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"Acompanhar dados econômicos é importante para a tomada de decisão empresarial e da gestão pública"

Secretária de Desenvolvimento Econômico da capital pernambucana, Joana Florêncio, explica os benefícios da plataforma Observatório Econômico do Recife, que reúne num só local uma grande diversidade de indicadores. Segundo a titular da pasta, a iniciativa tem sido de grande valia para conhecer a realidade da economia do município, para elaborar políticas públicas e para as ações do empresariado. Indicadores econômicos são essenciais para entender e avaliar a situação da economia e as perspectivas de uma cidade, um Estado ou um País. Eles oferecem uma visão da realidade que é essencial para um gestor público formular políticas, ou para orientar o setor privado na tomada de decisão sobre onde alocar seus investimentos. Diante dessa relevância, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico lançou este ano a plataforma Observatório Econômico do Recife, que reúne num só local, no site do Conecta Recife, uma diversidade de indicadores. Antes, para obter esses dados era necessário recorrer a diversas fontes e, muitas vezes, eles estavam em planilhas ininteligíveis ou relatórios de mais de 100 páginas. Para falar sobre essa plataforma, Cláudia Santos conversou com a secretária Joana Portela Florêncio. Na entrevista, ela também analisou o momento econômico da capital pernambucana, suas perspectivas e desafios. O que é o Observatório Econômico do Recife? É uma plataforma de dados e macrodados econômicos do Recife apresentados de forma simples e integrada em um único lugar trazendo informações fáceis para quem precisa delas. Está inserido no Portal Conecta Recife. Nessa plataforma é possível acessar movimentação de porto e aeroporto, balança comercial, PIB per capita – fazendo comparativo com outros municípios, com o Nordeste e com o Brasil. Em relação ao mercado de trabalho, há dados de admissões, demissões, nosso saldo do Caged, (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), a Rais (Relação Anual de Informações Sociais), a capacidade de pagamentos, rankings de competitividade, ITBI (Imposto de Transmissão de Bens Imóveis), IPTU e tudo que ajude a entender como o Recife está se comportando economicamente. Acompanhar esses dados é muito importante para a tomada de decisão, tanto empresarial, quanto por parte da gestão pública. Também estamos inserindo, no Observatório, os boletins econômicos da cidade, trazendo os dados de forma contextualizada, explicando economicamente como o Recife se comportou mensalmente. Hoje, o Observatório funciona para todo mundo, incluindo o cidadão. Entregamos a transparência em dados econômicos, que também é muito importante. E qual a importância de ter esses indicadores reunidos numa só plataforma que pode ser acessada pelo público em geral? A importância é essencial. Antes do Observatório, os dados federais, estaduais e municipais eram descentralizados. Como a pauta econômica é muito transversal, tudo importa e precisamos ter inteligência da leitura desses dados. Para se ter uma expectativa econômica da cidade para o Carnaval, por exemplo, era preciso coletar dados de anos anteriores, entender como tinham se comportado e fazer o cruzamento. Entretanto, às vezes, o resultado não representava a realidade por terem sido coletados dados de forma equivocada. Então, foi preciso automatizar. Quando começamos a fazer isso, entendi que precisávamos disponibilizar para o público, como os empresários, porque quem gera emprego e renda é o setor privado que, para fazer qualquer investimento, precisa de segurança para tomar decisões assertivas. Aos disponibilizarmos os dados, de forma clara e transparente, ajudamos em decisões, como trazer um investimento ou um plano de construção para a cidade. No ambiente público do Conecta Recife, outras instituições e entidades também podem acessar. Por exemplo, é importante para instituições de contabilidade que podem ver a quantidade, o tempo e o porte de empresas que estão sendo abertas no Recife. Com esse entendimento, abrimos o Observatório para todos, mas não estamos falando de uma política pública de acessibilidade para as pessoas em geral e, sim, de informações bem efetivas para os negócios. Lançamos em julho de 2024 e já temos mais de seis mil acessos. São acessos robustos, muitos deles, de pessoas em busca de informações adequadas para seus negócios, que estão olhando o Recife como um mercado atrativo na área econômica. Recebemos várias pessoas de universidades econômicas, tivemos acessos da TGI, da Amcham, e percebemos que as empresas de consultoria também precisavam desse ambiente para coletar esses dados que, em sua maioria, estavam decentralizados, cada site entregando de uma forma, muitas vezes em planilhas ininteligíveis ou relatórios de 100 páginas. E nós trazemos isso de forma direta na palma da mão do empreendedor pelo Conecta Recife. Estamos trabalhando, inclusive, a usabilidade desses dados. Então, atingimos desde o cidadão até a academia. Como foi concebida essa iniciativa? O Observatório nasceu de um domínio de gestão pública a fim de olhar o Recife economicamente. Surgiu de uma “dor” minha, da necessidade de acompanhar se as promessas de empregabilidade dos empresários que recebíamos aqui estavam sendo cumpridas. Como eu acompanharia essa empregabilidade? Como saberia quais são os maiores setores? Eu até poderia consultar o faturamento empresarial, mas não era possível identificar outras atividades econômicas do Recife que talvez precisassem de políticas públicas. Também é preciso acompanhar o PIB per capita, o IPCA, a taxa Selic, o nosso ranking de competitividade, o consumo, o que está pesando na balança comercial, checar a movimentação de portos e aeroportos em um evento ou momento específico do ano. Então, a ideia começou a partir de uma demanda da secretaria a fim de averiguar a necessidade de gestão de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento econômico. Para criar isso de forma automatizada, fechamos uma parceria com a Faculdade Senac, em que os desenvolvedores foram os alunos da instituição. Participamos das aulas explicando o que os estudantes precisavam trazer como soluções e, ao final do curso, foram criados vários observatórios como trabalho de TCC. Nesse processo, nasceram duas startups, e uma foi contratada como servidor nosso. Então, quando o Observatório chegou, demos outra roupagem com mais características. Nós higienizamos alguns dados (atualizar e corrigir informações) para trazer de forma mais específica o que estamos querendo enquanto secretaria. Assim, o empreendedor também consegue fazer várias junções, dependendo da área de atuação que necessita consultar. São dados entregues com robustez. E como

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"O programa Nova Indústria Brasil é muito bom, mas é preciso transformá-lo em realidade"

Novo presidente da Fiepe, Bruno Veloso, fala de seus planos à frente da entidade, como estimular a exportação e a abertura de novas cadeias produtivas, além de incentivar a instalação de indústrias no interior. Também aborda os gargalos enfrentados pelas empresas e critica a demora de execução dos projetos do Governo Federal voltados ao setor industrial. Na segunda-feira (17/06), Bruno Veloso tornou-se presidente da Fiepe (Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco) numa concorrida cerimônia que reuniu representantes de vários setores econômicos. Nesta entrevista a Cláudia Santos, o empresário – que é do ramo da indústria da construção civil – falou sobre os seus planos à frente da entidade e dos desafios enfrentados pelo setor industrial no Estado, como a desendustrialização. Ele criticou a alta tributação das indústrias como um fator que impede que realizem investimentos na transformação digital. Embora tenha elogiado o Nova Indústria Brasil, programa do Governo Federal que visa tornar o setor mais competitivo, inovador e sustentável – o novo presidente da Fiepe reclamou da demora na sua execução, em especial na liberação dos recursos previstos que chegam a R$ 300 bilhões. Veloso também comentou os desafios na área de infraestrutura, como o estado precário das rodovias e a lentidão de projetos como a Transnordestina e o Arco Metropolitano, além do abastecimento de energia que, embora com abundância de oferta, o sistema apresenta problemas de distribuição. Veloso também analisou os gargalos na qualidade da mão de obra e ressaltou o trabalho nessa área realizado pelo Sesi (Serviço Social da Indústria) e Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial). Quais são seus planos e desafios nestes próximos quatro anos à frente da Fiepe? A Fiepe representa pequenas, micro, médias e grandes empresas e as pautas dessas empresas são nossas pautas. Trabalhamos para atender suas reivindicações de forma eficiente para que nos vejam como aliada. Há muitos desafios. Um deles é buscar sempre um ambiente favorável aos negócios na região, entendendo as dificuldades das empresas que pretendem se instalar no Estado e das que já estão instaladas. Então temos sempre que lutar pelo protagonismo da indústria na economia, precisamos frear a desindustrialização, entendendo a realidade e apoiando a indústria para que haja diversificação da base produtiva. Por meio da nossa inteligência de dados, vamos estimular as empresas a produzirem o que já vêm produzindo e abrir novas cadeias de produção para aumentar o leque de oferta. Também pretendemos trabalhar fortemente na exportação. Temos muitas ferramentas que podem identificar mercados externos para as empresas que aqui produzem e poderiam exportar. Outro desafio é levar a indústria para o interior do Estado, buscando apoio para que as empresas se instalem de forma consciente com infraestrutura e condições básicas necessárias. Quais são essas condições básicas para instalação e interiorização das indústrias? É preciso quatro pilares para escoar a produção: um modal de transporte, fornecimento de energia compatível com a empresa instalada no local, água, que é necessária a todas as indústrias e, por fim, internet de qualidade, ferramenta de que não se pode abrir mão para que haja comunicação eficiente entre clientes, fornecedores e outras unidades da empresa. O senhor mencionou várias questões relacionadas à infraestrutura. Na questão da logística, especificamente, como avalia os problemas das rodovias e da Transnordestina, que há anos é aguardada pelos empresários nordestinos? Muitas empresas necessitam de logística de transporte eficiente para viabilizar seu produto. As estradas em Pernambuco estão muito deficitárias, precisando de forte investimento. A Transnordestina é uma pauta de todos os pernambucanos, ela pode fazer grande diferença para transportar de maneira eficiente do Sertão do Araripe a Suape, para uma exportação a baixo custo. As obras da ferrovia tiveram uma paralisação no final do ano passado, e nós da Fiepe, o Governo do Estado, parlamentares e outras entidades nos mobilizamos e conseguimos colocar no PAC o valor de R$ 450 milhões para a retomada da Transnordestina. Porém, ainda são necessários cerca de R$ 6 bilhões para que ela seja concluída. Os R$ 450 milhões foram liberados, mas é importante ressaltar que a licitação para as obras desse valor menciona dois anos para a conclusão do projeto para, então, começar o processo licitatório. É muito tempo. Por isso, estamos novamente nos mobilizando, discutindo internamente maneiras para sugerir um projeto mais ágil e que também agilize o início das obras. Outro projeto que precisa ser colocado em prática urgentemente para melhorar a logística e atrair mais indústrias é o Arco Metropolitano. A governadora disse que vai licitar ainda este ano, mas é necessário ir além da discussão do projeto. Uma das premissas para instalar a fábrica da Jeep em Goiana era o Arco Metropolitano. Há quantos anos a Stellantis está lá e as dificuldades de deslocamento permanecem? A dificuldade de transporte é tão grande que as pessoas estão morando em João Pessoa e a gente aqui não consegue nem transportar os veículos que são sendo produzidos porque as estradas não comportam, só podem ser transportados de madrugada. Isso não é logística. Como é que nós vamos atrair a indústria dessa forma? Então estamos entendendo as dores das indústrias e buscando diálogo com governantes prefeitos, Câmara de Vereadores, deputados estaduais, para saber o que a gente pode fazer para melhorar nosso Pernambuco. E como é que está essa articulação do setor com as instâncias governamentais? Eu diria que está num processo de crescimento. Recentemente tivemos uma comissão parlamentar da Assembleia Legislativa, o Comitê da Indústria Pernambucana, ou seja, existe uma comissão com alguns deputados e com isso nós vamos poder levar um assunto importante da indústria para discutir na Casa. Em relação a Suape, quais as perspectivas? Suape é um patrimônio pernambucano que teve a atenção de todos os governantes do Estado. É um grande complexo industrial, o porto é bem situado e tem calado, por isso, temos tudo para ser um grande exportador na região. Não existe nenhum porto aqui com a qualidade de Suape. Entretanto, não há nenhum porto importante no mundo que não tenha um ramal ferroviário. Para transformar Suape em grande importador e

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"Queremos que pacientes com diabetes do SUS tenham acesso a medicamentos disponíveis na rede particular"

Rui Lyra, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, defende que diabéticos atendidos pelo serviço público de saúde tenham acesso a fármacos mais avançados no controle da doença que atinge mais de 14 milhões de brasileiros e que tende a aumentar a prevalência nos próximos anos. Pessoas diabéticas que não recebem um tratamento adequado e condizente com o mais avançado arsenal terapêutico desenvolvido pela medicina, podem evoluir e sofrer problemas renais e cardiovasculares. No Brasil, pacientes assistidos pelo SUS (Sistema Único de Saúde) não têm acesso a esses medicamentos e insumos, o que levou a Sociedade Brasileira de Diabetes a atuar para tentar reduzir a diferença existente entre o tratamento na rede privada e pública. Esse tem sido um dos principais objetivos do endocrinologista pernambucano Ruy Lyra, à frente da presidência da Sociedade Brasileira de Diabetes, que assumiu em 19 de janeiro. Nessa entrevista a Cláudia Santos, o médico conta como tem sido a receptividade do Ministério da Saúde a essa reivindicação e ressalta que a doença, que hoje atinge entre 14 milhões a 16 milhões de brasileiros, tem apresentado um crescimento no número de casos e a perspectiva é de aumentar ainda mais. Uma das metas da sua gestão à frente da Sociedade Brasileira de Diabetes é diminuir a diferença entre o tratamento oferecido nas redes de saúde pública e privada. O senhor poderia explicar essa diferença e como pretende eliminá-la? No serviço privado, muitas vezes, os pacientes têm plano de saúde e acesso a toda parte laboratorial que facilita o diagnóstico. Pela condição socioeconômica, esses pacientes, geralmente, podem comprar os melhores medicamentos para o diabetes, que não causem hipoglicemia, têm um efeito neutro no peso ou que levem ao emagrecimento que podem trazer benefícios cardiovasculares, renais, entre outros. No serviço público, embora já haja melhora, infelizmente, existe uma escassez de medicamentos gratuitos. Então, nossa proposta, junto ao governo, ao Ministério da Saúde e organismos que militam na área de tratamento, é que os pacientes do SUS tenham acesso aos mesmos medicamentos e insumos que estão disponíveis na rede particular. É tentar colocar novos fármacos que não estejam na cesta que é disponibilizada para as pessoas com diabetes no serviço público. Eu me sinto muito desconfortável ao fazer uma medicina no setor público e outra no privado, pois o médico é treinado para dar o melhor ao paciente, as ferramentas de tratamento adequadas para que se evitem complicações. É um grande desafio mas acho que somos movidos a desafios, sobretudo quando se tenta favorecer os mais pobres que, muitas vezes, sequer têm dinheiro para o transporte, quiçá para comprar um medicamento de melhor produção. Então, essa é uma proposta nossa. Já começamos nossas viagens à Brasília e estamos sentindo, nos primeiros contatos com os parlamentares e com alguns organismos governamentais, uma sensibilidade, uma perspectiva de buscar alternativas interessantes para os nossos pacientes. Que consequências são colocadas às pessoas que não têm acesso a esses medicamentos de última geração? Geralmente, complicações renais e cardiovasculares relacionadas ao ganho de peso. Entre 85% a 90% das pessoas com diabetes tipo 2 têm sobrepeso e obesidade. Hoje há medicamentos que proporcionam aos diabéticos uma redução de glicose sem risco de hipoglicemia, levando a não ganho de peso e, eventualmente, à perda de peso. Esses são medicamentos que trazem benefícios cardiovasculares e renais. Hoje, um grupo desses fármacos de última geração é disponibilizado a diabéticos com doença cardiovascular prévia com 65 anos ou mais. Recentemente já tivemos um posicionamento positivo do Ministério da Saúde para reduzir essa idade para 40 anos. E, para o paciente que recebe o Bolsa Família, esses medicamentos serão totalmente gratuitos. Os que não recebem Bolsa Família vão pagar uma parte do valor e o restante será subsidiado pelo governo, ou seja, uma coparticipação. Esse é um avanço, mas há muitos outros sendo trabalhados pela Sociedade Brasileira de Diabetes, em termos de monitorização de glicose, entre outros aspectos pertinentes ao benefício à população carente. Além de trazer qualidade de vida e prevenir morte de pacientes em casos mais graves, essas iniciativas também podem diminuir os números de hospitalizações e trazer economia para o governo? Sim. Um estudo publicado há alguns anos analisou o impacto socioeconômico das pessoas com diabetes e mostrou que se gasta menos tratando bem o diabético do que com o tratamento das complicações. Entretanto, tratar muito bem esse paciente não é só cuidar da glicose mas, também, da pressão arterial. Em termos das drogas antidiabéticas, é preciso usar as anti-hipertensivas, as drogas de redução do colesterol. Assim, ao disponibilizar medicamentos para cada uma dessas situações, as complicações vão reduzir e, consequentemente, vai se gastar menos onde hoje se gasta mais. Mesmo em relação à farmacoeconomia, há um custo-benefício em tratar bem os pacientes. Quantas pessoas diabéticas vivem no Brasil? Esse número tem aumentado nas últimas décadas? Infelizmente, sim. Hoje há cerca de 14 milhões a 16 milhões de pessoas com diabetes no Brasil e, segundo dados da Federação Internacional de Diabetes, as projeções são alarmantes, não só para o Brasil, mas para o mundo todo. E a perspectiva é de um crescimento grande até o ano de 2045. Então, infelizmente, apesar do conhecimento efetivo do risco da pessoa com diabetes, em termos de morbidade e de mortalidade, nós não estamos conseguindo prevenir essa doença. E não me refiro apenas aos médicos, mas à população que ainda não percebe a importância de evitar sobrepeso, de ter uma alimentação adequada, de praticar atividade física, ou seja, hábitos saudáveis recomendáveis a todos, sobretudo às pessoas com histórico familiar de diabetes. Então é fundamental que haja um envolvimento de todos, não só dos profissionais de saúde e do governo mas, também, das pessoas em geral para prevenir esse incremento da doença. Então esse aumento se deve ao diabetes tipo 2? Sim. Nove entre 10, ou seja, 85% a 90% dos diabéticos no mundo têm o tipo 2. É por isso que o impacto é grande. A presença de diabetes tipo 2 presume histórico familiar de diabetes, sobrepeso ou obesidade. Então essa

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"A Reforma Tributária pode melhorar o ambiente de negócios e evitar a guerra fiscal"

Ricardo Alexandre, Procurador-geral do Ministério Público de Contas de Pernambuco, explica as transformações que vão acontecer na cobrança dos tributos no Brasil. Ele também aborda as ações do MCP-PE para tornar o direito tributário mais compreensível para a população. O direito tributário é um assunto árido e difícil, ainda mais no Brasil, onde há um complexo sistema de cobrança de impostos. Interessado em tornar o tema mais compreensível para a população, o procurador-geral do MPC-PE (Ministério Público de Contas de Pernambuco), Ricardo Alexandre de Almeida, tem feito programas na TV MCP-PE (o canal do Youtube do ministério), e palestras sobre o assunto. O objetivo, segundo ele, “é a população entender como funciona o direito tributário e até intervir no funcionamento e na elaboração das leis que vão interferir na sua vida, como no caso da Reforma Tributária”. Sua didática já é conhecida por muitos candidatos a concursos públicos que assistiram às suas aulas em cursos que ministrou. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ele mostra o seu talento pedagógico ao explicar, de forma simples, as mudanças instituídas pela Reforma Tributária, tema do mais recente livro escrito em conjunto com sua mulher Tatiane Costa Arruda. Ricardo Alexandre de Almeida também falou sobre as ações do MCP-PE, em especial neste ano eleitoral. O livro que o senhor lançou é voltado para o público geral ou específico para advogados tributaristas? Fale um pouco sobre ele. Devido às mudanças da Reforma Tributária, lancei, junto com minha esposa, um livro mais técnico, sobre a reforma propriamente dita. É um livro um pouco mais complexo voltado para quem já é da área do direito tributário e quer entender o que está mudando. Mas também tenho feito algumas lives (https://www.youtube.com/@ TVMPC-PE) e palestras para que a população possa entender como funciona o direito tributário e até intervir no funcionamento e na elaboração de normas e leis que vão interferir na sua vida, como no caso da Reforma Tributária. É necessário que as pessoas saibam, por exemplo, que vários Estados brasileiros aumentaram o imposto sobre consumo. Nos países socialmente mais desenvolvidos, cobra-se menos imposto sobre consumo e muito imposto sobre renda e patrimônio, que são as duas coisas que mostram que a pessoa tem mais recurso. Claro que quem consome mais tem mais condição financeira, mas os mais pobres gastam todo o dinheiro que recebem e, geralmente, não têm condições de fazer uma poupança. Então, quem gasta todo o dinheiro que tem, será muito mais atingido por uma tributação de consumo elevada. Em Pernambuco, por exemplo, cobra-se 20,5% de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços). Assim, um pernambucano, ao comprar uma mercadoria, paga 20,5% num só tributo, além dos outros impostos que existem no País. Por isso, é necessária a informação acessível. Seria muito importante que a população tivesse participado mais da elaboração dessa Reforma Tributária, não deixasse nas mãos dos grupos de pressão que surgem no Congresso. É importante que a população saiba que esses grupos existem e se informe para saber pedir e ter voz e vez. Um exemplo desses grupos de pressão são os prestadores de serviço de profissões regulamentadas, que possuem conselhos como contabilidade, economia, direito, que pressionaram o Congresso Nacional e conseguiram que as alíquotas que venham a pagar sejam 30% menores. Para os prestadores de serviço mais pobres, que não exercem essas profissões, a diminuição não aconteceu porque, geralmente, são categorias com menos acesso à informação. Mas ainda há possibilidades de mudar a regulamentação da Reforma Tributária, porque a emenda à Constituição não cria os impostos, ela autoriza que sejam criados e, nessa criação, há grupos de trabalho que ainda estão discutindo. O que o senhor achou da unificação dos tributos de consumo instituída pela Reforma Tributária? Achei boa porque simplifica o sistema. Agora vamos ter uma legislação única e não uma para cada Estado, o que pode facilitar, principalmente, as vendas entre os Estados. Por outro lado, essa unificação poderia ser melhor se seguisse o modelo de alguns países europeus, criando um só um IVA (Imposto de Valor Agregado), que é um valor adicionado cobrado pela União Federal com a fiscalização de Estados e municípios. Mas os municípios e Estados brasileiros não queriam ficar sem um imposto “para chamar de seu”, então foi criado o IVA dual, com a CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) que é federal e o IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), que é municipal e estadual. Então agora será uma legislação única e, apesar de terem sido criados dois tributos, as regras aplicadas vão ser iguais, o contribuinte só vai precisar apurar a base de cálculo que vai valer tanto para a esfera estadual, quanto para a federal. Acho que isso pode melhorar o ambiente de negócios no País, evitando guerra fiscal entre os estados. A Reforma Tributária também modificou outros tributos que não são associados ao consumo, como o IPVA. Quais foram essas modificações e o que o senhor achou delas? São muito boas. Aeronaves e embarcações vão passar a pagar IPVA. É um absurdo quem tem uma moto simples pagar o imposto e quem tem condições de comprar uma moto aquática, um iate, um helicóptero ou um avião, não pagar. Isso é uma questão de justiça, aumenta a arrecadação cobrando normalmente de quem tem maior potencial de pagamento. Outro ponto positivo é o imposto de transmissão sobre herança e doação, que passa a ser obrigatoriamente progressivo. Isso é importante porque não se pode tratar quem recebe uma herança de milhões de reais da mesma forma de quem recebe uma de milhares de reais. É preciso cobrar de acordo com a capacidade que cada sujeito tem, espremer mais as laranjas que dão mais suco, é essa a ideia. Algumas mudanças são positivas, outras tendem a ser, dependendo de como será a regulamentação. Por exemplo, foi criado um mecanismo, chamado cashback que fará com que o Poder Público devolva parte do imposto pago por famílias de baixa renda. Será registrado no CPF da pessoa o valor que ela está pagando em impostos

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"Não vendemos só o maltado, nós proporcionamos boas lembranças".

Fundada por Fidélio Lago, um imigrante de Cuba, As Galerias funciona há 95 anos no Bairro do Recife. O neto do fundador, Jorge Gomes, conta como uma bebida e um bolinho de receita cubana conquistaram o paladar do recifense a ponto de a lanchonete se tornar patrimônio da cidade. Uma bebida, originária de Cuba, ostenta a proeza de ser patrimônio cultural, gastronômico e imaterial do Recife. Mas é um reconhecimento bastante compreensível e justo, afinal o maltado, produzido na lanchonete As Galerias desde 1928, faz parte da memória afetiva de muitos recifenses e se incorporou ao paladar da cidade tanto quanto uma tapioca. Sua receita, trazida na bagagem do imigrante cubano Fidélio Lago, tem como segredos o malte retirado da amêndoa do cacau e o sorvete de baunilha, ambos produzidos na lanchonete. Outro sucesso é o bolinho cubano, que traz uma cobertura de malte, castanha e amendoim granulados. Boêmios, assíduos frequentadores da agitada noite do Bairro do Recife de décadas atrás, eram os principais clientes d’As Galerias, quando ela ainda funcionava no edifício conhecido como “Ferro de Engomar” (que sediou o Instituto Cultural Santander). Hoje, a lanchonete está na praça do Arsenal, mas Jorge Gomes, neto do fundador Fidélio, sonha em retornar ao antigo endereço. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ele fala da trajetória do empreendimento que atrai uma clientela em busca do famoso maltado e até turistas interessados na sua história, ilustrada em antigas fotografias que adornam as paredes da lanchonete. Emocionado, Jorge também ressalta o significado de manter a tradição do negócio – “eu atendo famílias por várias gerações: o avô trouxe o pai, o pai trouxe o seu filho e o filho está trazendo o neto”. Um negócio que tende a se perpetuar com as filhas Vanessa e Vitória. “Elas já sabem fazer muito bem o Maltado”, assegura, orgulhoso. Como teve início As Galerias? A lanchonete foi fundada pelo meu avô, Fidélio Lago, que veio de Cuba e chegou no Recife em 1928 e, como um bom cubano, trouxe suas "especiarias", entre elas, o maltado que até hoje sobrevive e é o nosso carro-chefe. Inicialmente a lanchonete era localizada numa construção histórica do Bairro do Recife conhecida como “Ferro de Engomar”. O imóvel liga as avenidas Marquês de Olinda e Rio Branco. As Galerias ficava no número 58 da Marquês de Olinda, no piso térreo, era uma passarela ligando uma avenida à outra. Daí vem o nome. Ficamos nesse local por 74 anos. Em 2003, tivemos que entregar o prédio à seguradora a quem o edifício pertencia e fomos para a Rua do Bom Jesus. Em seguida, mudamos para a Rua da Guia, nº 183, onde permanecemos até o imóvel ser vendido após o dono falecer. Mudamos, então, para a Rua da Guia, nº 207. Estamos aqui há quatro anos, mas meu desejo é, em algum momento, voltar ao primeiro endereço, na Marquês de Olinda. Este retorno seria importante não só para As Galerias enquanto empresa, mas para os clientes e para a cultura e lembrança do Recife. Eu assumi a lanchonete em 2008, ao lado do meu pai, Antonio Gomes, que faleceu em 19 de outubro de 2012 com o desejo de transformar As Galerias em patrimônio. Em 2014, conseguimos tombar a lanchonete como patrimônio cultural, gastronômico e imaterial do Recife, resistimos à pandemia da Covid-19 e seguimos sempre trabalhando com respeito à nossa história e à tradição da cidade do Recife. Levamos isso muito a sério, é tanto que estamos aqui há 95 anos, exercendo essa atividade com muito respeito, muito carinho, atravessando gerações de pai para filho, abrindo mão de vida social, trabalhando quase todos os dias do ano, pois aqui só fecha no dia 1º de janeiro e na Quarta-Feira de Cinzas. Trabalhamos de domingo a domingo, sempre servindo o tradicional maltado. Qual o segredo do sucesso do maltado? De que ele é feito? Tem gente que pergunta “esse maltado é aquele que tem leite, Nescau, gelo e açúcar”? Eu respondo que não, isso é achocolatado. O maltado, por sua vez, se faz misturando leite com sorvete de baunilha e malte, que vem da semente do cacau. O malte é quase um xarope da semente do cacau, por isso tem essa saborosidade de chocolate, mas não é enjoativo, você pode tomar um litro tranquilamente e não enjoa. São vocês que produzem o malte? É uma receita nossa bem peculiar de fazer. A gente faz esse malte que leva um pouco de açúcar. O sorvete de baunilha também é uma receita nossa. Quando misturamos o sorvete, o leite, o malte e açúcar, fazemos essa bebida que é uma delícia. Você pode tomar todos os dias e não enjoa. É refrescante, saborosíssimo, por isso se mantém até hoje. O bolinho cubano é outro sucesso. De onde vem essa receita? O bolinho também é uma receita que nossa família trouxe de Cuba. Aqui na lanchonete, vendíamos sete ou oito dúzias desse bolo por dia. Sempre vendemos junto com o maltado. É uma receita da época em que não existia hambúrguer, x-burguer, por isso vendíamos muito. Como também não existia refrigerante. Além do maltado, vendíamos o ice cream soda, que era uma bebida gaseificada. Com o surgimento do refrigerante, as vendas do ice cream soda caíram, mas o maltado continuou persistente. E, nesse período, quem eram os clientes que frequentam As Galerias? De 1928 até meados dos anos 1960, o Bairro do Recife tinha vida noturna, nós tínhamos o Porto do Recife vivo e isso atraia o público à noite. O Recife Antigo era um bairro de baixo meretrício, até os anos 1960 ainda havia vestígios dos cabarés. Aqui era o que se conhecia por “zona”, termo originário de Zona Portuária, que culturalmente passou a ser associado a prostíbulo. Os frequentadores eram as pessoas da boemia. Eram os portuários, embarcadiços, despachantes, estivadores, os gringos que vinham para cá e também as pessoas daqui do Recife que queriam ter uma vida noturna e buscavam alguma forma de prazer. Vinham escondidinhos por aqui, faziam a farra, dizendo que

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"10% da renda das classes C, D e E está comprometida com apostas online"

Sócia de auditoria da PwC, Helena Rocha analisa a pesquisa feita pela empresa e o Instituto Locomotiva que revela um consumidor de baixa renda que valoriza preço, mas também a qualidade do produto. O dado surpreendente foi o apelo que as apostas esportivas exercem nessa parcela da população. (Foto: Bosco Lacerda) Depois de anos de crise econômica, agravada pela pandemia, os consumidores das classes C, D e E estão controlando mais seus gastos, porém, se tivessem acesso ao crédito, consumiriam mais, principalmente eletrônicos e eletrodomésticos. Mas, apesar disso, eles não valorizam apenas o preço na hora da compra mas, também, a qualidade e a marca do produto, e estão muito antenados com as questões sociais e sustentáveis. A ponto de estarem dispostos a pagar um pouco mais por marcas e produtos que apoiem a diversidade e a priorizar aquelas que são sustentáveis. Além disso, já abandonaram ou deixaram de comprar determinada marca por falta de responsabilidade ou porque desrespeitaram o meio ambiente. Esse novo perfil dos consumidores das classes C, D e E foi revelado na recente pesquisa realizada pela PwC e Instituto Locomotiva denominada Mercado da Maioria já que eles representam 76% da população, segundo a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2022, e respondem por quase metade do consumo no País. Nesta entrevista, Helena Rocha, sócia de auditoria, líder da indústria de consumo e varejo para o assurance da PWC, analisa os resultados do estudo. Helena chamou a atenção para o apelo cada vez maior que as apostas online têm exercido sobre essa parcela de consumidores. “Em 2024, a estimativa é que gastos com jogos e apostas podem representar quase 5% do valor destinados a despesas com alimentação”, alerta. Qual o perfil do consumidor que representa esse mercado da maioria? A pesquisa entrevistou 2.400 pessoas, das quais 1.600 da classe C, D e E, além de 800 das classes, A e B, a partir de 18 anos. Dos entrevistados, 44% são região Sudeste, 28% Nordeste e 10% entre Sul, Centro- Oeste e Norte. E temos alguns dados importantes: do total de entrevistados das classes C, D e E, 62% declaram- -se pretos e pardos, 74% já afirmaram ter sofrido algum tipo de preconceito, 56% não concluíram o ensino médio e 50% deles trabalham sem carteira assinada ou por conta própria. Então, existe muita informalidade. A pesquisa destacou também um protagonismo feminino: 52% dos lares das classes C, D e E são chefiados por mulheres, o que também foi constatado nas classes A e B cujo percentual é de 43%. Uma das características identificadas na pesquisa é a de que esse público encara o consumo como uma questão de conquista e esforço individual. Você poderia analisar essa questão? A pesquisa revela o que significa consumo para consumidores das classes C, D e E: 61% dizem que se esforçaram para comprar itens que nunca tiveram condições financeiras de adquirir quando eram mais jovens e 71% afirmaram que se sentem realizados quando economizam para comprar um produto e conseguem. Eles também informaram que nos últimos 10 anos passaram a comprar mais, principalmente em supermercados e hipermercados, e artigos de higiene e beleza e, em torno de 45%, afirmaram adquirir mais na última década produtos para animais de estimação, vestuário e eletrônicos. Mas 48% dos entrevistados das classes C, D e E disseram que se sentem excluídos, ou já se sentiram excluídos ou passaram por situações de constrangimento por não terem condições de consumir algum produto ou marca. Além disso, 30% desses consumidores também disseram que já foram constrangidos por não terem um produto e não usarem uma determinada marca e 42% já se sentiram também excluídos por não terem condições financeiras para consumir um produto que estava na moda. Quando a gente analisa quais as causas das dificuldades de aquisição, para 70% dos entrevistados das classes D e E e 56% da classe C, a principal é a dificuldade de acesso ao crédito. Esse percentual é bem menor nas classes A e B, mas ainda é um percentual importante, 40%. Quais os produtos que eles desejariam comprar? De um modo geral, eles dizem que comprariam mais caso eles tivessem maior acesso ao crédito. Os itens mais desejados são eletrônicos (citados por 36% dos entrevistados das classes C, D e E) e eletrodomésticos (35%), que também são desejo de consumo importante nas classes classe A e B, com percentual de 30%. Houve uma época, há uns 12 anos, em que acreditávamos que para as classes A e B, isso não era mais tão relevante porque essas pessoas já teriam acesso a eletrodomésticos de um modo geral. Mas, novas tecnologias são criadas e surge o desejo de adquiri-las. Então, o que aparece muito são casas automatizadas, produtos mais robustos do ponto de vista tecnológico, de última tendência. Esse é um desejo muito grande que permeia todas as classes sociais. Para as das classes C, D e E também aparecem imóveis e automóveis com percentual de 27%. Um aspecto que chama a atenção é que quando perguntado “o que você gostaria de adquirir nos próximos 12 meses?”, o curso de idiomas e outros cursos aparecem de maneira bem relevante, com percentual de 30%. Foi uma surpresa para nós. Embora a gente não perceba muito, mas é um desejo latente das classes C, D e E, que pode ser de ascensão social. Em seguida, surgem itens mais de consumo, como móveis, eletrodomésticos, materiais de construção, eletrônicos. Todos esses desejos reprimidos esbarram na falta de crédito, cujo acesso é dificultado em razão da taxa de juros muito alta e porque grande parte dessas classes já está muito endividada. Um fato que chama a atenção da pesquisa é o apelo que as apostas esportivas exercem sobre as classes C, D e E. O que mostrou a pesquisa sobre esse assunto? As apostas esportivas estão consumindo uma fatia importante da renda, principalmente das classes C, D e E. Quando a gente faz a análise do perfil desses jogadores, em termos de idade, grande parte realmente

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"Com a duplicação da refinaria e a Transnordestina sairemos de uma movimentação de 24 milhões t/ano para 50 milhões".

Inovação é uma característica do Complexo Portuário e Industrial de Suape desde quando foi concebido, ao promover uma integração entre porto e indústria e atrair para Pernambuco projetos estruturadores. Ao completar 45 anos de atividade, Suape consolida sua importância na economia local. A previsão é que neste ano movimente 24 milhões de toneladas de carga, mantendo o patamar de 2022, e exiba um faturamento de R$ 407,3 milhões, o que representa um crescimento de 13,43% comparado aos R$ 359 milhões do ano passado. O presidente Marcio Guiot afirma, nesta entrevista a Cláudia Santos, que a inovação continua a ser um norteador, como nas ações de sustentabilidade. Um dos projetos ainda em concepção prevê uma parceria com a Unesco e as empresas instaladas em Suape, com a possibilidade de elas contribuírem no financiamento da administração do complexo. Guiot está otimista com o salto que o porto dará com a Transnordestina e a duplicação da produção da Refinaria Abreu e Lima. As perspectivas do hidrogênio verde também são motivo de otimismo, embora estados, como o Ceará, tenham tomado a dianteira com projetos em andamento do chamado combustível do futuro. Marcio Guiot afirma que a estratégia de Suape não é a exportação do H2V, como visam os estados vizinhos, mas que o hidrogênio verde seja um atrativo para empreendimentos se instalarem no complexo. “Estamos mais empenhados em atrair empresas que venham beber da matriz energética limpa e que gerem valor aqui”. Qual o balanço que o senhor faz desses 45 anos de Suape? O conceito de Suape nasceu há mais de 50 anos e seus idealizadores tiveram a ideia visionária de construir um porto em uma área que fosse distante do grande centro, mas não muito. Foi concebido de forma que pudesse integrar desenvolvimento com sustentabilidade. Temos um cinturão verde que dificulta a ocupação, bem diferente do que vemos na maioria dos portos brasileiros, principalmente os centenários, nos quais as cidades cresceram no seu entorno, sem o cuidado devido. Em relação a números, conquistamos hoje a liderança na movimentação de granel líquido, consolidando Suape no cenário nacional. No cenário regional, somos líderes no Nordeste na movimentação de contêineres e estamos nos consolidando como hub de veículos. Devemos chegar a 100 mil veículos movimentados este ano, quase dobrando o que movimentamos ano passado. Somos considerados no cenário nacional portuário um equipamento que se destaca na gestão ambiental. Falar de sustentabilidade no cenário portuário é falar de Suape. Somos referência, tudo que é feito para gerir os 59% de área de preservação no complexo é muito diferenciado. Somos conhecidos também como um porto inovador, temos projetos que são reconhecidos no cenário nacional portuário. Na área ambiental, quais as ações realizadas? São várias frentes. Temos iniciativas que se destacaram, como as agendas azul, verde e amarela. Na azul, que é relacionada ao mar, temos o selo Amigo do Oceano. É o terceiro ano que concedemos o selo aos terminais arrendatários que cumprem com a legislação rigorosamente para evitar degradar o oceano. Na agenda verde trouxemos o conceito de SAF (Sistema Agroflorestal) que é novo, uma forma de integrar as pessoas que moram no território para que possam produzir uma agricultura familiar de forma sustentável. Em relação à agenda amarela, no passado, fizemos todo o levantamento de emissões de CO2 do complexo. Este ano terminamos o inventário de captura. Agora, estamos debruçados para ver como conseguimos materializar isso num produto que possa ser revertido em recursos para o complexo e ser reinjetado na gestão do território, chegando até o nível de crédito de carbono, que é algo que ainda precisa ser normatizado no Brasil. Temos o potencial de neutralizar as empresas que estão no território, só precisamos encontrar o melhor caminho para isso. Estamos terminando, no final deste mês, um estudo de materialidade, não apenas de Suape como prioridade portuária, mas de todo o complexo e em cima desse estudo vamos priorizar quais os ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) que vão ser mais aderentes à nossa realidade e traçar projetos. Do ponto de vista social, temos o desafio enorme de lidar com as mais de 17 mil pessoas que vivem no território e que até ano passado não eram previstas no Plano Diretor. Estamos estruturando uma iniciativa junto à Unesco e vamos trazer as empresas para trabalhar essas pautas conosco porque hoje temos Suape sendo um catalisador de demandas e de obrigações que, muitas vezes, não são nossas, são dos municípios. Mas temos as grandes empresas no complexo, cada uma com as suas estratégias de ESG e o que queremos é fazer de uma forma que seja coordenada, centralizada. Acreditamos que trazendo essas empresas mais próximas de Suape, para a gestão do território, além de trazer mais recursos, traremos mais ideias, novas formas de fazer essa gestão. Estamos tentando formatar de maneira que a Unesco se faça presente. Isso dá uma credibilidade para os órgãos reguladores, e para o setor privado também ter essa relação com o público. No passado, Suape não foi concebido prevendo uma taxa de condomínio. As indústrias que não estão na zona portuária se estabelecem aqui, adquirem a área e não propiciam uma receita recorrente que ajude Suape nessa administração do grande condomínio que somos. Queremos fazer isso, não necessariamente batendo na porta e cobrando uma taxa, mas com uma proposta de geração de valor e isso pode ter uma eficácia maior na gestão do território. E com todo o movimento ESG entrando no valuation das empresas, acho que é bem mais fácil de ser recebido hoje do que alguns anos atrás. Vamos agora falar um pouco do futuro. Qual será o impacto da construção do segundo trem na refinaria? A movimentação de Suape nos últimos anos tem variado entre 23 a 25 milhões de toneladas. Temos a capacidade para movimentar mais. No nosso planejamento estratégico vimos que temos dois movimentos importantes para acontecer que vão nos colocar num outro patamar. Um deles é a duplicação da refinaria, que antes de ter o trem 2, terá duas fases que vão acontecer agora

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Cláudio Fernandes: "O mercado muda, a gente muda também"

Cláudio Fernandes, Socio-fundador do Trino, conta como o grupo tem-se adaptado às constantes transformações do mercado de logística, com o uso de tecnologia e oferecimento de novos serviços. Essa capacidade tem garantido à empresa se destacar frente à concorrência com multinacionais. Saber perceber as tendências do mercado e ter a capacidade de rapidamente se adaptar a elas é uma receita de sucesso nestes tempos fluidos de transformação digital. O Grupo Trino é prova disso. Com atuação na área de logística e armazenamento, passou a oferecer novos serviços e introduzir novas rotinas de acordo com a demanda. Os supermercados, por exemplo, estão com lojas menores e menos espaço para estocar. “As entregas que eram feitas semanalmente, passaram a ser quase diárias”, compara Cláudio Fernandes, diretor administrativo e sócio-fundador. Hoje a Trino oferece também serviço de armazenagem indoor nos espaços dos clientes e ainda faz o inventário da carga com o uso de sofisticadas tecnologias. Com o apelo cada vez maior das energias renováveis, grupo está testando o uso de caminhões elétricos. A agilidade em se ajustar às rápidas exigências do mercado permitiu à empresa crescer 14% no ano passado e projetar um crescimento semelhante para este ano. Com 1.300 funcionários distribuídos nas operações do Norte, Nordeste, Minas Gerais, São Paulo e Bahia, o grupo conta com cinco filiais, duas em Pernambuco, e uma em Salvador, em São Paulo e na Paraíba. A inovação está no DNA do Trino mas também da família de Fernandes que compartilha a gestão da empresa, como sua mulher Edla Couto, e se perpetua na nova geração, com as filhas Cláudia e Jessica, que já atuam na direção do grupo. Como começou a trajetória da Trino? Bem, a empresa, inicialmente, não foi idealizada do jeito que é hoje. Nós prestávamos serviços artísticos; fazíamos shows, eventos de empresas, na década de 1980. Quando Fernando Henrique assumiu o governo, houve muita mudança de moeda e esse serviço artístico ficou muito caro para as empresas pagarem. Por isso, sentimos a necessidade de agregar outros serviços. Procuramos fazer mais eventos para o setor corporativo, ou seja, alugar nosso espaço, que ficava no bairro de Casa Forte, para convenções e para treinamento. Contratamos instrutores, psicólogos, consultores, para ofertar aos clientes. Mas as várias trocas de moeda deixaram as empresas sem capital de giro e o investimento em treinamento baixou muito. Então, demos uma parada. Fui trabalhar na iniciativa privada e minha esposa, Edla, foi atuar no ramo de terceirização de venda de serviços. Mas nossa empresa estava lá, adormecida. Após um ano, tivemos um convite do Bompreço para fazer um serviço de beneficiamento de laranjas. Eles adquiriram máquinas para embalar a fruta, mas não conseguiam fazê-las funcionar. Nós conseguimos colocar as máquinas em operação. Fizemos um contrato de produtividade para fazer esse gerenciamento e colocamos as laranjas para embalar. Como isso era um pepino muito grande para o pessoal da logística, eles ficaram muito gratificados. Aí, surgiu a oportunidade de fazermos a movimentação de cargas dentro do Walmart. Eles tinham uma demanda muito variável, porque havia época em que chegava muito caminhão e outra, que tinha menos. Mas eles tinham muito custo com mão de obra, por isso, queriam uma empresa que fornecesse um custo variável. Como a gente já estava lá, eles nos ofereceram esse serviço. Depois vieram outras empresas, algumas multinacionais, fomos oferecendo propostas de serviço para elas até o ponto de abrirmos um armazém na Muribeca, onde movimentamos produtos como os da Whirlpool (Brastemp e Consul). Depois entramos na área da armazenagem frigorificada no Cabo de Santo Agostinho. Havia algumas empresas que ofereciam esse serviço, mas com problemas. O cliente às vezes vendia um produto, que ele tinha em determinada data e, na hora de entregar, não tinha mais porque o produto foi trocado por um de data mais antiga e o cliente não queria aceitar. Vimos aí uma oportunidade para trabalhar com equipamentos de informática, de controle, de WMS (Sistema de Gerenciamento de Armazém). Isso nos fortaleceu muito porque ficamos tanto no segmento de secos com o galpão na Muribeca, quanto no segmento de frio, no Cabo. Começamos a ser vistos. Como trabalhamos para o Walmart, com o Bompreço, depois com a JBS Friboi (fomos diversas vezes eleitos o melhor operador da JBS nacional), fomos agregando ao nosso portfólio esses clientes. Hoje já prestamos serviços para a Seara, para a BRF, para a Pepsico do Brasil. Tivemos que começar a vender serviços ao cliente. Que tipo de serviços? Muitas empresas tinham o armazém e o produto, mas não a expertise de controle de movimentação e de inventários que temos. Dava muita diferença o inventário dos clientes. Isso começou a encantar o mercado e a abrir segmentos dentro de indústrias e dentro de outros clientes nossos. Foi o caso da Pepsico do Brasil. Hoje temos uma operação na fábrica do Cabo, temos um CD deles na Muribeca, outro em Simões Filho (BA) e temos na fábrica também em Feira de Santana (BA). Começamos também a prestar serviço em empresas do segmento vidros. Trabalhávamos com o Grupo Brennand. Depois para Owens Illinois que é a Cisper. Hoje temos atividade na planta da Várzea, em Vitória, e na unidade de São Paulo. Começamos a avançar e abrir filiais. Desbravamos essa parte do Norte/Nordeste, montamos a operação em Minas Gerais, onde temos como cliente a rede Drogaria Araújo. Então hoje temos tanto a parte de frio, de galpões secos e a parte de atendimento ao cliente indoor. Montamos um braço também de facilities, que é a parte de limpeza, conservação e jardinagem. Não é forte nosso, mas é um serviço que oferecemos em razão da demanda dos clientes. Como vocês desenvolveram essa expertise de logística e armazenagem? Sou engenheiro eletrônico e fui treinado muitos anos em fabricação de produtos. Trabalhei na Philips. Como eu estava muito ligado à produção, à produtividade e com bom conhecimento de inglês, já tinha lidado com outras máquinas de montagem, mas não com a que embalava laranja do Bompreço. Eu tinha formação em controle de qualidade

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"O fator de risco mais prevalente relacionado à demência no Brasil é a baixa escolaridade"

Carla Nubia, Diretora da Abraz (Associação Brasileira de Alzheimer) analisa a pesquisa da entidade sobre o panorama da demência no País. Ela ressalta a importância do controle dos fatores de risco que desencadeiam a doença e necessidade de seus sintomas serem mais conhecidos pela população e profissionais de saúde. A doença de Alzheimer apresenta 12 fatores de risco modificáveis, isto é, que podem ser controlados, entre eles: o grau de instrução, a perda de audição e a hipertensão. Se a população brasileira pudesse controlar todos os fatores, haveria uma redução de 48,2% dos casos de demência no Brasil. A diminuição seria de até 54% nas regiões mais pobres do País. Os dados fazem parte de um compilado de vários estudos divulgado no 1º Big Data Abraz, realizado no Hospital Albert Einstein em São Paulo. A geriatra pernambucana Carla Nubia Nunes Borges, diretora científica nacional da Abraz (Associação Brasileira de Alzheimer), conversou com Cláudia Santos sobre a pesquisa, que revelou ser a baixa escolaridade o fator de risco para a demência mais comum no Brasil. Ela também falou das dificuldades relacionadas ao diagnóstico da doença, por ser desconhecida da população e até dos médicos. “Sessenta e dois por cento dos profissionais de saúde em todo o mundo ainda acham que demência é algo normal do envelhecimento”, destaca a geriatra. Como surge a Doença de Alzheimer? A Doença de Alzheimer está associada à alteração de duas proteínas: a proteína chamada beta-amiloide que formam placas amiloides extracelulares que matam os neurônios, e a alteração da proteína TAU intracelular, os chamados emaranhados neurofibrilares, que também levam à morte neuronal. Essas duas alterações começam principalmente no centro do cérebro, onde está o hipocampo que é área da memória. Por isso que os primeiros sinais e sintomas estão relacionados a essa área. Depois, outras áreas do cérebro vão sendo atingidas. Trata-se de uma doença muito inflamatória, que tem várias causas e vários fatores de risco podem ajudar a desencadeá-la como obesidade, hipertensão, diabetes, sedentarismo, uso de álcool e drogas, déficit auditivo, distúrbios do sono, baixa escolaridade. Cada vez mais está clara a interferência dos fatores de risco. É uma doença que para evitá-la você tem que cuidar da saúde como um todo. Mas isso não quer dizer que se você adotar todas essas medidas saudáveis não vá desenvolver a Doença de Alzheimer. Mas, ao cuidar da saúde, você pode até retardar o aparecimento da doença, embora se ela estiver codificada geneticamente, você vai desenvolvê-la. Porém, cuidando bem da saúde você aumenta sua reserva cognitiva, funcional, muscular, sua saúde mental, para, se aparecer a doença, você enfrentar de maneira diferente, por ter um organismo mais bem cuidado, com mais reservas funcionais e isso é um diferencial muito grande. Qual a importância da dieta mediterrânea como medida preventiva? Ela é um dos pilares da prevenção, mas, sozinha, ela não vai prevenir. Se você só faz a dieta, mas fuma, não faz atividade física, não estuda, não trabalha sua saúde mental, só a alimentação não vai adiantar. E existem várias dietas que são preconizadas, porém a que a gente mais indica é a do Mediterrâneo (baseada em azeite, em frutas, verduras, oleaginosas, peixes) por ser rica em ômega 3 e em várias substâncias que fazem parte da bainha de mielina que é a membrana que envolve os neurônios. Essa dieta tem um poder anti-inflamatório a nível cerebral e, consequentemente, menos ativação da micróglia que são células cerebrais ativadas no processo inflamatório. Essa ativação persistente inflamatória leva ao desencadeamento da formação de placas amiloides. Quais os principais desafios relacionados à doença de Alzheimer? Uma pesquisa mundial com vários centros mostrou que uma a cada três pessoas não sabe o que é demência, mas a cada três segundos alguém é diagnosticado com Alzheimer no mundo. Muitos pensam que demência é algo normal. Então, o grande desafio é o diagnóstico precoce porque há um desconhecimento. As famílias das pessoas com Alzheimer não valorizam muitas vezes os sintomas porque nem sempre a doença começa pela memória, pode começar com alteração de comportamento ou funcional, ou seja, aquela atividade que a pessoa fazia de forma corriqueira passa a não fazer mais. Pode ser algo como fazer um bolo, em que se coloca o ovo, o leite, a farinha. Aí, a pessoa começa a não botar o ovo ou o leite, ela pula etapas. Um grande executivo que tem reunião, tem documentos para entregar, pode começar a faltar reuniões, a não conseguir fazer entregas. A pessoa começa a perder a sequência lógica de como realizar ações rotineiras. No aspecto comportamento, a pessoa pode chorar com facilidade ou dizer que a estão perseguindo, que está sendo roubada, além de ficar irritada, gritando do nada, ou ficar muita apática, totalmente sem energia. Os três grandes pilares da doença são: alteração de memória (esquecimento principalmente de coisas recentes e o passado fica mantido), alteração de comportamento e alteração de funcionalidade. Um dado muito interessante é que os familiares começam a encontrar justificativas para esses comportamentos, como por exemplo: “ah, mamãe está assim porque o neto se casou”, “papai está esquecido porque deixou de trabalhar”. Isso é um erro que pode retardar um diagnóstico precoce. Esquecimento é normal em qualquer idade, a criança esqueceu o presente da professora, adultos esquecem reuniões, documentos. Isso pode estar atrelado a cansaço, sono, estresse, momentos ruins. Mas aquele esquecimento que é repetido e, principalmente, quando vem associado a alterações comportamentais, esse requer procurar ajuda médica. O que é preciso fazer para reverter essa falta de conhecimento sobre a doença? É preciso sensibilizar a população para, ao surgirem os primeiros sinais e sintomas, procurar um profissional. Também sensibilizar os profissionais para perceberem que aquilo não é só uma tristeza, mas pode se tratar de uma demência, e sensibilizar a sociedade política civil para colocar mais frentes de profissionais que lidam com as demências: neurologistas, geriátricas e psiquiatras. É muito difícil pelo SUS você conseguir um psiquiatra ou geriatra porque há poucos trabalhando no sistema. Por isso precisamos sensibilizar os profissionais como um todo.

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"As autarquias contribuíram muito para a formação no interior, por isso, precisamos de incentivo"

Ana Gleide Leal, presidente da Assiespe (Associação das Instituições Municipais do Ensino Superior de Pernambuco), aborda a importância dessas faculdades para formar profissionais no interior. Embora elas sejam públicas, se esforçam para obter verbas para oferecer cursos gratuitos. Pouca gente tem conhecimento de que autarquias existentes no interior de Pernambuco oferecem ensino superior e muitos professores que atuam fora do Recife foram formados nessas instituições. A qualidade do ensino ofertado por elas foi comprovada por parâmetros como, por exemplo, o selo OAB Recomenda, conquistado pelo curso de direito da Facape, autarquia de Petrolina. Apesar da sua importância, elas enfrentam dificuldades. Isso porque, embora sejam instituições públicas – tanto é que são auditadas pelo Tribunal de Contas de Pernambuco –, não estão incluídas no orçamento nem dos municípios onde estão sediadas, nem do Estado. “Somos da administração indireta desses municípios, por isso temos autonomia de gerenciamento e cobramos mensalidade para nossa manutenção”, esclarece Ana Gleide Leal, presidente da Assiespe (Associação das Instituições Municipais do Ensino Superior de Pernambuco). Entretanto, o pleito dessas autarquias, segundo Ana Gleide, é receber recursos públicos para que possam oferecer o ensino gratuito, principalmente porque a maior parte de seus alunos são oriundos da rede estadual. Nesta entrevista a Cláudia Santos, a presidente da Assiespe explica as características e o trabalho realizado por essas faculdades e as ações realizadas pela associação para que elas sejam reconhecidas como instituições públicas e recebam verbas dos governos. Como é o trabalho realizado pela Assiespe? A Assiespe é a Associação das Instituições Municipais do Ensino Superior de Pernambuco. É interessante que a sigla não tem o “M” de municipais. Não trabalhamos bem no passado para que as pessoas compreendessem o que somos e aí ficou a perspectiva de enxergarem a associação como uma instituição privada. Mas não somos. Somos uma instituição pública, que congrega autarquias que mantêm faculdades. Essas autarquias são da administração indireta de 13 municípios do Estado de Pernambuco. Do mesmo jeito existe a UPE, que é instituição estadual de ensino superior, nós temos 13 instituições municipais de ensino superior. Nós criamos, há mais de 20 anos, a associação que traz a perspectiva de agregar e defender essas instituições e de buscar recursos. Essas 13 autarquias mantêm 19 faculdades e elas estão nos municípios: Petrolina, Araripina, Salgueiro, Belém do São Francisco, Serra Talhada, Afogados da Ingazeira, Arcoverde (que é a mais antiga, criada em 1969), Belo Jardim, Palmares, Garanhuns, Limoeiro, Goiana e Cabo de Santo Agostinho. Temos um total de 14 mil estudantes nessa nossa estrutura. Somos uma instituição pública municipal e fazemos parte do sistema de ensino do Estado e temos um relacionamento com a Secretaria de Ciência e Tecnologia, porque as políticas do Estado para ensino superior passam pela secretaria. As autarquias recebem recursos públicos? Não. As autarquias não recebem recurso nenhum, nem do Estado, nem municipal. Temos uma realidade que nos diferencia das instituições de ensino superior pública: nós cobramos mensalidade para nossa manutenção porque não estamos nos orçamentos dos municípios onde estamos instalados. Esse valor é o que sustenta as nossas instituições. Mas somos da administração indireta desses municípios, por isso temos autonomia de gerenciamento. O que nos diferencia das instituições privadas é que não temos o lucro como finalidade, por isso que nossos valores são bem menores, são valores acessíveis. Mas se o município assumir essas instituições com a folha de pagamento e tudo mais, a oferta dos cursos passa a ser gratuita para os estudantes. É preciso que o Governo de Pernambuco e os municípios nos reconheçam não como uma instituição privada. Essas autarquias são auditadas pelo Tribunal de Contas, temos todas as responsabilidades de um governo municipal, de pagamento de folha, obrigações sociais. Essa lógica já nos diferencia de forma sem igual de uma instituição privada, a diferença é que como autarquia municipal de administração indireta nós temos autonomia. Pernambuco é o único Estado do Nordeste que tem autarquias, instituições municipais de ensino superior, e essa é uma realidade desde a década de 1970, quando se autorizou a criação dessas instituições ligadas ao município. Nesse período de interiorização do ensino superior, as autarquias municipais, por meio de suas faculdades, contribuíram muito para a formação do profissional no interior do Estado, então é graças a essas instituições que temos hoje uma quantidade de professores no interior. Por isso, precisamos de incentivo. Destacamos que no último concurso que a rede estadual ofertou, houve cidades em que 100% dos candidatos eram alunos egressos das autarquias. Na microrregião do Submédio São Francisco, 80% dos professores são alunos oriundos da autarquia que eu presido, a ABCDE/Cevasf (Centro de Ensino Superior do Vale do São Francisco), localizada em Belém do São Francisco, e que tem 47 anos. Existem no Brasil 60 autarquias municipais de ensino superior, dessas 13 estão em Pernambuco, que foram criadas antes da constituição de 1988. Depois, foi proibida a criação de novas autarquias de ensino superior, lógico, a força das instituições privadas tentando frear um pouco a oferta de ensino superior e também pelo fato de que houve um ordenamento sobre de quem era a responsabilidade do ensino por níveis. Então, ao município coube a responsabilidade da educação básica, ao Estado e à Federação coube a responsabilidade do ensino médio e ensino superior. A partir dali tirou-se do município qualquer responsabilidade orçamentária com o ensino superior. Conheci no Rio de Janeiro instituições municipais, nas cidades de Macaé e Itaperuna. Elas foram criadas depois de 1988 e quem as sustentam são os municípios onde foram criadas, por isso todo o ensino é gratuito para os alunos. As autarquias de Pernambuco oferecem somente cursos de licenciatura? Não, nós temos cursos de bacharelados também. Nós tivemos a abertura desses cursos após o incentivo das bolsas que as autarquias receberam do Estado, por meio do Proupe (Programa Universidades para Todos em Pernambuco), no Governo Eduardo Campos. Foram quase 12 mil bolsas para os estudantes e aquilo despertou para as instituições que elas precisavam também fortalecer no interior a oferta de bacharelados. E fizemos isso. Só que nesses

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