Arquivos Vi no Instagram - Página 2 de 47 - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

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Poli cria soluções urbanas para o Recife

Nem sempre a população tem conhecimento das experiências produzidas pelas universidades para melhorar o seu cotidiano. Mas, não faltam propostas e projetos acadêmicos com soluções palpáveis para o desenvolvimento local. É o caso do grupo de ensino, pesquisa e extensão da Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco (Poli/UPE), o DESS (Desenvolvimento Seguro e Sustentável), que tem criado alternativas promissoras para as dificuldades urbanas vividas pelos moradores do Recife. O grupo surgiu em 2013, por iniciativa da professora Emilia R. Kohlman Rabbani. “Gosto de entender quais são os problemas locais e o que nós, engenheiros, podemos fazer para resolvê-los. E eu senti que não iria conseguir solucionar nada sozinha. Era na conexão com outras pessoas que conseguiríamos sanar essas questões”, defendeu a professora. Emilia formou o DESS com um grupo de professores, pesquisadores e alunos de graduação, especialização e mestrado da Poli e de universidades nacionais e internacionais parceiras. O objetivo é desenvolver estudos interdisciplinares nas áreas de transporte e da construção civil, considerando os aspectos da sustentabilidade em suas três principais dimensões: ambiental, social e econômica. O projeto de iniciação científica dos alunos da graduação em engenharia civil Fabrício de Lima e Nivaldo de Arruda, orientados por Emilia e pelo professor Jaime Cabral, é um bom exemplo de como o trabalho do DESS tem conexão com a realidade local. A ideia é encontrar soluções para os alagamentos das ruas, um transtorno comum a muitos municípios em época de chuvas. Eles estudam a drenagem do solo, utilizando a Av. Domingos Ferreira, em Boa Viagem, como objeto de estudo. “Atualmente a Emlurb lista 160 pontos de alagamento no Recife e esse problema surge porque nossa cidade foi construída sobre aterros, ocupando o espaço das águas”, explicou Fabrício. . . Drenagem, ressalta o estudante, significa levar a água da chuva para os rios e riachos. “O modelo adotado atualmente, a partir da impermeabilização do solo, não conseguiu mais dar conta do volume de água”, pontuou. Os pesquisadores já iniciaram os testes na avenida para entender o grau de infiltração do solo e, posteriormente, apresentar uma solução. Já Alyx Silva é mestrando e encabeça uma das pesquisas para auxiliar os engenheiros a optarem por materiais e processos construtivos mais sustentáveis. Para isso ele utiliza o software Revit e processo BIM (Building Information Modeling), que oferece um modelo digital tridimensional que pode ser utilizado de forma compartilhada com todos os envolvidos na indústria da arquitetura, engenharia e construção, desde a concepção até a fase de demolição, abrangendo todo o ciclo de vida da obra. “O objetivo é traçar um comparativo entre os materiais e tornar a sustentabilidade uma decisão prévia na construção”, resume o aluno. A busca de alternativas sustentáveis para infraestrutura de rodovias é o foco do projeto de Rivaldo Rodrigues, também mestrando. “Vou pesquisar nos editais mais recentes do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) para entender o que é que já tem sido aplicado”, informa. Rivaldo é especialista em projetos de infraestrutura e teve sua carreira transformada a partir do programa de mestrado e de sua participação no DESS. “Já projetei várias rodovias, vias urbanas, aeroportos, ferrovias e em toda a minha trajetória de profissional o foco sempre foi o econômico”, relata. “Desde que entrei na Poli e, principalmente no DESS, entendi que o econômico é só um dos pilares da sustentabilidade, você tem que pensar também no social e no meio ambiente", alerta. Apesar de realizar todos esses projetos, o DESS sofre com restrições decorrentes da conjuntura econômica atual. “O que podíamos fazer sem dinheiro, estamos fazendo. Imagine só o que poderíamos fazer com mais recursos!”, presume Emília, sem perder o bom humor. Ela relata que os alunos precisam ser criativos e habilidosos para poderem concluir seus projetos. O grupo enfrenta ainda a suspensão das bolsas. “Eu tinha geralmente três ou quatro bolsistas de mestrado por ano (conseguíamos atender geralmente todas as solicitações de bolsas dos alunos que passavam na seleção) e agora, com o corte, não temos como atender bons mestrandos que apresentam projetos promissores”, lamenta. Mas o grupo segue firme em seus propósitos e conta com uma rede de intercâmbio com cinco universidades internacionais, além de uma série de colaboradores estrangeiros. Segundo a coordenadora do DESS, além de verbas públicas, o investimento de recursos da iniciativa privada em pesquisa científica sempre apresenta bons retornos. “Meus colegas nos Estados Unidos dizem que lá conseguem financiamento das empresas, aqui também deveria ser assim. Lá fora, os empresários concedem bolsas de mestrado e doutorado, investem no professor e em seus grupos de pesquisa e, em contrapartida, a universidade contribui trazendo mais tecnologia para as empresas”, esclareceu. “Se elas descobrissem o quanto poderiam economizar investindo nas pesquisas, podendo ter um aluno de mestrado ou doutorado trabalhando num tema de seu interesse, elas estariam investindo muito mais nas universidades”, provoca Emilia. A próxima edição da Algomais vai trazer uma reportagem sobre a pesquisa do DESS que investiga o uso de casca de sururu para substituir o cimento na Ilha de Deus, no Recife. *Por Yuri Euzébio, da Revista Algomais (redacao@algomais.com)

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O desafio de andar pelo Recife

“Eu me sinto privilegiada, abençoada e agradecida”. Essa frase está tatuada no braço direito de Jéssica Pacheco. Baiana de nascimento, ela é portadora da síndrome dos ossos de vidro, a osteogênese imperfeita. Seu deslocamento pelo Recife, onde mora há quatro anos, é um desafio diário na sua cadeira de rodas motorizada. Engajada na luta pelo espaço público acessível, ela conseguiu ingressar na graduação em arquitetura e urbanismo na UFPE. Em 2019, a universitária foi selecionada para executar uma pesquisa sobre as calçadas na capital pernambucana. A cidade não foi bem. Uma realidade que ela já conhecia na prática antes do estudo em campo. Mesmo em meio às provações da mobilidade no Recife, o sentimento de gratidão de Jéssica tem uma razão. Natural do pequeno município de Várzea da Roça, a 300 quilômetros de Salvador, que tem menos de 15 mil habitantes, ela encontrou na capital pernambucana tratamento na AACD para poder literalmente dar os primeiros passos, com apoio de uma órtese. A instituição também doou a cadeira de rodas, que é o principal bem da universitária. “A cidade me deu oportunidades que eu não poderia alcançar no interior. Vim para turistar, depois para o tratamento. E decidi morar aqui, onde consegui fazer outras terapias e tratamentos”, comemora. Ela afirma que, apesar de todas as barreiras, gosta de estar no ambiente público. “O único problema é que a rua nunca me deu o acesso que eu gostaria de ter”. As calçadas irregulares, comércios ambulantes no caminho, insuficiência de faixa de pedestres, dentre outros obstáculos não a paralisaram. Destemida, conseguiu passar na seleção justamente no curso de arquitetura e urbanismo. “Chegar ao quinto período é um grande passo. Não é um curso simples ou fácil. Mas é um desafio que me motiva a continuar”. No final de 2018 ela teve a dica de um amigo de que estava aberto o processo de seleção para a aplicação de uma pesquisa do portal Mobilize Brasil sobre as calçadas. Mais uma vez foi selecionada. A pesquisa, realizada em 2019, deu ao Recife a nota de 5,92, ficando em 12º lugar entre as capitais brasileiras. Quatro eixos foram avaliados: conforto, acessibilidade, sinalização e segurança. “Temos agora um leque de informações novas. Além das notas, registramos muitas fotos, comentários e detalhes que foram captados e que nos permitem realizar um trabalho para qualificar o espaço público. A média do Recife e a nacional são ruins. E o primeiro passo para melhorar a mobilidade é trazer um olhar mais dedicado para as calçadas. É a parte do nosso sistema de transporte mais importante”, avalia Jéssica. A má condição dessa via para os pedestres é um desconvite para a população acessar os espaços públicos a pé, na opinião da universitária. Ela aponta que isso traz uma série de consequências para a população e para a própria vitalidade urbana da capital. “Sem pessoas nas ruas, a cidade fica menos segura. Quando todos estão em transporte motorizado, há um impacto na saúde pública, tanto pelos acidentes de trânsito como pela falta de movimentação dos cidadãos. Se todos andássemos mais, teríamos uma vida mais saudável. Posso dizer que os cadeirantes que querem continuar vivendo e se deslocando pela cidade são verdadeiros heróis”, aponta. A pesquisa da Mobilize avaliou 20 calçadas que estavam nas proximidades de prédios públicos ou em lugares de grande circulação de pedestres. A pior nota (3,23) ficou para a Av. Professor Antônio de Sá, na Várzea, vizinha à UFPE. No ranking das piores estão também o trecho entre a Rua Real da Torre e a Rua Castro Leão, na Madalena, na cercania na Escola de Formação de Professores Paulo Freire (3,60); e no trajeto entre a Rua do Esparadrapo e a Rua dos Coelhos, na Boa Vista, perto do Imip (4,13). Apenas três lugares ficaram acima da média mínima aceitável do estudo, que era 8,0. Os melhores cases foram do calçadão da Av. Boa Viagem (8,97); da Av. Cais do Apolo, na altura do Forte do Brum e próxima à Prefeitura do Recife (8,60); e da Rua do Futuro, nas imediações do Parque da Jaqueira (8,23). A nota da Av. Boa Viagem, inclusive, a coloca como uma das vias que está no ranking das 10 melhores calçadas do Brasil. Entre os critérios analisados na cidade do Recife, a falta de sinalização (que inclui mapas e placas) e a ausência de rampas de acessibilidade foram os pontos mais críticos. Esses dois itens tiveram notas respectivamente de 3,30 e 3,55. Apesar dos desempenhos negativos, Jéssica pondera ainda que a média da cidade seria mais baixa se fossem avaliados mais trechos. Essa consideração é devido ao recorte da pesquisa, que observa muitos espaços que estão nas proximidades de prédios públicos, como instituições jurídicas, universidades e hospitais. Na sua defesa por um desenho universal das calçadas - que é a acessibilidade para qualquer pessoa, sem barreiras, a todo tipo de serviço, produto e uso da cidade - Jéssica segue sua luta. Além do esforço diário de se deslocar no Recife, ela circula também discutindo os resultados da pesquisa e agregando novas pessoas na causa da mobilidade ativa. *Por Rafael Dantas, repórter da Algomais (rafael@algomais.com)

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Jovens pernambucanos na Forbes

O que fazer antes dos 30? A história dos pernambucanos Simony, Renan e Philippe sinaliza o perfil de profissional que o Século 21 espera para quem está começando a carreira. Empreendedores por natureza e conectados com as necessidades do mundo, os três conquistaram lugar na disputada lista da Forbes Under 30, em diferentes edições. A publicação destaca jovens com futuro promissor em diversos segmentos. Simony nem concluiu ainda o curso superior e já tem uma ferramenta digital aplicada em todo o transporte público de Fortaleza (CE). Tímido na adolescência, Renan viveu uma transformação de vida e já tem uma trajetória cheia de viradas de sucesso em empresas e startups. Philippe, além da Forbes, foi indicado ainda na seleção dos mais inovadores da América Latina do MIT (Massachusetts Institute of Technology) e comanda um dos centros de inovação mais promissores da capital pernambucana. Longe de já terem chegado no topo, eles veem esses reconhecimentos como incentivo para os próximos passos. Natural do bairro de Dois Unidos, na periferia da Zona Norte do Recife, Simony César criou uma solução para um problema que ela vivenciou de perto desde cedo: o assédio às mulheres no transporte público. Simony é filha de uma ex-cobradora de ônibus. Na sua família várias pessoas trabalham nos coletivos do Recife. Quando ela mesma trabalhou numa empresa do setor, por um breve tempo, viu como as denúncias abertas pelas passageiras eram ignoradas. . . Na universidade, a indignação com o silêncio diante da violência contra as mulheres nos ônibus se transformou em pesquisa e em um serviço, que atende pelo nome de Nina. Ela conseguiu uma publicação científica no Congresso Cybercultura, o que validou cientificamente sua ideia inicial. Após os primeiros passos na academia, o projeto foi aprovado em um edital de empreendedorismo social da RedBull. “Eu queria entender como a violência de gênero na mobilidade urbana é um fator impeditivo para acesso e manutenção das mulheres no curso superior. Uma amiga sugeriu criarmos um produto viável. Fizemos um app para que as mulheres denunciassem o assédio no campus. Depois dessa experiência, percebemos que precisávamos criar uma tecnologia que viesse integrada em aplicativos e não desenvolver um app”, explica Simony. O projeto foi escolhido pela Toyota Mobility Fondation para receber apoio financeiro e institucional. Com a tecnologia desenvolvida, foi a capital cearense o local escolhido para aplicar a solução. E o Nina foi embarcado no aplicativo Meu Ônibus Fortaleza. Ao apertar um botão no app, as passageiras abrem um alerta e a empresa é obrigada a emitir as imagens do horário da ocorrência do assédio para a Polícia Civil em até 72h. Simony lembra que o serviço não é só de tecnologia. “Temos duas frentes, a tecnologia e a consultoria para mobilidade e gênero. Costuramos toda a política pública para depois integrar a solução tecnológica”. Com as notificações, há um mapa de informações que passam a ser acessadas pela Prefeitura de Fortaleza para combater a violência contra as mulheres. Essa solução, que nasceu na academia e já está em uso na vida real, chamou a atenção da Forbes. E no dia 31 de dezembro a versão digital da lista começou a circular com o nome da pernambucana. “Isso nunca tinha sido um sonho para mim, nem imaginava a repercussão que veio após a divulgação”, surpreende-se Simony. A jovem pretende levar a Nina para outros estados e até países. A startup planeja também criar um selo de cidades seguras para mulheres. Mas, em dezembro de 2019, ela não foi a única representante do Estado na Forbes Under 30. O empreendedor Renan Hannouche, que aos 29 anos já tem uma série de startups na sua caminhada, também alçou outro patamar profissional após a revista. Até a adolescência, ele era conhecido na escola como um estudante nerd e extremamente tímido, além de vítima de bulliyng. Numa mudança de colégio para poder disputar melhor uma vaga na universidade, ele teve uma virada de comportamento a partir de uma conversa com o pai. “Ele me disse: vamos colocar você num colégio maior, que tende a ser mais importante para você passar no vestibular. Nesse novo colégio ninguém sabe do seu passado, dos seus erros e apelidos. Você tem uma folha em branco para construir o Renan que você quer ser”. . . Aprovado em engenharia da computação, ele virou a chave para a área de tecnologia e, mais que isso, desenvolveu um talento para a inovação. Da universidade ao reconhecimento da Forbes, ele atuou em vários lugares. Criou um negócio para construção de sites de pequenas empresas que estavam fora do ambiente digital ou com presença online precária. Depois dessa primeira experiência, trabalhou na Embratel e foi cofundador de várias startups: Social Atmosphere, Let's, Stape Music, Saly e Justin. “Não fui reconhecido pela Forbes por causa de um desses projetos, mas pelo pot-pourri. Acho que é a nossa história que nos faz ser reconhecidos pela revista”. A mais recente empreitada de Renan é o Gravidade Zero, um laboratório de inovação e impacto social instalado no Cabo de Santo Agostinho. O novo projeto, que Renan lidera ao lado de Dante Freitas, será instalado no Cone Multimodal. Trata-se de um espaço de incubação de startups e coworking de empreendedores e investidores tanto para resolver problemas das empresas instaladas no Cone, como da sociedade. “O Gravidade Zero é um programa não convencional de múltiplas facetas, de disrupção e inovação. Também é um prédio estrategicamente voltado para impactar o Estado, mas queremos que seja sede de geração de negócios de impacto social de Pernambuco para o mundo”, afirmou Renan. O terceiro pernambucano que foi recentemente reconhecido pelo empreendedorismo é Philippe Magno, atual head da Foz, Centro de Inovação em Saúde e Educação da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS) e do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip). Antes, ele passou também pela startup Handsfree, que permitia aos deficientes físicos controlar equipamentos remotamente apenas com o movimento da cabeça. Uma trajetória que o levou à lista da Forbes Under 30 no início de 2019. Já em 2020,

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Graça Ataíde: "A história elege suas heroínas"

No mês da mulher, a doutora em história social pela USP, onde é pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação (LEER), e professora da UFRPE Graça Ataíde fala sobre as razões que levaram o papel feminino a ser invisibilizado na sociedade por gerações. Especialista em governos autoritários, ela conversou com os jornalistas Cláudia Santos e Rafael Dantas sobre alguns nomes menos conhecidos da vida política pernambucana. Personagens que durante os anos de chumbo assumiram o protagonismo para abrir algumas pautas e conquistar direitos que foram estendidos a todas as brasileiras. Por que o papel da mulher na história é desconhecido ou pouco estudado? Qual o motivo dessa invisibilidade? A mulher foi muito protegida. Mas essa proteção na história da humanidade era uma proteção para barrá-la de crescer. Impedi-la de alcançar espaços que têm sido tradicionalmente ocupados pelos homens. Isso é uma tradição e decorre da cultura de cada país, uma mais perversa do que a outra. Os países foram trazendo a mulher para um espaço de onde ela não deveria sair. Muitas lutaram pelo direito do voto. Elas começam a votar no Brasil em 1933, para a Constituinte. Mas por que Getúlio concede o voto? Porque era a garantia de barreira contra o comunismo. A Igreja Católica faz um pacto grande com o Estado nessa época dizendo que as mulheres iriam votar para eleger constituintes fiéis católicos para depois voltarem para o recôndito do lar. Isso está, inclusive, registrado em um artigo na revista Maria, da Congregação Mariana. Hoje nós, mulheres, temos buscado espaços, mas não tem sido fácil. Esse fenômeno da invisibilidade feminina foi mais forte no Brasil? Não. Na segunda metade do Século 19, franceses, como o psicólogo Gustave Le Bon, diziam que o cérebro da mulher era inferior ao do homem, salvo o de algumas mulheres francesas. Ele era totalmente preconceituoso. Então, não é uma história do Brasil, nem do Nordeste, mas é do mundo. Estudei no meu doutorado e pós-doutorado a ditadura varguista no Brasil e salazarista em Portugal, que era mais machista que a brasileira. Em Portugal, na época de Salazar, havia uma sociedade agrária, que tendia a ser muito conservadora. No Brasil, antes da podermos votar, éramos vistas pela sociedade iguais aos índios, loucos e crianças. Há um livro sobre a República no Brasil de José Murilo de Carvalho chamado Formação das Almas que informa que o único quadro mostrando a mulher na República brasileira foi pintado na Itália e não tem projeção no Brasil. Tentou-se muito trazer a figura de Marianne, da Revolução Francesa, para o Brasil, mas não se conseguiu (trata-se da representação simbólica da República pelos franceses, pintada em quadros de artistas como Eugène Delacroix e que está cunhada na moeda de R$ 1 e impressa na nota de R$ 100). No seu livro História (nem sempre) bem-humorada de Pernambuco: 140 caricaturas do Século 19, escrito com a professora da UFRPE Rosário Andrade, como a mulher era representada nessas charges? Essa publicação chegou a ser premiada no Troféu HQ Mix, como melhor livro teórico. Nela fica bem claro que todas as vezes em que se queria caracterizar alguma coisa ruim era usada uma figura feminina. Por exemplo, quando queriam retratar a República que estava mal, desenhavam uma mulher prostituta. Diferentemente, na França, a República era a figura da Marianne, mulher romana, altiva. No meu conceito, essa questão está centrada no imaginário construído sobre a mulher, que é muito forte ainda. Estudei algumas mulheres na Revolução de 1930. Quando é criado o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) e acontece a Intentona Comunista, muitas mulheres são perseguidas. Quando tive acesso ao arquivo do DOPS, pude ver um pouco da vida dessas mulheres. Acho que todo esse silêncio em torno delas tem a ver com uma cultura não só do Brasil, mas mundial. Tenho 70 anos, estou há 42 na universidade. Nesse tempo, muitas mulheres tiveram um papel importante também no combate à ditadura de 1964. Mas elas são homenageadas apenas colocando seus nomes em espaços pouco significantes da cidade. O que está na base desse imaginário sobre a figura feminina? A sociedade patriarcal que não permitia à mulher nem se sentar à mesa na época da colonização. Ela sabia que o marido usava as escravas. Havia muito sadismo por parte das sinhás em relação às escravas. O livro Proteção e Obediência mostrava que uma mulher branca em São Paulo só andava na rua, mesmo depois da abolição, no fim do Século 19, com uma criança negra, que era a sua proteção. Na verdade, era para dizer que ela não estava só. Isso era terrível porque uma criancinha não poderia socorrer uma mulher adulta. A mulher era colocada num lugar de que tinha que ser protegida. Mas ao mesmo tempo era silenciada e invisibilizada. Elas não definiam nada da vida dos filhos nem tinham direito ao prazer. O prazer feminino é uma coisa muito nova, vem com a minha geração dos anos 60, que começou a revolucionar, que rasgou o sutiã na rua e que não achava que o seu corpo teria que ser perfeito. . Como a senhora avalia a preocupação da mulher com o corpo dos dias de hoje? Na geração de agora a mulher se preocupa muito com o corpo que ela vai apresentar e só pode ser para o homem. As suas rugas e o seu corpo é a sua vida, a sua história. Se observarmos pessoas como a atriz Vanessa Redgrave (hoje aos 83 anos) é uma mulher linda. Ou ao ver uma foto da escritora e crítica de arte Susan Sontag quando já tinha uma idade avançada (falecida aos 71 anos, em 2004) são mulheres lindas na velhice. Vejo quase que uma escravidão da mulher em relação à balança. Isso é para quê? Se for para um orgulho pessoal, tudo bem. Mas senão for, o caminho não é por aí. Dentro dessa reflexão acerca da relevância social das mulheres, qual a sua análise sobre Brites de Albuquerque, mulher de Duarte Coelho? A

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O sucesso da gelada artesanal da Debron

Lançamento de novos estilos, premiações internacionais e investimento na experiência dos seus consumidores foram algumas das fórmulas da DeBron para crescer nos últimos anos. A cervejaria artesanal pernambucana elevou em 71% o volume de vendas em 2019. Em 2020, a empresa projeta um novo salto e já virou o ano com uma novidade que promete reunir cervejeiros e turistas na sua sede, em Jaboatão dos Guararapes: um espaço de eventos e convivência. Pioneira no mercado de cervejarias artesanais em Pernambuco, a DeBron vai completar cinco anos de atividades em junho. O nome significa A Fonte, em holandês, em homenagem à primeira experiência de produção de cerveja no Estado ainda nos dias do Conde Maurício de Nassau. O empreendimento dos sócios Thomé Calmon, Raimundo Dantas e Eduardo Farias começou apenas com chopes, o que formou seu público inicial. Esse produto ainda é responsável por 70% do consumo da marca, sendo distribuídas em mais de 130 chopeiras em terras pernambucanas, na Paraíba e em Alagoas. “Quando começamos não havia ainda esse negócio em Pernambuco. Viajamos o País para conhecer o segmento e trazer as melhores consultorias. Desde o início o mercado de cervejas caseiras começou a se aproximar da gente, participar dos nossos eventos. Os principais cervejeiros artesanais que atuam hoje no Estado estavam nessas farras e se entusiasmaram para abrir os seus negócios”, conta Thomé Calmon. Um ano depois do início da operação, surgiram as primeiras garrafas, em apenas três estilos (larger, golden ale e weizen). Hoje já são 18, sendo alguns sazonais. Para dar conta da variedade de produtos e do aumento de clientes, a fábrica cresceu. A primeira produção foi de 8 mil litros mês. Hoje a cervejaria tem a capacidade instalada de produzir até 130 mil litros mensais. Em 2019, a marca teve picos de produção de 110 mil litros por mês. Apesar dos números impressionarem, não é o volume de produção a principal preocupação da empresa. A DeBron tem um investimento forte em qualidade do produto e na experiência do consumidor final. Participando de concursos no Brasil e no exterior, a marca é a mais laureada entre todas as cervejas artesanais do Nordeste, com seis medalhas nacionais e 16 prêmio internacionais. A imperial stout, que tem em sua composição rapadura e amêndoas de cacau, já venceu a Copa do Mundo das cervejas, o World Beer Awards, em Londres, em 2018, na categoria. “Temos trabalhado muito em qualidade, controles e processos. Trazemos consultorias externas para oxigenar, apontar ideias novas. Esse é o nosso principal investimento hoje”, conta Thomé. Uma característica do segmento, segundo o empresário, é de ter uma atuação marcante num raio de 150 km. Daí, a marca ser forte em Pernambuco, Paraíba e Alagoas. As garrafas da DeBron são encontradas ainda, em menor escala, em São Paulo, Brasília e Fortaleza, via distribuidores. A distribuição em grandes redes de supermercado, como Pão de Açúcar e Carrefour, também contribuiu para robustecer a sua presença junto a um público consumidor mais amplo no País. “A entrada nas gôndolas das grandes redes ajudou muito para a DeBron ser mais conhecida. É uma exposição de marca muito importante”, afirma. Uma novidade no início deste ano foi a inauguração do um espaço climatizado, com capacidade de promover eventos para até 1,2 mil pessoas. “Sempre tivemos o sonho de agregar a fábrica a uma área de convivência em que a gente conseguisse expandir a experiência cervejeira. É um local para as pessoas verem a operação, perceberem que há vida atrás da garrafa e conhecer o processo de fabricação. Teremos experiências de harmonização também. Pretendemos fazer vários eventos, além de locar o espaço para promover a cultura cervejeira. Ser um ponto focal para que as pessoas se reúnam e tomem um bom chope”, planeja. O investimento no complexo cervejeiro foi de R$ 600 mil. Além do espaço para eventos, com vista para os tanques do processo industrial, há ainda uma lojinha, onde são comercializadas as variedades de estilos da marca e alguns sourvenirs típicos da cena cervejeira. A 500 metros do aeroporto e no caminho das praias da Zona Sul, há uma aposta de que o espaço seja frequentado também por turistas. Nos sábados, há visitas guiadas na fábrica para visitantes agendados. Para 2020, o empresário promete que os cervejeiros vão conhecer três novos estilos da marca que estarão nas prateleiras até dezembro. A expectativa de crescimento da empresa para este ano é avançar em 70% no volume de produção e de contratação de pelo menos mais 30% do quadro de profissionais. *Por Rafael Dantas, repórter da Revista Algomais (rafael@algomais.com)

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Nem toda tontura é labirintite

Por Yuri Euzébio* Quando uma pessoa sente “o mundo rodar”, na maior parte das vezes, já pensa logo que está com labirintite. Mas não é bem assim, existem também outras causas que provocam a sensação de tontura e vertigem. Na verdade, até a palavra labirintite é mal-empregada. “Ao pé da letra, esse termo refere-se apenas à inflamação do labirinto, que é uma região interna da orelha ligada às funções de audição e de equilíbrio”, conceitua Alberto Monteiro, otorrinolaringologista do Hospital Jayme da Fonte. O termo correto para o conjunto de enfermidades que afetam o labirinto é labirintopatia. A confusão existe, segundo os otorrinos, porque há um senso comum entre pacientes e até médicos não especialistas de que toda tontura seja labirintite. Há também muita confusão entre vertigem e tontura. De acordo Luiza Gondra, otorrinolaringologista e preceptora do Ambulatório de Otoneurologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco, tontura é um termo genérico para a característica em que o paciente percebe o espaço girando, sem a sensação de estar em movimento. Já a vertigem é justamente quando o paciente sente, ele próprio, rodando ou girando, ou seja, uma falsa sensação de deslocamento. Segundo Luiza, os sintomas da labirintopatia estão relacionados, basicamente, a tontura, perda auditiva, zumbido e flutuação da audição, que é quando a audição do paciente fica “flutuando” com dias bons e outros ruins. Se o paciente não apresentar inflamação no labirinto, está descartada a hipótese de ser labirintite. As causas da labirintopatia podem ter diversas origens, que passam por motivos pouco óbvios, como a alimentação. “O consumo abusivo de café, refrigerantes, doces e gordura irrita o labirinto. Infelizmente, poucas pessoas se atentam que uma dieta pouco saudável influencia na manifestação da doença”, alerta Monteiro. Há ainda questões vasculares, que são os problemas de circulação sanguínea na  no cérebro e a obstrução dos vasos que acabam afetando o labirinto. “Entretanto, uma das causas mais comuns é a questão emocional, como ansiedade e estresse, que influenciam no funcionamento dos órgãos causando, como por exemplo, dores de estômago e enxaqueca, mas também podem acabar descompensando o labirinto”, alerta Monteiro, acrescento que em alguns casos pode até provocar a perda de audição. DIAGNÓSTICO O diagnóstico do sintoma da tontura se dá por meio de testes clínico e complementares. “Às vezes, precisamos de alguns exames focados no labirinto, chamados de exame ortoneurológico, além de imagem e laboratoriais para investigar algum distúrbio e, principalmente, um exame físico. Ser avaliado por um médico é imprescindível para descobrir algum indício do que pode ser aquela tontura”, detalhou Luiza. Monteiro chama a atenção para uma averiguação detalhada do paciente. “É preciso fazer uma investigação, com exame de sangue para ver se há distúrbio metabólicos, se é diabético, se o colesterol está alto, identificando qualquer um desses fatores, o tratamento envolve a correção desse indicativo”. “Após investigação com auxílio dos exames otoneurológicos e confirmada a labirintopatia, é indicado o tratamento específico  para o labirinto, que pode ser por meio de medicamentos, correção dos hábitos de vida e até mesmo manobras ou exercícios de habituação do labirinto”, informa Luiza.  Muitas vezes o tratamento é realizado em conjunto com profissionais de outras especialidades, caso seja comprovada alterações como diabetes e hipertensão. Esses especialistas que precrevem os medicamentos em conjunto com uma dieta. A automedicação, segundo a otorrinolaringologista, não deve ser realizada. Apesar de ainda não ser de conhecimento geral, a taxa de incidência dessas doenças é alta. De acordo com os especialistas, algo em torno de 40% a 60% da população tem algum tipo de tontura ou vertigem, acometendo mais os idosos e as crianças. Por isso, se você apresentar algum dos sintomas elencados, procure um otorrinolaringologista.      

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Caminhada apresenta arquitetura neocolonial do Recife

O grupo Caminhadas Domingueiras passeou pelas peças da arquitetura neocolonial no Recife distribuídas na cidade. O estilo, criado entre as décadas de 1910 e 1920, é marcado pela influência da arquitetura colonial e barroca, mas com uma proposta de construir um estilo nacional, fazendo um contraponto à Art Decó e ao eclético. De acordo com o arquiteto Francisco Cunha, que conduziu o percurso, o neocolonial foi vitorioso no País por pelo menos 10 a 15 anos. "É um estilo espremido entre o eclético, do final do século 19, e o moderno. Esse estilo defendia que nós, do Brasil, precisávamos de um estilo nosso, que não é o eclético, que foi importado da França. Começou um debate sobre qual era o estilo brasileiro e se chegou a ideia que o estilo brasileiro era o que recuperava as características do barroco e do colonial", afirmou Francisco Cunha na partida da caminhada. A caminhada partiu da Praça Euclides da Cunha, que fica em frente ao Clube Internacional do Recife. Erguido no estilo neocolonial, o edifício possui como elementos característicos do período como as pilares, colunas, a varanda e as janelas visíveis na sua fachada. . O segundo prédio com estilo neocolonial visitado foi o Memorial de Medicina da UFPE, antiga Faculdade de Medicina. O local foi no passado o Grande Hotel Internacional, obra de Delmiro Gouveia. . Na avenida Rui Barbosa, mais duas antigas residências que guardavam o estilo. Numa delas funciona atualmente o Restaurante Ilha da Kosta. . A caminhada se encerrou no Arquivo Público de Pernambuco, na Rua do Imperador Dom Pedro II. O prédio foi construído inicialmente no estilo colonial, mas numa reforma posterior adquiriu características da arquitetura neocolonial. O espaço, erguido entre 1729 e 1732, no passado abrigou câmara e cadeia. O grupo foi recebido pelo presidente do Arquivo Público Evaldo Costa e o diretor Frederico Carvalho.   . *Por Rafael Dantas, repórter da Algomais (rafael@algomais.com)

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Alimentação pobre em nutrientes pode causar problemas à visão

Alimentos como cenoura, laranja ou salmão não são indicados apenas a quem pretende manter uma boa forma, mas também fazem bem aos olhos. Muita gente não faz ideia, mas um cardápio saudável influencia também na saúde da visão. Recentemente um adolescente britânico, de 17 anos, sofreu uma perda irreparável na visão por causa de sua alimentação restritiva, à base de pão branco e batatas fritas, que provocou desnutrição aguda. O caso foi comentado na revista Annals of Internal Medicine. Os exames clínicos demonstraram que ele apresentava déficits sérios de vitaminas e danos no nervo óptico provocado pela ausência de nutrientes encontrados em uma alimentação regrada. Se mantivesse uma dieta saudável, com opções ricas em vitaminas, certamente esse adolescente inglês poderia continuar enxergando normalmente até hoje. Essa é uma prova de que uma dieta balanceada é fundamental para evitar problemas na visão. Segundo a oftalmologista e retinóloga do IOR (Instituto de Olhos do Recife), Luciana Valença, algumas vitaminas devem ser priorizadas nas refeições para que o organismo tenha um bom funcionamento e a saúde dos olhos seja preservada. “Devemos consumir produtos ricos em ômega 3, luteína e betacaroteno. Os peixes, por exemplo, proporcionam ômega-3 e ômega-6, além de minerais e vitaminas A, B6, B12, C, D, E. As espécies que fazem bem à saúde ocular e protegem a retina são o salmão, atum, truta, anchovas e cavala”, orienta a médica. . Fabiana Gonçalves, oftalmologista do Hospital Santa Luzia, destaca outros alimentos que ajudam na saúde dos olhos. “Os principais são aqueles ricos em antioxidantes (vitamina A, C e E), em luteína e ômega-3. A vitamina A e o betacaroteno estão presentes na cenoura, abóbora, mamão, batata doce; a vitamina E pode ser encontrada em castanhas e nozes; já a vitamina C, em frutas cítricas, como a laranja”, elucidou. Você pode estar se perguntando como os alimentos atuam para o benefício da visão. A oftalmologista Fabiana explica: “As vitaminas A, C e E são consideradas antioxidantes, combatem os radicais livres, sendo importantes para bom funcionamento da transmissão da visão", detalhou. “Alguns estudos também demonstram benefício desses nutrientes para retardar a formação de catarata. A vitamina A, em especial, é componente de uma proteína chamada rodopsina, que é importante na absorção da luz pela retina, auxiliando principalmente na visão noturna”, aprofundou a médica. Deve-se ficar longe dos pratos gordurosos e ricos em açúcar, verdadeiros inimigos da visão. “Além de fazerem mal à saúde, prejudicam diretamente os olhos. É necessário evitar comer esse tipo de alimento e não se deve exagerar na ingestão de carne vermelha”, advertiu Luciana Valença. Uma alimentação desregrada também contribui para o surgimento ou para o avanço de algumas patologias na visão. “Há estudos que comprovam que muitos pacientes com degeneração macular relacionada à idade (DMRI) apresentam níveis de vitamina D e E abaixo do recomendado”, revela Luciana. Essa doença é caracterizada por uma lesão no fundo do olho, e segundo Fábio Casanova, oftalmologista do Memorial Oftalmo, também é mais frequente e mais precoce em pessoas com muita exposição ao sol e que apresentam pré-disposição genética. “A soma desses três fatores predispõe ao surgimento da DMRI, e ela é a principal causa de baixa de visão acima de 60 anos, muitas vezes irreversível”, esclarece o especialista, salientando que a prevenção é feita usando óculos escuros e com uma boa ingestão de vitaminas ao longo da vida”, concluiu. A catarata é outra doença que também pode ser combatida ou retardada com o consumo de vitaminas e óculos escuros. Ela é caracterizada pela perda de transparência do cristalino, lente natural cuja função é propiciar o foco da visão em diferentes distâncias. “Na minha tese de doutorado, estudei a proteção da vitamina C com a progressão da catarata. Observei que pacientes com uma concentração maior desse nutriente no humor aquoso (líquido transparente que banha as estruturas do olho e tem a função de nutri-lo) apresentavam uma catarata mais leve, mais tardia ou simplesmente não tinham a doença”, justificou. “Comparando pacientes da mesma faixa etária, dependendo da alimentação, eles apresentavam uma catarata mais leve. E comparando cataratas iguais, aqueles pacientes que tinham uma concentração maior de vitaminas C, apresentavam a doença naquela mesma intensidade, só que mais tardiamente”, esclareceu o especialista. JUNKIE FOOD Os adeptos da junkie food, aqueles alimentos com alto teor calórico, mas com níveis reduzidos de nutrientes, precisam ficar atentos também aos problemas na visão, alerta a médica Fabiana Gonçalves. “O problema da junkie food está nos excessos, pois podem causar alterações nas taxas de colesterol, triglicerídeos e glicose, que, por sua vez, podem gerar dislipidemias (aumento do colesterol e triglicerídeos) e diabetes”, destacou. “A diabetes pode gerar alterações na retina, chamada de retinopatia diabética, e as dislipidemias são fatores de risco para obstruções nos vasos da retina, chamada de oclusões vasculares retinianas”, explicou. “Além disso, esses alimentos costumam ter altos níveis de sal e sódio, que são fatores de risco para hipertensão arterial, o qual também é um predisponente para oclusão vascular”, enumerou a especialista. Mas, como diz o ditado popular: tudo o que é demais é sobra. Fábio Casanova, reitera a importância das vitaminas, mas defende uma moderação. “Como tudo na vida, os excessos também podem trazer complicações em hipovitaminoses e hipervitaminoses. Então o excesso de vitamina C pode causar, por exemplo, o acúmulo de cálculo nos rins. Já a deficiência dessa vitamina causa o escorbuto”, pondera. Por isso que, além de se consultar com um oftalmologista, pessoas acometidas por essas patologias na visão também devem receber orientações de um especialista para adotar uma dieta. “Independentemente do estágio da doença, é indispensável rever o cardápio com o auxílio de um nutricionista e endocrinologista para controlar a glicemia, o colesterol e triglicerídeos”, alerta Luciana Valença. *Por Yuri Euzébio, da Revista Algomais (redacao@algomais.com)

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Tipo do sapato influencia saúde dos pés

O salto alto sempre foi sinônimo de elegância, principalmente para mulheres em cargos executivos. Apesar disso, o queridinho do vestuário feminino é apontado como um dos agravantes de problemas na coluna e da saúde dos pés. Mas, recentemente, as consumidoras têm defendido o direito de as mulheres usarem sapatos sem saltos, como tênis e sapatilhas, para trabalhar, prezando pelo conforto e o bem-estar. A mudança recebeu o aval dos fashionistas. Marcelo Torres, ortopedista e especialista em pé do Hospital Jayme da Fonte, pontua os sapatos menos indicados. “Apertado ou folgado, com salto demasiadamente alto, com bico fino. Esses são calçados que interferem na biomecânica da marcha e a médio e a longo prazo podem trazer repercussões negativas para os pés”, alertou. De acordo com Torres, o sapato ideal deve ser confortável e respeitar a dinâmica da caminhada. Entre os modelos de calçado, existem aqueles que se aplicam em determinados usuários, por exemplo, o salto plataforma tem sua utilidade naquelas pacientes em quadro de dor aguda ocasionada pela fascite plantar. Trata-se da inflamação da fáscia plantar, uma membrana de tecido conjuntivo fibroso e pouco elástico, que recobre a musculatura da sola do pé, e é um dos fatores que contribui para o desenvolvimento do esporão de calcâneo, caracterizado pelo aumento do osso do calcanhar. “Esse calçado permite o relaxamento da fascia, poupando-a da sobrecarga e promovendo alívio da dor”, explicou. “Mas seu uso deve ser priorizado apenas no quadro agudo. O uso crônico pode levar a um encurtamento da fáscia, justamente pela constante posição de relaxamento, deixando uma predisposição a novas inflamações”, ponderou o especialista. Já aqueles calçados de bico fino, apesar da grande popularidade entre as mulheres, são um perigo a saúde. “Não trazem nenhum benefício. Promovem um aperto constante na região anterior do pé, influenciando na evolução de doenças como joanetes, bursites e calos”, salientou. Antes renegado pelo mundo fashion, o tênis passou a ser visto com outros olhos, agora é encarado como solução aos novos tempos e espaços ocupados pelas mulheres, seu conforto e praticidade conquistaram o público feminino. “Em geral, os tênis respeitam a biomecânica da caminhada e protegem os pés de sobrecargas que venham a culminar em processos patológicos”, elucidou. As sandálias rasteirinhas e sapatilhas também são uma opção viável no dia a dia da mulherada. “Não apresentam contraindicação específica. Apenas devem ser evitadas nos pacientes em quadro agudo de fascite plantar”, indicou. Para caminhadas, os tênis seguem absolutos como os mais indicados, justamente por serem adaptados para atividades de maior carga. A publicitária e empresária Marta Lima é uma das adeptas dos calçados baixos no cotidiano, mesmo quando está no escritório. “Eu, normalmente, no trabalho uso salto baixo e isso é pela comodidade e condição de saúde; salto alto dói as minhas costas, cansa as minhas pernas”, afirmou. “Agora, se eu vou para algum evento social ou reunião mais formal, aí eu coloco um salto”, pontuou. Marta aponta que a opção atual pelo conforto não está restrita aos calçados. “No próprio vestir, um vestido mais confortável, uma roupa mais aberta, uma calça com um elástico mais solto, eu acho que caminhamos para um vestuário mais confortável e adequado ao clima”, analisa. Fato é que, de uns tempos pra cá, os tênis foram aceitos no ambiente profissional como solução simples e confortável para a saúde. “A mudança é que, de fato, a sandália rasteirinha era uma coisa aceita, o tênis não, era um calçado de final de semana, para esporte, e hoje passou a ser aceito com vestido, com calça e é uma opção confortável e boa pra saúde”, resumiu Marta. Para os homens, o uso de calçados também requer certa responsabilidade. De acordo com Marcelo Torres, deve-se evitar sapatos sociais ou sapatênis que sejam apertados ou folgados. Se estiverem em tamanho correto e confortáveis, não há qualquer restrição. Outra revelação do ortopedista é a de que andar descalço faz bem. “Estimula e fortalece a musculatura intrínseca do pé. Principalmente em crianças que estão em desenvolvimento. Obviamente não é indicado para atividades de alto rendimento e para situações patológicas específicas”, advertiu. Os pés são a base do nosso corpo. Nos sustentam por toda uma vida. São fundamentais para o processo de andar e, por consequência, para o nosso deslocamento, portanto é extremamente necessário ter uma atenção especial para eles. “Basicamente são os responsáveis biológicos pelo direito de ir e vir. Com tamanha importância, devem e merecem ser bem cuidados”, orienta Torres. “Além de evitar os 'inimigos' já citados, é de bom senso a prática regular de exercícios e de alongamentos, claro que respeitando a demanda individual de cada um”, reiterou. “Assim eles podem estar aptos para executar a nobre missão que lhes cabe”, justifica. O médico alerta para em caso de dor, limitação funcional ou qualquer contexto que comprometa a saúde dos pés, é de fundamental importância a orientação de um profissional habilitado para os devidos cuidados e orientações. *Por Yuri Euzébio, da Revista Algomais (redacao@algomais.com)

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Alfredo Gomes: "Precisamos dialogar com a sociedade"

Alfredo Macedo Gomes assume a reitoria da UFPE numa época em que a ciência e a academia são criticadas e sofrem com cortes de verbas. Graduado em psicologia, com mestrado em sociologia e doutorado em educação (PhD) pela University of Bristol, o novo reitor propõe, nestes tempos em que setores rejeitam o conhecimento científico, que a universidade tenha um papel protagonista na busca de soluções para o País. Sertanejo de Ouricuri, ele comemora a interiorização dos cursos universitários e a política de cotas como forma de democratizar a instituição. Para enfrentar o contingenciamento de verbas, ele disse, nesta conversa com Cláudia Santos e Rafael Dantas, que discutiu o assunto numa reunião com o Ministério da Educação, e busca também novas fontes de recursos com a instalação de uma usina fotovoltaica e o aluguel de espaços como o Centro de Convenções da UFPE. Quais os planos da sua gestão? É uma gestão que procura recuperar uma universidade que teve seu protagonismo na relação com a sociedade, com o sistema produtivo, com os movimentos sociais e culturais. Temos que fazer um amplo diálogo com comunidade, professores, técnicos e estudantes para construir uma instituição e fortalecê-la coletivamente por meio da participação. Também organizamos um processo de planejamento. Temos nos debruçado sobre a questão da universidade de modo geral, seus diferentes setores, para fazer um diagnóstico mais detalhado. Temos feito reuniões para estabelecer objetivos, metas e estratégias para depois dizer as prioridades e como colocar isso na questão temporal. Vamos dar um foco especial na infraestrutura, temos excelentes equipamentos que precisam ser recuperados para estar à disposição da nossa comunidade e da sociedade de uma maneira geral, como o Núcleo de Educação Física e Esporte. A comunidade do entorno da universidade utiliza muito esses equipamentos. Precisamos desenvolver uma política de lazer e esporte tendo em vista a qualidade de vida. Também está nos planos a recuperação do complexo cultural, o teatro afundou o piso e desde 2013 está fechado. Estamos recuperando o Centro de Convenções, o Cecon, vamos finalizar a recuperação da concha acústica, por volta de abril ou maio do próximo ano, para desenvolver também as políticas culturais. Priorizamos ainda a qualidade do ensino, da pesquisa, da extensão, e estamos preocupados em recuperar boas taxas de aprovação e de terminalidade dos cursos de graduação. Como o senhor está lidando com os cortes do MEC? A universidade tem carências e necessita de recursos adicionais para que possamos dar um salto de qualidade. Houve um período em que o que dominou a agenda foi expandir e neste momento não conseguimos dar conta de ter uma boa infraestrutura. Estivemos no Ministério da Educação duas vezes para apresentar os projetos da universidade, de solicitar recursos para finalizar as obras em andamento. Ainda não tivemos o desembolso desses recursos porque faz parte de um processo mais longo. Temos procurado ações que garantam o funcionamento da universidade no longo prazo. Colocamos recursos para contratar uma usina fotovoltaica e com o dinheiro economizado aplicaremos em outros projetos. Tomamos medidas para colocar em prática um plano de sustentabilidade financeira, captando recursos por meio de ações como fazer a locação do Cecon para a sociedade. Temos vários outros equipamentos, como o Núcleo de Educação Física. Isso sem comprometer a utilização acadêmica. Os países que mais se desenvolveram foram os que mais investiram em educação e ciência. Diante desses cortes, qual a perspectiva do futuro do desenvolvimento do Brasil? Hoje o conhecimento é (talvez o termo não seja adequado) um insumo estratégico para o desenvolvimento de qualquer país. Conhecimento, assim como as universidades, é estratégico para colocar o Brasil de forma diferenciada no processo global. Se ignorarmos esses fatos concretos, vamos jogar o País para trás. Precisamos ter investimentos constantes e de longo prazo na área tecnológica e científica, para colocar o Brasil em outro patamar. É necessário fazer um grande esforço em educação, ciência e infraestrutura no Brasil para dar um salto de qualidade. É preciso investir na formação de professores, infraestrutura escolar, métodos de ensino adequados, equipamentos. Isso é muito dinheiro, mas tem que ser uma decisão estratégica e ter constância na pauta nacional durante 10, 20 anos. Do contrário, dizer que educação é um assunto importante continuará sendo uma figura de retórica. Como está a implantação da usina fotovoltaica? Fizemos a contratação no final de 2019 e ela vai ser executada ao longo de 2020. Foi um recurso liberado pelo MEC. Pagamos hoje R$ 1,6 milhão na conta de energia por mês. O dinheiro economizado será revertido para a manutenção, em políticas que envolvem iniciação científica, programas de extensão, bolsas para estudantes. Cinquenta por cento deles são provenientes de escolas públicas e isso alterou profundamente o perfil da universidade que era voltada para as classes médias e bem abastadas. Com a política de cotas, a universidade ficou com um perfil de que é mais a cara do Brasil. Por isso temos que implantar políticas de permanência dos estudantes. Isso envolve não apenas ter residências estudantis e restaurante universitário, mas ter também outras políticas. Essa mudança afetou o desempenho acadêmico? Não. Os dados de que a UFPE dispõe mostram que não há alteração do ponto de vista do desempenho. Temos áreas que, independentemente das cotas, têm um índice alto de evasão e de repetência. Isso acontece no Brasil como um todo em instituições públicas e privadas. Precisamos mudar as práticas pedagógicas porque não é admissível que 80% de uma determinada turma não conclua o curso. Nas áreas das engenharias, de exatas e da natureza as médias de evasão são muito altas. Alguma coisa está errada, não se pode dizer que a culpa é exclusiva dos estudantes. Precisamos fazer uma discussão, melhorar os métodos de ensino, fazer a formação do ponto de vista pedagógico dos professores, melhorar a questão da presença mais permanente dos estudantes. Uma universidade não é um curso de ensino superior, em que o estudante participa da aula e depois vai para casa. É também participar da iniciação científica, de seminários, de programas de extensão, de monitoria. O

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