Entrevistas - Página: 20 - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

Entrevistas

Cida Pedrosa: “Até que enfim existe um olhar para a diversidade da literatura.”

Neste final de 2020, Cida Pedrosa recebeu dois importantes reconhecimentos: o dos eleitores, ao se eleger vereadora do Recife, pelo PCdoB, e da crítica literária. Sua obra Solo para vialejo, editada pela Cepe, recebeu dois prêmios Jabuti – o mais reverenciado do País – nas categorias poesia e livro do ano. Uma trajetória e tanto dessa sertaneja de Bodocó, de uma família de 15 filhos, alfabetizada pela mãe que nunca frequentou a escola. No processo de produção do livro, a poeta resgatou uma foto da Jazz Band União Bodocoense e, surpresa, descobriu que várias cidades do sertão contavam com suas bandas de jazz. Entre sons, lembranças e paisagens, o poema narra a viagem, uma migração invertida do mar para o sertão, a mesma que fizeram os indígenas que não queriam ser escravizados na colonização e pelos negros fugidos do cativeiro. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Cida Pedrosa, que já esteve à frente da Secretaria da Mulher do Recife, fala do seu livro premiado, deste momento da literatura brasileira que tem destacado obras de mulheres, negros e indígenas, da discriminação de produções fora do eixo Rio-São Paulo taxadas como “regionais” e dos planos como vereadora e poeta. Solo para vialejo teve como ponto de partida o resgate da Jazz Band União Bodocoense. Conta um pouco dessa história. Como uma jazz band foi criada em pleno Sertão do Araripe e qual o tema do livro? Eu tinha ciência da existência da jazz band porque um amigo viu publicado num jornal de Petrolina essa foto (que consta na capa do livro). Eu sabia que Bodocó tinha uma banda de música, meu cunhado dizia que seu Miguel era o maestro, mas ninguém dizia que era um jazz band. Eu procurava essa foto há uns oito anos, já tinha conversado, com Miguelzinho, que é filho do maestro Miguel Roberto, e ele disse que a foto existia, mas a tiraram do álbum de fotografias da família. Quando eu estava saindo de Bodocó para o Crato, no meio da estrada, pegando a Serra do Araripe para a Serra do Cariri, tive uma forte iluminação e escrevi dez páginas desse poema. Na mesma viagem, fui pra Petrolina – porque eu e meu companheiro somos curadores de literatura e íamos contratar Virgílio, um poeta de Ouricuri que mora lá e o filho dele, Davi, que é neto de Raimundo Maciel, um dos músicos da Jazz band. E aí aconteceu uma coisa incrível: quando cheguei na casa dele e disse que procurava pela foto, ele falou: “eu tenho!”. Foi no computador e me deu a foto. Depois dessas dez páginas, o poema quis crescer muito e aí comecei a pesquisar quem eram os músicos. Descobri que não só tinha jazz band em Bodocó, mas Petrolina, Tuparetama, Serra Talhada também tinham, ou seja, após a Segunda Guerra Mundial, espalha-se o jazz no mundo, e no sertão começam a surgir as jazz bands. O poema é muito sobre a música, sobre o blues. Sou uma grande ouvidora de blues, inclusive, o primeiro título do livro, era Canto para Muddy Waters, que é um bluseiro que eu amo muito. Nessas dez primeiras páginas já mencionava a diáspora dos negros, porque eu já falava do algodão cultivado no sertão e de como a cultura do algodão tem a ver também com a cultura da música. É assim no blues nos Estados Unidos e é assim também no sertão, onde as pessoas cantam quando vão colher algodão, cantam benditos, aboiam, cantam canções. Aí eu comecei a tentar descobrir quem eram os músicos e eu só conseguia distinguir seu Miguel Roberto, que é saxofonista e maestro, Raimundo Maciel e Otacílio Rodrigues. E me invocou muito porque ninguém sabia quem eram os negros que tocavam banjo, ou seja, você tem o silenciamento daqueles que são negros. Isso tinha tudo a ver com a temática do livro, os negros e negras que iam no caminho dos índios e índias. Os índios foram se afastando do litoral na medida em que os portugueses queriam escravizá-los e os negros que foram escravizados, quando fugiam, partiam sertão abaixo. Esse livro é um caminho de volta do mar ao sertão, onde eu caminho com negros e indígenas e vou também descobrindo a mim mesma nessa volta. Ao mesmo tempo, vou falando dos músicos e dos artistas da minha cidade que na grande maioria são negros e são invisibilizados. Solo de vialejo é o livro de uma mulher sertaneja, que conta a sua história e conta memórias coletivas da sua cidade e das cidades que percorrem a BR- 232. É um livro que tenta entender a mim e tentando entender a mim, eu tento também entender o Brasil. Muitos escritores tornam-se conhecidos em todo o mundo por abordar a sua terra natal. Você, que é tão ligada a Pernambuco e ao Araripe, também concorda com Tolstoi que disse: “Cante a sua aldeia e serás universal”? Acredito que a aldeia é universal sim, porque a dor, a saudade, o mal, a beleza são temas universais que acontecem para uma mocinha de Bodocó ou para uma mocinha de Nova Iorque. Quando você tem a capacidade de tratar temas universais, mesmo que você coloque todo o seu arcabouço de cultura próprio, isso vai tocar pessoas em qualquer parte do mundo. Também tenho uma clareza muito grande de que existe uma forma opressora no que diz respeito à aldeia, porque é como se todas as vezes em que o Nordeste escreve, querem dizer que nós escrevemos literatura regional. Se alguém faz um romance ou poema sobre o que acontece na Avenida Paulista, isso não é regional, porque é como se o Brasil acontecesse a partir da Avenida Paulista ou de Ipanema. Agora, se eu falo de Bodocó, do Recife, é regional. Então, de que regionalismo estamos falando? Falamos do regionalismo da cultura opressora que há no Brasil e coloca a centralidade econômica e cultural no eixo Sul e Sudeste. E tudo que não for pensado e visto a partir daquele olhar, é regional. Em entrevista você declarou que Solo de

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Domitila Barros: “Sonho que meninas negras tenham acesso a oportunidades”

Após uma semana marcada pelas atividades do Dia da Consciência Negra e pela morte bestial de João Alberto no Carrefour, é alentador conhecer a trajetória de Domitila Barros. Moradora da Linha do Tiro, na periferia do Recife, Domitila cresceu em meio ao trabalho da mãe, Roberta, à frente da ONG CAMM (Centro de Atendimento a Meninas e Meninos), que oferece atividades de lazer e educação para os jovens da comunidade. Domitila era responsável pelas aulas de leitura, dança e arte, um trabalho pelo qual foi escolhida pela ONU como um dos jovens “sonhadores do milênio”, aos 15 anos. Formada em serviço social, com mestrado em políticas sociais pela Universidade de Berlim (Alemanha), Domitila tornou-se também modelo e criou uma marca de moda praia e biojoias cujas peças são feitas por mães solteiras da Linha do Tiro para quem é revertido o resultado das vendas. Sua mais recente conquista foi ter sido escolhida embaixadora mundial da Symrise Cosmetics Ingredients, companhia com sede na Alemanha, que produz matérias-primas utilizadas por empresas de beleza. São produtos naturais, produzidos por pequenos produtores rurais alemães. Com essa pegada ecológica, a Symrise viu em Domitila a identidade perfeita de uma embaixadora com características de diversidade, respeito ao meio ambiente e impacto social. Com sua beleza negra, a recifense estrela a campanha com posts para 80 mil seguidores no Instagram e com a imagem estampada em todas as ações de marketing na Europa e, em breve, nos Estados Unidos, Emirados Árabes, América Latina, Ásia e África. Nesta entrevista a Cláudia Santos, a modelo de 36 anos conta a sua história, fala de temas como sustentabilidade e negritude e de seus planos futuros. Como você saiu da Linha do Tiro para Berlim? Uma coisa que me marcou muito no contexto da minha história de vida foi o fato de ter nascido no CAMM, na Linha do Tiro, periferia do Recife. Quando penso nos caminhos e aventuras que a vida me proporcionou, lembro que nasci em condições humildes, mas cheia de amor. Amizade, lealdade, confiança, carinho, proteção e fé são fontes de força e motivação diária. Meus pais criaram o projeto CAMM que atende as crianças da comunidade da Linha do Tiro, além do Morro da Conceição, Alto José Bonifácio e adjacências, tudo isso antes do meu nascimento. Então, tudo o que sei e aprendi sobre a vida foi sempre dividido ali dentro, com os amigos, educadores, visitantes, professores e pesquisadores. Ainda na infância tive a oportunidade de acompanhar meus pais em uma visita à Europa. Eles viajaram como palestrantes sobre o trabalho com as crianças em situação de risco. Com essa experiência, foi despertado em mim esse espírito aventureiro de querer sempre ir a lugares desconhecidos e conhecer culturas novas. Esse desejo me levou a Berlim aos 21 anos para fazer o meu mestrado. Na época fui descoberta por um olheiro de uma série alemã chamada GZSZ. Fui convidada para um teste e daí surgiu a primeira oportunidade de trabalhar na TV alemã. A experiência foi incrível e, por um ano, trabalhei na série de horário nobre. O trabalho me rendeu outros frutos na carreira. Meu pai sempre quis que eu me formasse no Brasil antes de embarcar para o exterior. Para eles, a educação vem em primeiro lugar. Então, a oportunidade da bolsa de estudos para o mestrado foi o que me permitiu viver em Berlim. Sair da Linha do Tiro foi muito difícil porque eu sou uma pessoa muito família e a nossa família é muito unida. Mas, como ainda vim muito jovem, acho que a adaptação foi mais fácil. O que representou para você ser escolhida como um dos “sonhadores do milênio” pela ONU? Foi uma surpresa incrível e uma das coisas mais importantes na minha trajetória de vida. Isso me possibilitou várias oportunidades até hoje, coisa que eu jamais teria vivido se não tivesse sido escolhida naquela época. Com as pessoas que conheci mantenho contato até hoje. Elas vivem espalhadas pelo mundo e, mesmo depois de 20 anos, a nossa conexão só cresce a cada ano. O meu sonho ganhou um empurrão de autoestima e de ideias a serem focadas num âmbito mais universal do que local a partir daquele momento. Creio que isso foi um acontecimento marcante que vou levar pra sempre no meu coração e na memória. Como surgiu a ideia da marca She is from the Jungle? E como foi a apresentação da coleção na Semana de Moda de Berlim? Foi bem espontânea. Eu estava trabalhando como modelo na época e tinha acesso aos bastidores, o que me deu um entendimento e interesse de moda mais detalhado e do que significa essa indústria. Foi quando percebi que a indústria de moda polui mais que aviões e navios. É a segunda maior consumidora de água no mundo, como apontam os especialistas e os sindicatos do setor. A maioria dos itens de vestuário de grandes marcas tem produtos químicos perigosos, além da geração de lixo, etc. Pensei o seguinte: por que não juntar o prazer pelo trabalho como modelo à criação de uma marca com uma proposta mais ambiental, social e empoderada? Comecei, então, com a produção de 20 biquínis feitos manualmente por amigas na comunidade da Linha do Tiro. Trouxe as peças para a Europa e as clientes enlouqueceram. Vendi tudo rapidinho! Primeiro, vendi às amigas e depois pela internet. Depois do sucesso com os biquínis, surgiu a ideia das biojoias. Tudo sempre pensando na questão ambiental. Como é feita a comercialização das peças? As peças são feitas por mães solteiras da comunidade da Linha do Tiro. Essa foi uma maneira encontrada para gerar renda para essas mulheres, muitas vezes abandonadas pelos companheiros e que sustentam a casa sozinhas. Os produtos são comercializados pela internet e também em lojas de biojoias em Báli, na Indonésia, locais com os quais criei parceria para essas vendas. Tínhamos, até o inicio do ano, três lojas físicas parceiras em Berlim e uma em Los Angeles, porém fecharam as portas durante a pandemia. Somos uma marca de empreendedorismo social, o que

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“Há um engarrafamento de filmes que não vão conseguir estrear nos cinemas.”

Este ano foi de emoções nada convencionais para o cineasta pernambucano Camilo Cavalcante. Depois de levar três anos para concluir o longa-metragem King Kong en Asunción, ele viu sua obra ser a grande vencedora do Festival de Cinema de Gramado, um dos mais importantes do País. A premiação, realizada em meio à pandemia, teve uma plateia remota que aplaudiu os premiados em transmissão pela TV ou no computador. Além de ganhar o Kikito de melhor filme, conquistou o Prêmio do Júri de melhor longa, melhor trilha sonora (para Shaman Herrera, que dividiu a estatueta com Salloma Salomão, do filme Todos os Mortos) e melhor ator para Andrade Júnior. Detalhe: o artista faleceu em 2019. Com o respaldo dos Kikitos e de mais três prêmios conquistados no Labrff (Los Angeles, Brazilian Film Festival), Camilo parte agora para a batalha do lançamento da obra em 2021. O momento é difícil, já que a Covid-19 atrasou a estreia de várias produções, levando, segundo o cineasta, a um “engarrafamento ou engavetamento” de filmes. Nesta conversa com Cláudia Santos, ele comenta o impacto da Covid-19 na sétima arte, a dificuldade de sobrevivência dos que trabalham na cadeia produtiva do audiovisual, o crescimento do streaming e a volta do drive-in. Apesar dos obstáculos, Camilo fala dos planos para as próximas produções e afirma que a pandemia pode render roteiros futuros para o cinema. Qual o impacto que a pandemia está provocando no cinema brasileiro? A pandemia provocou realmente um grande impacto porque todas as produções, num primeiro momento, foram paralisadas, com isso também acabou havendo atraso em alguns editais e nas estreias nos cinemas. Já é difícil para o cinema autoral – o independente – conseguir espaço nos nas salas de exibição, conseguir vitrine e, agora, com a pandemia, muitos filmes que tiveram destaque em festivais, em mostras ao longo do ano passado e deste ano não conseguiram ser exibidos. Há um “engarrafamento ou engavetamento” de produções, que não vão conseguir estrear, pelo menos nos cinemas. Além disso, o prejuízo é imenso para os trabalhadores da indústria cinematográfica, da indústria audiovisual, porque, com essa paralisação, todo o setor travou e, portanto, ficou muito difícil a própria subsistência para os técnicos e para todo mundo que trabalha na área. Não é à toa que foram realizadas diversas vaquinhas, diversas cotas, para buscar auxílio, enquanto não chega efetivamente a Lei Aldir Blanc, que está a passos lentos. É uma lei emergencial que já deveria ter entrado em vigor. Mas, enfim, está começando agora a inscrição de projetos e eu espero que isso seja, pelo menos, uma saída para a subsistência de milhares de profissionais da área, enquanto as produções não são retomadas. Como vê a atuação da Ancine (Agência Nacional do Cinema) e da Secretaria de Cultura do Governo Federal? Desde o governo Temer, começou a haver um desmonte da cultura de uma forma geral no Brasil. Com o Governo Bolsonaro, então, foi extinto o Ministério da Cultura, que virou uma secretaria que não tem atuado, na verdade, de nenhuma maneira em prol da arte, nem dos artistas. É uma gestão apática. Na Ancine está havendo uma sabotagem, uma paralisação, que começou também no Governo Temer mas tem se agravado agora. Para piorar a situação, além da pandemia, mas mesmo antes dela, projetos que já foram aprovados há dois, três anos, ainda não tiveram seus recursos liberados por causa desse entrave na Ancine. Isso é uma calamidade para o setor, para as produtoras e, consequentemente, para toda a cadeia de realização de uma obra audiovisual. A Lei Aldir Blanc já vem sendo discutida há algum tempo, mas foi só agora que começou a ser implementada. Acho que é de suma importância porque é realmente emergencial a situação. O streaming foi uma solução possível para cineastas e o público? Essas plataformas já vinham se consolidando há algum tempo e acho que agora, com a pandemia, foi um momento de total consolidação mesmo, inclusive muitos festivais ao redor do mundo foram realizados por streaming, que foi a única solução possível para o público encontrar as obras e os cineastas poderem exibir seus filmes. Acredito que durante um bom tempo ainda vai se desenvolver cada vez mais, não só como como plataforma de veiculação, como já vem acontecendo mas, também, como plataforma de produção de filmes, de séries. Acho que a questão é: que abrangência isso terá? Que tipo de filmes que as plataformas se interessam em produzir ou coproduzir? Seria interessante que quanto mais abrangente fossem, melhor, tanto em forma, em regiões, em ideias, em conteúdos originais, que não ficassem bitoladas somente num certo tipo de eixo narrativo, mas que possam abranger narrativas realmente diversas. Mas, sem dúvida que o streaming é a hora e o momento das plataformas. King Kong en Asunción conquistou quatro Kikitos, entre eles o de Melhor Filme do 48º Festival de Cinema de Gramado. Lembro que na última entrevista que você concedeu para nós, em 2017, você falou sobre essa produção. Ela demorou três anos? Foi muito difícil a sua conclusão, a pandemia chegou a atrapalhar? Quando o filme será exibido? Pois é, o King Kong en Asunción foi um projeto muito cultivado, muito amadurecido, daí a demora, além do fato de a gente ter paralisado a produção por falta de recursos financeiros, aguardando a liberação de parcelas da Ancine. Mas foi muito importante esse tempo também para maturar a montagem. Foi um processo bem demorado e bem curtido. A pandemia atrapalhou um pouco porque a finalização de imagem foi feita em São Paulo e a gente precisou adiar a viagem por causa da pandemia. Foi muito importante a premiação em Gramado nesta edição histórica, que foi transmitida pelo Canal Brasil, e importante também para o ator Andrade Júnior, que faleceu no ano passado, e para toda a equipe. Afinal de contas, foi um projeto como você falou, que a gente demorou muito tempo pra fazer, em razão das próprias condições de ter sido filmado na Bolívia, no Paraguai, no Brasil, que envolve a equipe desses

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Edgard Leonardo: “O Brasil pode ter vantagens ao enfatizar a sustentabilidade”

Os próximos meses não serão fáceis para a economia brasileira e pernambucana. A possibilidade de uma segunda onda da pandemia, a dificuldade de a população adotar as medidas de prevenção ao coronavírus e a perspectiva de que ainda vai levar um tempo para os brasileiros se vacinarem contra a Covid-19 são alguns indicativos das dificuldades que estão por vir. Um cenário que impacta no crescimento econômico e no nível de emprego. Mas, segundo o professor Edgard Leonardo, da Unit (Universidade Tiradentes), existem algumas boas perspectivas também. Nesta conversa com Cláudia Santos, ele analisa as vantagens que podem surgir caso o País adote a economia verde, salienta o espaço que se abre com a desconcentração da produção industrial na China e com a liquidez internacional, e traça um panorama positivo para Suape. O que muda na economia do Brasil e de Pernambuco com a vitória de Joe Biden para a presidência dos EUA? As relações diplomáticas entre o Brasil e os EUA existem e certamente permanecerão independentemente de quem esteja no papel de presidente. Com Joe Biden, a pauta da ecologia e dos direitos humanos seguramente ganha relevância e perde o alinhamento que havia entre o perfil pessoal de Trump e Bolsonaro, o que deve resultar em uma mudança na política externa brasileira que será menos personalista. A pauta da ecologia certamente resultará em maior pressão sobre o Brasil, porém vale salientar que nosso País é um grande player no cenário do agronegócio e os EUA historicamente têm-se utilizado de todos os meios para obter vantagens nos mercados onde concorremos. Os EUA protegem (embora não pareça ser o discurso) produtos de grande interesse dos exportadores brasileiros, subsidiando a produção local de açúcar, milho, soja, algodão; e tarifando o açúcar, o fumo, os derivados lácteos e a carne bovina brasileira. O Auxílio Emergencial será distribuído até dezembro. Como fica a economia e a situação das pessoas economicamente mais vulneráveis? O melhor auxílio sempre será o emprego. Uma economia forte, com crescimento estável e duradouro, que permita a criação de emprego e renda para sua população. Todavia, estamos longe disso e um dos grandes riscos que corremos, que impactaria inclusive nossa produtividade, comprometendo nossa retomada e nossos sonhos a médio e longo prazo, é que o desemprego e o subemprego elevados e prolongados podem gerar a chamada histerese no mercado de trabalho. O termo se refere à dificuldade da taxa de desemprego voltar ao seu estado original após sofrer um choque ou, em outras palavras, a dificuldade do desemprego ceder após uma alta pronunciada e duradoura. A histerese poderia deteriorar o capital humano quando ainda temos uma parcela grande de jovens no mercado, comprometendo nossa produtividade. E vale ainda salientar que para os próximos anos não teremos mais o chamado bônus demográfico. O fato é que, mesmo com a retomada do crescimento e com o aumento esperado de 3,6% do Produto Interno Bruto em 2021, o nível do PIB ainda estará significativamente abaixo do que estaria, caso o País tivesse seguido a tendência anterior, pré-crise. O que infelizmente ainda resultará em níveis de emprego muito baixos. Por isso, além de necessárias às camadas mais desassistidas da população brasileira (que já são muitas e tendem a aumentar), essas medidas são imprescindíveis e já se mostraram importantes para segurança alimentar dessas populações e para manutenção dos níveis mínimos de atividade econômica. É preciso manter a sinalização clara do compromisso com o equilíbrio fiscal e continuar com as reformas. O Brasil oferece boas oportunidades de investimento em um momento de alta liquidez internacional. Os gargalos de infraestrutura, evidenciam que há oportunidades de investimentos que podem atrair investidores nacionais e estrangeiros. Um grande mercado potencial é um de nossos atrativos; além de vantagens comparativas ainda não totalmente exploradas, principalmente na cadeia do agronegócio, onde é possível aproveitar ainda mais nossas vantagens, aumentando a nossa competitividade na indústria de alimentos. Não podemos esquecer das micro e pequenas empresas que representam cerca de 95% das empresas do País e respondem por quase 60% dos postos de trabalho formais, que carecem de medidas acessíveis e o caminho precisa ser direto via BNDES e bancos estatais. O Senado aprovou recentemente o projeto de autonomia do Banco Central. Caso ele seja aprovado na Câmara, quais serão as consequências para a economia brasileira? O debate de um Banco Central com maior autonomia, embora seja uma posição defendida pelo Governo Bolsonaro, não é um debate recente e vem sendo discutido há um bom tempo pelo Legislativo brasileiro. Hoje, os membros do BC podem ser livremente nomeados e demitidos pelo presidente. No projeto aprovado, o presidente e os oito diretores terão mandatos fixos de quatro anos e o mais interessante é que os períodos não serão coincidentes com o mandato da Presidência da República, o que certamente permite maior liberdade de atuação. Todavia o papel da entidade permanece: atuar pela estabilidade e pela eficiência do sistema financeiro, zelar pela estabilidade de preços sendo o executor da política monetária; além de fomentar o pleno emprego. Uma autoridade monetária independente é importante para proteger a instituição e, com isso, todo o sistema financeiro de interferências político-ideológicas, mantendo uma maior confiança em todo sistema. Pesquisas apontam que países com independência da autoridade monetária apresentam inflação mais baixa, dada à redução no risco de que em períodos eleitorais medidas pouco saudáveis do ponto de vista econômico sejam tomadas para viabilizar candidatos apoiados pelo atual mandatário. Outro ponto a salientar é que temos no mundo exemplos de bancos centrais independentes: EUA, Zona do Euro, Canadá, Reino Unido. O senhor acha que a chamada economia de baixo carbono tende a ser adotada por muitos países, como tem sido orientado por especialistas em todo o mundo? Ficou claro em momentos recentes que existe uma grande concentração de atividade industrial na Ásia (na China em particular), o que exporia os países a riscos de abastecimento. Tal percepção aponta uma tendência de desconcentração da atividade industrial gerando vantagens para o Brasil nesse cenário. A questão da mudança climática é uma das grandes preocupações atuais e,

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“Toda empresa com um alto fluxo de dinheiro se tornará uma fintech.”

Você deve ter recebido várias mensagens do seu banco convidando-o para se cadastrar no PIX, um novo meio de pagamentos instantâneo desenvolvido pelo Banco Central. A expectativa é que o sistema substitua DOCs e TEDs, por ser gratuito e estar disponível a qualquer dia e hora. Essa é apenas uma das transformações digitais que estão a caminho e têm causado uma ferrenha disputa entre fintechs e bancos tradicionais. No ritmo dessas inovações, a notícia do lançamento do primeiro banco digital do Nordeste, comandado pelo pernambucano Edísio Pereira Neto, de 32 anos, mostra como esses tempos disruptivos são surpreendentes. Nesta entrevista a Cláudia Santos, o CEO do Zro Bank fala sobre os planos da fintech que se prepara para uma expansão internacional, o impacto do PIX e do chamado open banking na vida das pessoas e o futuro das criptomoedas, que segundo ele, estão sendo criadas por nações como a China, os Estados Unidos e até o Brasil, além de empresas como o Mc’Donalds. Fale um pouco sobre sua carreira. Quando começou a trabalhar e como foi criar o Zro Bank? Eu comecei a empreender aos 16 anos, fundando uma empresa de câmbio no Recife, chamada Europa Câmbio. Conseguimos crescer bastante e ter mais de 15 lojas no Nordeste até concretizar a venda da companhia para o Grupo B&T, da qual recebi parte do pagamento em dinheiro e parte em participações, além de ser convidado para assumir o cargo de diretor estatutário da B&T Corretora. Durante dois anos, liderei o setor de negócios da B&T Corretora, com mais de 300 colaboradores, ajudando a atingir o posto de maior corretora do Brasil, com escritórios em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Miami, além de 200 lojas em todo o País, superando o volume de mais de R$ 35 bilhões em câmbio por ano. Em 2018, fui co-fundador da fintech Bitblue, uma plataforma online que integra o mercado de criptomoedas internacional com o nacional e que ainda no primeiro ano superou mais de R$ 700 milhões em vendas no site, sendo acelerada pela Endeavor, após ser eleita no programa de melhores startups do Brasil. Em 2019, mesmo atingindo o auge da minha carreira, aceitei o convite para ser CEO do Zro Bank, um projeto ousado de criar o primeiro banco digital multimoedas do Brasil, atuando com tecnologia de ponta, em blockchain, e com serviços inovadores como transferência de dinheiro via chat, pagamentos digitais com QR Code e portfólio de moedas digitais. . . O desenvolvimento do projeto durou pouco mais de um ano e foi marcado como o primeiro banco digital desenvolvido no Nordeste e selecionado como TOP 10 Fintechs pelo prêmio mundial da Visa, em Miami, além de citado no ranking das 100 melhores startups da América Latina pelo Innovation Awards. O banco entrou no ar há 30 dias e rapidamente superou a marca de mais de 10 mil contas. Agora, estamos focados em planejar o próximo passo: a internacionalização do Zro Bank. É importante deixar claro que o Zro Bank é um banco digital feito para qualquer tipo de pessoa pois, de um jeito simples e leve, disponibilizamos todos os serviços financeiros com zero taxa, desde conta digital, TEDs ilimitados, cartão sem anuidade, emissão de boletos, pagamento de contas, etc. O bitcoin é apenas um produto disponível em nosso aplicativo, que utiliza quem quer e quem não entende nada de criptomoeda, não tem problema, pode usar o banco da mesma forma e usufruir de todos os serviços gratuitos. Como você avalia as perspectivas das fintechs no Brasil? São as melhores possíveis. Durante muitos anos o Banco Central foi visto como um obstáculo para o empreendedor, privilegiando sempre os cinco grandes bancos do País. O cenário atual mudou radicalmente e eu sou fã do trabalho feito pelo Roberto Campos Neto que vem abrindo cada vez mais oportunidades e descentralizando o poder dos grandes players que agora estão correndo atrás de adquirir suas próprias fintechs. Movimentos como o open banking e PIX são marcos que irão mudar a vida do brasileiro para sempre, tanto o consumidor quanto o empreendedor. Qual o motivo da disputa entre bancos tradicionais e as fintechs em cadastrar clientes para serem usuários do PIX e qual o impacto do PIX no mercado financeiro do Brasil? A disputa é a mesma de sempre, todos querem ter cada vez mais clientes em sua base, seja com contas, cartões e agora PIX. Faz parte de uma disputa saudável, em que, agora, não é mais só o dinheiro que comanda, pois estamos vendo muitas fintechs com orçamentos inferiores tendo mais sucesso do que os grandes bancos com propagandas na televisão. O fato é que o PIX vai mudar a história do mercado financeiro e do consumo no Brasil, permitindo pagamentos 24 horas por dia, 7 dias por semana, sem custos e com confirmações imediatas. Tudo isso trará um dinamismo ao mercado, gerando muita redução de custo com intermediadores, criando uma nova onda de pagamentos com QR Code que tem tudo para acabar de vez com o cartão, assim como funciona na China. . O aplicativo do Zro Bank permite realizar transações financeiras em real e bitcoin. Qual é o futuro das criptomoedas, uma vez que a China já anunciou a criação de sua moeda digital? Sabemos que criptomoeda é a próxima curva do mercado financeiro e é por isso que a China já está testando sua própria criptomoeda, além dos Estados Unidos que está em fase de desenvolvimento e até o Brasil que montou um grupo de estudos pensando em criar a sua até 2022. Acreditamos que essa será a tendência de todos os países no mundo, porque dinheiro em papel custa caro e criptomoeda é rápida, rastreável, segura e permite a inclusão financeira mundial. . . Percebemos que além dos países, grandes empresas estão também com suas moedas digitais, tokenizando seus ativos e criando um possível novo mercado de ações, assim como Facebook e Mc’Donalds, que estão testando suas próprias criptomoedas. Então, as pessoas terão que se acostumar a comer um BigMac

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Moacyr Araújo: “Doenças como a Covid-19 têm relação direta com a degradação ambiental.”

A emissão de gases de efeito estufa produz consequências que vão muito além do que tornar o ar que respiramos mais poluído. Repercute no surgimento de pandemias, de crises hídricas e econômicas e até na inundação de boa parte do Recife num futuro próximo. Nesta entrevista a Cláudia Santos, o professor e pesquisador do Departamento de Oceanografia da UFPE, Moacyr Araújo, que também é vice-reitor da universidade, explica como a economia baseada no consumo do carbono provoca uma série de catástrofes, como a Covid-19, além de ampliar as desigualdades sociais. Araújo, que coordena ainda a Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede CLIMA), aponta que a saída para o planeta está nos princípios da Agenda 2030, dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas e do chamado Green New Deal. Como a devastação ambiental pode interferir no surgimento de pandemias como a Covid-19? Estudos que vêm sendo compilados no âmbito do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) apontavam, já em 2016, que mais de 30 novos patógenos humanos foram detectados nas últimas três décadas, o que significa, em média, mais de 10 novas ameaças à saúde da espécie humana em cada década. Um número muito elevado! Esses estudos indicam ainda que aproximadamente 75% de todas as doenças infecciosas emergentes em humanos provêm de animais, as chamadas zoonoses. Os exemplos mais conhecidos são o ébola, a gripe aviária, a síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS), o vírus nipah, a febre do Vale Rift, a síndrome respiratória aguda grave (SARS), a febre do Nilo Ocidental, o zikavírus e, agora, o coronavírus. Qual a relação dessas doenças com a degradação ambiental? A relação é direta. Essas zoonoses se dão, sobretudo, pelas transformações impostas ao meio ambiente, em grande medida resultado das atividades humanas, que vão desde as alterações no uso da terra (como as queimadas no Pantanal, na Amazônia e em outros biomas brasileiros) até a alteração climática. Essas intervenções impõem mudanças mais ou menos aceleradas nos hospedeiros animais e humanos, forçando os patógenos, em constante evolução, a explorarem novos hospedeiros. A relação entre a degradação ambiental promovida pela ação humana e o surgimento de novas zoonoses é tão direta que um recente estudo publicado pela Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) registra que “existe apenas uma espécie animal responsável pela pandemia do Covid-19, os seres humanos”. Especificamente em relação às mudanças climáticas, como elas podem estimular uma pandemia? Elas alteram os ecossistemas de diversas formas, sejam eles terrestres ou aquáticos. Aumentos de temperatura, por exemplo, podem induzir alterações ambientais que provoquem mudanças comportamentais em diversas espécies animais, como a procura por novos habitats de temperatura mais amena etc., o que pode induzir uma eventual maior aproximação física com os seres humanos, que até então não existia. As doenças associadas aos morcegos, por exemplo, surgiram, em grande medida, devido à perda e/ou modificação de seu habitat natural. Esse movimento de mudança de habitat não induz apenas os morcegos a  procurarem novos locais de vida. Os seres humanos também se veem diante da necessidade de se mudarem. A crise hídrica, por exemplo, decorrente da variação do clima, faz com que se observe hoje em dia uma intensificação de processos migratórios em diferentes locais do planeta. Vejamos o que ocorre hoje na África, onde populações inteiras, que já tinham características nômades, e mesmos aquelas até então sedentárias, se veem obrigadas a percorrer distâncias cada vez maiores em busca de sobrevivência alimentar, resultando, muitas vezes, no aumento do contato dessas populações com novas espécies de animais silvestres. Qual a probabilidade de enfrentarmos outra pandemia, caso persista a degradação ambiental? Ela pode surgir no Brasil? Apesar da impossibilidade de prevermos com exatidão onde ou quando virá o próximo surto, a comunidade científica é unânime em concordar que a probabilidade de termos novas pandemias é elevada. Temos cada vez mais evidências sugerindo que esses surtos ou epidemias podem se tornar mais frequentes à medida que o clima continua a mudar. Quanto à possibilidade de ela surgir no Brasil, eu confesso que isto me parece estar cada vez próximo da realidade, o que tem sido alertado e enfatizado mais recentemente por cientistas nacionais e internacionais. Muito desta inquietação vem do nível de degradação ambiental que os recursos naturais brasileiros já vêm sofrendo historicamente, processo que foi fortemente acelerado nos últimos quatro anos. Dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) indicam que tivemos 25% a mais de desmatamento da Amazônia no primeiro semestre de 2020 quando comparado ao primeiro semestre de 2019. A destruição que observamos neste exato momento em nossos biomas é sem precedentes históricos. Até agosto deste ano, o fogo já havia atingido mais de 12% de nosso Pantanal (maior planície interior inundada do mundo). No nosso Cerrado, onde existe a savana mais biodiversa do mundo, já foram registrados mais de 38 mil focos de calor até setembro deste ano e, na Amazônia, os números de queimadas e incêndios florestais são ainda mais assustadores. Isto, com certeza, terá consequências ainda imprevisíveis para os seres humanos, e a possibilidade de uma nova pandemia faz parte, sim, dos prognósticos. LEIA A ENTREVISTA COMPLETA NA EDIÇÃO 175.3 DA REVISTA ALGOMAIS

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Nêuton Magalhães: “Quando as emoções não estão bem, a dor se intensifica.”

Imprevisibilidade, confinamento, medo de se contaminar pela Covid-19 e trabalhar em home office sem as condições ergométricas adequadas. Eis um conjunto de fatores causados pela pandemia que tem influência no surgimento de um quadro de dor ou até no agravamento de dores crônicas. Nesta entrevista a Cláudia Santos, o neurocirurgião Nêuton Magalhães comenta como a crise desencadeada pela disseminação do novo coronavírus tem provocado sintomas dolorosos nos pernambucanos. Magalhães, que é sócio-fundador da Clínica Neurodor (especializada em dor de difícil controle, localizada no Hospital Jayme da Fonte), explica como o estado emocional pode contribuir para manifestação desse sintoma e orienta como ele pode ser prevenido. Quais as principais queixas de dor que têm chegado aos consultórios durante a pandemia? Dor na coluna. O sedentarismo a que muitos se submeteram nesta pandemia pode ser uma das origens das queixas da dor? Por que a falta de exercício provoca dores? Sim, sem dúvida, o sedentarismo contribui muito para o surgimento de dores de origem muscular. Com a falta de exercício, cria-se um cenário para desenvolvimento de vários fatores perpetuantes de dores na coluna como, por exemplo, obesidade e atrofia muscular. Além disso, problemas emocionais como ansiedade e depressão se acentuaram durante a pandemia e isso contribui para aumentar as dores. A pandemia tem levado as pessoas com sintomas de dor a se automedicarem ainda mais e protelar a ida a uma consulta médica? Qual a consequência disso? Sim, muitas pessoas e alguns médicos não se adaptaram aos meios digitais (teleconsultas) e isso levou à automedicação em muitas situações. As consequências disso podem ser danosas para nosso organismo. O uso crônico de analgésicos simples pode levar a problemas gástricos e renais sérios ou irreversíveis. No geral, em casos de dor na coluna, não devemos tomar analgésicos mais que 15 dias, no máximo 30 dias, se houver necessidade e, preferencialmente, sob prescrição médica. A dor de cabeça ou pelo corpo pode ser um sintoma de Covid-19. Como diferenciá-la dos demais tipos de dor? A dor de cabeça decorrente da Covid-19 geralmente vem acompanhada de sintomas no corpo inteiro e febre (sintomas gripais). Dores nas articulações também podem ocorrer, além de outros sintomas como perda ou diminuição do olfato. LEIA A ENTREVISTA COMPLETA NA EDIÇÃO 175.2 DA REVISTA ALGOMAIS

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Queiroz Filho: “A ampla não cabe mais num escritório.”

Na última sexta-feira, dia 2, o mercado publicitário de Pernambuco foi surpreendido com um anúncio imobiliário colocando a sede da Ampla, no Recife, para alugar. Detalhe: o anúncio foi feito pela própria Ampla. Essa foi a maneira bem-humorada criada pela agência para divulgar a revolução que está passando. Afinal, o moderno prédio de 900 m² situado na Madalena era um sonho conquistado pelo fundador, Seu Queiroz, e uma referência no bairro. Mas a pandemia acabou acelerando um processo da forma como a empresa tem evoluído e atuado nos últimos anos e que foi chancelado com o sucesso do home office. Hoje, todos os seus funcionários estão trabalhando de suas casas e assim vão permanecer. E eles podem residir em qualquer lugar do mundo, no Recife, em Lisboa ou Moçambique. Nesta entrevista a Cláudia Santos, o CEO da Ampla, Queiroz Filho, detalha toda essa reviravolta, fala dos planos da agência e de como a pandemia e a internet impactaram o mercado publicitário. Como surgiu a ideia de implantar o home office permanente na Ampla? Vou tentar resgatar um pouco o início da Ampla, que nasceu em 1976, fundada por Seu Queiroz, que era arrimo de família, filho de empregada doméstica. Papai era um vendedor nato, trabalhava como balconista da Primavera (Magazine Primavera que vestia as famílias tradicionais do Recife) e foi cooptado por Mário Leão Ramos, que tinha uma agência muito famosa chamada Abaeté e uma gráfica. Ele era cliente da Primavera e ficou impressionado com a capacidade de venda de Seu Queiroz e o convidou para trabalhar na gráfica dele que estava quebrada. Papai revolucionou a gráfica. Depois ele colocou papai na agência. Terminou que Ramos acabou indo pro Rio de Janeiro e colocou papai para gerenciar a Abaeté. Ele disse que ninguém sabia administrar a agência, porque lá só tinha intelectual. Papai cuidou da empresa dele até 1976, época em que saiu da agência para ser representante comercial que era o sonho dele, olha só! (risos). Quando foi avisar aos clientes que sairia da Abaeté, mas continuaria fazendo as visitas para eles para vender veículos, a Pitú, a Icopervil e o Açúcar Estrela não aceitaram. Disseram que ele iria montar uma agência e eles sairiam da Abaeté para continuar sendo atendidos por papai. Montar a Ampla não foi um sonho para seu Queiroz, foi um acaso que virou um sonho. De 1976 a 1992, a gente pulou muito de casa, o negócio foi crescendo e uma hora ele disse: “tenho que ter minha casa própria”. Esse sonho foi realizado em 1992 com a sede no bairro da Madalena. E lá estamos até hoje. São 28 anos. Ele tinha muito orgulho de dizer que o prédio não era uma casa como a das outras agências que se adaptaram para escritório. O da Ampla foi projetado para ser uma agência de publicidade. A sede tem cerca de 900 m² de área, o prédio é lindo, é imponente e é um patrimônio da família Queiroz. De um tempo pra cá, a gente vem se questionando se a melhor alternativa para a Ampla é continuar no prédio, mas a amarra sentimental é muito forte. Fizemos em 2017 uma fusão com a Massapê, de Gabriel Freire, Anselmo Albuquerque e Henrique Pereira. Quando esses meninos chegaram na agência, a intenção era pra mexer com um bando de velhos, como eu. Era pra chutar o pau da barraca. Nessa discussão sadia, a gente chegou a pensar, em 2018, num projeto no Bairro do Recife, no shopping Alfândega, que transformou o último andar num coworking. Aquela coisa moderna, sem paredes, integração de várias empresas de tecnologias que se confunde com o nosso negócio. Mas faltou coragem pra sair, havia o elo emocional da família Queiroz. A coisa não aconteceu, mas a chama não apagou. Todos concordávamos que estava chegando a hora de tomar essa decisão difícil, mas que ia nos fazer mais felizes. Aí, em 2020, chega a pandemia. O home office veio com uma imposição, mas as empresas do nosso segmento aprenderam e se saíram muito bem. Um dia, conversando com minha irmã e meu sobrinho, decidimos que era a hora perfeita de tomar a decisão de implantarmos o home office e colocar o prédio para alugar. A gente sabia que seria o melhor para a empresa, não o melhor para a família, que é a dona do prédio e ter um cliente que paga aluguel religiosamente todo mês, como a Ampla é muito bom. Nesses tempos de pandemia teremos uma dificuldade enorme de alugar, mas temos que colocar a empresa na frente de tudo, como seu Queiroz colocou. Tinha gente que não entendia e dizia: você tem uma família linda, é o cara mais família que conheço e bota a empresa em primeiro lugar? Ele dizia: “eu tenho essa família linda por causa do trabalho”. Então seguimos o DNA de seu Queiroz. E os funcionários gostam da ideia de trabalhar em home office? Todos fomos trabalhar em casa em 16 de março. Quando chegou no final de junho, fizemos uma pesquisa interna com os colaboradores para saber como estavam aqueles quase 90 dias de home office. A pesquisa mostrou um alto percentual de aceitação, mesmo com as dificuldades. Elencamos, então, essas dificuldades e resolvemos o que podíamos resolver. O mais comum era não ter mesa e cadeira adequadas para trabalhar. Mandamos para as casas deles as mesas e cadeiras em que trabalhavam na Ampla. A pesquisa também mostrou o aumento do gasto de energia na residência. Criamos, então, um voucher pra todos os colaboradores de R$ 100. O que os funcionários acharam de positivo no home office? A convivência familiar, a presença deles em casa. Além disso, hoje, um dos principais ativos é o tempo, e como eles não se deslocam mais para ir ao trabalho, podem gastar esse tempo livre com o que quiserem. Outro formato fundamental é a flexibilidade. Muitos funcionários deixaram de fazer um curso ou de ter uma experiência na Europa porque não queriam perder o emprego na Ampla. Agora

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Gustavo Escobar: “Se sua empresa sequer começou a implantar a LGPD, então corra!”

Vivemos, no cotidiano, informando nossos dados pessoais a todo momento: quando entramos num prédio empresarial e nos identificamos, quando fazemos uma compra online, ou quando nos cadastramos numa rede social, só para ficar em alguns exemplos. Com a instituição da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que entrou em vigência semanas atrás, as empresas passaram a ter uma série de obrigações para preservar a privacidade dessas informações das pessoas, sejam clientes, fornecedores e até empregados. Muitos empresários, porém, segundo o advogado Gustavo Escobar, ainda não atentaram para a urgência da sua adequação às exigências da nova lei. O que é temerário: entre as penalidades previstas está a multa de até R$ 50 milhões. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Escobar, que é especialista em propriedade intelectual e proteção de dados, explica detalhes da LGPD, o que é necessário para se adaptar às suas determinações e alerta que essa adequação já deveria ter sido feita pelas empresas. Você poderia dizer, em linhas gerais, o que estabelece a Lei Geral de Proteção de Dados? A LGPD cria um sistema de proteção e regula o uso dos dados pessoais pelas empresas. Até hoje, o tratamento desses nossos dados não tinha uma proteção mais robusta. Com a vigência da lei, há uma mudança de cultura que coloca as pessoas (titulares dos dados), ou seja, todos nós, no centro da atenção e no controle das nossas informações. A legislação, em síntese, determina que o consentimento para uso dos dados pessoais deve ser a regra e cria todo um sistema legal para fazer valer essa previsão, inclusive com multas pesadas. A lei considera dados pessoais toda informação que identifique ou possa identificar uma pessoa física. Ela se aplica a todos que fazem tratamento de dados de clientes, funcionários, fornecedores etc. Na verdade, na prática, todas as empresas serão impactadas e precisarão se adequar à LGPD. Usando o teor da própria legislação, podemos dizer que a lei tem como fundamentos: “o respeito à privacidade; a autodeterminação informativa; a liberdade de expressão, de informação, de comunicação e de opinião; a inviolabilidade da intimidade, da honra e da imagem; o desenvolvimento econômico e tecnológico e a inovação; a livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor; os direitos humanos, o livre desenvolvimento da personalidade, a dignidade e o exercício da cidadania pelas pessoas naturais”. Por que a lei foi criada? Desde a década de 90, na Europa, existem iniciativas que visam a preservar a privacidade e a proteção aos dados pessoais. À medida que o uso desses dados foi crescendo por parte das empresas, também aumentou a preocupação de todo o mundo civilizado com a necessidade de impor limites e regras. Com o crescimento exponencial do tratamento de dados, a partir do desenvolvimento tecnológico e da velocidade da internet, com o surgimento do chamado big data, redes sociais e depois dos escândalos envolvendo o Facebook e a empresa Cambridge Analytica, que foi acusada de usar massivamente os dados de usuários daquela rede social para manipular a opinião política e influenciar no resultado de eleições, houve praticamente um consenso de que era necessário se fazer algo para impor limites a esse uso indiscriminado de nossos dados pessoais. É nesse cenário que, na Europa, surgiu o RGPD (Regulamento Geral de Proteção de Dados), criando as bases para várias legislações nacionais, inclusive, para a nossa LGPD. É preciso compreender que no cenário de globalização e interconectividade, os dados transitam sem fronteiras entre servidores e computadores que estão localizados em países e mesmo continentes diferentes. Dessa forma, para preservação de tratados internacionais e reciprocidade entre as nações, o Brasil foi induzido a se adequar ao status quo que regula a proteção de dados pessoais. É assim que temos a atual legislação. Os países mais avançados impõem essa regra aos demais, as empresas multinacionais se adequam e passam a pressionar a sua cadeia de fornecedores a se adequar para poderem continuar a fazer negócios e, desta forma, de cima pra baixo, vai surgindo um movimento que passa pela legislação até às cláusulas dos contratos e obrigações de compliance, chegando às pequenas e médias empresas. O que é ANPD (Autoridade Nacional de Proteção de Dados)? A Autoridade Nacional de Proteção de Dados é o órgão criado pela LGPD que, com autonomia técnica, tem várias funções associadas à implementação, cumprimento e eficácia da proteção de dados no Brasil. A ANPD tem funções que vão desde “elaborar diretrizes para a Política Nacional de Proteção de Dados Pessoais e da Privacidade”, passando por “editar regulamentos e procedimentos sobre proteção de dados pessoais e privacidade”, como também “editar normas, orientações e procedimentos simplificados e diferenciados, inclusive quanto aos prazos, para que microempresas e empresas de pequeno porte, bem como iniciativas empresariais de caráter incremental ou disruptivo que se autodeclarem startups ou empresas de inovação, possam adequar-se a esta Lei”, até à imposição de pesadas sanções em casos de violações à lei, vazamento de dados, etc. Quais as consequências da LGPD para as pessoas físicas? O que acontece se os dados de alguma pessoa vazar? Na verdade, para as pessoas físicas, desde que não sejam responsáveis por tratamento de dados, a lei não tem consequências, mas sim, proteção. A LGPD protege os dados pessoais das pessoas naturais (pessoas físicas) e regula como e quando esses dados podem ser usados. Dessa forma, havendo vazamentos por parte de empresas que façam tratamento de dados pessoais (atualmente praticamente todas empresas), surge a possibilidade de que os titulares dos dados (pessoas físicas) possam acionar as empresas pedindo uma reparação moral pelo uso ou exposição indevida de seus dados. Assine a Revista Algomais e leia a entrevista completa na edição 174.4

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Luciano Meira: “Precisamos redesenhar a sala de aula, este é um momento apropriado.”

Luciano Meira, professor de psicologia da UFPE, sempre foi um entusiasta do uso das novas tecnologias na educação, por isso, tem olhado com profunda atenção a repentina introdução da aprendizagem remota na pandemia. Mas ele sempre defendeu que não basta transpor para mídias digitais a tradicional aula expositiva, na qual o professor apenas coloca os conteúdos para os estudantes. O resultado disso são alunos desinteressados e exaustão de docentes e aprendizes, que, segundo o especialista, é o que tem acontecido na maioria das escolas, salvo exceções. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Meira, que também é sócio-empreendedor da Joy Street e professor colaborador da Cesar School, aponta os caminhos para a construção de propostas didáticas que engajem alunos e transforme a aula remota numa experiência virtual significativa. Ele reconhece as dificuldades e a falta de apoio na formação dos professores para este momento, critica a ausência do Ministério da Educação e opina sobre a reabertura das escolas. O que o você tem achado da experiência das aulas remotas na pandemia? O primeiro a se destacar é o papel central, crítico, fundamental do professor e de sua gestão na organização de um ambiente de ensino e aprendizagem que favoreça a construção das relações entre professores e estudantes – que são essenciais como sustentação para o aprendizado nesse novo ambiente. Outro destaque é a necessidade de elaborar o design instrucional, que cuida da montagem de trajetórias de aprendizagem, desde a construção da matriz de competências a serem desenvolvidas, passando pelo desenho detalhado das sequências didáticas para cada tópico de aprendizagem, até os métodos de ensino e formas de avaliação de desempenho dos aprendizes. Temos visto muitas excelentes iniciativas, que são extremamente interessantes, mas, por outro lado, não há muita novidade. Segundo o Instituto Península, em pesquisa realizada ainda no início de abril, com cerca de 2.500 professores no Brasil, mais de 50% deles tentavam construir algum tipo de contato com seus alunos. O que era fundamental naquele momento para evitar que os estudantes deixassem de perceber a escola como um centro das suas vidas ou pelo menos com alguma centralidade nas suas vidas. Um dado interessante é que 60% dos professores ocuparam o seu tempo estudando. É uma situação nova para muita gente, muitos professores jamais haviam entrado num ambiente de salas de aula virtual ou feito cursos online. Isso deveria ser muito frequente, mas a pandemia nos levou para esse ambiente, fazendo avançar, talvez em vários anos, a transformação digital, tão necessária para a educação. Transformação digital não é usar equipamentos ou dispositivos tecnológicos na escola, mas mudar comportamentos e inovar na sala de aula. É uma nova forma de ver a educação habilitada por plataformas digitais. O Instituto Península, um mês depois, em maio, realizou a segunda pesquisa, dessa vez com cerca de 7.500 professores, dos quais 83% não se sentiam preparados para o estabelecimento de um ambiente de aprendizagem produtivo remotamente. Isso é revelador. O fato é que, caso se trate apenas da transposição de uma aula expositiva para uma mídia digital, não vamos ter a mudança fundamental que precisamos na educação, em termos do engajamento das crianças, da imersão dos professores em propostas e práticas didáticas que favoreçam uma aprendizagem significativa. O que me parece é que os ambientes e a abordagem utilizados no ensino remoto até aqui, na maior parte dos casos, não favoreceram à transformação inovadora para engajar melhor os estudantes e construir cenários de aprendizagem que já necessitávamos antes desse movimento. Precisamos muito mais de design instrucional para fazer da aula remota uma experiência virtual significativa. Após seis meses de aulas por sistemas online, há relatos de alunos que se sentem muito cansados. Por que isso acontece e qual seria a possível solução? A fadiga tem uma diversidade de origens. Pode ser a fadiga ocular, que aflige o nervo ótico pela hiperexposição à tela, mas essa não é minha área de expertise. Ficamos também fatigados porque somos seres corpóreos. Todos temos uma presença física no mundo que precisa de uma expressão. Isso exige um tipo de interação social que é melhor estabelecida quando estamos em momentos de conversação com as pessoas convivendo num mesmo ambiente físico. Quando você está numa tela e vê as faces de várias pessoas, você passa a se fixar e, de uma certa forma, estabelecer um escrutínio do rosto de todas elas. Isso é cansativo porque você começa a avaliar todas as expressões que estão ali naquela tela mais detidamente, o que não é o caso do mundo físico, porque nossa atenção é fluida e está mais conectada com o sentido, não com a imagem do que aparece. Isso se dá porque no mundo físico nós transitamos corporeamente e no mundo online estamos fixos diante de uma observação e de um conjunto de imagens. Não temos os dispositivos psicológicos que permitem no mundo físico nos desconectarmos, digamos assim, a atenção de um rosto específico e passar a ter uma análise mais ampla do sentido de uma interação. Bom, isso é um pouco da explicação psicológica. Além disso, do ponto de vista educacional, essa fadiga, emerge, na minha opinião, mais rapidamente e com consequências mais sérias se a transposição que foi feita daquela experiência da sala de aula for unicamente baseada na exposição de conteúdo. E mesmo que haja um debate após a exposição, é sempre o mesmo debate, a criança se esforça para participar disso. Mesmo um bom jogo quando é jogado diversas vezes, a criança não quer mais jogar, ela precisa de novos jogos, novos tipos de sequenciamento das formas didáticas e isso exige, como já disse, inovação das práticas didáticas. Existe hoje um conjunto enorme de possibilidades: sala de aula invertida, prática por projetos, challenge basead learning (aprendizagem baseada em desafios) que os professores podem pesquisar em lugares como site da Nova Escola e o portal do Porvir (porvir.org), talvez um dos melhores que temos hoje no Brasil para os educadores buscarem boas ideias de como pode se dar essa reorganização didática no âmbito da sala de aula. Professores também se

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