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Entrevistas

"Percebemos que o vidro plano é um produto em expansão de uso"

Henrique Lisboa, presidente da Vivix, conta a trajetória da empresa que está completando 10 anos e que é a única brasileira a atuar no mercado de vidros planos ao lado de gigantes multinacionais. Também aborda como o surgimento do home office e o aumento da temperatura influenciam na criação de novos produtos. A conjuntura econômica, social e ambiental dos últimos anos acabou por impactar a arquitetura de residências e de imóveis comerciais. Seja em razão do aumento da temperatura, provocado pelas mudanças climáticas, do surgimento do home office, popularizado na pandemia, ou da poluição sonora das grandes cidades, construtoras e moradores viram-se diante de novas necessidades ao compor seus ambientes. A fabricante pernambucana de vidros planos Vivix tem transformado essas demandas em oportunidades para expandir os negócios, a partir de inovações como a fabricação de produtos com controle térmico e acústico. Entretanto, há uma década, a empresa foi fundada pelo centenário Grupo Cornelio Brennand já na perspectiva de que o setor vidreiro usufruía da vantagem de ter um mercado em expansão. Um investimento que o tempo comprovou ter sido uma decisão acertada. Com 340 funcionários diretos e uma produção diária de 900 toneladas de vidros planos, a Vivix está completando 10 anos com participação próxima a 15% do mercado. O que não é pouca coisa, afinal é a única empresa brasileira competindo com gigantes internacionais no setor. Para conhecer a trajetória, as inovações e os projetos da Vivix, Cláudia Santos conversou com o presidente da empresa Henrique Lisboa. Ele também abordou como os percalços da conjuntura econômica, a exemplo dos juros altos, têm influenciado os negócios. A Vivix pertence ao grupo centenário Cornélio Brennand. Qual foi a oportunidade de mercado que levou à criação da empresa? Desde 2008, o Grupo Cornélio Brennand, presente há 106 anos na indústria de cimento, cerâmica e vidro para embalagem, vinha avaliando entrar nesse negócio. Olhávamos esse mercado ao mesmo tempo em que possuímos jazidas de minérios, que são ativos presentes na matéria-prima do vidro. Percebemos que o vidro plano, na construção civil, é um produto em expansão de uso. Do ponto de vista arquitetônico, pode ser usado tanto internamente quanto externamente. Ele dá nobreza e, na forma de espelho, que é um subproduto do vidro, amplia os ambientes. Como esses ambientes das cidades grandes estão ficando cada vez menores, há essa necessidade de dar a sensação de amplitude. Além disso, está acontecendo uma evolução na parte de fachadas dos edifícios, no Brasil e no mundo, para economizar mais energia e proporcionar mais interação com o meio ambiente, e o vidro traz essa possibilidade, de você poder enxergar o lado de fora. Assim, naquele momento em que estávamos analisando as oportunidades de mercado, especialmente entre os anos de 2010 e 2014, existia uma carência de oferta desse produto no Brasil. Inclusive, comparado a outros países, o uso do vidro plano aqui está bem abaixo. O grupo, que ao longo do tempo, investiu bastante em empresas como as que têm tecnologia ou que sejam intensivas em capital, como a indústria de vidro, viu que era um bom investimento. Havia uma oportunidade no mercado de produzir e vender um produto que estava, e ainda está, em expansão de uso. Quando se olha desse ponto de vista, por essas características que mencionamos, percebe- -se que esse produto, a longo prazo, vai expandir seu uso no mundo. Obviamente, existem as variações da economia. Os anos de 2014 e 2015, de PIB negativo, foram muito ruins, e esses momentos vão afetando todas as indústrias, inclusive a de construção civil e a indústria de vidros planos também. Atualmente, somos o único fabricante nacional nesse mercado. A Vivix é uma empresa pernambucana competindo com grandes multinacionais. Temos relevância no setor, estamos perto de 15% no mercado. Somos respeitados pelos clientes, pelo mercado, pela concorrência, isso é algo que conquistamos ao longo desses 10 anos de trajetória. Nessa trajetória quais tipos de vidro que a empresa passou a produzir? Como foi a evolução da produção e do atendimento às demandas do mercado? Como a característica dessa indústria é um alto forno que fica produzindo 365 dias por ano, não poderíamos começar a operar a fábrica sem ter mercado. Então, um ano e meio antes da operação iniciar, começamos revendendo produtos importados e, dessa forma, quando a fábrica fosse ligada, já teríamos clientes para escoar a produção. E assim foi feito. Quando iniciamos a operação, já havia aproximadamente 70% da produção encaminhada. Então, substituímos a importação pela produção, começando a fabricar o vidro incolor, normal. Uma curiosidade: no início, não é recomendável produzir vidro colorido num forno muito novo. Por isso, depois de um ano, produzimos o verde, o cinza, fomos fabricando as cores que são mais vendidas no mercado nacional e dando sequência ao aumento de portfólio. Passamos, então, a produzir o espelho, que é uma transformação do vidro por meio do banho de prata, e o vidro laminado, que se vê muito em edifícios comerciais do chão ao teto, conhecido também como vidro de segurança, porque, se sofrer uma batida, ele fica marcado, mas não é traspassado, pois tem uma proteção. Então, entramos nessas linhas de produtos um pouco mais avançados e, em 2018, começamos a produzir os vidros de controle solar, que são esses meio espelhados, também comuns em prédios comerciais, com um acabamento que impede ou dificulta a entrada de calor proporcionando melhor sensação térmica e economia de energia. Um ano depois, começamos a produzir vidros pintados, usados como revestimentos especialmente em cozinhas. Então, todos esses tipos de vidro mencionados correspondem a mais ou menos 95% do que é vendido de portfólio no mercado. A empresa está lançando o vidro acústico. Quais as características dessa tendência? A gente vem observando o mercado como um todo, trabalhando muito próximo dos arquitetos e das construtoras e percebemos que é crescente essa questão de melhorar as barreiras acústicas, principalmente pensando em pessoas que moram muito próximas a avenidas, casas de show, aeroportos, por exemplo. Segundo o gerente de mercado da Vivix, Luiz

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"Osman Lins dava sangue, suor e lágrimas por uma boa frase"

Angela Lins, filha do escritor pernambucano, conhecido por sua prosa inovadora, fala das comemorações do centenário dele e também da sua obra, considerada como uma das formadoras da ficção contemporânea brasileira. Ela também conta como era a relação do pai com a família e as suas incursões no audiovisual. Embora Lisbela e o Prisioneiro seja a obra mais conhecida de Osman Lins pelo grande público – muito em razão do sucesso da versão para o cinema –, o escritor pernambucano tem uma vasta produção literária que conquistou admiração e prestígio por sua escrita arrojada e sofisticada. Ganhador de vários prêmios e traduzido em diversos idiomas, Osman Lins desenvolveu uma prosa inovadora que, para muitos críticos, contribuiu para conceber a ficção contemporânea no Brasil, ao lado de Guimarães Rosa e Clarice Lispector. Como toda arte que ousa, suas criações, muitas vezes foram incompreendidas, como o romance Avalovara. Mas o experimentalismo poético do livro levou o argentino Julio Cortázar a dizer que se o tivesse escrito passaria 20 anos sem produzir outra obra. Esse filho de Vitória de Santo Antão, que faleceu em 1978 em decorrência de um câncer, faria 100 anos no último dia 5 de julho. Seu centenário tem sido comemorado em várias cidades e instituições e pode ser uma oportunidade para tornar Osman Lins – que ainda é pouco lido em seu Estado natal – mais conhecido do público-leitor. Cláudia Santos conversou com a filha do escritor Angela Lins sobre as comemorações, a relação que ele mantinha com a família e os desafios para conquistar uma sede no Recife para o Instituto Osman Lins. Também analisou a produção literária do pai e as criações para o teatro e a TV, como os roteiros para os episódios do programa Caso Especial, da Rede Globo, nos anos 1970. Como estão as comemorações do centenário de Osman Lins? A professora e pesquisadora Elizabeth Hazin, que é uma estudiosa da obra dele, elaborou um programa bem minucioso e interessante para um edital, mas recebi uma notícia muito chata de que a proposta não foi aprovada, embora tenham sido aprovadas outras duas que não abordavam a literatura. Então, uma coisa que eu não entendo é como uma pessoa pode preterir uma boa literatura? E não falo isso porque ele é meu pai, mas porque Osman Lins era uma pessoa que fazia questão de escrever muito bem, dava sangue, suor e lágrimas por uma boa frase e sempre gostava de incentivar a leitura. Além desse projeto, cujo edital não foi aprovado, há outras iniciativas dentro das comemorações dos 100 anos de Osman Lins? O professor Robson Teles, da Unicap, fez um programa de leitura para os meninos de escola pública do ensino fundamental, utilizando os livros de papai e de outros autores nacionais. Eu achei isso uma maravilha, perfeito. Papai ficaria feliz com essa iniciativa. Ainda dentro da celebração do centenário, o professor Robson promoveu um evento na Unicap. Também teve uma homenagem na Academia Pernambucana de Letras e outra na Academia de Letras de Paulista. Agora, no segundo semestre, terá uma programação em São Paulo e outra em Santa Catarina. Em Vitória de Santo Antão, onde ele nasceu, a prefeitura realizou um evento muito bom, muito emocionante, que eu gostei muito. O prefeito de Vitória, Paulo Roberto Arruda, que é o dono da Faculdade Osman Costa Lins, esteve em Dresden, na Alemanha, e recebeu um tratamento diferenciado quando descobriram que ele era da mesma terra de papai. Ele ficou tão grato que colocou o nome de papai na faculdade. E, em Vitória de Santo Antão, vai ter um instituto dedicado a ele. E como está o Instituto Cultural Osman Lins no Recife? O instituto não tem sede, só tem uma caixa postal no bairro de Casa Forte, que é um espaço coletivo. A gente aluga esse espaço e faz eventos lá, mas não é um local dedicado exclusivamente a Osman Lins. Há muitos documentos de papai, muita coisa do arquivo dele no IEB (Instituto de Estudos Brasileiros) lá da USP (Universidade de São Paulo) e na Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. São mais de 5 mil itens. No Recife existe um acervo, mas está aqui no meu apartamento, não no instituto. Quais são as demandas do instituto? Precisamos de uma sede, mas não temos dinheiro. Com uma sede própria, poderíamos fazer oficinas, um teatro, alguma coisa que movimente a cidade, que reúna as pessoas, que cultive as letras. Mas, para conseguir uma sede é complicado. A gente poderia arranjar em regime de comodato. Mas eu já ouvi muitas promessas e, é como diz aquele ditado, “promessa só santo é quem atende”. Se eu fosse viver das promessas, estaria no melhor dos mundos. Já falei com alguns políticos. É chato dizer isso, não é? Agora, falando mais da personalidade dele, como era Osman Lins como pai? Era um pai maravilhoso porque tinha sensibilidade. Antes de falarmos, ele já percebia o que estávamos pretendendo. No começo ele era muito metódico, quando éramos crianças, fez uma lista determinando horários para a gente acordar, ir à escola, fazer tarefa, tomar banho, almoçar, brincar. Aí a gente fez uma rebelião e ele desistiu (risos). E ele também nos levava, todo fim de semana, para assistir a uma peça de teatro. O Recife já foi muito melhor nesse aspecto. Então, ele nos levava para o Teatro Santa Isabel, para o Trianon, o Moderno ou o Art Palácio e depois íamos para a sorveteria Gemba. Esse ritual se repetia porque ele passava a semana trabalhando, escrevendo, indo para o Banco do Brasil e o fim de semana era nosso. Além do teatro, ele nos levava para todos os programas diferentes que surgiam. A gente já visitou navios atracados no porto, fazíamos passeios de canoinha pelo rio, da Jaqueira até Dois Irmãos, para ver o pôr do sol. Ele também era muito compreensivo. Minhas duas irmãs mais velhas iam para a escola e eu ficava chorando porque queria aprender a ler, então ele me colocou para estudar

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Sérgio Vilanova: "Eu sei pintar alegria porque escutei muito frevo"

Artista plástico Sérgio Vilanova conta como a paixão por Olinda o inspirou a criar um universo fantástico povoado por figuras alegres e cheias de cor. Também fala dos planos de fazer um livro e de como acompanhar a banda de seu pai – o maestro José Alves – no Carnaval olindense influenciou a sua arte. Estar no ateliê/casa do artista plástico Sérgio Vilanova é sentir a atmosfera de Olinda. A começar pelo próprio imóvel, uma construção secular, na cor vinho, típica da Cidade Alta. Ao entrar na sala, o visitante logo recebe o impacto de seus diversos quadros (que tomam as paredes), cheios de cores, movimentos e ludicidade. É como se as figuras alegres e coloridas no estilo naïf estivessem num ambiente carnavalesco sob a vibração do som de uma orquestra de frevo. “Gilberto Gil disse ‘a Bahia me deu régua e compasso’, e eu acho que Olinda me deu as cores”, compara o artista. E não é para menos. Afinal, Sérgio, desde criança, quando morava na mesma casa da Rua do Amparo, não só observava pela janela a brincadeira dos foliões, como também acompanhava seu pai, o maestro José Alves, comandando uma banda de frevo, pelas ladeiras arrastando a multidão. Ele também exercia uma função importante: desenhava as partituras. Mas, se não seguiu a carreira paterna de músico, a vivência carnavalesca acabou por influenciar a inspiração da sua obra com imagens que esbanjam animação e festividade. Nesta entrevista a Cláudia Santos, o artista falou da sua trajetória que tomou impulso ao ser premiado no Salão de Arte do Museu do Estado. Ele participou de diversas exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior, como Laumeier Sculpture Park, em Saint Louis, nos Estados Unidos; Het Domein, Holanda; Cassino do Estoril, Portugal; e Museu Internacional de Art Naïf do Brasil. Apesar de viver da sua arte, Sérgio Vilanova lamentou as dificuldades para concretizar o projeto de realizar um livro sobre sua produção artística. Também conversou sobre seu processo criativo e a convivência com outros artistas em Olinda. Como você começou a se interessar pelas artes plásticas? Meu pai era músico no início dos anos 1970, e tinha uma orquestra de frevo. Isso foi, para mim, uma verdadeira escola de arte. Na música, eu fazia de tudo. Escrevi muitas partituras – eu que desenhava as partituras da banda, porque não tinha xerox – já veio daí o talento para desenhar. A banda, essa coisa gostosa do Carnaval, está entranhada na minha pintura e eu acho isso maravilhoso. Uma vez um amigo do meu pai disse para ele: “olha, Zé Alves, seu filho não vai ser teu sucessor na música, não”. Passou um tempo, meu pai comprou para mim uma paleta de cores e me perguntou: “é isso que você gosta?” E respondi que sim, e ele disse: “então, toma e segue”. Foi o maior presente para mim. E como foi sua trajetória? Você sempre viveu da arte? Depois que meu pai fechou a banda, em 1977, tentei fazer outras coisas para sobreviver. Trabalhei numa gráfica, cheguei a fazer a parte gráfica para agências de publicidade, mas não era minha praia. Minha praia mesmo era o desenho. A arte sempre foi a minha razão de ser. Quando tinha tempo livre, fazia uns rascunhos, e as pessoas gostavam, então, criei coragem e, em 1982, quando ainda havia salões de arte do Museu do Estado, coloquei uma pintura minha e fui premiado. Então decidi deixar a gráfica e virar artista. Aí eu fui caminhando, criando e, graças a Deus, fazendo exposições. Tenho trabalhos na Itália, na Holanda, em museus na América. Apareci em muitas matérias de jornal e programas de TV, por exemplo, Globo, Discovery, BBC. Hoje eu consigo viver da minha arte. Minha casa fica em Olinda, tem três andares, moro no segundo e no primeiro, exponho meu trabalho. Não sou um cara de tanto luxo, mas consigo me manter porque não estou fazendo clientes, estou fazendo amigos. E isso é melhor, pois um amigo te ajuda, se estou com um quadro exposto em casa, ele vai querer. Eu não perdi a essência do que eu sou. Tereza Costa Rego me dizia: “quando eu te conheci você estava amadurecendo e hoje você não perdeu sua essência”. Então é basicamente Olinda que inspira a sua arte? Olinda é meu referencial até hoje. Essa cidade me conquistou desde o dia que eu nasci. Gilberto Gil disse “a Bahia me deu régua e compasso”, e eu acho que Olinda me deu as cores. Estou sempre buscando algo novo dentro da natureza de Olinda, sempre buscando algo que remeta ao Carnaval. Desde quando acompanhava meu pai na banda, eu via passistas, a La Ursa, os Papangus e isso me dava um giro de cores. Quando estou triste eu saio, vejo uma mulher com roupas coloridas, eu digo “isso é a cor que eu quero”, volto para casa correndo e pinto. Sua pintura tem movimento, ludicidade e muitas cores vivas também. É um combo de cores e, justamente por isso, eu não sei pintar triste, eu não sei pintar deprimido. Uma vez Marianne Peretti (artista plástica vitralista, falecida em 2022 e que morou em Olinda) trouxe Oscar Niemayer aqui. Ele olhou, olhou, olhou e disse: “rapaz, gostei muito do seu trabalho, você é o poeta das cores”. Fiquei emocionado, só tinha visto o homem num livro de escola. E realmente é um colorido que eu busco no dia a dia da cidade, do cotidiano, das coisas simples, dos quintais com os pássaros, da simplicidade da Macuca, da felicidade dos moradores. Eu sei pintar alegria porque escutei muito frevo, vi muita gente se divertindo, com fantasias na cabeça feitas de papel machê, e isso me alegrava. É essa coisa que eu observo dentro do meu olhar. E você sempre foi autodidata? Nunca frequentou um curso de artes plásticas? Não. Mas não podemos afirmar que, em Olinda, a pessoa é autodidata, porque aqui há muitos artistas que nos ensinam um monte de coisa. De fato, você está em Olinda

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"O aumento do número de recuperações judiciais deve-se à ressaca da pandemia"

João Rogério Filho, Economista e sócio-diretor da PPK Consultoria, analisa como a crise instaurada no período pandêmico gerou déficits em várias empresas que não conseguem gerar recursos suficientes para pagar seus credores. Também aborda a influência das altas taxas de juros nesse processo. Há pouco mais de um ano, notícias de empresas que entra￾ram em processo de recuperação judicial têm estampado as manchetes na mídia. Os casos que mais causam perplexidade são os de grandes redes de varejo como Americanas, Polishop e, mais recentemente, a Casa do Pão de Queijo. Segundo dados da Serasa Experian, o número de recuperações judiciais registrou alta de 68,7% em 2023 comparado com 2022 e, nos primeiros quatro meses deste ano, cresceu 80% em relação ao mesmo período do ano passado. Para João Rogério Filho, economista e sócio-diretor da PPK Consultoria, os estragos provocados no período pandêmicos são a principal causa dessa desestruturação financeira das companhias. “Estamos vivendo uma ressaca na qual empresas precisam gerar recursos suficientes para se manter em atividade e para bancar os déficits criados na pandemia”, explica. Nesta entrevista a Cláudia Santos, o economista aborda, ainda, a influência da conjuntura econômica do País, como as altas taxas de juros. João Rogério também explica, de forma didática, como se dá o processo de recuperação judicial e de que forma esse instrumento auxilia as empresas a pagarem seus credores num ritmo suportável e, ao mesmo tempo, garantir a continuidade da sua operação. O que é a recuperação judicial e qual é a diferença entre esse processo e a falência? Na história da civilização ocidental, identificamos que, a partir da Idade Média, o estado sempre teve um papel regulador nos processos falimentares. O chamado direito falimentar é um grande guarda-chuva que abarcava a concordata, em vigor no Brasil até 2005, hoje substituída pela recuperação judicial. Então, estão sob o guarda-chuva do direito falimentar, recuperação judicial e falência que são dois institutos distintos. A recuperação judicial é uma proteção do estado, uma regulação que ele faz para evitar uma busca desenfreada dos credores por seus créditos, permitindo à empresa garantir a continuidade de sua operação, ao mesmo tempo em que pagará seus credores em um ritmo suportável, a partir de sua geração de caixa. Recuperação judicial não é a falência. Uma empresa pode ir direto à falência ou passar por uma recuperação judicial e se recuperar, como na maior parte das vezes. Mas também pode não conseguir se recuperar e aí é que se torna uma falência. Como é realizado o processo de recuperação judicial sob supervisão da justiça? A Lei de Recuperação Judicial Brasileira (de nº 11.101, de 2005) é bastante moderna em relação ao restante do arcabouço dos códigos das leis do Brasil. Com inspiração no direito norte-americano, o instituto da recuperação judicial é extremamente prático. Ele privilegia a participação dos credores num processo decisório em que o juiz passa a ter um papel de supervisor. Como o processo envolve muitas questões contábeis, financeiras e não existe expertise, o juiz nomeia um profissional, chamado administrador judicial. É como se fosse um perito. Após a preparação da documentação necessária conforme a lei, o processo é ajuizado e, a partir do deferimento, iniciam-se os prazos de formalidades a serem cumpridas, como o relatório mensal de atividade que a empresa é obrigada a apresentar ao administrador judicial e a lista de credores. Na assembleia geral com os credores é apresentado o plano de recuperação judicial. Em seguida, passa-se para fase de cumprimento desse plano e, a partir de dois anos, a empresa está apta a pedir o encerramento de seu processo de recuperação judicial. Que tipos de empresa podem pedir a recuperação judicial? Existem os aspectos de exclusão. Por isso, a resposta é indireta: quem não pode pedir recuperação judicial são instituições financeiras, cooperativas de crédito, cooperativas de qualquer natureza, empresas com menos de dois anos de funcionamento ou que tenham se beneficiado da lei há menos de cinco anos. Excluídas essas hipóteses, qualquer empresa regularmente registrada e, a partir de 2020, qualquer produtor rural – que embora não seja uma empresa, tem a equivalência a uma empresa – pode pedir. Outra novidade é que, de alguns anos para cá, os clubes de futebol e as associações civis também podem pedir recuperação judicial. Como o senhor avalia a qualidade de um programa de recuperação? Em entrevista recente, um especialista em governança, risco e compliance disse que, em geral, muitos planos que são apresentados pelas empresas aos credores se resumem em ações de corte de custo e à proposição de estratégia de alongamento do pagamento. Raramente são apresentadas estratégias de transformação empresarial, de incremento de vendas, de eficiência tecnológica. O senhor concorda com essa análise? Eu não concordo, porque, anexo ao plano de recuperação judicial, obrigatoriamente, junta-se um laudo econômico-financeiro. No plano de recuperação judicial, normalmente você não encontra um capítulo para aumento de vendas mas você vai encontrar, nas projeções econômicas e financeiras, a razão de crescimento das vendas que a empresa está projetando. Com relação à governança, todos os planos que nós elaboramos na PPK Consultoria, por exemplo, preveem uma mudança de governança. Então eu não concordo com a afirmação de uma extrema superficialidade do plano. Ao mesmo tempo, alerto que, a depender do segmento de atuação da companhia, existem determinados segredos industriais que precisam ser preservados para a própria manutenção dela. Por exemplo, não me soa razoável que determinada empresa de alimentos lácteos precise tornar pública sua estratégia para aumento de venda de iogurte. Eu não acredito que esteja no melhor interesse da empresa fazer a abertura de suas estratégias mais sensíveis. De acordo com dados da Serasa Experian, o número de recuperações judiciais registrou alta de 68,7% em 2023 comparado com 2022 e, nos primeiros quatro meses deste ano, esse número cresceu 80% em relação ao mesmo período do ano passado. Que motivos o senhor enxerga nessa elevação? O aumento do número de recuperações judiciais deve-se à ressaca da pandemia. O que aconteceu na pandemia foi que todo o mercado financeiro se

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"Propomos transformar a antiga linha férrea de Pombos a Caruaru numa via para pedestres e ciclistas"

Diretor do Instituto Engenheiro Joaquim Correia, Arlindo Teles detalha o projeto da Via Verde do Agreste, que também é assinado pelo CREA-PE e tem o objetivo de impulsionar o turismo e a economia na região, além de preservar a natureza e as construções da linha férrea que está abandonada. Apreciador de trilhas e bicicletas, o engenheiro Arlindo Teles, diretor do Instituto Engenheiro Joaquim Correia, voltou de uma viagem que fez à Andaluzia, na Espanha, com uma ideia inovadora. Após percorrer de bike a Via Verde de La Sierra, erguida no antigo traçado de uma estrada férrea, Teles percebeu que a mesma iniciativa para o cicloturismo poderia ser feita na Estrada de Ferro Central de Pernambuco, que atualmente está em situação de abandono. O projeto, denominado Via Verde do Agreste, abrangeria os municípios de Pombos, Gravatá, Bezerros e Caruaru. A proposta foi abraçada pelo Instituto Engenheiro Joaquim Correia e pelo CREA-PE (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco). O próximo passo é contar com o apoio das prefeituras das cidades que integram o trajeto, o que incluiria fazer um levantamento dos atrativos naturais, como rios e lagos, das construções ao longo do percurso e dos obstáculos. “Fiz uma trilha em Gravatá, naquele trecho da linha férrea que abrange a Serra das Russas, e fiquei muito impressionado com a quantidade de obra de arte de engenharia que existe: uma extensão de mais ou menos 10 km com vários túneis, pontilhões, e aquilo tudo está abandonado”, lamenta o engenheiro. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ele explica a proposta da Via Verde do Agreste e afirma que pretende angariar o apoio das prefeituras das cidades que abrangem o seu percurso. Também ressalta que o projeto oferece vantagens para a economia e a população dos municípios, além de benefícios para a preservação ambiental e do patrimônio da antiga ferrovia. O que vem a ser esse projeto Via Verde do Agreste? Como surgiu a proposta? A Via Verde do Agreste é um projeto rural de mobilização para transformar o trecho de Pombos, Gravatá, Bezerros e Caruaru da antiga Estrada de Ferro Central de Pernambuco, num equipamento de turismo e lazer, uma via de comunicação autônoma com mais de 45 km de extensão reservada ao deslocamento não motorizado. Ou seja, propomos transformar essa linha férrea em uma via segura e acolhedora para pedestres e ciclistas. A ideia é executar esse projeto dentro do quadro de desenvolvimento integrado que valoriza o meio ambiente, a qualidade de vida e a geração de emprego e renda. A inspiração surgiu, tanto pela minha vivência profissional, quanto pessoal. Profissionalmente, integro o Instituto Engenheiro Joaquim Correia, que é voltado para formação de mão de obra e também desenvolve projetos de cunho social. Falando do meu lado pessoal, eu gosto muito de natureza, de fazer trilha e, há cerca de 10 anos, fiz uma trilha em Gravatá, naquele trecho da li- nha férrea que abrange a Serra das Russas, e fiquei muito impres- sionado com a quantidade de obra de arte de engenharia que existe: um trecho de mais ou menos 10 km com vários túneis, pontilhões, e aquilo tudo está abandonado. Em 2015, fiz uma viagem para a Espanha e tive a oportunidade de fazer o passeio de bike na região da Andaluzia, entre duas cidades pequenas, mais ou menos 40 km, que e é exatamente uma ferrovia abandonada que foi transformada e passou a se chamar Via Verde de La Sierra. Eu fiquei impressionado porque é um passeio muito agradável. Essa via também serviu de inspiração para fazer o mesmo aqui. Então, numa reunião do instituto, eu falei: “por que a gente não abraça essa ideia, já que essa ferrovia aqui está há mais de 20 anos abandonada e não tem perspectiva nenhuma de voltar a funcionar?”. O pessoal achou interessante e começamos a pesquisar. Quando começamos a discutir essa ideia, fiz um contato com um amigo meu que é arquiteto, trabalha na prefeitura de Caruaru e participou do projeto Via Parque, que são 6 Km construídos exatamente na linha do trem. Ele me contou que houve dificuldades para torná-lo realidade, mas conseguiram realizar. Ou seja, se Caruaru conseguiu, por que não juntar Caruaru, Bezerros, Pombos e Gravatá? A ideia é construir a via nos trilhos do trem? Isso. A linha está abandonada, pois a última composição que usou a ferrovia foi o Trem do Forró, há 24 anos. Então, a ideia é colocar uma camada para as pessoas poderem fazer a trilha a pé, de bicicleta ou até mesmo a cavalo. Na ideia inicial, que ainda não incluía o município de Pombos, o primeiro trecho seria de 7 km da Serra das Russas a Gravatá, o segundo trecho com 23 km, de Gravatá até Bezerros e o terceiro trecho, 24 km, de Bezerros até Caruaru. Podemos fazer um projeto sem precisar arrancar o trilho. O da Espanha cobriu o trilho. Também podemos fazer de uma forma que ele fique nivelado. Não precisa necessariamente arrancá-lo. E como foi a receptividade? Que órgãos e prefeituras aderiram ao projeto? Como o Instituto Joaquim Correia tem relação com o CREA-PE, apresentamos a ideia, ela foi aprovada, e o Conselho passou também a assinar o projeto. Há mais ou menos um mês fizemos uma reunião com a Prefeitura de Gravatá, e a receptividade foi muito boa, inclusive formamos um grupo de trabalho, em que há membros da Secretaria de Turismo de Gravatá e da Secretaria de Planejamento de Caruaru, mas ainda não tivemos nenhuma reunião com a Prefeitura de Caruaru e nem de Pombos ou de Bezerros. Recentemente, conhecemos o pessoal da ONG Amigos do Trem. Eles acharam o projeto bacana e aderiram ao nosso movimento. Embora sejam favoráveis aos trens, eles não querem incluir uma locomotiva na via, mas alternativas de transportes com pedais. Então, nossa ideia é conseguir recursos para fazer uma espécie de levantamento, percorrendo todo o trilho, fotografando os principais atrativos naturais em cada trecho, como rios e lagos, levantando pontos de dificuldades, as barreiras, ocupações humanas, fazendas. Queremos fazer

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Camila Bandeira: "A Fenearte está cheia de novidades"

Diretora de Promoção da Economia Criativa da Adepe, Camila Bandeira, fala dos programas lançados na feira de artesanato que este ano terá ingressos vendidos pela internet, um concurso de moda e o queijo coalho será tema das atividades gastronômicas. Ela também informa sobre ações da sua gestão no setor audiovisual. Olhar a cultura como um negócio capaz de proporcionar uma transformação social tem sido a visão de Camila Bandeira como diretora-geral de Promoção da Economia Criativa da Adepe (Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco). Essa característica é perceptível nas mudanças que introduziu na edição deste ano da Fenearte, evento do qual é a diretora-executiva. Durante o feira, por exemplo, será lançado o Programa Pernambuco Artesão que vai oferecer oficinas, seminários, palestras, jornadas criativas para estimular o diálogo do artesanato com outras linguagens como o design e a arquitetura para fomentar a inovação, a sustentabilidade e o empreendedorismo. Outra novidade é a Escola de Economia Criativa que vai proporcionar qualificação ao setor, um gargalo detectado na sua gestão. A moda, amplia sua participação nesta edição com o lançamento do concurso Desafio Mape para estudantes de moda e design do Estado. “O intuito é revelar novos talentos”, explica Camila. Também haverá um desfile diferenciado que o especialista Nestor Mádenes fará com peças expostas na feira. Outra inovação que vai agradar aos visitantes é a compra de ingressos por internet, o que deve reduzir as tradicionais filas para o acesso da feira que acontece de 3 a 14 de julho e que recebeu investimentos de R$ 15 milhões. A expectativa é renovar os bons números alcançados no ano passado, quando foram registrados recordes de público, com cerca de 315 mil pessoas, e impacto econômico de R$ 52 milhões. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Camila fala dessas inovações da Fenearte e de outras áreas da economia criativa, como a retomada da Câmara Setorial do Audiovisual da Adepe. Ainda este ano será feito um mapeamento da cadeia produtiva do setor e realizada uma rodada de negócios. “O audiovisual emprega muita gente, é uma indústria maior do que a automobilística”, ressalta. O tema da Fenearte, este ano, é Sons do Criar, Artesanato que Toca a Gente. Você poderia explicar esse conceito? Este ano, estamos homenageando todas as artesãs e artesãos, por meio da sonoridade, porque o artesanato toca a todos eles, literalmente, traz à tona os sonhos que surgem a partir do ofício. O talhar da madeira, o bater no barro, o ferro sendo polido, isso gera sons que tocam todos os artesãos, independente da técnica, da tecnologia. O tocar a gente, seja o toque físico ou sonoro, nos emociona, nos sensibiliza. Este ano, Nicinha de Caruaru e Saúba de Jaboatão dos Guararapes passaram a integrar a Alameda dos Mestres. Você poderia falar um pouco do trabalho deles? Nicinha desenvolve um trabalho em Caruaru, há cerca de 60 anos, que envolve também a questão social e política. Ela trabalha com o barro, a cerâmica e integra toda uma comunidade de mulheres e crianças por meio desse ofício. Ela forma pessoas e, inclusive, tem uma associação, no Alto do Moura, chamada Flor do Barro. Nicinha já é mestra reconhecida, mas ainda não havia estado na Alameda dos Mestres. E Saúba é uma figura! Ele também é mestre e seu trabalho é em madeira, com brinquedos populares, como o rói-rói e o mané- -gostoso, que são super-reconhecidos. Ele vai abrilhantar a Alameda com esse lado lúdico. Durante a Fenearte será lançada a Escola da Economia Criativa. O que vem a ser esse projeto? A Fenearte, este ano, está cheia de novidades. A Escola de Economia Criativa é uma delas. A ideia surgiu há um ano porque entendemos que a qualificação era um gargalo, não só para o artesanato, mas em todos os setores da economia criativa. Então, estruturamos o projeto, conversamos com especialistas e demos o primeiro passo dessa escola na Fenearte, com foco no artesanato. Vamos estudar a participação das prefeituras e associações na feira, onde haverá uma curadora com esse olhar, registrando, conversando e entendendo como os municípios que estão presentes trabalham o artesanato para culminar nessa exposição, nessa comercialização. A partir disso, ao longo do ano, desenvolveremos alguns cursos voltados para os gestores públicos municipais e estaduais, para gerar resultados na próxima Fenearte ou nas próximas feiras e mercados em que eles estiverem presentes. Pretendemos ampliar o leque da Escola de Economia Criativa para além do gestor, trabalhar com o empreendedor, o artesão, mas esse primeiro passo é voltado para gestores públicos, porque acreditamos que, dessa forma, há um poder de disseminação mais rápido e eficiente. Outro programa lançado é o Pernambuco Artesão. Qual é o objetivo dele? O objetivo é fomentar a cadeia produtiva do artesanato, tendo como centro o artesão. Desenvolveremos ações de formação em convênio com a Adepe e em parceria com o Sebrae. Haverá oficinas, seminários, palestras, jornadas criativas para estimular o diálogo do artesanato com outras linguagens como o design e a arquitetura, por exemplo. Dessa forma, a gente fomenta a inovação, a sustentabilidade e o empreendedorismo. Por meio do convênio do programa levaremos alguns artesãos para expor e vender seus produtos em feiras nacionais e internacionais. Além disso, vamos concluir o mapeamento da cadeia produtiva do artesanato. Será a conclusão da pesquisa que iniciamos na Fenearte do ano passado. Essa segunda etapa da pesquisa vai a campo, aos territórios, para termos uma visão completa. Será feito um mapeamento do setor de artesanato em todo o Estado? Isso. Por incrível que pareça, não existem dados locais com foco no artesanato. Há alguns trabalhos a nível nacional, mas não existe um mapeamento da cadeia produtiva de artesanato em Pernambuco. Então, vamos levantar essas informações. A importância desse estudo é nos direcionar para a tomada de decisões e realização de ações mais assertivas com base nessa realidade. Essa pesquisa tem quatro vertentes: o mercado, o artesão, o produto e o território. Com isso, teremos um olhar completo do artesanato do Estado. Esse mapeamento será divulgado na Fenearte do ano que vem.

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"O programa Nova Indústria Brasil é muito bom, mas é preciso transformá-lo em realidade"

Novo presidente da Fiepe, Bruno Veloso, fala de seus planos à frente da entidade, como estimular a exportação e a abertura de novas cadeias produtivas, além de incentivar a instalação de indústrias no interior. Também aborda os gargalos enfrentados pelas empresas e critica a demora de execução dos projetos do Governo Federal voltados ao setor industrial. Na segunda-feira (17/06), Bruno Veloso tornou-se presidente da Fiepe (Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco) numa concorrida cerimônia que reuniu representantes de vários setores econômicos. Nesta entrevista a Cláudia Santos, o empresário – que é do ramo da indústria da construção civil – falou sobre os seus planos à frente da entidade e dos desafios enfrentados pelo setor industrial no Estado, como a desendustrialização. Ele criticou a alta tributação das indústrias como um fator que impede que realizem investimentos na transformação digital. Embora tenha elogiado o Nova Indústria Brasil, programa do Governo Federal que visa tornar o setor mais competitivo, inovador e sustentável – o novo presidente da Fiepe reclamou da demora na sua execução, em especial na liberação dos recursos previstos que chegam a R$ 300 bilhões. Veloso também comentou os desafios na área de infraestrutura, como o estado precário das rodovias e a lentidão de projetos como a Transnordestina e o Arco Metropolitano, além do abastecimento de energia que, embora com abundância de oferta, o sistema apresenta problemas de distribuição. Veloso também analisou os gargalos na qualidade da mão de obra e ressaltou o trabalho nessa área realizado pelo Sesi (Serviço Social da Indústria) e Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial). Quais são seus planos e desafios nestes próximos quatro anos à frente da Fiepe? A Fiepe representa pequenas, micro, médias e grandes empresas e as pautas dessas empresas são nossas pautas. Trabalhamos para atender suas reivindicações de forma eficiente para que nos vejam como aliada. Há muitos desafios. Um deles é buscar sempre um ambiente favorável aos negócios na região, entendendo as dificuldades das empresas que pretendem se instalar no Estado e das que já estão instaladas. Então temos sempre que lutar pelo protagonismo da indústria na economia, precisamos frear a desindustrialização, entendendo a realidade e apoiando a indústria para que haja diversificação da base produtiva. Por meio da nossa inteligência de dados, vamos estimular as empresas a produzirem o que já vêm produzindo e abrir novas cadeias de produção para aumentar o leque de oferta. Também pretendemos trabalhar fortemente na exportação. Temos muitas ferramentas que podem identificar mercados externos para as empresas que aqui produzem e poderiam exportar. Outro desafio é levar a indústria para o interior do Estado, buscando apoio para que as empresas se instalem de forma consciente com infraestrutura e condições básicas necessárias. Quais são essas condições básicas para instalação e interiorização das indústrias? É preciso quatro pilares para escoar a produção: um modal de transporte, fornecimento de energia compatível com a empresa instalada no local, água, que é necessária a todas as indústrias e, por fim, internet de qualidade, ferramenta de que não se pode abrir mão para que haja comunicação eficiente entre clientes, fornecedores e outras unidades da empresa. O senhor mencionou várias questões relacionadas à infraestrutura. Na questão da logística, especificamente, como avalia os problemas das rodovias e da Transnordestina, que há anos é aguardada pelos empresários nordestinos? Muitas empresas necessitam de logística de transporte eficiente para viabilizar seu produto. As estradas em Pernambuco estão muito deficitárias, precisando de forte investimento. A Transnordestina é uma pauta de todos os pernambucanos, ela pode fazer grande diferença para transportar de maneira eficiente do Sertão do Araripe a Suape, para uma exportação a baixo custo. As obras da ferrovia tiveram uma paralisação no final do ano passado, e nós da Fiepe, o Governo do Estado, parlamentares e outras entidades nos mobilizamos e conseguimos colocar no PAC o valor de R$ 450 milhões para a retomada da Transnordestina. Porém, ainda são necessários cerca de R$ 6 bilhões para que ela seja concluída. Os R$ 450 milhões foram liberados, mas é importante ressaltar que a licitação para as obras desse valor menciona dois anos para a conclusão do projeto para, então, começar o processo licitatório. É muito tempo. Por isso, estamos novamente nos mobilizando, discutindo internamente maneiras para sugerir um projeto mais ágil e que também agilize o início das obras. Outro projeto que precisa ser colocado em prática urgentemente para melhorar a logística e atrair mais indústrias é o Arco Metropolitano. A governadora disse que vai licitar ainda este ano, mas é necessário ir além da discussão do projeto. Uma das premissas para instalar a fábrica da Jeep em Goiana era o Arco Metropolitano. Há quantos anos a Stellantis está lá e as dificuldades de deslocamento permanecem? A dificuldade de transporte é tão grande que as pessoas estão morando em João Pessoa e a gente aqui não consegue nem transportar os veículos que são sendo produzidos porque as estradas não comportam, só podem ser transportados de madrugada. Isso não é logística. Como é que nós vamos atrair a indústria dessa forma? Então estamos entendendo as dores das indústrias e buscando diálogo com governantes prefeitos, Câmara de Vereadores, deputados estaduais, para saber o que a gente pode fazer para melhorar nosso Pernambuco. E como é que está essa articulação do setor com as instâncias governamentais? Eu diria que está num processo de crescimento. Recentemente tivemos uma comissão parlamentar da Assembleia Legislativa, o Comitê da Indústria Pernambucana, ou seja, existe uma comissão com alguns deputados e com isso nós vamos poder levar um assunto importante da indústria para discutir na Casa. Em relação a Suape, quais as perspectivas? Suape é um patrimônio pernambucano que teve a atenção de todos os governantes do Estado. É um grande complexo industrial, o porto é bem situado e tem calado, por isso, temos tudo para ser um grande exportador na região. Não existe nenhum porto aqui com a qualidade de Suape. Entretanto, não há nenhum porto importante no mundo que não tenha um ramal ferroviário. Para transformar Suape em grande importador e

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"A UFRPE hoje precisa de R$ 18 milhões para fechar o ano"

A reitora da Universidade Federal Rural de Pernambuco Maria José de Sena conta como a instituição tem enfrentado a crise orçamentária que assola as instituições de ensino superior no Brasil. Ela também analisa a qualidade do ensino a distância no País e a participação das mulheres na academia e nas pesquisas científicas. Em seu terceiro mandato à frente da reitoria da UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco), a professora e médica veterinária Maria José de Sena enfrenta uma conjuntura muito mais desafiadora do que nas suas duas primeiras gestões. Assim como as demais instituições de ensino federal, a Rural enfrenta uma grave crise orçamentária, que se intensificou nos últimos anos. Nesta entrevista a Cláudia Santos e Rafael Dantas, a reitora salienta que as causas que levaram à atual greve das universidades públicas não se resumem às questões salariais mas, também, abrangem as reivindicações por um orçamento que viabilize melhorar as estruturas e as condições de trabalho nas instituições. Maria José de Sena comenta ainda a qualidade do ensino à distância e a participação das mulheres na academia e na pesquisa. Como a Universidade Rural enfrenta a crise financeira do ensino superior no País? Algumas instituições divulgaram que o orçamento só vai durar até setembro. Essa também é a situação da UFRPE? Sim. Todas as 69 universidades estão na mesma situação. A UFRPE tem hoje um entrave orçamentário muito forte. O que temos não dá para inovar em estrutura, comprar equipamentos. Temos que buscar investimentos em outras instâncias, NCTI (Núcleo de Comunicação e Tecnologia da Informação), Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), Finep (Financiadora de Estudos e Projetos). Há algum tempo vivemos, na universidade, para manter o que existe, isso é muito ruim. Assim, a gente não consegue cumprir nosso papel. Temos as políticas públicas criadas pelo próprio governo que precisam ser implementadas, e chegamos a um momento em que não conseguimos executá-las. A UFRPE hoje precisa de R$18 milhões para fechar o ano. Sempre estivemos em todo o Estado, com estações de pesquisa, da capital ao sertão. Mas hoje temos unidades de formação que precisam de ensino, pesquisa, extensão e administração oriunda da expansão de 2004 e ainda não conseguimos consolidar essa expansão, porque o orçamento não acompanha esses avanços. Assim, é difícil manter o padrão necessário à universidade, enquanto celeiro da construção cidadã, da construção profissional. O papel da universidade perante a sociedade é fundamental, 95% das pesquisas que são postas em prática, que se transformam em políticas públicas, saem dessas instituições. Então, é preciso olhar para dentro delas. Vivemos hoje essa instabilidade de funcionamento. Durante muito tempo, o que é proposto de orçamento para que a universidade funcione o ano todo não é atendido. Sempre há cortes. E nós, gestores públicos das instituições de ensino superior, colégios e institutos federais, temos que viver batendo nas portas dos gabinetes dos deputados de Brasília, pedindo suplementação. Se vivemos assim, é porque não há planejamento orçamentário para a gente. Não há como manter a dignidade das instituições dessa forma. Imagina como se sente um gestor que tem compromisso com seu cargo, com sua universidade e com a sociedade, nessa situação, sem ter como manter todos os estudantes de recorte social dentro das suas políticas públicas para que fiquem aqui, em um ambiente bom, com boa alimentação e uma boa biblioteca? Por isso, chegou-se a essa situação de greves nas universidades federais em todo Brasil. Não é só a questão salarial, é também por melhores condições de trabalho, por uma reestruturação de carreira no caso dos técnicos administrativos, por mais orçamentos para as universidades. Essa falta de olhar responsável pela educação independe de governo seja de direita, de centro, de esquerda. A postura é a mesma, a educação fica sempre à margem. Em relação à evasão dos estudantes, quantos alunos a Rural perdeu? A nossa evasão está dentro da média nacional, em torno de 25%. Mas temos históricos de universidades em que a evasão chega a 35%. Comparando o sistema público de ensino com o sistema privado, no privado é acima de 50%. Mas a gente ainda perde estudantes porque eles não têm condições de se manterem na universidade. Cerca de 80% dos nossos estudantes são de recorte social e essas pessoas precisam ser atendidas por alguma política. Mas não conseguimos atender essa comunidade. E estou falando dos estudantes de pós-graduação também que, mesmo recebendo bolsas de mestrado ou doutorado, o valor não é suficiente para viver bem porque muitos vêm do Sertão, por exemplo, e não têm rede de apoio. Então, uma bolsa de R$ 2 mil para mestrado e R$ 3 mil para doutorado não é suficiente porque eles precisam pagar moradia, alimentação, transporte. E ainda há os que passam na seleção de mestrado e doutorado, mas não conseguem bolsa, porque não há bolsa para todos. Então, perdemos essas pessoas que poderiam estar aqui, mas não têm condições de se manter. Que tipo de suporte os estudantes precisam para evitar a evasão? Precisam que as políticas públicas que criamos sejam implantadas na totalidade. Temos estudantes aqui, por exemplo, que moram longe, mas se nós não tivéssemos criado um aporte financeiro de auxílio-transporte, teríamos perdido muitos alunos porque, como são da Região Metropolitana, não têm direito à Casa do Estudante porque ela é para os que estão fora da RMR. Também criamos um auxílio-alimentação. Então, a gente cria essas políticas para não perder mais alunos. Além disso, eles precisam de apoio psicológico, a maioria não tem plano de saúde. Por isso, temos um departamento de qualidade de vida com médico e psicólogo. Nas nossas gestões, investimos muito nesse departamento porque as pessoas estão cada vez mais adoecidas. A universidade é uma cidade que tem que dar conta de educação, saúde, transporte, alimentação, saneamento. Nos últimos anos, a imprensa destacou a abertura de campus no interior como marcos importantes, mas que não tinham estrutura para funcionar. Como está a interiorização da UFRPE? Temos os campi de Garanhuns e Serra Talhada que estão consolidados mas com necessidades de abrir

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"O rádio não vai acabar porque tem versatilidade"

Wagner Gomes conta como, de apresentador de shows em Arcoverde, tornou-se um dos mais conhecidos profissionais do rádio pernambucano, fala da sua trajetória que começou como repórter esportivo de campo e do trabalho com ícones como Graça Araújo e Geraldo Freire. Também analisa as perspectivas desse meio de comunicação diante do avanço das mídias digitais. O ano de 2024 tem sido muito especial para Wagner Gomes. O jornalista, natural de Arcoverde, recebeu no mês passado o título de Cidadão do Recife, na Câmara de Vereadores da cidade, festejou seus 50 anos e comemorou a edição nº 500 do programa Mesa de Bar, que completa em dezembro 10 anos no ar. Para falar da sua trajetória de sucesso no rádio pernambucano, Wagner conversou com Cláudia Santos e Rivaldo Neto. Ele também analisou as perspectivas desse meio de comunicação diante das transformações provocadas pela internet. Afirmou que o rádio teve a capacidade de se renovar ao agregar as novas ferramentas digitais. “Tudo que foi surgindo, ele foi incorporando. Toda emissora de rádio que se preze hoje transmite, no mínimo, pelo Youtube e coloca imagens, cortes, vídeos”, constata. “Mas mantém a plataforma. Inclusive agora, nessa crise das enchentes no Rio Grande do Sul, o que salvou a comunicação por todo o estado foi o rádio. Como a TV e a internet não funcionavam, o radinho de pilha estava lá informando”, salienta, mas afirma não acreditar na longevidade dos podcasts. Como começou sua carreira no rádio? Fale um pouco da sua trajetória. Começou por acaso. Depois de ser reprovado no vestibular para engenharia mecânica no Recife, precisei voltar para minha cidade, Arcoverde. Lá, em brincadeiras com amigos, festas, eventos e depois fui apresentando shows, todos diziam que eu tinha boa dicção, mas eu nunca levei a sério. Então, em 1994, quando tinha 20 anos, entrei pela primeira vez no ar em um estúdio de rádio, na Itapuama FM. Depois, passei pela Metropolitana FM, de Pesqueira. Em 1997, voltei para o Recife para fazer vestibular novamente, dessa vez passei e cursei Comunicação na UFPE. Em 1999, Luciano do Vale veio para o Recife, pois havia comprado os direitos de transmissão do Campeonato Pernambucano e precisou montar uma equipe aqui. Entrei para a equipe como um dos repórteres de campo. Depois que o campeonato acabou, Luciano vendeu os direitos de transmissão para a TV Globo e eu fui para rádio Universitária AM fazer o estágio da grade curricular. Em junho de 2000, passei na seleção de estagiário no Sistema Jornal do Commercio. Quando ainda não havia começado no estágio, recebi uma ligação de Roberto Souza, que era chefe de jornalismo da rádio, perguntando se eu estava disponível para cobrir uma cerimônia, e eu aceitei. Na rádio, Roberto disse que a pauta era a publicação da ordem de serviço da duplicação da BR-232 no Palácio do Campo das Princesas. O evento estava lotado. Quando cheguei, Jarbas estava discursando. Havia deputados, vereadores e a imprensa com várias emissoras de rádio, TV e jornais. Quando o governador fez a cerimônia e assinou, todos os jornalistas foram pra cima pra pegar o depoimento dele, as câmeras se posicionando. Eu fui por baixo de todos e subi com um gravadorzinho da Rádio Jornal no meio das pessoas. Quando me abaixei, fui entrando, ele foi chegando e eu já engatei a primeira pergunta antes de todo mundo. No dia seguinte, quando cheguei na redação para trabalhar e editar minhas matérias, Roberto me mostrou a foto de capa do Jornal do Commercio, em que eu aparecia ao lado do governador. Ele me disse: “que estreia, hein!”. Um ano depois, o diretor me ligou e falou: “eu quero ver como você se comporta no estúdio”. Comecei a apresentar o programa Redator de Plantão com o locutor principal na ocasião, que era o Rinaldo Melo. Eu estava bem tranquilo, li a abertura do programa. Mas quando Rinaldo começou a falar, eu tremi. Pensei: o que eu estou fazendo aqui?. Ele com um vozeirão, uma elegância. Mas ele sempre muito gentil, muito elegante, no final me parabenizou. Depois, fui convidado para produzir o programa de rádio de Graça Araújo, com aquele formato de consultório, que estava muito desacertado por falha de produção. Elaborei um script, que o programa não tinha, levantei as vinhetas, a abertura do programa, as falas e coloquei na mesa dela, entreguei um para o operador e fiquei com o meu para apresentar com Graça. Quando terminou o programa, ela me pegou pela mão e disse: “o cara é esse aqui”. Fiquei na produção com ela e aprendi muita coisa. Graça Araújo contribuiu muito na minha formação como jornalista. Eu estava terminando a faculdade. Como começou sua parceria com Geraldo Freire? Quando terminei o curso, saí da rádio e voltei em 2004 já contratado por Geraldo Freire para ser seu produtor. Acordava todos os dias às 3 horas da manhã, tinha que estar na redação às 4h para montar o programa com ele. Comecei em fevereiro, bem pertinho do Carnaval. Como eu já tinha aquele trabalho de experiência de palco em Arcoverde, nesse período de 2002 a 2004, comecei a apresentar o Carnaval do Marco Zero para a Prefeitura do Recife. Era um contrato muito bom, eu ainda estudando e ganhava o dinheiro de praticamente um ano. Prestes a apresentar o Carnaval em 2004, Geraldo me chamou para trabalhar com ele e eu disse que aceitava o convite, mas com a condição de começar depois do Carnaval. Ele disse “não, quero você amanhã indo lá. Se vire”. E eu me virei. Terminava no Marco Zero lá pelas 3h30 para 4h ir para a rádio. Virava direto, pois eu chegava às 17h no Marco Zero. Só sei que numa dessas viradas, eu produzi um material sobre saúde com perguntas para médicos. No outro dia o outro produtor, Roberval Medeiros me disse: “oh, Wagner, vem cá, onde tu ouvisse falar em trombose venenosa?” Eu morrendo de sono do Carnaval, escrevia e começava a cochilar e, no lugar de digitar trombose venosa, escrevi trombose venenosa

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"Cidade-esponja é um caminho para o Recife se adaptar a eventos climáticos extremos"

Mila Montezuma, arquiteta que pesquisa como tornar as cidades resilientes a eventos extremos, fala das medidas factíveis para a capital pernambucana e ressalta a iniciativa do Projeto Recife Cidade Parque. Também informa sobre o NXR, evento em Haia que vai debater como evitar que a capital holandesa seja submersa pela elevação do mar. A arquiteta recifense Mila Montezuma tem-se dedicado a pesquisar soluções para proteger cidades e seus moradores dos eventos extremos causados pelas mudanças climáticas – como grandes tempestades e o aumento do nível do mar. Ela começou suas pesquisas investigando a situação do Recife e desenvolveu uma proposta para torná-lo resiliente à elevação do oceano, a partir de um sistema de três parques situados entre o mar e a praia, que denominou Membrana Anfíbia. Hoje ela reside e continua suas pesquisas na Holanda, país que, assim como o Recife, é banhado pelo mar e cortado por canais e rios, portanto vulnerável à transformação do clima. Recentemente tem estudado o tema das cidades-esponjas junto a instituições e pesquisadores da Europa e China. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Mila fala das suas pesquisas e das medidas que podem proteger a capital pernambucana das mudanças climática. Também aborda o NXR, evento do qual participa da organização, que será realizado em Haia com o objetivo de encontrar caminhos para proteger a capital política da Holanda de ser inundada com o avanço dos eventos extremos. O que são cidades-esponja? Cidades-esponja são projetos urbanos baseados na natureza para gerenciar todo o ciclo da água, abordando precipitação, captação, gestão da água superficial, absorção, infiltração, recarga do lençol freático, filtragem e reutilização da água. Esse conceito visa mitigar eventos climáticos extremos, como enchentes e secas, ao criar mais espaços para as águas: com retenção e infiltração da chuva no solo no local, funcionando como uma esponja que retém água para uso futuro. Como defende Kongjian Yu, criador das cidades-esponja e consultor do governo chinês – com quem pude colaborar durante minha pesquisa – existem três estratégias principais. Uma delas é reter a água da chuva, quando cai em sistemas hídricos como açudes, lagoas. As áreas próximas devem ser permeáveis e porosas e também são buffers (esponjas), com sistemas de porosidades. Outra estratégia é reduzir a velocidade dos rios, dando tempo para a natureza absorver suas águas (canalizá-los com concreto apenas aumenta a sua velocidade) e a terceira estratégia é adaptar as cidades para que tenham áreas alagáveis, ou seja, grandes estruturas naturais alagáveis, para onde as águas possam escorrer sem causar destruição e depois serem absorvidas pelo lençol freático. Essas cidades usam infraestruturas verdes e azuis (vegetação e água) de maneira sistêmica, com soluções interconectadas, como canais naturais abertos, corredores ecológicos, tetos verdes e tanques de captação de água. A abordagem é multiescalar, abrangendo desde grandes bacias hidrográficas até segmentos de ruas e lotes individuais. Nessas diferentes escalas, medidas são implementadas para gerenciar as águas. Você poderia detalhar que tipos de medidas poderiam ser adotadas? Na escala regional (das bacias hidrográficas) são necessárias medidas estruturais, a exemplo de grandes corredores verdes e áreas de mananciais com mata ciliar, pântanos e zonas úmidas restauradas, além de medidas não-estruturais, como políticas de proteção de bacias hidrográficas e programas de reflorestamento. Já na escala urbana são previstas medidas estruturais, tais como redes de parques, praças e cinturões verdes que ajudam a amortecer o excesso de água e gerenciar a drenagem; além de sistemas de lagos e lagoas urbanas. Como medidas não-estruturais estão planos diretores de uso do solo que incentivam a adaptação climática e integração de espaços verdes na infraestrutura da cidade. Na escala de bairro, podem ser instaladas como medidas estruturais pequenos jardins públicos (rain gardens) e parques de infiltração com sistema de drenagem que permitem a retenção e infiltração da água no solo. Já as medidas não estruturais abrangem iniciativas de jardinagem comunitária, zonas de regulação de construção, incluindo normas que exigem ou incentivam a inclusão de elementos de design sustentável nos novos projetos de construção. Para as ruas (escala local) a implantação dos chamados bioswales, que são canaletas verdes ao longo das calçadas para absorver a vazão de água, além de pavimentos permeáveis e calçadas verdes são algumas das medidas estruturais e entre as não estruturais estão o tráfego compartilhado com superfícies permeáveis; programas de manutenção e limpeza das infraestruturas de drenagem existentes. Na escala do lote (das casas) podem ser instalados como medidas estruturais os jardins de infiltração (soakaway gardens), são pequenas áreas de solo escavado e preenchido com material permeável para infiltração da água da chuva. Outras providências seriam tetos verdes, tanques de captação de águas pluviais, jardins e pavimentação permeável. E, como medidas não estruturais, a existência de incentivos fiscais e subsídios para proprietários que adotam práticas de gestão sustentável da água, como tetos verdes, jardins frontais ou sistemas de captação de água e adoção de programas de certificação ambiental, como o LEED (Leadership in Energy and Environmental Design, que busca incentivar e acelerar práticas de construção sustentável). A implementação de cidades-esponja visa aumentar as áreas permeáveis e os espaços verdes e azuis, contribuindo para a redução das enchentes e promovendo uma gestão hídrica mais integrada ao ambiente urbano e sua geografia original. A solução da cidade-esponja seria o caminho para o Recife se preparar para eventos extremos das mudanças climáticas, como aconteceu no Rio Grande do Sul? Com certeza. O conceito de cidades-esponja é um caminho que vem sendo estudado no Recife para se preparar para eventos climáticos extremos, como os observados no Rio Grande do Sul, especialmente considerando suas características geográficas (topografia, geologia, hidrologia e cultura). O Recife é uma planície fluviomarinha estuarina de dimensão metropolitana, costeira e de baixas altitudes, situada em uma planície alagável coroada por morros baixos e cortada por três principais rios: Capibaribe, Beberibe e Tejipió. É um território densamente urbanizado com fragmentos de Mata Atlântica e manguezal. Especialmente após participar do Conselho Executivo da Cooperação China-Europa em Cidades-Esponja, em missão técnica na China com profissionais como Konjian Yu, entendo que o conceito de cidade-esponja é

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