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Mario Ribeiro

"Solano Trindade é um grande expoente da literatura negra e as pessoas pouco o conhecem"

Mário Ribeiro, Historiador da UPE, fala da vida e obra do autor do poema Tem gente com fome, que foi pioneiro na militância contra o racismo e na criação de uma arte voltada a retratar a realidade da população negra e que este ano completa cinco décadas da sua morte. Poeta, folclorista, pintor, ator, teatrólogo, cineasta e militante do movimento negro, o pernambucano Solano Trindade tem uma biografia densa. Foi um dos organizadores e idealizadores do 1º Congresso Afro-Brasileiro, realizado em 1934 no Recife e liderado por Gilberto Freyre. No Rio de Janeiro fundou, com o ator, escritor e sambista Haroldo Costa, o Teatro Folclórico Brasileiro. No ano seguinte participou do antológico Teatro Experimental do Negro, projeto idealizado por Abdias Nascimento com a proposta de valorizar o negro e a cultura afro-brasileira e também lançar um novo estilo dramatúrgico. Com o amigo Abdias, criou ainda o Comitê Democrático Afro-brasileiro que se estabeleceu como o braço político do TEN. Sua poesia, forte e criativa, aborda a condição da população negra e retrata uma realidade que permanece atual. Apesar de toda a importância da sua obra e do seu pioneirismo no combate ao racismo no País, Solano Trindade permanece desconhecido no Brasil, mesmo em sua terra, o Recife. Para analisar a importância do poeta pernambucano, Cláudia Santos conversou com o historiador e professor da graduação e pós-graduação da UPE (Universidade de Pernambuco) Mário Ribeiro. Quando Ribeiro estagiava na Casa do Carnaval – situada no Bairro de São José, onde Solano Trindade nasceu – conheceu a escritora negra Inaldete Pinheiro, que lhe apresentou a história de Solano Trindade. Hoje, ele recorre ao poeta em suas aulas, criticando e combatendo o apagamento do protagonismo negro na literatura, na história, na cultura, na política, na vida social como um todo. “A gente precisa investir nesse canal de transformação que é a escola”, propõe. Solano Trindade é um dos pioneiros na valorização da cultura afro-brasileira e da militância no movimento negro. Fale um pouco sobre a vida dele no Recife. Ele nasceu em 1908, no Bairro de São José. Localizado na zona portuária, próximo ao mercado público, à antiga Prainha de Santa Rita, o bairro é o mais preto do Centro do Recife, principalmente no contexto em que Solano nasceu. Por ali circulavam pescadores, vendedores ambulantes e pessoas desempregadas. Até hoje, há ecos dos tempos em que se vivia de pesca naquele entorno, como pescadores vendendo peixe e camarão na beira do rio e na entrada de algumas ruas. O Recife está mergulhado em mangue, no bairro de São José, há ruas e becos com nomes de peixes. Foi nesse contexto que Solano Trindade nasceu, um ambiente de trabalhadores pobres, pessoas pretas, na sua maioria, vivendo a grande efervescência das manifestações culturais. Muitos clubes de frevo, caboclinhos e maracatus surgiram ou tinham sedes por ali. O pai dele era sapateiro e tinha paixão pela cultura popular, a brincadeira do bumba meu boi, o presépio, ele era o velho do pastoril. Então, Solano se aproxima dessas culturas populares por meio do pai. A mãe, para quem Solano lia literatura de cordel, segundo algumas versões, era dona de casa e, de acordo com outras, trabalhava numa fábrica. Ele é um dos percussores do movimento negro no País. Era um estudioso que lia, pesquisava e trazia essa relação de África com o Brasil por meio do seu trabalho, e isso está presente em vários de seus poemas. Em vida, publicou quatro livros, um deles, O Poema de Uma Vida Inteira, foi apreendido pelo Estado Novo num período de grande perseguição e cerceamento daquelas pessoas e práticas consideradas desordeiras ou prejudiciais à ordem e ao bom funcionamento do Estado. Em um de seus poemas chamado Sou Negro, ele diz assim: Sou negro/ meus avós foram queimados/ pelo sol da África/ minhalma recebeu o batismo dos tambores/ atabaques, gongôs e agogôs/ Contaram-me que meus avós vieram de Luanda/ como mercadoria de baixo preço/ plantaram cana pro senhor de engenho novo/ e fundaram o primeiro Maracatu/ Depois meu avô brigou como um danado/ nas terras de Zumbi/ Era valente como o quê/ Na capoeira ou na faca/ escreveu não leu o pau comeu/ Não foi um pai João/ humilde e manso/ Mesmo vovó não foi de brincadeira/ Na guerra dos Malês/ ela se destacou/ Na minhalma ficou/ o samba/ o batuque/ o bamboleio/ e o desejo de libertação. Há muito da ancestralidade e da vivência em sua obra? Sim. Percebe-se um conhecimento dessa ancestralidade e oralidade na obra de Solano, porque muito do que ele escrevia era fruto do que ouvia e via. Então, a vivência e a memória estão muito presentes. O poema Pregões do Recife Antigo, por exemplo, traz o que ele ouvia passando pelo bairro de São José. Há um trecho que diz assim: Ei munguzá/ tá quentinho o munguzá/ istá bom, ispiciá/ de manhã bem cedinho a preta gingando enche de música o bairro de São José/ lá vem o cuscuzeiro/ cuscuz, cuscuz de milho/ e quando o sol vem iluminar a cidade/ as ruas se enchem de balaieiros/ enchendo de ritmo a beleza da terra/ é doce, é doce o abacaxi/ é doce, é doce e é barato. E aí segue falando do vendedor de banana, de manga, de sapoti, de jaca, de cajá. Ele traz, nos seus poemas, esses pregões que eram cantados por trabalhadores da rua, e isso garante sonoridade, musicalidade, presentes até mesmo em obras de denúncia, de crítica, como no poema Tem gente com fome, em que o trem sujo da Leopoldina vai passando pelas estações no Rio de Janeiro, de Caxias até os lugares para os quais ele se deslocava. E vai mostrando pessoas com semblante triste, com fome. É uma grande denúncia da desigualdade social e racial, pois não há como falar de relações étnico-raciais separando o social do racial, a cor da fome é preta, a gente sabe disso. Esse poema, por mais forte que seja, traz essa musicalidade com uma sequência de repetições. Tanto é que esse poema

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Como nos informamos na sociedade digital e na era da desinformação?

Na edição em que comemoramos os 18 anos da Algomais, discutimos alguns dos dilemas presentes e futuros do jornalismo *Por Rafael Dantas Temos mais acesso à informação do que em qualquer período na história. Ao mesmo tempo, os desafios da comunicação nunca foram tão presentes na sociedade, a ponto de ameaçar o debate público, com uma enxurrada de fake news. Em pouquíssimo tempo a prática de se informar predominante transitou do impresso ao digital, dos grandes canais às plataformas, das grades de programação da TV aberta ao streaming. Transições não só tecnológicas mas, que também, impulsionam mudanças sociais e econômicas, com impactos na sobrevivência da própria democracia e nas soluções para problemas centrais do planeta, até cada recanto do Estado. Quando a Algomais nasceu, em 2006, como uma revista local e impressa, não havia ainda Instagram nem WhatsApp. As redes sociais davam seus primeiros passos. Para se ter ideia, o Twitter nasceu também em março daquele ano, estávamos perto do auge do finado Orkut e nos primeiros anos do Facebook. Nada de streamings, nem de influencers. Ainda faltavam 10 anos para termos como pós-verdade e fake news ganharem os postos de palavras do ano em 2016 e 2017. Uma transição avassaladora no setor. Esperar o horário do noticiário da TV ou a chegada do furo de reportagem do jornal impresso pela manhã ficaram no passado que nem lembramos mais. Na sociedade online, conectada 24 horas por dia, as notícias e fake news saltam nas notificações ao longo do dia. Especialmente das grandes plataformas e redes sociais, sejam por aquelas que decidimos seguir ou via amigos da nossa imensa rede de conexões virtuais. Mas as transformações não param por aí. Flávio Moreira, editor- chefe do UOL e mestre em estratégias digitais para empresas de mídia, projeta que há uma grande transição no horizonte futuro, ao menos para o jornalismo. “A grande mudança no consumo de notícias é que estamos saindo da era das plataformas. Nas duas últimas décadas, vivemos um período em que os publishers tiveram sua distribuição de conteúdo impulsionada por redes sociais e mecanismos de busca. Agora, as plataformas diminuíram a prioridade para mostrar notícias e o consumo passa a ser por canais mais diretos, como newsletters e apps de mensagens. Sobrevive quem consegue construir marca e cria pontos de contato próprios para que o usuário consuma notícias sem passar por um intermediário”. “A grande mudança é que estamos saindo da era das plataformas. Elas diminuíram a prioridade para mostrar notícias e o consumo passa a ser por canais mais diretos, como newsletters e apps de mensagens.” (Flávio Moreira, editor do Uol) A relação tensa entre as grandes plataformas globais de circulação de mídias com a produção de jornalismo não é uma novidade. Essa virada, inclusive, é desafiante. No estudo mais recente do Reuters Institute for the Study of Journalism, o Digital News Report 2023, apenas 22% dos entrevistados declararam que seu consumo de notícias acontece diretamente em sites ou aplicativos de notícias. Um total de 30% disseram preferir acessar o noticiário por meio das redes sociais ou de pesquisas online. O estudo ouviu mais de 93 mil consumidores de notícias online do mundo. INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NO RADAR Se a forma como consumimos e produzimos informação já deu alguns giros de 360 graus nos últimos anos, ainda temos pela frente novas cambalhotas com a popularização da inteligência artificial. Moreira considera que o impacto da IA no setor acontece em dois pontos principais. “O primeiro é na personalização do produto jornalístico. Conseguimos escala para entregar dados e informações noticiosas de acordo com o perfil do usuário e no formato que ele mais gosta de consumir”. A segunda mudança que ele destaca está nos mecanismos de busca. O jornalista conta que as inteligências artificiais usam o conteúdo de publishers para entregar respostas e conteúdos prontos, sem que haja a necessidade de o usuário clicar no link do site de notícias. “É um paradoxo, pois quebra-se um modelo de negócio no qual presumia-se um page view vindo do mecanismo de busca para justificar a permissão para que ele fosse usado no serviço. Se agora o Google vai mandar menos tráfego para sites de notícias, deixa de ser interessante que eles forneçam seus dados para aprendizado da IA ou até pode ser que muitos se tornem financeiramente inviáveis. Com menos sites de notícias produzindo jornalismo, com quem a IA vai aprender?”, questiona o editor do UOL. O engenheiro da computação, Rafael Toscano, que é doutorando em engenharia com foco em inteligência artificial aplicada, considera que a tecnologia tem potencialidades de facilitar a vida dos jornalistas, qualificar a experiência dos consumidores de notícias mas, também, guarda riscos relevantes. “Em se tratando de auxílio ao profissional jornalista, a IA traz grande potencial na automatização de diversas tarefas maçantes ou demoradas, como a coleta de dados, permitindo que jornalistas se concentrem em atividades do campo criativo e analítico. Algoritmos de IA, por exemplo, podem analisar grandes conjuntos de dados em poucos segundos, identificando padrões, tendências, etc. Possibilitando a geração de insights valiosos e oportunidades para reportagens interessantes num piscar de olhos”, afirmou o engenheiro. Pela ótica do consumidor de informações, Toscano considera que a IA surge como uma tecnologia assistiva (no sentido de prestar apoio, assistência) na curadoria de conteúdos relevantes, a partir dos interesses e preferências dos usuários. “Plataformas extremamente consolidadas como o Google News usam IA para personalizar e elevar a experiência do usuário, sugerindo artigos com base no histórico de navegação mas, principalmente, pela identificação de seu comportamento online. Ainda sob a ótica do consumo e a onda assistiva, as tecnologias de tradução automática, reconhecimento de voz e transcrição automática ampliam a inclusão e a diversidade no acesso à informação, democratizando a entrega e o consumo das informações”. Na escolha do conteúdo que chegará ao leitor, ouvinte ou usuário, a curadoria passa, nesse contexto, das mãos dos editores para os algoritmos. Quanto às ameaças que o avanço da IA pode impor à sociedade, o engenheiro destaca que todas as tecnologias associadas ao

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Recife recebe maior escritório do mundo da multinacional norte-americana Liferay

Capital pernambucana torna-se sede do maior centro de engenharia de software da companhia, que promove experiências digitais que são utilizadas por empresas de diversos países ao redor do planeta. Fotos: Edson Holanda/ Prefeitura do Recife  Foi inaugurada ontem a nova sede da América Latina da Liferay, empresa multinacional desenvolvedora de uma plataforma de experiências digitais usada para criar portais, intranets, websites e e-commerce. O novo espaço da corporação ocupa os dois últimos andares do prédio histórico do Paço Alfândega Shopping, no Bairro do Recife. A nova estrutura soma mais de 5,3 mil m² e 650 estações de trabalho. O grupo já atua no Recife há 15 anos, mas agora amplia sua atuação na cidade, dentro do Porto Digital. João Campos, prefeito do Recife “A gente tem uma vocação para formar gente na nossa cidade e a nossa potência é o capital humano, são as pessoas. Essa conquista de hoje é histórica para o Recife, a gente passa a ter o centro de decisão global de uma grande líder global que é a Liferay. Lembro que neste mês tivemos a formatura da primeira turma do Embarque Digital, 134 estudantes, e a Liferay é parceira do programa”. Brian Chan, CEO da Liferay “Eu adoro Recife. Aqui há duas expressões que eu gosto muito. Uma é ‘Graças a Deus’, ela nos lembra de ter um coração de gratidão. A outra é ‘Se Deus quiser’, pois gosto de lembrar que não sou eu que escolho. Se Recife tiver prosperidade e paz, nós também temos”, comentou ele. Inauguração de prestígio Estiveram presentes na cerimônia: João Farias, gerente na América Latina da Liferay; Pierre Lucena, presidente do Porto Digital; Aldemar Santos, secretário de Governo e Participação Social do Recife; Joana Florêncio, secretária municipal de Desenvolvimento Econômico; e Ana Paula Vilaça, chefe do Gabinete Recentro. Liferay em números 15 anos de atividades no Recife 300 colaboradores na cidade 26 países com sedes, sendo a maior da capital pernambucana

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Rendimento per capta dos pernambucanos está 41% abaixo da média nacional

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou ontem os valores dos rendimentos domiciliares per capita referentes a 2023. O indicador rendimento domiciliar per capita do Brasil atingiu R$ 1.893, variando de R$ 945 no Maranhão a R$ 3.357 no Distrito Federal. Em Pernambuco, o indicador alcançou R$ 1.113, posicionando o estado no 24º lugar no ranking nacional. Esses números foram calculados com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, refletindo a realidade socioeconômica da população no estado. Comparação nacional O rendimento domiciliar per capita é calculado como a razão entre os rendimentos domiciliares totais e o número de moradores, levando em consideração diversas fontes de renda. Pernambuco, com seu rendimento per capita de R$ 1.113, está abaixo da média nacional de R$ 1.893, evidenciando uma diferença de aproximadamente 41%. Além disso, o estado se encontra a uma distância significativa do líder do ranking, o Distrito Federal, que registrou um rendimento per capita de R$ 3.357. Ranking Rendimento nominal mensal domiciliar per capita da população residente, segundo as Unidades da Federação – 2023 (em R$): Nota: Os valores foram obtidos a partir dos rendimentos brutos de trabalho e de outras fontes, efetivamente recebidos no mês de referência da pesquisa, acumulando as informações das primeiras visitas da PNAD Contínua feitas no 1º, 2º, 3º, e 4º trimestres de 2023.

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"Não vendemos só o maltado, nós proporcionamos boas lembranças".

Fundada por Fidélio Lago, um imigrante de Cuba, As Galerias funciona há 95 anos no Bairro do Recife. O neto do fundador, Jorge Gomes, conta como uma bebida e um bolinho de receita cubana conquistaram o paladar do recifense a ponto de a lanchonete se tornar patrimônio da cidade. Uma bebida, originária de Cuba, ostenta a proeza de ser patrimônio cultural, gastronômico e imaterial do Recife. Mas é um reconhecimento bastante compreensível e justo, afinal o maltado, produzido na lanchonete As Galerias desde 1928, faz parte da memória afetiva de muitos recifenses e se incorporou ao paladar da cidade tanto quanto uma tapioca. Sua receita, trazida na bagagem do imigrante cubano Fidélio Lago, tem como segredos o malte retirado da amêndoa do cacau e o sorvete de baunilha, ambos produzidos na lanchonete. Outro sucesso é o bolinho cubano, que traz uma cobertura de malte, castanha e amendoim granulados. Boêmios, assíduos frequentadores da agitada noite do Bairro do Recife de décadas atrás, eram os principais clientes d’As Galerias, quando ela ainda funcionava no edifício conhecido como “Ferro de Engomar” (que sediou o Instituto Cultural Santander). Hoje, a lanchonete está na praça do Arsenal, mas Jorge Gomes, neto do fundador Fidélio, sonha em retornar ao antigo endereço. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ele fala da trajetória do empreendimento que atrai uma clientela em busca do famoso maltado e até turistas interessados na sua história, ilustrada em antigas fotografias que adornam as paredes da lanchonete. Emocionado, Jorge também ressalta o significado de manter a tradição do negócio – “eu atendo famílias por várias gerações: o avô trouxe o pai, o pai trouxe o seu filho e o filho está trazendo o neto”. Um negócio que tende a se perpetuar com as filhas Vanessa e Vitória. “Elas já sabem fazer muito bem o Maltado”, assegura, orgulhoso. Como teve início As Galerias? A lanchonete foi fundada pelo meu avô, Fidélio Lago, que veio de Cuba e chegou no Recife em 1928 e, como um bom cubano, trouxe suas "especiarias", entre elas, o maltado que até hoje sobrevive e é o nosso carro-chefe. Inicialmente a lanchonete era localizada numa construção histórica do Bairro do Recife conhecida como “Ferro de Engomar”. O imóvel liga as avenidas Marquês de Olinda e Rio Branco. As Galerias ficava no número 58 da Marquês de Olinda, no piso térreo, era uma passarela ligando uma avenida à outra. Daí vem o nome. Ficamos nesse local por 74 anos. Em 2003, tivemos que entregar o prédio à seguradora a quem o edifício pertencia e fomos para a Rua do Bom Jesus. Em seguida, mudamos para a Rua da Guia, nº 183, onde permanecemos até o imóvel ser vendido após o dono falecer. Mudamos, então, para a Rua da Guia, nº 207. Estamos aqui há quatro anos, mas meu desejo é, em algum momento, voltar ao primeiro endereço, na Marquês de Olinda. Este retorno seria importante não só para As Galerias enquanto empresa, mas para os clientes e para a cultura e lembrança do Recife. Eu assumi a lanchonete em 2008, ao lado do meu pai, Antonio Gomes, que faleceu em 19 de outubro de 2012 com o desejo de transformar As Galerias em patrimônio. Em 2014, conseguimos tombar a lanchonete como patrimônio cultural, gastronômico e imaterial do Recife, resistimos à pandemia da Covid-19 e seguimos sempre trabalhando com respeito à nossa história e à tradição da cidade do Recife. Levamos isso muito a sério, é tanto que estamos aqui há 95 anos, exercendo essa atividade com muito respeito, muito carinho, atravessando gerações de pai para filho, abrindo mão de vida social, trabalhando quase todos os dias do ano, pois aqui só fecha no dia 1º de janeiro e na Quarta-Feira de Cinzas. Trabalhamos de domingo a domingo, sempre servindo o tradicional maltado. Qual o segredo do sucesso do maltado? De que ele é feito? Tem gente que pergunta “esse maltado é aquele que tem leite, Nescau, gelo e açúcar”? Eu respondo que não, isso é achocolatado. O maltado, por sua vez, se faz misturando leite com sorvete de baunilha e malte, que vem da semente do cacau. O malte é quase um xarope da semente do cacau, por isso tem essa saborosidade de chocolate, mas não é enjoativo, você pode tomar um litro tranquilamente e não enjoa. São vocês que produzem o malte? É uma receita nossa bem peculiar de fazer. A gente faz esse malte que leva um pouco de açúcar. O sorvete de baunilha também é uma receita nossa. Quando misturamos o sorvete, o leite, o malte e açúcar, fazemos essa bebida que é uma delícia. Você pode tomar todos os dias e não enjoa. É refrescante, saborosíssimo, por isso se mantém até hoje. O bolinho cubano é outro sucesso. De onde vem essa receita? O bolinho também é uma receita que nossa família trouxe de Cuba. Aqui na lanchonete, vendíamos sete ou oito dúzias desse bolo por dia. Sempre vendemos junto com o maltado. É uma receita da época em que não existia hambúrguer, x-burguer, por isso vendíamos muito. Como também não existia refrigerante. Além do maltado, vendíamos o ice cream soda, que era uma bebida gaseificada. Com o surgimento do refrigerante, as vendas do ice cream soda caíram, mas o maltado continuou persistente. E, nesse período, quem eram os clientes que frequentam As Galerias? De 1928 até meados dos anos 1960, o Bairro do Recife tinha vida noturna, nós tínhamos o Porto do Recife vivo e isso atraia o público à noite. O Recife Antigo era um bairro de baixo meretrício, até os anos 1960 ainda havia vestígios dos cabarés. Aqui era o que se conhecia por “zona”, termo originário de Zona Portuária, que culturalmente passou a ser associado a prostíbulo. Os frequentadores eram as pessoas da boemia. Eram os portuários, embarcadiços, despachantes, estivadores, os gringos que vinham para cá e também as pessoas daqui do Recife que queriam ter uma vida noturna e buscavam alguma forma de prazer. Vinham escondidinhos por aqui, faziam a farra, dizendo que

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30 Anos do Plano Real: Uma Jornada de Estabilidade Econômica

*Por Edgard Leonardo Lima e Paulo Alencar Há 30 anos, em um domingo dia 27 de fevereiro de 1994, o Brasil lançava o Plano Real, um plano econômico que mudaria os rumos do país. Nascia com ele uma nova moeda, o Real, que entrou em circulação no dia primeiro do mês de julho do mesmo ano. O plano foi certamente um divisor de águas na história econômica do Brasil, finalmente após vários planos fracassados, o Brasil encontraria a estabilidade financeira em meio às turbulentas águas da hiperinflação. Imagine viver em um mundo onde os preços mudavam tão velozmente que derrubavam o poder de compra da moeda, deixando o trabalhador atônito com a rapidez com que seu dinheiro perdia valor. Entre 1980 e 1982, a inflação no Brasil ficava na casa dos 100% ao ano, imagine que isso significava que as mercadorias, em média, dobravam de preço a cada doze meses, agora imagine novamente que essa inflação ainda era baixa, se comparada ao que ocorreria em anos seguintes. A década de 80 foi marcada pela estagnação do nível de atividade, por profundos desequilíbrios macroeconômicos e, em especial, pela hiperinflação; um processo de explosão de preços, combinado com baixas taxas de crescimento da economia. A inflação entre os anos de 1980 a 1993, medida pelo IGP-DI, atingiu o patamar médio de 438% a.a. (com picos de explosão ao longo dos meses). No ano de 1994, ano de lançamento do Plano Real, a inflação acumulada em 12 meses (mês de junho) foi de quase 5000%. Em 1º de julho de 1994 foi adotada efetivamente a moeda Real, substituindo o agora extinto, Cruzeiro Real, e em agosto do mesmo ano a inflação já estava em 1,86% (medidos pelo IPCA), uma queda significativa da inflação, o dragão parecia estar domado. Esse era o desafio enfrentado pelo trabalhador brasileiro nos anos 80 e início dos 90. Foi nesse cenário caótico que uma equipe de economistas entrou em cena para escrever um novo capítulo na história econômica do Brasil. Lançado em fevereiro de 1994 o Plano Real deu início ao combate da inflação com uma ideia inusitada, foi criada a URV – Unidade Real de Valor, uma unidade monetária temporária, introduzida no Brasil como parte do processo de transição entre o Cruzeiro Real e o Real, como conhecemos hoje. A URV tinha a função de ser uma "moeda virtual" que representava uma unidade estável de valor. Ela não era uma moeda física circulante; era, na verdade, utilizada como uma referência para precificação durante o período de transição para o Real. Sua principal finalidade era servir como uma âncora de estabilidade. Imagine que os preços agora, estavam sendo cotados em URV´s e assim aquela geladeira, que o trabalhador brasileiro desejava comprar, não mais subia de preços (em URV´s), apenas a cotação da URV era alterada. A verdade é que a estabilização econômica proporcionada pelo Plano Real contribuiu fortemente para a redução da pobreza no Brasil. Com a diminuição da inflação e a melhoria nas condições econômicas, a renda real das famílias mais pobres aumentou, permitindo-lhes adquirir bens e serviços básicos. O aumento no consumo, impactando o crescimento de setores como comércio, indústria e serviços, o que por sua vez gerou novas oportunidades de emprego e renda. Além do fato que, no bojo do Plano Real, foram lançadas as sementes de programas sociais ainda hoje importantes. Entre julho de 1994 e janeiro de 1996, período imediatamente após a implantação do Plano Real, segundo dados do IPEA – a proporção de pobres, no Brasil, declina de 38% para 29%, uma redução significativa. O Plano Real trouxe uma série de benefícios para a economia brasileira. A redução da inflação proporcionou uma maior previsibilidade e segurança para os agentes econômicos, estimulando o consumo, o investimento e o crescimento econômico. A estabilização monetária contribuiu para a melhoria das condições de crédito, incentivando o acesso a financiamentos e impulsionando o mercado interno. Além disso, o Plano Real trouxe confiança aos investidores, tanto nacionais quanto estrangeiros. A estabilidade econômica fortaleceu a imagem do Brasil como um destino atraente para negócios e investimentos, aumentando o fluxo de capital para o país e impulsionando setores econômicos diversos, além dos impactos sociais. De fato, a porcentagem de brasileiros que viviam na pobreza diminuiu e a distribuição de renda registrou pequena melhoria nos anos imediatamente após o Plano Real, e certamente muito mais poderia ter sido realizado nestes trinta anos. Porém, é fato que hoje, quando tiramos uma cédula de Real do bolso, estamos segurando não apenas dinheiro, mas um pedaço da história brasileira. Uma história de desafios, e acima de tudo, uma história de sucesso daqueles que idealizaram e participaram da implantação do Plano Real no Brasil. Edgard Leonardo Lima e Paulo Alencar são economistas

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Copergás anuncia plano de investimento perto de R$ 1 bilhão até 2029

A Companhia Pernambucana de Gás (Copergás) tem no seu plano de investimento até 2029 a pretensão de investir R$ 986 milhões. O salto é de 65% em relação ao anterior, que previa um montante de R$ 596 milhões. Alvos dos recursos da companhia neste ciclo Os cinco principais pilares de atuação da Copergás envolvem a consolidação do gás natural em Pernambuco, promovendo uma maior disponibilidade para residências e empresas; o impulso ao crescimento econômico em microrregiões do estado ou em setores específicos, especialmente na indústria; a promoção do gás natural como uma fonte na transição energética para a mobilidade; o fomento à sustentabilidade do gás natural, explorando seu potencial como um combustível ambientalmente responsável e essencial na transição energética; e a busca pela inovação no setor de gás natural, por meio da transformação da cultura organizacional para estimular a inovação, do reforço na capacitação de colaboradores e parceiros estratégicos, e da revisão dos procedimentos internos. Números da Copergás A empresa possui atualmente a quarta maior clientela de gás encanado residencial do Brasil. O novo ciclo de investimentos nesse patamar é possível devido a nova política de dividendos da companhia, que reduziu a distribuição da companhia aos seus acionistas (o Governo do Estado e a Mitsui Gás e Energia do Brasil). O anúncio foi feito em reunião com a presença do diretor-presidente Felipe Valença, da vice-governadora Priscila Krause e do CEO da Mitsui Gás e Energia do Brasil, Tadaharu Shiroyama, da diretora administrativa financeira da Copergás, Taciana Danzi Amaral, e do diretor técnico comercial da Copergás, Roberto Zanella

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Intenção de consumo das famílias cai no País, mas percepção da economia segue positiva

O indicador Intenção de Consumo das Famílias (ICF), publicado nesta semana, registrou queda em fevereiro. Trata-se da terceira seguida. O índice, que é calculado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), foi de 105,7 pontos, que é 0,5% a menos que o mês anterior. Apesar de estar acima de 100 pontos (que indica uma percepção geral de satisfação com as condições econômicas), o recuo é um sinal de alerta da preocupação das famílias com o endividamento dos últimos meses. A pesquisa indicou que a redução da intenção de consumo aconteceu principalmente nas famílias com renda abaixo de dez salários-mínimos (até R$ 14.120), que representou um recuo de 0,6%, enquanto que para os grupamentos familiares com renda acima de dez salários-mínimos, a redução foi de 0,1%. A pesquisa é feita em todo o país, com uma amostra de 18 mil consumidores. Se a intenção de consumo está em queda, a avaliação da população sobre a inflação, um dos indicadores mais relevantes para o equilíbrio da economia brasileira, é de que está controlada. O estudo indicou também a percepção de um crescimento na população empregada no País. Expo Franquias Nordeste terá 80 expositores no RioMar Recife Aqueles que desejam iniciar um novo empreendimento, mas estão em dúvida por onde começar, têm uma excelente oportunidade ao participar da Expo Franquias Nordeste (EFN 2024). O evento está programado para ocorrer de 21 a 23 de março, no RioMar Recife, das 14h às 21h. Em sua quinta edição, a exposição retorna à capital pernambucana, após ter sido realizada em Fortaleza no ano anterior. O espaço de exposições contará com mais de 80 marcas de franquias, e haverá também dois eventos paralelos: o Franchising Talks e o Congresso de Franquias & Varejo Norte e Nordeste da Associação Brasileira de Franchising (ABF). Os visitantes podem esperar a presença de expositores nos setores de alimentação, casa e construção, entretenimento e lazer, hotelaria e serviços, limpeza e conservação, moda, saúde, beleza e bem-estar, serviços automotivos, serviços educacionais, comunicação, informática e eletrônicos, entre outros. O credenciamento para a feira já está disponível no site https://expofranquiasne.com.br. Leilão da Caixa oferece 285 imóveis com descontos de até 75% em todo Brasil A Caixa Econômica Federal está promovendo um novo leilão de imóveis em todo o Brasil, proporcionando diversas oportunidades para investidores e compradores. Com um total de 285 imóveis disponíveis, este leilão destaca-se pelos descontos substanciais oferecidos em relação aos valores de mercado, chegando a alcançar descontos de até 75%. O leilão será conduzido em duas etapas, cada uma oferecendo descontos progressivamente mais atrativos. Na primeira fase, agendada para o dia 06 de março de 2024, os participantes terão a oportunidade de adquirir propriedades com descontos de 40% em relação à avaliação de mercado. Já no segundo leilão, programado para o dia 15 de março de 2024, os descontos aumentarão para 75% em relação ao valor estabelecido no primeiro leilão. Artesanato de Talentos e Camarim Expopreta incrementam renda de empreendedores comunitários na temporada de Carnaval O Instituto João Carlos Paes Mendonça de Compromisso Social (IJCPM) encerrou a temporada de Carnaval com resultados positivos em suas iniciativas de fortalecimento do empreendedorismo comunitário nos espaços colaborativos do RioMar Recife. A loja Artesanato de Talentos, em parceria com a Fecomércio-PE, registrou um faturamento de aproximadamente R$ 80 mil em um mês de operação, comercializando fantasias e adereços confeccionados por 19 artesãs e artesãos do Pina e Brasília Teimosa, resultando na venda de mais de mil peças. Localizada no piso L2 e sem custos de ocupação, a loja direcionou integralmente a renda obtida para os participantes do projeto. Paralelamente, o Camarim Expopreta, situado no piso térreo, ofereceu serviços de trançados e penteados conduzidos por afroempreendedores locais, como Fran Ferreira, Miqueline Batista e João Perfeito. Ao longo de 28 dias, de 13 de janeiro a 9 de fevereiro, foram realizados cerca de 300 atendimentos, contribuindo para o fortalecimento da comunidade empreendedora na região. Curso de Due Diligence em Contratos Imobiliários acontece na próxima semana O advogado Augusto Lócio, especialista em Direito Imobiliário e Diretor Jurídico do Sindicato dos Corretores de Imóveis de Pernambuco (Sindimóveis-PE), estará ministrando nos dias 28 e 29 o curso "Due Diligence nos contratos de Compra e Venda e de Permuta de Imóveis". Organizado pelo Centro de Estudos do Direito Imobiliário (Cesdi Cursos), o curso visa capacitar advogados, corretores de imóveis, investidores e interessados, fornecendo informações cruciais para a interpretação da matrícula de um imóvel e outros documentos essenciais desde o início da transação. O objetivo é proporcionar a segurança necessária para aqueles que desejam realizar uma negociação imobiliária altamente segura. As aulas acontecerão das 18h às 22h, no Empresarial Riomar Trade Center Torre 5, no Pina. Para mais informações, entre em contato pelo número 99377.1630.

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Ana Luiza Secretaria de Meio Ambiente Sustentabilidade e Fernando de Noronha

"Energias renováveis são necessárias, mas não podem ser implantadas a custo da Caatinga e das comunidades"

Secretária de Meio Ambiente, Ana Luiza Ferreira, explica a estratégia do governo para unir sustentabilidade e desenvolvimento econômico, fala da meta de reviver 80 nascentes de rios e das políticas para evitar a desertificação do semiárido e priorizar a justiça climática nos projetos energéticos. (Foto: Tarciso Augusto) Ana Luiza Ferreira, a secretária de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Fernando de Noronha, embora jovem, já tem uma longa carreira na iniciativa privada e em órgãos de fomento. Foi estagiária no Citibank, atuou no BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), passou pela Endeavor e trabalhou em consultoria com captação de financiamento no Banco do Nordeste e no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento). Ao ser convidada pela governadora Raquel Lyra para assumir a Semas, aceitou o desafio com o objetivo de trazer um olhar da nova economia sustentável regenerativa ao Estado. Nesta conversa com Cláudia Santos, ela aborda os programas governamentais: PerMeie (Plano Pernambucano de Mudança Econômica-Ecológica), que tem o objetivo de redirecionar a economia para um desenvolvimento inclusivo e sustentável, e o Plantar Juntos, que tem a meta de plantar quatro milhões de árvores. Ana Luiza também falou sobre as ações para o semiárido, que vão contar com recursos do Fundo Caatinga e do programa Floresta Viva Caatinga, divulgados na COP 28. A secretária ressaltou também sua preocupação de que os projetos de energias renováveis não sejam instalados sem a chamada justiça climática. “Comunidades produtoras, muitas vezes, estão deixando a vocação de produção rural para arrendar uma terra para torres eólicas. Se eu tiro essas pessoas dessas atividades, quem vai plantar com sustentabilidade, de forma agroecológica?”, preocupa-se a secretária que abordou ainda as políticas relacionadas à elevação do nível do mar, ao hidrogênio verde e à descarbonização. Na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 28), Pernambuco lançou, junto ao Consórcio Nordeste, uma proposta de criação de um Fundo Caatinga nos mesmos moldes do Fundo da Amazônia. Como estão as articulações nesse sentido? Já tínhamos o Fundo Caatinga e, na COP, a governadora lançou o programa Floresta Viva Caatinga, assinando junto com Aloizio Mercadante (presidente do Bando Nacional de Desenvolvimento), um protocolo de intenções de R$ 60 milhões – R$ 30 milhões não reembolsáveis do BNDES mais R$ 30 milhões do Governo do Estado – exclusivamente para o recaatingamento (restauro florestal na caatinga). Ou seja, além do fundo que já existia, entre as iniciativas do Governo junto ao Consórcio Nordeste e ao BNDES, temos o Floresta Viva Caatinga. O fundo e o programa são duas iniciativas que estamos amadurecendo com carinho, porque sabemos do potencial de capital ambiental e cultural no nosso semiárido. Para além do capital monetário, são necessárias pesquisas que nos deem mais clareza para usufruir melhor dessa área, quantificando, por exemplo, o potencial da caatinga para sequestro de carbono. Esse potencial é significativo, mas sempre foi subestimado, desacreditado ou negado, porque a caatinga era vista como um bioma pobre, sinônimo de escassez e, na verdade, é o contrário. Ela é rica em biodiversidade, com potencial enorme de explicar para o Brasil e para o mundo a resiliência, palavra da ordem em discussões referentes à adaptação às mudanças climáticas. Há um bioma mais resiliente do que a Caatinga que, com pouca água consegue manter sua biodiversidade e sua vida? Esses recursos já chegaram? Como está a implementação dessas iniciativas? Os encaminhamentos para o contrato já estão em curso por meio de reuniões com o BNDES. O protocolo assinado exige revisão da Procuradoria Geral do Estado e do jurídico e, com isso, já concluímos a viabilidade do programa. Agora estamos nas tratativas para destravar a fonte orçamentária. Está caminhando bem. Mas, o Fundo Caatinga, além de Pernambuco, depende dos outros estados que compõem o Consórcio Nordeste. Estive com o Governo da Bahia, que preside a Câmara Técnica de Meio Ambiente, e com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, para tratar do tema. A ministra propôs a criação do Fundo Biomas e tivemos a ideia de tornar nossa iniciativa um fundo bioma, mas começando pela Caatinga. Ano passado, com o início da gestão de Raquel Lyra, na reforma administrativa, aumentamos mais uma secretaria executiva e passamos de três para 10 gerências técnicas. Nessa estrutura, com uma nova visão de economia regenerativa, criamos gerências gerais de instrumentos econômicos verdes, de projetos especiais e a ESG. Desenhamos, ao longo do ano, dois grandes programas do meio ambiente de Pernambuco, em que todos os nossos projetos se encaixam em um ou em ambos. Um deles é o PerMeie (Plano Pernambucano de Mudança Econômica-Ecológica), cujo grande objetivo é fazer um redirecionamento do vetor de desenvolvimento de Pernambuco, reforçando que a política econômica do Estado não pode existir sem o olhar sobre a sustentabilidade, e a política da sustentabilidade não pode existir sem um olhar sobre desenvolvimento econômico, investindo, assim, num desenvolvimento que seja, de fato sustentável, regenerativo. E o outro grande programa é o Plantar Juntos, que tem um foco menos econômico e mais de restauração ambiental, com uma meta ambiciosa de plantar 4 milhões de árvores por meio de um amplo programa de conscientização da sociedade em todos os biomas. Então, muitas das nossas iniciativas têm, tanto a etiqueta do Plantar Juntos, quanto a etiqueta do PerMeie, mas algumas são mais direcionados a um ou a outro. Quais as medidas adotadas pelo Governo do Estado para evitar a desertificação do semiárido? Numa iniciativa conjunta Semas e Sdec (Secretaria de Desenvolvimento Econômico), relacionada ao PerMeie, com foco econômico, mas de extrema importância no combate à desertificação, contratamos um mapeamento e planejamento estratégico para a transição de Pernambuco de uma economia tradicional para a economia regenerativa. Esta nova economia do mundo afirma que a restauração florestal vai caracterizar a nova construção civil enquanto atividade que emprega muita gente com baixo nível de formação técnica. Como transformar isso em realidade? Teremos fontes que financiem pessoas para plantar árvores e manter a floresta em  pé? Isso não é utopia, existem fundos internacionais que podem  e querem pagar para isso. O primeiro passo é mapear o nosso

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Estados do Nordeste reivindicam retorno das ferrovias na região

Representantes do setor industrial e engenheiros de Pernambuco, Alagoas, Rio Grande do Norte e Paraíba se unem pelo retorno da Malha Nordeste e pelo trecho Salgueiro - Suape da Transnordestina *Por Rafael Dantas Há um ano os empresários pernambucanos iniciaram o movimento Transnordestina Já!, pela retomada do trecho pernambucano da ferrovia até Suape. Enquanto a articulação entre o Governo Federal, a empresa concessionária e os diversos agentes econômicos se desenrola, outra frente de batalha foi aberta. Desta vez, entidades técnicas e empresariais de quatro estados pedem a recuperação da antiga Malha Nordeste, que era o sistema sobre trilhos que conectava Alagoas, Pernambuco, Paraíba e o Rio Grande do Norte. A mobilização foi incendiada após a empresa FTL (Ferrovia Transnordestina Logística), responsável pela concessão da Malha Nordeste, solicitar à ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) a devolução da concessão. Apesar do estado de abandono atual do sistema, o engenheiro Maurício Pina avalia que a suspensão desse contrato pode ser ainda mais danosa do que qualquer perspectiva de retomada do modal. “No final do ano passado a concessionária solicitou a retirada da concessão de toda a malha ferroviária de bitola métrica dos estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas. Ou seja, um abandono dos quatro estados. Sacramentou a devolução da concessão. Em 2024, o que vamos fazer? É razoável aceitar essa condição absurda, trazendo sérios prejuízos para a economia da região?”, indagou o engenheiro. Em apresentação realizada para entidades como CREA (Conselho de Engenharia e Agronomia), Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção) e Federação das Indústrias dos quatro estados, Maurício Pina contou toda a história de formação e abandono da ferrovia. Antes da privatização, em 1998, a região contava com uma vasta malha ferroviária que atravessava as fronteiras dos estados, conectando os grandes portos da região. Do total de 4.238 quilômetros de malha ferroviária assumidos pela concessionária, em menos de dois anos, apenas 2.750 quilômetros permaneciam operacionais. Ou seja, praticamente um terço de todo o sistema estava parado já no ano 2000. O fim das operações em 2013 nos quatro estados contribuiu para a degradação mais acentuada do sistema. Os relatos dos empresários de Pernambuco, Alagoas, Paraíba e do Rio Grande do Norte é de que vários trilhos foram arrancados. Muitas estações foram destruídas ou ocupadas irregularmente. Alguns prédios se tornaram espaços culturais ou abrigam outros serviços públicos. Porém, o uso logístico para que foram construídas essas estruturas foi completamente abandonado. “Nesse plano que a concessionária prevê há um inteiro desequilíbrio intraregional, pois o Porto de Pecém passará a ser alimentado por 2.446 km de ferrovias (sendo 1.207 de São Luiz, no Maranhão, e 1.239 km vindos desde Elizeu Martins, no Piauí), enquanto isso, os outros Estados da região vão ficar com zero quilômetros de ferrovia”, denunciou Maurício Pina. Em consequência disso, todas as conexões passaram a ser rodoviárias. E os portos dos quatro estados ficaram isolados de modais mais eficientes, dependendo de caminhões para fazer o transbordo de qualquer tipo de carga. Com perfil de atuação regional, como um hub do Nordeste, Suape é o principal prejudicado pela morte desse sistema, bem como pela amputação da linha que iria até Salgueiro dentro da Transnordestina. “Não se pode pensar em ferrovia sem malha e não se pode pensar em porto sem ferrovia. Não existe porto relevante no mundo sem ferrovia. O Nordeste não pode ficar excluído da infraestrutura nacional. É isso que está sendo proposto contra os estados do Nordeste Oriental”, criticou o consultor empresarial Francisco Cunha, integrante do movimento empresarial. ABANDONO E ISOLAMENTO Na primeira reunião oficial para mobilizar os empresários, além dos representantes de classe, a sede do Sinduscon-PE recebeu também o secretário de Desenvolvimento Econômico, Guilherme Cavalcante. De Natal, também representando o Governo do Estado, compareceu à mesa o secretário-adjunto da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Norte, Sílvio Torquato. Para os próximos encontros do grupo fica a expectativa desse movimento ser adensado pela presença de mais executivos estaduais. “Nós fomos condenados, porque de uma hora para outra, o Rio Grande do Norte ficou completamente isolado”, criticou o secretário Silvio Torquato. “Somos um grande produtor de sal, que descia para Pernambuco. E subia muito açúcar produzido aqui e muitos outros produtos. Havia uma ligação muito forte por essa malha litorânea ferroviária. Isso foi um crime contra o Rio Grande do Norte. Estamos lutando para soerguer o trabalho ferroviário”. O lamento potiguar e pernambucano também ecoa na Paraíba e em Alagoas. Lamartine Alves, presidente do Sinduscon-PB, reforça que é do conhecimento público que as ferrovias foram muito danificadas em vários Estados. “A malha ferroviária está esquecida no Nordeste. Foi desativada, invadida e danificada. É um absurdo. Isso trouxe uma deseconomia enorme para a região. Queremos que a União analise uma nova concessão para o bem da Paraíba, de Pernambuco, de Alagoas e do Rio Grande do Norte”, afirmou Lamartine. O açúcar, os combustíveis e o cimento seriam alguns dos principais produtos beneficiados pela operação ferroviária na Paraíba, segundo o presidente do Sinduscon-PB. Antônio Facchinetti, diretor do Clube de Engenharia de Alagoas, destacou a negligência em relação à malha ferroviária, abandonada desde 2013 no seu Estado. O engenheiro enfatiza que o setor industrial, incluindo a produção de cana-de-açúcar e coco, enfrenta dificuldades logísticas devido à falta de ferrovias. O engenheiro citou, inclusive, que algumas empresas já deixaram o estado por esse motivo. “O Brasil precisa demais das ferrovias. É o transporte de grandes escala, quantidades elevadas de carga não deveriam ser transportadas por caminhões. Muitos acidentes que têm acontecido nas rodovias, inclusive, seriam evitados se tivéssemos mais ferrovias. A quantidade de veículos de carga é muito grande, se existissem os trens isso seria muito reduzido. Algumas empresas, inclusive, saíram de Alagoas porque ficou inviável a dependência do transporte rodoviário”, afirmou Facchinetti, ressaltando a importância estratégica das ferrovias para o desenvolvimento econômico regional. Ele defende a necessidade de investimentos públicos para o setor. De acordo com o presidente da FIERN (Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte), Roberto Serquiz, diante da ausência do modal ferroviário,

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