Entrevistas – Página: 3 – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

Entrevistas

“Propomos transformar a antiga linha férrea de Pombos a Caruaru numa via para pedestres e ciclistas”

Diretor do Instituto Engenheiro Joaquim Correia, Arlindo Teles detalha o projeto da Via Verde do Agreste, que também é assinado pelo CREA-PE e tem o objetivo de impulsionar o turismo e a economia na região, além de preservar a natureza e as construções da linha férrea que está abandonada. Apreciador de trilhas e bicicletas, o engenheiro Arlindo Teles, diretor do Instituto Engenheiro Joaquim Correia, voltou de uma viagem que fez à Andaluzia, na Espanha, com uma ideia inovadora. Após percorrer de bike a Via Verde de La Sierra, erguida no antigo traçado de uma estrada férrea, Teles percebeu que a mesma iniciativa para o cicloturismo poderia ser feita na Estrada de Ferro Central de Pernambuco, que atualmente está em situação de abandono. O projeto, denominado Via Verde do Agreste, abrangeria os municípios de Pombos, Gravatá, Bezerros e Caruaru. A proposta foi abraçada pelo Instituto Engenheiro Joaquim Correia e pelo CREA-PE (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco). O próximo passo é contar com o apoio das prefeituras das cidades que integram o trajeto, o que incluiria fazer um levantamento dos atrativos naturais, como rios e lagos, das construções ao longo do percurso e dos obstáculos. “Fiz uma trilha em Gravatá, naquele trecho da linha férrea que abrange a Serra das Russas, e fiquei muito impressionado com a quantidade de obra de arte de engenharia que existe: uma extensão de mais ou menos 10 km com vários túneis, pontilhões, e aquilo tudo está abandonado”, lamenta o engenheiro. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ele explica a proposta da Via Verde do Agreste e afirma que pretende angariar o apoio das prefeituras das cidades que abrangem o seu percurso. Também ressalta que o projeto oferece vantagens para a economia e a população dos municípios, além de benefícios para a preservação ambiental e do patrimônio da antiga ferrovia. O que vem a ser esse projeto Via Verde do Agreste? Como surgiu a proposta? A Via Verde do Agreste é um projeto rural de mobilização para transformar o trecho de Pombos, Gravatá, Bezerros e Caruaru da antiga Estrada de Ferro Central de Pernambuco, num equipamento de turismo e lazer, uma via de comunicação autônoma com mais de 45 km de extensão reservada ao deslocamento não motorizado. Ou seja, propomos transformar essa linha férrea em uma via segura e acolhedora para pedestres e ciclistas. A ideia é executar esse projeto dentro do quadro de desenvolvimento integrado que valoriza o meio ambiente, a qualidade de vida e a geração de emprego e renda. A inspiração surgiu, tanto pela minha vivência profissional, quanto pessoal. Profissionalmente, integro o Instituto Engenheiro Joaquim Correia, que é voltado para formação de mão de obra e também desenvolve projetos de cunho social. Falando do meu lado pessoal, eu gosto muito de natureza, de fazer trilha e, há cerca de 10 anos, fiz uma trilha em Gravatá, naquele trecho da li- nha férrea que abrange a Serra das Russas, e fiquei muito impres- sionado com a quantidade de obra de arte de engenharia que existe: um trecho de mais ou menos 10 km com vários túneis, pontilhões, e aquilo tudo está abandonado. Em 2015, fiz uma viagem para a Espanha e tive a oportunidade de fazer o passeio de bike na região da Andaluzia, entre duas cidades pequenas, mais ou menos 40 km, que e é exatamente uma ferrovia abandonada que foi transformada e passou a se chamar Via Verde de La Sierra. Eu fiquei impressionado porque é um passeio muito agradável. Essa via também serviu de inspiração para fazer o mesmo aqui. Então, numa reunião do instituto, eu falei: “por que a gente não abraça essa ideia, já que essa ferrovia aqui está há mais de 20 anos abandonada e não tem perspectiva nenhuma de voltar a funcionar?”. O pessoal achou interessante e começamos a pesquisar. Quando começamos a discutir essa ideia, fiz um contato com um amigo meu que é arquiteto, trabalha na prefeitura de Caruaru e participou do projeto Via Parque, que são 6 Km construídos exatamente na linha do trem. Ele me contou que houve dificuldades para torná-lo realidade, mas conseguiram realizar. Ou seja, se Caruaru conseguiu, por que não juntar Caruaru, Bezerros, Pombos e Gravatá? A ideia é construir a via nos trilhos do trem? Isso. A linha está abandonada, pois a última composição que usou a ferrovia foi o Trem do Forró, há 24 anos. Então, a ideia é colocar uma camada para as pessoas poderem fazer a trilha a pé, de bicicleta ou até mesmo a cavalo. Na ideia inicial, que ainda não incluía o município de Pombos, o primeiro trecho seria de 7 km da Serra das Russas a Gravatá, o segundo trecho com 23 km, de Gravatá até Bezerros e o terceiro trecho, 24 km, de Bezerros até Caruaru. Podemos fazer um projeto sem precisar arrancar o trilho. O da Espanha cobriu o trilho. Também podemos fazer de uma forma que ele fique nivelado. Não precisa necessariamente arrancá-lo. E como foi a receptividade? Que órgãos e prefeituras aderiram ao projeto? Como o Instituto Joaquim Correia tem relação com o CREA-PE, apresentamos a ideia, ela foi aprovada, e o Conselho passou também a assinar o projeto. Há mais ou menos um mês fizemos uma reunião com a Prefeitura de Gravatá, e a receptividade foi muito boa, inclusive formamos um grupo de trabalho, em que há membros da Secretaria de Turismo de Gravatá e da Secretaria de Planejamento de Caruaru, mas ainda não tivemos nenhuma reunião com a Prefeitura de Caruaru e nem de Pombos ou de Bezerros. Recentemente, conhecemos o pessoal da ONG Amigos do Trem. Eles acharam o projeto bacana e aderiram ao nosso movimento. Embora sejam favoráveis aos trens, eles não querem incluir uma locomotiva na via, mas alternativas de transportes com pedais. Então, nossa ideia é conseguir recursos para fazer uma espécie de levantamento, percorrendo todo o trilho, fotografando os principais atrativos naturais em cada trecho, como rios e lagos, levantando pontos de dificuldades, as barreiras, ocupações humanas, fazendas. Queremos fazer

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Camila Bandeira: “A Fenearte está cheia de novidades”

Diretora de Promoção da Economia Criativa da Adepe, Camila Bandeira, fala dos programas lançados na feira de artesanato que este ano terá ingressos vendidos pela internet, um concurso de moda e o queijo coalho será tema das atividades gastronômicas. Ela também informa sobre ações da sua gestão no setor audiovisual. Olhar a cultura como um negócio capaz de proporcionar uma transformação social tem sido a visão de Camila Bandeira como diretora-geral de Promoção da Economia Criativa da Adepe (Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco). Essa característica é perceptível nas mudanças que introduziu na edição deste ano da Fenearte, evento do qual é a diretora-executiva. Durante o feira, por exemplo, será lançado o Programa Pernambuco Artesão que vai oferecer oficinas, seminários, palestras, jornadas criativas para estimular o diálogo do artesanato com outras linguagens como o design e a arquitetura para fomentar a inovação, a sustentabilidade e o empreendedorismo. Outra novidade é a Escola de Economia Criativa que vai proporcionar qualificação ao setor, um gargalo detectado na sua gestão. A moda, amplia sua participação nesta edição com o lançamento do concurso Desafio Mape para estudantes de moda e design do Estado. “O intuito é revelar novos talentos”, explica Camila. Também haverá um desfile diferenciado que o especialista Nestor Mádenes fará com peças expostas na feira. Outra inovação que vai agradar aos visitantes é a compra de ingressos por internet, o que deve reduzir as tradicionais filas para o acesso da feira que acontece de 3 a 14 de julho e que recebeu investimentos de R$ 15 milhões. A expectativa é renovar os bons números alcançados no ano passado, quando foram registrados recordes de público, com cerca de 315 mil pessoas, e impacto econômico de R$ 52 milhões. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Camila fala dessas inovações da Fenearte e de outras áreas da economia criativa, como a retomada da Câmara Setorial do Audiovisual da Adepe. Ainda este ano será feito um mapeamento da cadeia produtiva do setor e realizada uma rodada de negócios. “O audiovisual emprega muita gente, é uma indústria maior do que a automobilística”, ressalta. O tema da Fenearte, este ano, é Sons do Criar, Artesanato que Toca a Gente. Você poderia explicar esse conceito? Este ano, estamos homenageando todas as artesãs e artesãos, por meio da sonoridade, porque o artesanato toca a todos eles, literalmente, traz à tona os sonhos que surgem a partir do ofício. O talhar da madeira, o bater no barro, o ferro sendo polido, isso gera sons que tocam todos os artesãos, independente da técnica, da tecnologia. O tocar a gente, seja o toque físico ou sonoro, nos emociona, nos sensibiliza. Este ano, Nicinha de Caruaru e Saúba de Jaboatão dos Guararapes passaram a integrar a Alameda dos Mestres. Você poderia falar um pouco do trabalho deles? Nicinha desenvolve um trabalho em Caruaru, há cerca de 60 anos, que envolve também a questão social e política. Ela trabalha com o barro, a cerâmica e integra toda uma comunidade de mulheres e crianças por meio desse ofício. Ela forma pessoas e, inclusive, tem uma associação, no Alto do Moura, chamada Flor do Barro. Nicinha já é mestra reconhecida, mas ainda não havia estado na Alameda dos Mestres. E Saúba é uma figura! Ele também é mestre e seu trabalho é em madeira, com brinquedos populares, como o rói-rói e o mané- -gostoso, que são super-reconhecidos. Ele vai abrilhantar a Alameda com esse lado lúdico. Durante a Fenearte será lançada a Escola da Economia Criativa. O que vem a ser esse projeto? A Fenearte, este ano, está cheia de novidades. A Escola de Economia Criativa é uma delas. A ideia surgiu há um ano porque entendemos que a qualificação era um gargalo, não só para o artesanato, mas em todos os setores da economia criativa. Então, estruturamos o projeto, conversamos com especialistas e demos o primeiro passo dessa escola na Fenearte, com foco no artesanato. Vamos estudar a participação das prefeituras e associações na feira, onde haverá uma curadora com esse olhar, registrando, conversando e entendendo como os municípios que estão presentes trabalham o artesanato para culminar nessa exposição, nessa comercialização. A partir disso, ao longo do ano, desenvolveremos alguns cursos voltados para os gestores públicos municipais e estaduais, para gerar resultados na próxima Fenearte ou nas próximas feiras e mercados em que eles estiverem presentes. Pretendemos ampliar o leque da Escola de Economia Criativa para além do gestor, trabalhar com o empreendedor, o artesão, mas esse primeiro passo é voltado para gestores públicos, porque acreditamos que, dessa forma, há um poder de disseminação mais rápido e eficiente. Outro programa lançado é o Pernambuco Artesão. Qual é o objetivo dele? O objetivo é fomentar a cadeia produtiva do artesanato, tendo como centro o artesão. Desenvolveremos ações de formação em convênio com a Adepe e em parceria com o Sebrae. Haverá oficinas, seminários, palestras, jornadas criativas para estimular o diálogo do artesanato com outras linguagens como o design e a arquitetura, por exemplo. Dessa forma, a gente fomenta a inovação, a sustentabilidade e o empreendedorismo. Por meio do convênio do programa levaremos alguns artesãos para expor e vender seus produtos em feiras nacionais e internacionais. Além disso, vamos concluir o mapeamento da cadeia produtiva do artesanato. Será a conclusão da pesquisa que iniciamos na Fenearte do ano passado. Essa segunda etapa da pesquisa vai a campo, aos territórios, para termos uma visão completa. Será feito um mapeamento do setor de artesanato em todo o Estado? Isso. Por incrível que pareça, não existem dados locais com foco no artesanato. Há alguns trabalhos a nível nacional, mas não existe um mapeamento da cadeia produtiva de artesanato em Pernambuco. Então, vamos levantar essas informações. A importância desse estudo é nos direcionar para a tomada de decisões e realização de ações mais assertivas com base nessa realidade. Essa pesquisa tem quatro vertentes: o mercado, o artesão, o produto e o território. Com isso, teremos um olhar completo do artesanato do Estado. Esse mapeamento será divulgado na Fenearte do ano que vem.

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“O programa Nova Indústria Brasil é muito bom, mas é preciso transformá-lo em realidade”

Novo presidente da Fiepe, Bruno Veloso, fala de seus planos à frente da entidade, como estimular a exportação e a abertura de novas cadeias produtivas, além de incentivar a instalação de indústrias no interior. Também aborda os gargalos enfrentados pelas empresas e critica a demora de execução dos projetos do Governo Federal voltados ao setor industrial. Na segunda-feira (17/06), Bruno Veloso tornou-se presidente da Fiepe (Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco) numa concorrida cerimônia que reuniu representantes de vários setores econômicos. Nesta entrevista a Cláudia Santos, o empresário – que é do ramo da indústria da construção civil – falou sobre os seus planos à frente da entidade e dos desafios enfrentados pelo setor industrial no Estado, como a desendustrialização. Ele criticou a alta tributação das indústrias como um fator que impede que realizem investimentos na transformação digital. Embora tenha elogiado o Nova Indústria Brasil, programa do Governo Federal que visa tornar o setor mais competitivo, inovador e sustentável – o novo presidente da Fiepe reclamou da demora na sua execução, em especial na liberação dos recursos previstos que chegam a R$ 300 bilhões. Veloso também comentou os desafios na área de infraestrutura, como o estado precário das rodovias e a lentidão de projetos como a Transnordestina e o Arco Metropolitano, além do abastecimento de energia que, embora com abundância de oferta, o sistema apresenta problemas de distribuição. Veloso também analisou os gargalos na qualidade da mão de obra e ressaltou o trabalho nessa área realizado pelo Sesi (Serviço Social da Indústria) e Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial). Quais são seus planos e desafios nestes próximos quatro anos à frente da Fiepe? A Fiepe representa pequenas, micro, médias e grandes empresas e as pautas dessas empresas são nossas pautas. Trabalhamos para atender suas reivindicações de forma eficiente para que nos vejam como aliada. Há muitos desafios. Um deles é buscar sempre um ambiente favorável aos negócios na região, entendendo as dificuldades das empresas que pretendem se instalar no Estado e das que já estão instaladas. Então temos sempre que lutar pelo protagonismo da indústria na economia, precisamos frear a desindustrialização, entendendo a realidade e apoiando a indústria para que haja diversificação da base produtiva. Por meio da nossa inteligência de dados, vamos estimular as empresas a produzirem o que já vêm produzindo e abrir novas cadeias de produção para aumentar o leque de oferta. Também pretendemos trabalhar fortemente na exportação. Temos muitas ferramentas que podem identificar mercados externos para as empresas que aqui produzem e poderiam exportar. Outro desafio é levar a indústria para o interior do Estado, buscando apoio para que as empresas se instalem de forma consciente com infraestrutura e condições básicas necessárias. Quais são essas condições básicas para instalação e interiorização das indústrias? É preciso quatro pilares para escoar a produção: um modal de transporte, fornecimento de energia compatível com a empresa instalada no local, água, que é necessária a todas as indústrias e, por fim, internet de qualidade, ferramenta de que não se pode abrir mão para que haja comunicação eficiente entre clientes, fornecedores e outras unidades da empresa. O senhor mencionou várias questões relacionadas à infraestrutura. Na questão da logística, especificamente, como avalia os problemas das rodovias e da Transnordestina, que há anos é aguardada pelos empresários nordestinos? Muitas empresas necessitam de logística de transporte eficiente para viabilizar seu produto. As estradas em Pernambuco estão muito deficitárias, precisando de forte investimento. A Transnordestina é uma pauta de todos os pernambucanos, ela pode fazer grande diferença para transportar de maneira eficiente do Sertão do Araripe a Suape, para uma exportação a baixo custo. As obras da ferrovia tiveram uma paralisação no final do ano passado, e nós da Fiepe, o Governo do Estado, parlamentares e outras entidades nos mobilizamos e conseguimos colocar no PAC o valor de R$ 450 milhões para a retomada da Transnordestina. Porém, ainda são necessários cerca de R$ 6 bilhões para que ela seja concluída. Os R$ 450 milhões foram liberados, mas é importante ressaltar que a licitação para as obras desse valor menciona dois anos para a conclusão do projeto para, então, começar o processo licitatório. É muito tempo. Por isso, estamos novamente nos mobilizando, discutindo internamente maneiras para sugerir um projeto mais ágil e que também agilize o início das obras. Outro projeto que precisa ser colocado em prática urgentemente para melhorar a logística e atrair mais indústrias é o Arco Metropolitano. A governadora disse que vai licitar ainda este ano, mas é necessário ir além da discussão do projeto. Uma das premissas para instalar a fábrica da Jeep em Goiana era o Arco Metropolitano. Há quantos anos a Stellantis está lá e as dificuldades de deslocamento permanecem? A dificuldade de transporte é tão grande que as pessoas estão morando em João Pessoa e a gente aqui não consegue nem transportar os veículos que são sendo produzidos porque as estradas não comportam, só podem ser transportados de madrugada. Isso não é logística. Como é que nós vamos atrair a indústria dessa forma? Então estamos entendendo as dores das indústrias e buscando diálogo com governantes prefeitos, Câmara de Vereadores, deputados estaduais, para saber o que a gente pode fazer para melhorar nosso Pernambuco. E como é que está essa articulação do setor com as instâncias governamentais? Eu diria que está num processo de crescimento. Recentemente tivemos uma comissão parlamentar da Assembleia Legislativa, o Comitê da Indústria Pernambucana, ou seja, existe uma comissão com alguns deputados e com isso nós vamos poder levar um assunto importante da indústria para discutir na Casa. Em relação a Suape, quais as perspectivas? Suape é um patrimônio pernambucano que teve a atenção de todos os governantes do Estado. É um grande complexo industrial, o porto é bem situado e tem calado, por isso, temos tudo para ser um grande exportador na região. Não existe nenhum porto aqui com a qualidade de Suape. Entretanto, não há nenhum porto importante no mundo que não tenha um ramal ferroviário. Para transformar Suape em grande importador e

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“A UFRPE hoje precisa de R$ 18 milhões para fechar o ano”

A reitora da Universidade Federal Rural de Pernambuco Maria José de Sena conta como a instituição tem enfrentado a crise orçamentária que assola as instituições de ensino superior no Brasil. Ela também analisa a qualidade do ensino a distância no País e a participação das mulheres na academia e nas pesquisas científicas. Em seu terceiro mandato à frente da reitoria da UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco), a professora e médica veterinária Maria José de Sena enfrenta uma conjuntura muito mais desafiadora do que nas suas duas primeiras gestões. Assim como as demais instituições de ensino federal, a Rural enfrenta uma grave crise orçamentária, que se intensificou nos últimos anos. Nesta entrevista a Cláudia Santos e Rafael Dantas, a reitora salienta que as causas que levaram à atual greve das universidades públicas não se resumem às questões salariais mas, também, abrangem as reivindicações por um orçamento que viabilize melhorar as estruturas e as condições de trabalho nas instituições. Maria José de Sena comenta ainda a qualidade do ensino à distância e a participação das mulheres na academia e na pesquisa. Como a Universidade Rural enfrenta a crise financeira do ensino superior no País? Algumas instituições divulgaram que o orçamento só vai durar até setembro. Essa também é a situação da UFRPE? Sim. Todas as 69 universidades estão na mesma situação. A UFRPE tem hoje um entrave orçamentário muito forte. O que temos não dá para inovar em estrutura, comprar equipamentos. Temos que buscar investimentos em outras instâncias, NCTI (Núcleo de Comunicação e Tecnologia da Informação), Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), Finep (Financiadora de Estudos e Projetos). Há algum tempo vivemos, na universidade, para manter o que existe, isso é muito ruim. Assim, a gente não consegue cumprir nosso papel. Temos as políticas públicas criadas pelo próprio governo que precisam ser implementadas, e chegamos a um momento em que não conseguimos executá-las. A UFRPE hoje precisa de R$18 milhões para fechar o ano. Sempre estivemos em todo o Estado, com estações de pesquisa, da capital ao sertão. Mas hoje temos unidades de formação que precisam de ensino, pesquisa, extensão e administração oriunda da expansão de 2004 e ainda não conseguimos consolidar essa expansão, porque o orçamento não acompanha esses avanços. Assim, é difícil manter o padrão necessário à universidade, enquanto celeiro da construção cidadã, da construção profissional. O papel da universidade perante a sociedade é fundamental, 95% das pesquisas que são postas em prática, que se transformam em políticas públicas, saem dessas instituições. Então, é preciso olhar para dentro delas. Vivemos hoje essa instabilidade de funcionamento. Durante muito tempo, o que é proposto de orçamento para que a universidade funcione o ano todo não é atendido. Sempre há cortes. E nós, gestores públicos das instituições de ensino superior, colégios e institutos federais, temos que viver batendo nas portas dos gabinetes dos deputados de Brasília, pedindo suplementação. Se vivemos assim, é porque não há planejamento orçamentário para a gente. Não há como manter a dignidade das instituições dessa forma. Imagina como se sente um gestor que tem compromisso com seu cargo, com sua universidade e com a sociedade, nessa situação, sem ter como manter todos os estudantes de recorte social dentro das suas políticas públicas para que fiquem aqui, em um ambiente bom, com boa alimentação e uma boa biblioteca? Por isso, chegou-se a essa situação de greves nas universidades federais em todo Brasil. Não é só a questão salarial, é também por melhores condições de trabalho, por uma reestruturação de carreira no caso dos técnicos administrativos, por mais orçamentos para as universidades. Essa falta de olhar responsável pela educação independe de governo seja de direita, de centro, de esquerda. A postura é a mesma, a educação fica sempre à margem. Em relação à evasão dos estudantes, quantos alunos a Rural perdeu? A nossa evasão está dentro da média nacional, em torno de 25%. Mas temos históricos de universidades em que a evasão chega a 35%. Comparando o sistema público de ensino com o sistema privado, no privado é acima de 50%. Mas a gente ainda perde estudantes porque eles não têm condições de se manterem na universidade. Cerca de 80% dos nossos estudantes são de recorte social e essas pessoas precisam ser atendidas por alguma política. Mas não conseguimos atender essa comunidade. E estou falando dos estudantes de pós-graduação também que, mesmo recebendo bolsas de mestrado ou doutorado, o valor não é suficiente para viver bem porque muitos vêm do Sertão, por exemplo, e não têm rede de apoio. Então, uma bolsa de R$ 2 mil para mestrado e R$ 3 mil para doutorado não é suficiente porque eles precisam pagar moradia, alimentação, transporte. E ainda há os que passam na seleção de mestrado e doutorado, mas não conseguem bolsa, porque não há bolsa para todos. Então, perdemos essas pessoas que poderiam estar aqui, mas não têm condições de se manter. Que tipo de suporte os estudantes precisam para evitar a evasão? Precisam que as políticas públicas que criamos sejam implantadas na totalidade. Temos estudantes aqui, por exemplo, que moram longe, mas se nós não tivéssemos criado um aporte financeiro de auxílio-transporte, teríamos perdido muitos alunos porque, como são da Região Metropolitana, não têm direito à Casa do Estudante porque ela é para os que estão fora da RMR. Também criamos um auxílio-alimentação. Então, a gente cria essas políticas para não perder mais alunos. Além disso, eles precisam de apoio psicológico, a maioria não tem plano de saúde. Por isso, temos um departamento de qualidade de vida com médico e psicólogo. Nas nossas gestões, investimos muito nesse departamento porque as pessoas estão cada vez mais adoecidas. A universidade é uma cidade que tem que dar conta de educação, saúde, transporte, alimentação, saneamento. Nos últimos anos, a imprensa destacou a abertura de campus no interior como marcos importantes, mas que não tinham estrutura para funcionar. Como está a interiorização da UFRPE? Temos os campi de Garanhuns e Serra Talhada que estão consolidados mas com necessidades de abrir

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“O rádio não vai acabar porque tem versatilidade”

Wagner Gomes conta como, de apresentador de shows em Arcoverde, tornou-se um dos mais conhecidos profissionais do rádio pernambucano, fala da sua trajetória que começou como repórter esportivo de campo e do trabalho com ícones como Graça Araújo e Geraldo Freire. Também analisa as perspectivas desse meio de comunicação diante do avanço das mídias digitais. O ano de 2024 tem sido muito especial para Wagner Gomes. O jornalista, natural de Arcoverde, recebeu no mês passado o título de Cidadão do Recife, na Câmara de Vereadores da cidade, festejou seus 50 anos e comemorou a edição nº 500 do programa Mesa de Bar, que completa em dezembro 10 anos no ar. Para falar da sua trajetória de sucesso no rádio pernambucano, Wagner conversou com Cláudia Santos e Rivaldo Neto. Ele também analisou as perspectivas desse meio de comunicação diante das transformações provocadas pela internet. Afirmou que o rádio teve a capacidade de se renovar ao agregar as novas ferramentas digitais. “Tudo que foi surgindo, ele foi incorporando. Toda emissora de rádio que se preze hoje transmite, no mínimo, pelo Youtube e coloca imagens, cortes, vídeos”, constata. “Mas mantém a plataforma. Inclusive agora, nessa crise das enchentes no Rio Grande do Sul, o que salvou a comunicação por todo o estado foi o rádio. Como a TV e a internet não funcionavam, o radinho de pilha estava lá informando”, salienta, mas afirma não acreditar na longevidade dos podcasts. Como começou sua carreira no rádio? Fale um pouco da sua trajetória. Começou por acaso. Depois de ser reprovado no vestibular para engenharia mecânica no Recife, precisei voltar para minha cidade, Arcoverde. Lá, em brincadeiras com amigos, festas, eventos e depois fui apresentando shows, todos diziam que eu tinha boa dicção, mas eu nunca levei a sério. Então, em 1994, quando tinha 20 anos, entrei pela primeira vez no ar em um estúdio de rádio, na Itapuama FM. Depois, passei pela Metropolitana FM, de Pesqueira. Em 1997, voltei para o Recife para fazer vestibular novamente, dessa vez passei e cursei Comunicação na UFPE. Em 1999, Luciano do Vale veio para o Recife, pois havia comprado os direitos de transmissão do Campeonato Pernambucano e precisou montar uma equipe aqui. Entrei para a equipe como um dos repórteres de campo. Depois que o campeonato acabou, Luciano vendeu os direitos de transmissão para a TV Globo e eu fui para rádio Universitária AM fazer o estágio da grade curricular. Em junho de 2000, passei na seleção de estagiário no Sistema Jornal do Commercio. Quando ainda não havia começado no estágio, recebi uma ligação de Roberto Souza, que era chefe de jornalismo da rádio, perguntando se eu estava disponível para cobrir uma cerimônia, e eu aceitei. Na rádio, Roberto disse que a pauta era a publicação da ordem de serviço da duplicação da BR-232 no Palácio do Campo das Princesas. O evento estava lotado. Quando cheguei, Jarbas estava discursando. Havia deputados, vereadores e a imprensa com várias emissoras de rádio, TV e jornais. Quando o governador fez a cerimônia e assinou, todos os jornalistas foram pra cima pra pegar o depoimento dele, as câmeras se posicionando. Eu fui por baixo de todos e subi com um gravadorzinho da Rádio Jornal no meio das pessoas. Quando me abaixei, fui entrando, ele foi chegando e eu já engatei a primeira pergunta antes de todo mundo. No dia seguinte, quando cheguei na redação para trabalhar e editar minhas matérias, Roberto me mostrou a foto de capa do Jornal do Commercio, em que eu aparecia ao lado do governador. Ele me disse: “que estreia, hein!”. Um ano depois, o diretor me ligou e falou: “eu quero ver como você se comporta no estúdio”. Comecei a apresentar o programa Redator de Plantão com o locutor principal na ocasião, que era o Rinaldo Melo. Eu estava bem tranquilo, li a abertura do programa. Mas quando Rinaldo começou a falar, eu tremi. Pensei: o que eu estou fazendo aqui?. Ele com um vozeirão, uma elegância. Mas ele sempre muito gentil, muito elegante, no final me parabenizou. Depois, fui convidado para produzir o programa de rádio de Graça Araújo, com aquele formato de consultório, que estava muito desacertado por falha de produção. Elaborei um script, que o programa não tinha, levantei as vinhetas, a abertura do programa, as falas e coloquei na mesa dela, entreguei um para o operador e fiquei com o meu para apresentar com Graça. Quando terminou o programa, ela me pegou pela mão e disse: “o cara é esse aqui”. Fiquei na produção com ela e aprendi muita coisa. Graça Araújo contribuiu muito na minha formação como jornalista. Eu estava terminando a faculdade. Como começou sua parceria com Geraldo Freire? Quando terminei o curso, saí da rádio e voltei em 2004 já contratado por Geraldo Freire para ser seu produtor. Acordava todos os dias às 3 horas da manhã, tinha que estar na redação às 4h para montar o programa com ele. Comecei em fevereiro, bem pertinho do Carnaval. Como eu já tinha aquele trabalho de experiência de palco em Arcoverde, nesse período de 2002 a 2004, comecei a apresentar o Carnaval do Marco Zero para a Prefeitura do Recife. Era um contrato muito bom, eu ainda estudando e ganhava o dinheiro de praticamente um ano. Prestes a apresentar o Carnaval em 2004, Geraldo me chamou para trabalhar com ele e eu disse que aceitava o convite, mas com a condição de começar depois do Carnaval. Ele disse “não, quero você amanhã indo lá. Se vire”. E eu me virei. Terminava no Marco Zero lá pelas 3h30 para 4h ir para a rádio. Virava direto, pois eu chegava às 17h no Marco Zero. Só sei que numa dessas viradas, eu produzi um material sobre saúde com perguntas para médicos. No outro dia o outro produtor, Roberval Medeiros me disse: “oh, Wagner, vem cá, onde tu ouvisse falar em trombose venenosa?” Eu morrendo de sono do Carnaval, escrevia e começava a cochilar e, no lugar de digitar trombose venosa, escrevi trombose venenosa

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“Cidade-esponja é um caminho para o Recife se adaptar a eventos climáticos extremos”

Mila Montezuma, arquiteta que pesquisa como tornar as cidades resilientes a eventos extremos, fala das medidas factíveis para a capital pernambucana e ressalta a iniciativa do Projeto Recife Cidade Parque. Também informa sobre o NXR, evento em Haia que vai debater como evitar que a capital holandesa seja submersa pela elevação do mar. A arquiteta recifense Mila Montezuma tem-se dedicado a pesquisar soluções para proteger cidades e seus moradores dos eventos extremos causados pelas mudanças climáticas – como grandes tempestades e o aumento do nível do mar. Ela começou suas pesquisas investigando a situação do Recife e desenvolveu uma proposta para torná-lo resiliente à elevação do oceano, a partir de um sistema de três parques situados entre o mar e a praia, que denominou Membrana Anfíbia. Hoje ela reside e continua suas pesquisas na Holanda, país que, assim como o Recife, é banhado pelo mar e cortado por canais e rios, portanto vulnerável à transformação do clima. Recentemente tem estudado o tema das cidades-esponjas junto a instituições e pesquisadores da Europa e China. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Mila fala das suas pesquisas e das medidas que podem proteger a capital pernambucana das mudanças climática. Também aborda o NXR, evento do qual participa da organização, que será realizado em Haia com o objetivo de encontrar caminhos para proteger a capital política da Holanda de ser inundada com o avanço dos eventos extremos. O que são cidades-esponja? Cidades-esponja são projetos urbanos baseados na natureza para gerenciar todo o ciclo da água, abordando precipitação, captação, gestão da água superficial, absorção, infiltração, recarga do lençol freático, filtragem e reutilização da água. Esse conceito visa mitigar eventos climáticos extremos, como enchentes e secas, ao criar mais espaços para as águas: com retenção e infiltração da chuva no solo no local, funcionando como uma esponja que retém água para uso futuro. Como defende Kongjian Yu, criador das cidades-esponja e consultor do governo chinês – com quem pude colaborar durante minha pesquisa – existem três estratégias principais. Uma delas é reter a água da chuva, quando cai em sistemas hídricos como açudes, lagoas. As áreas próximas devem ser permeáveis e porosas e também são buffers (esponjas), com sistemas de porosidades. Outra estratégia é reduzir a velocidade dos rios, dando tempo para a natureza absorver suas águas (canalizá-los com concreto apenas aumenta a sua velocidade) e a terceira estratégia é adaptar as cidades para que tenham áreas alagáveis, ou seja, grandes estruturas naturais alagáveis, para onde as águas possam escorrer sem causar destruição e depois serem absorvidas pelo lençol freático. Essas cidades usam infraestruturas verdes e azuis (vegetação e água) de maneira sistêmica, com soluções interconectadas, como canais naturais abertos, corredores ecológicos, tetos verdes e tanques de captação de água. A abordagem é multiescalar, abrangendo desde grandes bacias hidrográficas até segmentos de ruas e lotes individuais. Nessas diferentes escalas, medidas são implementadas para gerenciar as águas. Você poderia detalhar que tipos de medidas poderiam ser adotadas? Na escala regional (das bacias hidrográficas) são necessárias medidas estruturais, a exemplo de grandes corredores verdes e áreas de mananciais com mata ciliar, pântanos e zonas úmidas restauradas, além de medidas não-estruturais, como políticas de proteção de bacias hidrográficas e programas de reflorestamento. Já na escala urbana são previstas medidas estruturais, tais como redes de parques, praças e cinturões verdes que ajudam a amortecer o excesso de água e gerenciar a drenagem; além de sistemas de lagos e lagoas urbanas. Como medidas não-estruturais estão planos diretores de uso do solo que incentivam a adaptação climática e integração de espaços verdes na infraestrutura da cidade. Na escala de bairro, podem ser instaladas como medidas estruturais pequenos jardins públicos (rain gardens) e parques de infiltração com sistema de drenagem que permitem a retenção e infiltração da água no solo. Já as medidas não estruturais abrangem iniciativas de jardinagem comunitária, zonas de regulação de construção, incluindo normas que exigem ou incentivam a inclusão de elementos de design sustentável nos novos projetos de construção. Para as ruas (escala local) a implantação dos chamados bioswales, que são canaletas verdes ao longo das calçadas para absorver a vazão de água, além de pavimentos permeáveis e calçadas verdes são algumas das medidas estruturais e entre as não estruturais estão o tráfego compartilhado com superfícies permeáveis; programas de manutenção e limpeza das infraestruturas de drenagem existentes. Na escala do lote (das casas) podem ser instalados como medidas estruturais os jardins de infiltração (soakaway gardens), são pequenas áreas de solo escavado e preenchido com material permeável para infiltração da água da chuva. Outras providências seriam tetos verdes, tanques de captação de águas pluviais, jardins e pavimentação permeável. E, como medidas não estruturais, a existência de incentivos fiscais e subsídios para proprietários que adotam práticas de gestão sustentável da água, como tetos verdes, jardins frontais ou sistemas de captação de água e adoção de programas de certificação ambiental, como o LEED (Leadership in Energy and Environmental Design, que busca incentivar e acelerar práticas de construção sustentável). A implementação de cidades-esponja visa aumentar as áreas permeáveis e os espaços verdes e azuis, contribuindo para a redução das enchentes e promovendo uma gestão hídrica mais integrada ao ambiente urbano e sua geografia original. A solução da cidade-esponja seria o caminho para o Recife se preparar para eventos extremos das mudanças climáticas, como aconteceu no Rio Grande do Sul? Com certeza. O conceito de cidades-esponja é um caminho que vem sendo estudado no Recife para se preparar para eventos climáticos extremos, como os observados no Rio Grande do Sul, especialmente considerando suas características geográficas (topografia, geologia, hidrologia e cultura). O Recife é uma planície fluviomarinha estuarina de dimensão metropolitana, costeira e de baixas altitudes, situada em uma planície alagável coroada por morros baixos e cortada por três principais rios: Capibaribe, Beberibe e Tejipió. É um território densamente urbanizado com fragmentos de Mata Atlântica e manguezal. Especialmente após participar do Conselho Executivo da Cooperação China-Europa em Cidades-Esponja, em missão técnica na China com profissionais como Konjian Yu, entendo que o conceito de cidade-esponja é

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“No marco do centenário da Av. Boa Viagem, é preciso discutir seus próximos 100 anos”

Daniel Uchôa, professor de história, fala da sua pesquisa sobre a icônica via da Zonal Sul do Recife que fez parte de um projeto de modernidade do governador Sérgio Loreto, ajudou a introduzir hábitos como tomar banho de mar e cuja praia abrigou cabos de telégrafos e foi até campo de pouso para o correio aéreo. O professor de história Daniel Uchôa e o historiador Paulo Bittencourt andavam certo dia pela Av. Boa Viagem e se depararam com uma placa, um tanto escondida e desgastada, que informava que a icônica via da zona sul do Recife foi inaugurada em 1924. Surpresos, eles se deram conta que neste ano ela chega ao seu centenário. A descoberta os levou a partirem para a empreitada de realizar a pesquisa 100 Anos da Avenida Boa Viagem. Um projeto que se justifica, segundo Uchôa, porque quando o governador Sérgio Loreto decidiu inaugurar a avenida, não se tratava de construir mais uma simples pista. A ideia era ampliar a expansão urbana da cidade para a Zona Sul e implantar uma cultura de modernidade no Recife, tão em voga no mundo naqueles loucos anos 20. Nesta conversa com Cláudia Santos, Uchôa conta que essa busca por modernização toma forma por meio da arquitetura inovadora dos imóveis construídos e também pela popularização de novos hábitos como tomar banho de mar. Incentivar a comemoração do centenário da Avenida Boa Viagem, segundo o professor de história, é também uma oportunidade para a reflexão sobre problemas atuais como o esvaziamento que a via sofreu ao longo dos anos, principalmente à noite, quando não exibe a mesma efervescência de outras orlas marítimas do País. Como começou esse projeto? A pesquisa começou de uma lembrança minha de infância: sempre que eu ia à praia, via os cabos de telégrafo que ficavam visíveis em Boa Viagem na maré baixa. O Recife foi a cidade que sediou a chegada dos cabos por meio de uma companhia inglesa. A ligação está completando 150 anos, é uma data histórica, porque naquele momento representou um avanço tecnológico incrível na comunicação entre o Brasil e o mundo. No calçadão havia uma placa que dizia: “neste local o Brasil se encontra com a Europa através dos cabos”. Eu e Paulo Bittencourt, historiador que também participa da pesquisa, saímos um dia na busca pelo local onde estavam os cabos e constatamos que a placa não estava mais lá. Mas nos deparamos com uma outra placa na frente do edifício Lula Cardoso Ayres que testemunhava que a Av. Boa Viagem foi projetada e inaugurada por Sergio Loreto em 1924. Pensei: “a avenida é tão antiga assim? Está perto do centenário. Será que conseguimos fazer um resgate de fotografias antigas dessa avenida para postar nas redes sociais?” Acabamos descobrindo muitas informações. Assim, de maneira inesperada, começamos uma pesquisa historiográfica sobre os 100 anos da Avenida Boa Viagem. Descobrimos, por exemplo, que quando termina a Primeira Guerra Mundial sobram muitos materiais bélicos, inclusive aviões, que eram muito rudimentares, mas que voavam distâncias curtas. Um industrial de Toulouse, na França, adquire um lote dessas aeronaves e decide utilizá-las na distribuição de cartas do correio. Antes as cartas eram enviadas por outros meios, menos o avião. Eles atravessavam o Oceano Atlântico de navio, a carta demorava um mês ou mais para chegar em Natal (RN), porque o a reta mais curta entre de Dacar no Senegal e Brasil. Lá os aviões pegavam os malotes e distribuíam na costa brasileira até Buenos Aires. Pousavam na praia do Pina. Só que em alguns momentos a areia estava muito fofa e os aviões atolavam. Quem são esses autores e sobre o que escreveram? Uma delas é Rita Barbosa, historiadora da UFPE e da Fundação Joaquim Nabuco. Ela trouxe um dos melhores textos, com mais detalhes do ponto de vista histórico, da Avenida Boa Viagem e do contexto em que se deu essa construção. Depois encontramos Antônio Paulo Rezende, professor de história da UFPE, que trouxe um olhar mais sociológico sobre os anos 1920, época em que surge a obra da avenida. Quando unimos a compreensão sociológica de Antônio Paulo Rezende e de outros textos com a cronologia trazida por Rita Barbosa, entendemos que não estávamos falando de uma pista e, sim, de um caminho que foi aberto para a ocupação do bairro de Boa Viagem que surge a partir dela. Primeiro surge a Avenida Boa Viagem, depois a ocupação da Navegantes, em seguida a Conselheiro Aguiar, depois a Domingos Ferreira. A partir dos anos 1960, acontece a ocupação de outras áreas e ruas. E o que impulsionou essa ocupação? O que levou o governo a querer ocupar essa parte da praia? O governador da época era Sérgio Loreto. Ele era tido como conservador, mas compreendeu que os anos 20, os anos loucos como eram chamados, era um momento de virada histórica. Com a chegada dos automóveis, da comunicação, ele percebeu que era preciso um marco que representasse a cara do Recife moderno em oposição ao Recife colonial arcaico, dos coronéis da cultura açucareira. E as obras cumprem essa missão. Na época, a circulação na cidade era entre o Recife Antigo, passando pelo Centro, Praça do Derby, trechos da Zona Norte, Zona Oeste, Várzea. Então Sérgio Loreto cria essa ligação ao novo território, e não era qualquer território, era um balneário, numa época em que o banho de mar era uma nova moda do Recife. Na virada do Século 19 para o 20, o recifense frequentava a Praia dos Milagres em Olinda ou as extintas Praia de Santa Rita e Praia do Brum, porque eram acessíveis, onde era possível chegar a pé ou de ônibus. Na década de 20, surge a ideia de alargar o mapa e dar ao recifense esse novo espaço marinho. Então, criam- -se três obras: a Ponte do Pina, a Avenida de Ligação, que hoje é a Herculano Bandeira, e a Avenida Boa Viagem. Houve críticas de Manuel Borba, o engenheiro da época, opositor a Sérgio Loreto, que dizia nos jornais: “essa é uma obra

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“Neste momento de polarização Thales Ramalho faz falta e seria essencial”

Cícero Belmar, Autor do livro sobre o deputado federal que teve grande influência na resistência à ditadura militar e na redemocratização do País, analisa como o perfil concitador e a habilidade de negociar do político foram fundamentais em episódios importantes da história brasileira, como a conquista da anistia. Durante a ditadura militar do Brasil e, principalmente, no período de redemocratização, o deputado Thales Ramalho era uma peça importante no xadrez político da época. Conciliador, moderado e hábil negociador, esse paraibano, que fez carreira política em Pernambuco, participou – com seu jogo de cintura – de articulações que resultaram em importantes avanços do País rumo à democracia. Da consolidação do MDB (único partido de oposição na época), passando pela anistia, até a eleição de Tancredo Neves, Thales exerceu protagonismo como um estrategista inteligente. Neste ano que marca o seu centenário, ganhou uma robusta biografia (Thales Ramalho – Política, diálogo e moderação – 100 Anos), escrita pelo jornalista, escritor e integrante da Academia Pernambucana de Letras, Cícero Belmar. A obra – feita a partir de um convite da filha de Thales, Ana Clara – é um mergulho na resistência nos anos de chumbo exercida por parlamentares que viviam na tênue e perigosa fronteira entre o diálogo com o regime de exceção e as ações para o avanço democrático. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Belmar conta como fez a pesquisa para escrever o livro, comenta alguns episódios da atuação política de Thales, que faleceu em 2004, e lamenta a ausência de políticos com seu perfil conciliador nestes tempos de polarização radical. Como surgiu a ideia de produzir um livro sobre Thales Ramalho e como foi feita a pesquisa para escrevê-lo? Ana Clara, filha única de Thales, por intermédio do jornalista Ítalo Rocha, me contatou para fazer essa biografia política do pai. Foi meramente uma pesquisa jornalística porque havia no gabinete dele uma verdadeira biblioteca de recortes de jornal, de 300 até mil arquivos por mês de 1970 a 1985. Eu li todas essas matérias e, por intermédio delas, fui montando o livro. Analisei toda a documentação e via perfeitamente a história através dos recortes de jornal. Olha como é interessante: o jornalismo de hoje é a história de amanhã. Fui juntando esse material e, quando achei necessário, também pesquisei nos arquivos do Congresso Nacional, da Assembleia Legislativa do Estado, da Biblioteca Nacional (onde tive acesso a documentos do SNI), além de documentos do Tribunal de Contas da União e da Fundação Getúlio Vargas. Tive uma vasta documentação, foi um trabalho bem rico que durou 16 meses e exigiu muita dedicação. O livro começa com o casamento de Ana Clara, filha de Thales Ramalho, no dia 1º de março de 1985, ocasião em que o Recife vira o centro político brasileiro, porque Tancredo foi o padrinho. Quando ele veio para esse evento, a Nova República em peso estava presente, muitos políticos que queriam ser ministros, vários governadores, deputados, empresários. Estavam, naquele salão de casamento, todos os personagens que eu iria citar no livro. A partir daí, a narrativa fala da amizade de Tancredo com Thales Ramalho, mostrando os movimentos políticos, a entrada de Thales no MDB (Movimento Democrático Brasileiro), a maneira como ele consolida o partido, as lutas do MDB, sobretudo a anistia e, depois, a saída dele para o Tribunal de Contas. Eu nunca convivi com Thales mas, nas pesquisas para o meu livro, tive acesso a documentos, a tantas conversas, que tenho a sensação de que cheguei a conhecê-lo. O livro, narra essa trajetória política dele enquanto peça importante no processo de redemocratização do Brasil durante a ditadura militar. Como você analisa o perfil político de Thales Ramalho? Na ditadura militar, um momento muito difícil da nossa realidade política, Thales Ramalho foi um deputado federal que combateu o autoritarismo mas, também, era um importante conciliador entre o governo e a oposição. No meu livro, faço um resgate dessa ideologia conciliadora, moderada, do seu senso crítico, da sua inteligência e estratégia. Naquela época, quem era a favor do governo fazia parte da Arena (Aliança Renovadora Nacional) e quem era contra se unia ao MDB, que era uma frente ampla e agregava tanto quem era totalmente contra o governo, quanto as pessoas que tentavam dialogar. Thales era desse grupo do MDB mais moderado, um grupo discriminado e chamado de “direita do MDB” pela ala do partido conhecida como os “autênticos” (que defendia um enfrentamento mais radical à ditadura, da qual faziam parte nomes como os pernambucanos Jarbas Vasconcelos e Marcos Freire). Ele era amigo de Tancredo Neves e de Ulysses Guimarães e ajudou a organizar o MDB que, antes da sua chegada, era muito desorganizado. Então, seu perfil é do conciliador. Quais as conquistas que ele alcançou com esse “jogo de cintura”? Ou se negociava com Médici e Geisel, ou os projetos da oposição, como a anistia, não andariam. Quando Thales começou a negociar, não havia possibilidade de abertura, de diálogo. Como era moderado por excelência, ele permite que essas conquistas sejam viabilizadas para que haja mudança política. Por exemplo, num determinado momento cogitou-se haver eleições presidenciais indiretas, mas não havia possibilidades de o MDB ganhar, porque o partido era minoria no Colégio Eleitoral. Por isso, setores do governo ironizaram sugerindo que o MDB lançasse um candidato. Thales e outros representantes disseram “vamos lançar porque, só assim, começamos a ter uma forma legal de percorrer o Brasil pregando as ideias oposicionistas ao governo”. Assim nasceu a anticandidatura de Ulysses Guimarães, e o partido de oposição passou a ocupar espaços lentamente e de forma inteligente. Uma das características de Thales é justamente a inteligência política, ele era um estrategista. Num evento internacional em Haia (Holanda), Thales chegou a declarar que, em pleno período do Governo Médici, não havia tortura no Brasil. Nesse xadrez político que ele jogava, como você encara essa declaração? À primeira vista, isso parece chocante e é, mas havia o crime de lesa-pátria, que estabelecia que aqueles que falassem mal do Brasil no exterior poderiam ser expulsos do País. Thales sabia

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“A Caatinga é o mais eficiente dos biomas brasileiros para sequestrar carbono”

Aldrin Pérez, pesquisador titular do Insa (Instituto Nacional do Semiárido) informa que estudos científicos têm desmistificado a ideia de que a Caatinga é pobre e sem vida. A verdade é que ela é rica em espécies e realiza um papel fundamental na resiliência do planeta às mudanças climáticas. A visão de que a Caatinga é uma área sem vida e sem riquezas tem sido desfeita por pesquisas científicas que mostram a importância dela para a resiliência às mudanças climáticas e para a possibilidade de novas atividades econômicas no semiárido. Um dos mais recentes estudos foi coordenado por Aldrin Pérez, pesquisador titular do Insa (Instituto Nacional do Semiárido), que pertence ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. Um dos resultados mais surpreendentes desses estudos foi a revelação de que se trata do bioma mais eficiente do Brasil no sequestro de carbono. Nesta entrevista a Rafael Dantas, Pérez ressalta a importância de instalar no semiárido atividades econômicas que não afetem o meio ambiente e evitem o desmatamento da vegetação local que contribui para a retenção do CO2 e preservação da água na região. Caso contrário, vão surgir ameaças, como a desertificação, a mudança do clima, a perda de biodiversidade e a expulsão das pessoas do campo. “Elas vão ocupar as periferias e os morros nos grandes centros, onde também há outros problemas ambientais, como deslizamentos de terra, que acontecem porque as famílias chegam sem condições nenhuma”, alerta o pesquisador. Quando começaram os esforços para desvendar a Caatinga? Somos um grupo de pesquisa que desde 2010 busca entender o bioma e desenvolver modelos ambientais como suporte para políticas públicas, focando na conservação e no uso sustentável da Caatinga. Uma dessas pesquisas, foi compreender a dinâmica e a variação sazonal tanto do carbono, quanto da água, no processo contínuo de renovação da energia do bioma em seus três componentes principais: o solo, a vegetação e a atmosfera. Desenvolvemos esse trabalho, inicialmente em grupos separados. O Insa e a Universidade Federal de Campina Grande se uniram para estudar sobre o semiárido e seus recursos naturais. Havia uma equipe da Embrapa Semiárido e um grupo da Universidade Federal Rural de Pernambuco, que ficam em Serra Talhada. Depois agregou-se outro grupo da Universidade Federal Rural do Rio Grande do Norte. Começamos, em 2010, o trabalho em Serra Talhada, e em 2012 em Petrolina e no Araripe. Também em 2012, iniciamos a pesquisa juntamente com a Embrapa em Campina Grande (PB) e na Reserva Biológica de Serra Negra (PE). Em 2016 apareceu um edital do CNPQ, dentro de um programa que se chama Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia. Nesse momento dissemos: estamos cada um pesquisando separadamente e precisamos juntar forças para ganhar o edital. Fizemos um reforço com o Insa, a Embrapa Semiárido, UFRN, UFRPE e especialmente a UFPE, com pesquisadores conceituados que se mobilizavam em uma rede para estudar conjuntamente a Caatinga e para apresentarmos o projeto. Então, o trabalho surgiu para nos juntarmos e para desenvolver uma pesquisa que tivesse mais solidez e fosse mais articulada em cima de objetivos e problemas comuns dos impactos das mudanças do clima, da desertificação e como isso afeta na biodiversidade. Qual era a percepção sobre a Caatinga quando vocês iniciaram essa pesquisa? Historicamente, a Caatinga já foi vista como um bioma pobre, tanto em espécie quanto em florística. Houve a necessidade de desmistificar essa visão. Montamos um grupo de biologia e, desde 2016, estudamos esse balanço do carbono, a dinâmica e a formação de energia ao longo desse período. Ao contrário do que se falava, que a Caatinga não contribuía para o sequestro do carbono, desde 2010 até o momento, ela se mostrou uma extraordinária solução para as mudanças climáticas. Não esperávamos esse resultado. Passamos a ter consistência nos dados. De 2010 para cá são 14 anos. Depois que acumulamos uma série de dados, começamos a publicar os resultados em revistas científicas internacionais desde 2020. Há alguns marcantes, como os que saíram na revista Nature (Scientific Reports) e na Science of the Total Environment, entre outras. Estamos elaborando um artigo-síntese em que confirmamos que no fluxo de carbono entre a atmosfera e a vegetação, mesmo nas áreas mais secas, há um robusto sequestro de carbono. Mesmo aquela Caatinga localizada em regiões com menos chuva – em torno de 300 milímetros – ocorre o sequestro em torno de 1,5 a 2 toneladas de carbono por hectare por ano. Naquelas localidades mais úmidas, na transição do Agreste, que se chama ecótono do Agreste, a Caatinga sequestrou de forma mais consistente 5,5 toneladas de CO2. Fizemos também uma campanha de coleta de amostras de solo do semiárido, do perfil de até 1,5 metro de profundidade, com representação de 97% dos tipos de solo da região, uma amostragem grande. Nesse artigo, também já publicado, identificamos o que se chama estoque de carbono. Veja: o fluxo de carbono é o que está circulando. O estoque é a parte do CO2 que foi sequestrada e fica retida na vegetação e no solo. Apenas quando há um desmatamento, é que não há retenção de carbono. Se considerar um quilômetro quadrado de vegetação da Caatinga conservada, há um estoque de cerca de 3.350 toneladas de carbono, o que dá aproximadamente 35 ou 40 toneladas por hectare. Isso apenas na vegetação. Na parte que está no solo, a Caatinga está protegendo em média 12.500 toneladas de carbono por quilômetro quadrado. Então verificamos que é mais valioso manter a Caatinga conservada porque ela está prestando esse serviço para o clima. Como é a relação de contribuição no sequestro de carbono da Caatinga comparada a outros biomas brasileiros? No Brasil é significativa a contribuição da Caatinga. Esse bioma está entre as maiores representações do mundo em floresta seca. Imagina o impacto para o clima global ter uma vegetação que está sequestrando carbono além de ter um papel importante para programas de conservação da vida silvestre! Dos 3.346 tipos de planta que temos na Caatinga, 526 são endêmicas, ou seja, só ocorrem dentro desse bioma. Isso transforma o espaço

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“Novos ciclos de investimentos com grandes empresas serão divulgados em breve”

André Teixeira Filho, presidente da Adepe, explica as ações da agência para desenvolver o Estado, como os incentivos aos arranjos produtivos locais, fala dos gargalos na infraestrutura logística e no abastecimento hídrico, e afirma estar otimista com a perspectiva de aportes de players industriais em Pernambuco. Passado o imbróglio mais tenso da Reforma Tributária, em especial nas questões relativas aos incentivos fiscais, o presidente da Adepe (Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco) André Teixeira Filho está otimista com a chegada de novos investimentos ao Estado. Ele reconhece que existem gargalos de infraestrutura porém afirma que já estão sendo enfrentados pelo governo, como a condição das estradas. “A governadora vem anunciando rodovias que estão sendo revitalizadas ou duplicadas, como a BR-232 e a BR-104”, ressalta. Natural de Caruaru, onde foi secretário de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Economia Criativa, ele também conhece de perto os problemas de abastecimento de água em Pernambuco. Uma situação corroborada, segundo ele, pelas dificuldades financeiras da Compesa. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ele fala da perspectiva de reestruturar a empresa com um empréstimo de R$ 1,1 bilhão (já aprovado pelo Senado) e da possibilidade de uma parceria público-privada. Também informa sobre as ações da agência para incentivar os arranjos produtivos locais e dos planos de estimular o audiovisual no Estado. Quais são os planos da sua gestão à frente da Adepe e como as mudanças na Reforma Tributária impactaram o trabalho da agência que atua com incentivos fiscais para atrair investimentos? Um dos grandes pontos da nossa gestão é a atração de investimentos. Minha gestão iniciou em março de 2023, no acaloramento da Reforma Tributária, que impacta na chegada de novas indústrias e de ciclos de investimentos. Ou seja, um cenário de insegurança no Brasil em que muitas empresas não conseguem investir sem saber o que vai acontecer. Isso dificulta a tomada de decisão. Ainda assim, conseguimos fechar novas atrações de investi mento das empresas Solar Coca-Cola e Ball. Somando as duas, temos quase R$ 700 milhões de novos investimentos. Também teremos um novo ciclo de investimentos da Stellantis, com R$ 13 bilhões. A atração de investimentos é um processo capitaneado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Quando houve uma decisão em torno da Reforma Tributária, conseguimos destravar algumas negociações, que já estão em curso, com grandes fábricas. Isso vem sendo possível porque a governadora do Estado Raquel Lyra brigou pela reforma e pelo novo ciclo de incentivo fiscal das empresas automotivas que saíram de Pernambuco. Depois de tudo isso, eu vejo novos ciclos de investimentos com grandes empresas que serão divulgados em breve. A logística e a infraestrutura são gargalos na atração de investimentos. O que vem sendo feito, neste sentido? Para haver investimentos, é preciso ter estradas boas e uma boa logística. A governadora vem anunciando rodovias que es tão sendo revitalizadas ou duplicadas, como a BR-232 e a BR-104. Estamos fazendo investimento em pouco mais de R$ 2 bilhões para melhorar as estradas e trazer novas indústrias, pois sem es trada não existe logística. E, quando falamos da PE-60, falamos também da Solar que está sediada em Suape e se comprometeu a investir, sabendo que a gente vai fazer um grande investimento entre R$ 60 e R$ 80 mi lhões na estrada. Recentemente conseguimos, junto ao Governo Federal, mais de R$ 100 milhões para melhorar a dragagem inter na do Porto de Suape e conseguir receber navios maiores. Isso vai facilitar que novas rotas cheguem aqui. Eu estou extremamente animado para os próximos anos no Estado. Além das obras de infraestrutura feitas pelo governo para viabilizar melhorias logísticas, a própria Adepe realiza obras para apoiar a implantação de empreendimentos. A agência conduz a aplicação de R$ 52 milhões em obras de requalificação de distritos industriais, mercados públicos e centros comerciais em 13 cidades com o objetivo de proporcionar infraestrutura adequada para operação de empreendimentos em todo Estado. Entre os municípios beneficiados estão Exu, Vitória de Santo Antão, Escada, Canhotinho, Pesqueira, São Bento do Una, Lagoa Grande, Abreu e Lima, Caruaru e Taquaritinga do Norte. Outro fator de impacto na infraestrutura é o abastecimento de água. Como está essa questão, principalmente no interior? A situação da Compesa é que (salvo engano, na ordem de grandeza) a governadora já teve que colocar do caixa do Estado de R$ 300 a R$ 400 milhões só para manutenção da empresa. Não é investimento. Estamos fazendo uma reestruturação e, agora, para investimento estamos fazendo um empréstimo de R$ 1,1 bilhões para que a Compesa consiga prometer e entregar muita coisa que estava no papel há décadas. É o caso da Adutora do Agreste. A gente conseguiu também muita coisa com pequenos investimentos. Tanto a governadora quanto eu somos do Agreste de Pernambuco que é a região que tem mais gente e menos água no Brasil, nascemos com falta de água. Então, uma das cinco principais propostas da governadora é levar água para o Estado como um todo, começando com água encanada nas casas das pessoas. Por isso está se pensando o que fazer com a Compesa daqui para frente, ela tem que ser autossustentável e tem que voltar a fazer investimento em Pernambuco. Qual seria esse futuro? Está em vista a privatização da Compesa, como vem acontecendo na Sabesp? Não. Privatização a governadora já disse que não faz, mas ela está aberta a parcerias público-privadas. Uma concessão é uma parceria e, com ela, abre-se um novo ciclo de investimento. Então a gente está organizando a casa para que a conta seja de investimento e não de manutenção. O pagamento da dívida passada é obrigação do Estado, mas investimentos futuros podem ser feitos por meio de uma parceria com o setor privado. Em relação ao Polo de Confecções, que apesar de sua pujança, enfrenta ainda dois grandes gargalos: a informalidade e o uso de práticas que danificam o meio ambiente. Como a Adepe tem atuado nessas duas áreas? A gente vem trabalhando primeiro com capacitação e qualificação do Polo de Confecções. Rodamos agora uma qualificação para ajudá-los a exportar. Ou

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