns cuidados por ser estreita. A Vila de Cimbres já foi poderosa. Sendo zona de transição, sua extensão territorial abrangia todo o Sertão até o fim do Estado, atingindo o Norte de Minas Gerais, segundo o pesquisador José Florêncio Neto, que salvou a documentação comprobatória, durante uma inundação na prefeitura. O local começou a ser povoado em 1654, e rapidamente foram construídos os prédios da Câmara, Cadeia e Ouvidoria, além da Igreja de Nossa Senhora das Montanhas (a imagem primitiva está no altar), considerada a pioneira da região. Em pouco tempo, Cimbres era o centro político e administrativo, inclusive do Sertão. Por isso, chegou ser chamada de Atenas do Sertão. Esses prédios ainda estão de pé e são testemunhas daquela época. Entretanto, a cidade – conta Sinésio - remonta a 1800, na Fazenda Poço Pesqueiro (daí o nome Pesqueira), localizada no pé da serra, tendo progredido rapidamente. É tanto que, 36 anos depois, a fazenda produtiva passou à categoria de Vila. Mas, somente anos depois, a fazenda e Cimbres ficaram unidas geograficamente com o nome de Pesqueira. Do apogeu, Cimbres passou a mero distrito. Ainda nessa área, o visitante encontra reservas naturais, matas,trilhas e cachoeiras. O alpinismo não pode faltar diante de tantas serras. O local preferido é a Serra do Gavião, com 755 m. O local serviu de esconderijo para o bando de Lampião no final dos anos 30. A Serra do Ororubá, com suas 24 aldeias indígenas e uma população de 12 mil xucurus (civilizados), tem lagos, açudes, cachoeiras e uma rampa natural para voos livres, usada em campeonatos de asa-delta. “A paisagem ajuda a relaxar. O banho na Cachoeira do Vale das Cascatas, com uma queda de seis metros de altura, emociona”, descreve Sinésio. Ainda pode ser feito um passeio nas trilhas da Serra de Minas, sugere o nosso guia. Aí temos árvores centenárias, banho de bica e piscinas naturais. A poucos quilômetros, existe a Trilha do Gavião. São 15 km até o topo da montanha, onde moravam os índios pataxós. Uma lenda conta que em cima dessas árvores surgiam tochas sobrenaturais assustando os passantes. Essas assombrações ficaram conhecidas como caiporas - seres noturnos que amedrontavam pessoas e animais. Para acalmá-los, era costume colocar fumo e cachaça nos troncos das árvores. A lenda foi transformada em folclore. Hoje, os caiporas são atrações carnavalescas. Durante os três dias de folia, homens, mulheres e crianças saem às ruas vestidos com estopas e máscaras gigantes pintadas. Aliás, Pesqueira possui um dos mais animados carnavais do interior. DONA YAYÁ. No início do século 20, Pesqueira era o maior produtor de goiaba da região. A fabricação de doces era forte costume doméstico. Dona Maria da Conceição Cavalcanti de Britto, uma senhora doceira conhecida por dona Yayá, casada com Carlos Britto, resolveu desenvolver uma linha de produção industrial.

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