Arquivos Raul Lody - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

Raul Lody

Farofa: sabores divinos (por Raul Lody)

Sem dúvida o brasileiro é um “comedor de farinha”, um apreciador da farinha de mandioca que se apresenta com variedade de tipos e de sabores. Porque  há uma espécie de intimidade do brasileiro com a farinha e assim o  hábito fundamental nas escolhas : farinha fina, grossa, muito granulada, branca ou  misturada com coco, com pimenta  com  açafrão entre tantos.   E com estas características as farinhas celebradas nas farofas também apontam para muitas possibilidades gastronômicas na organização de cardápios com carnes, com aves, legumes, frutas peixes. Sem dúvida é delicioso colocar no prato o molho da galinha de cabidela. e amassar uma pimenta fresca e assim adicionar `a gosto a farinha de mandioca, Misturar  provar e assinar esta farofa de prato. É um ritual que se inicia ao verificar se a textura e se o paladar desta criação, está no ideal aguardado do prazer  e do sabor . Não se pode dizer que a farofa é sempre um acompanhamento, ela é  muitas  o prato principal.., Pode-se adicionar farinha de mandioca em quase tudo: nas frutas, nas leguminosas, nos molhos; na pimenta amassada, no ovo, nos peixes; nas aves, nas carnes; no mel, melado; no leite, no açúcar; ou simplesmente pura;.  Farinha para se sentir o “bouquet”, a textura; a qualidade que caracteriza a sua procedência, o lugar, “terroir”, que determina, técnica, estilo., sabor e uso culinário.  A farinha acompanha o brasileiro no seu cotidiano e marca a trilogia arroz, feijão e farinha, encontros que fazem deste prato nacional  que é um dos mais nacionais para o brasileiro.. Destaque para as farofas especiais para integrar os cardápios das festas . Como a “farofa-rica”; quando se aproveitam os “miúdos” da galinha, que será assada, juntamente com manteiga, cebola entre tantas outras possibilidades de ingredientes.  Farofas com frutas secas e cristalizadas., com fruta sem calda, que integram cardápios de carnes assadas, de presuntos, de aves também assadas. Também, vê-se o uso de farofas como recheio para peixes assados inteiros, E que assim são recheados com farofa de ovos, camarões e com outros temperos.  Geralmente essas farofas fazem parte da categoria “molhada”, quando a farinha de mandioca absorve bem os seus complementos, geralmente molhos e ganha um valor tão significativo quanto o do prato principal. Trago um exemplo de farofa regional da Bahia, da área do Recôncavo, que texturas e mostra mais um uso do azeite de dendê, no caso com o sedimento do azeite, que é o bambá. E com o bambá se faz uma deliciosa farofa, a farofa de bambá . Esta farofa reúne farinha de mandioca cebola, sal e o bambá. Para acompanhar feijão de azeite, xin-xin de galinha, moquecas e tudo que a boca possa gostar com dendê.  Muito comum, ainda, é o emprego da farinha de mandioca como um tipo de espessante, o que resulta numa verdadeira “liga” entre tudo que estiver no prato. Se a comida é mole, uma quiabada, por exemplo, a farinha dá uma consistência especial, pois quando é bem misturada ao prato e ela acrescenta novos e especiais texturas e sabores. Ainda há ainda o hábito de se comer caruru de quiabos com farinha de mandioca, uma delícia. Outros exemplos sobre a “liga”: no prato está com o feijão, o arroz, o macarrão – espaguete –, quando a farinha faz ´a vez do queijo parmesão, e ainda com um pedaço de carne guisada envolta na farinha na tão querida “roupa velha” e outras comidas que ganham sabores especiais quando combinados com a farinha seca de mandioca.  *RAUL  LODY é antropólogo | Foto de Fernando Sabino

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Uma Tese sobre o Nordeste Patriarcal para celebrar os 123 anos de Gilberto Freyre

Gilberto Freyre forma um novo olhar e um sentimento de nacionalidade a partir das relações sociais nos ambientes da multiculturalidade brasileira, com ênfase no Nordeste. E assim. Gilberto assume um caminho auto etnográfico e se torna também protagonista dos seus relatos sobre a intimidade das casas patriarcais. É um auto olhar que recupera a sua ancestralidade patriarcal nos depoimentos de familiares e de um contexto profundamente novo e transgressor que marcam os anos 1920.A busca por um entendimento de Nação nos cenários mundiais de também buscas pelas matrizes da pluralidade etnocultural com os movimentos artísticos do surrealismo, do dadaísmo, do fauvismo e as novas estéticas, os novos contextos e alargamentos das paredes reais de pedra e cal e das paredes simbólicas e dos limites e das possibilidades de tocar no outro, no diferente. As descobertas de Gilberto na sua história de vida e nas suas relações na casas, trazem descritivos que cruamente revelam os hábitos higiênicos, a sexualidade, o gênero e as classes sociais ,quase “castas”.Em destaque as relações sociais em bases econômicas para a afirmação de identidades e de papéis sociais na casa patriarcal e nos contextos ampliados na região. E assim fala Gilberto : “Alfredo de Carvalho, por exemplo _ para poderem comer , na velhice de fidalgos arruinados , o queijo-do-Reino e a passa a que se haviam habituados nos dias de esplendor , terem precisado de vender móveis e livros raros , pratas e joias de família “. Essa intimidade que Gilberto revela dá um retrato cru e direto dos muitos significados de viver na casa e interagindo com as suas diversas ritualidades cotidianas e na ruptura também ritual e afirmativa das festas e do sagrado . Também as funções de gênero nas casas , ou lugares hierarquizados de homens e de mulheres, e a temporalidade nos papeis sociais que determinam as funcionalidades de crianças e de velhos nas casas de pedra, de madeira ,de ferro, e de cal e nas casas simbólicas . As revelações da intimidade, os verdadeiros sentidos de viver em família , as ritualidades da casa, além do teatro social da igreja, da festa, das visitas de viver à mesa E diz Gilberto :” (…) o quase secreto de viver nas alcovas ,das relações entre iáiás e as mucambas ,entre pais e filhos “.das cozinhas “. A moral , o céu sempre numa Igreja dominadora, com os santos , com os ancestrais representados nos seus retratos e morando nos oratórios , lugares de trazer culto ancestral s e as histórias familiares . A tese que celebra 100 anos está no processo de análise da “new history”, uma história social , cultural além dos fatos épicos, dos heróis , onde a pessoa é o cento da história nas suas múltiplas relações humanas e sociais Neste contexto é importante citar um artigo de Gilberto, no Diário de Pernambuco , publica seu artigo “Pirão Glória do Brasil” que afirma como é necessário um monumento ao pirão .E assim mostra um forte sentimento telúrico e moderno, profundamente moderno. As experiências internacionais de Gilberto ampliam o seu olhar brasileiro para o Brasil e em especial para o Nordeste. É preciso estar no Brasil e fora do Brasil para entender o Brasil. A história e a antropologia de Gilberto mostram novas formas de ver os rituais secretos das casas e assim organizar um modelo de nacional. E isso afirma o que diz Braudel” (…) o estudo do passado humano fazia-se necessário aplicar critérios diferentes dos convencionais”. Nesta construção de métodos e de conceitos da cultura que atesta singularidades, temas da vida cotidiana, é destaque no artigo de Gilberto ‘Vida Social no Nordeste Brasileiro (1825-1925) “publicado em 1925 por ocasião da celebração do 1º centenário do jornal Diário de Pernambuco. As pesquisas etnográficas e auto etnográficas em Gilberto Freyre reúnem amplos acervos sociais e culturais que são organizados nas suas obras fundamentais como Casa-Grande& Senzala, Sobrados e Mucambos e Ordem e Progresso. Na tese , Gilberto traz a imagem como forma sensível e linguagem para interpretar e mostrar os temas da cultura material. “(…) para interprestar todo o inventário litográfico que lhe tem sido possível reunir sobre pessoas , sobre casas, sobre móveis, sobre paisagens(…)” O entendimento de paisagem está nos entornos ecologicamente representados e nas paisagens sociais, nas relações urbanas, nas cidades e suas interações com as casas, com as pessoas. Nasce assim um processo generoso para entender o outro, para transitar na diversidade, naquilo que é diferente numa verdadeira busca pela alteridade. Os desafios estão ainda no olhar vitoriano vigente e orientador para representar as relações sociais e familiares e é preciso transgredir estes limites .Gilberto é um inovador , um revelador na busca pelo outro e mostrar pelo olhar antropológico um modelo de formação regional untada de açúcar e de vícios na sexualidade, no catolicismo íntimo com os santos da casa, quase promiscua. Todos estes temas fundamentais para o conhecimento da família patriarcal são ampliados em Casa -Grande & Senzala, num roteiro brasileiro para o que se começou a entender por brasileiro. Ainda as questões referentes a mundialização pelas relações comerciais e com as maneiras de importar hábitos nas casas, nas roupas, nas comidas, nos comportamentos sociais e na dinâmica das relações entre os gêneros para atualizar e viver o moderno nas famílias patriarcais. ‘( … ) na formação de hábitos à época a importação da Inglaterra, da França. de Hamburgo de artigos elegantes de uso pessoal ,de móveis e espelhos para as salas aristocráticas ou burguesas , de alimentos, , vinhos e cervejas e licores considerados finos e capazes de dar prestígio às mesas de casas de família(…) “ Assim ampliadas as relações pelo consumo de bens para a casa e os costumes pessoais vive-se confrontos com as bases etnoculturais formadoras do brasileiro . “(…) homem situado, que podendo ser o situado no trópico, como é o brasileiro e de povos afins do brasileiro pode ser caracterizadas ou condicionadas por outras ecologias . a do homem de origem hispânica ou ibérica a quem juntariam

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A Casa de Pai Adão, Opeatanã.

Uma homenagem ao babalorixá Manoel Costa  O Sítio, terreiro Obá Ogunté, é um conjunto de construções e de espaços sagrados destinados ao culto dos orixás, seguindo o modelo litúrgico Nagô, genericamente conhecido com Iorubá, mantendo um elenco de divindades que são perpetuadas pela ortodoxia dos rituais, onde se destaca, entre as muitas cerimônias, o chamado Presente de Iemanjá ou Panela de Iemanjá.  O terreiro é consagrado a Iemanjá, divindade das águas do mar.  Une-se, assim, a realidade da cidade do Recife, entrecortada de rios e com um litoral atlântico, com o patronato de Iemanjá.  As águas compartilham o cotidiano do recifense, e Iemanjá também está presente nesse cotidiano indivisível do sagrado e do profano. O terreiro é o local das reuniões, e onde são reativados os laços de parentesco de santo, os laços de parentesco consanguíneo, e também são mantidos todos os elos necessários ao culto dos orixás; suas liturgias, suas festas, comidas, danças; música vocal, música instrumental, indumentárias, vocabulários; posturas hierárquicas, sistemas de poder, processos adivinhatórios, medicina, ludicidade; enfim, é o local onde a memória afro-brasileira é aquecida através dos rituais, que podem ser diários e cíclicos. O terreiro é ainda espaço físico destinado á guarda das crianças e dos idosos. Percebe-se uma organização assistencialista latente no próprio sistema de poder do terreiro.  Tudo gira em torno da hierarquia.  Os mais velhos que sabedores de rituais, e conhecedores das histórias, são muito respeitados; por sua vez, as crianças são encaminhadas aos saberes da música, dança, brinquedos, histórias, tendo sempre a referência básica _ o orixá _ seu domínio, seu patronato, sua ação direta na vida do homem. O espaço público _ salão _ barracão de festas, obedece ao rigor da arquitetura original, o mesmo acontecendo com os compartimentos germinados ao barracão, como a cozinha, a sala de visita e quartos.  Também há a capela, aos moldes católicos, e o peji, o local mais sagrado dos compartimentos, completam  o conjunto de habitações do terreiro.  Algumas casas de taipa existem afastadas do núcleo religioso, são moradias das pessoas do próprio terreiro. Nesse amplo conjunto de espaços sagrados, destaca-se a fitolatria como outro significativo momento religioso do culto aos orixás.  Aí se vê a gameleira ou o pé de Iroko.  Iroko _ divindade que habita o tempo_ é o próprio tempo meteorológico e cronológico, é o senhor da gameleira, árvore de grande respeito por parte dos adeptos do terreiro.   A gameleira é uma árvore sagrada e rara.  No Recife, é este o único terreiro que possui e que mantém os preceitos rituais do culto ao orixá Iroko.  Ainda no campo da fitolatria, observa-se no terreiro as ervas litúrgicas, plantadas em jardim especial, contendo as principais folhas dos rituais, aquelas usadas nos amassi; nos abôs, nos banhos, nos sacudimentos; nas feituras de Iaôs, também para os remédios mais simples e para os adornos do peji e do barracão de festas. Dessa maneira, cada elemento dos rituais tem um significado prescrito, há um conhecimento especial da comida, da música, das folhas, das passagens da iniciação; e para cada controle há um nível de conhecimento, há um cargo específico, determinado no complexo da hierarquia sociorreligiosa.  Esses cargos têm iniciações específicas e são ocupados por pessoas escolhidas pelos orixás, e que também por vínculo familiar têm uma tradição da ocupação de determinados cargos no terreiro.  Isso é comum com os ogãs, músicos, com os Olossães, sacerdotes de Ossãe_ divindade das ervas litúrgicas e medicinais. O terreiro é organizado para o culto dos diversos orixás, cada um deles com aspecto próprio, estabelecendo seus gostos e preferências por cores, materiais, formas, músicas, danças, alimentos. Os objetos rituais carregam a marca dos orixás, e, para atender ao elenco de objetos que compõem a cultura material dos terreiros, existem aquelas pessoas que se dedicam ao artesanato de ferramentas de santo, objetos de assentamento.  Confecção de ilus, instrumentos musicais. Costureiras que fazem as roupas dos santos, enfim, uma equipe artífices, conhecedores dos rigores e gostos dos orixás, suas marcas visuais, texturas preferidas, objetos necessários.  Aí se notam alguns artesãos-sacerdotes, visto o alto significado dos objetos para a religião, sua ocupação nos pejis, sua sacralidade por meio de rituais específicos. O sincretismo religioso afrocatólico é outro aspecto decisivo na organização modelar de terreiro.  O santo católico e sua ligação com o deus africano é íntima no processo desaculturação da mitologia africana, no caso, a Iorubá.  Assume, então, o santo católico lugar comum do orixá, e, em muitos casos, no pensamento religioso dos terreiros, é indispensável o santo do orixá.      São muitas as comidas que formam os cardápios dos orixás. São comidas especialmente preparadas pela iabassê, mulher iniciada, preparada para alimentar os deuses e a comunidade do terreiro.     Cada ingrediente, tempero, quantidade, técnica culinária, e estética do prato, tem um significado, e assume um valor na liturgia da alimentação. É tradição nos terreiros comer bem, e muito, pois a fartura das comidas é uma marca do sentido de que a natureza é capaz de prover e de nutrir os homens. Nutrir também os orixás com os seus pratos especiais. Sem dúvida, há uma comunicação intensa entre as cozinhas dos terreiros e as cozinhas das casas; entre os cardápios do cotidiano e o cardápio das festas. Nesses muitos e variados cardápios estão as comidas de dendê, o uso de temperos tradicionais africanos como o atá ou ataré que é a pimenta da costa; os frutos, obi e orobô; e as favas lelecum e bejerecum; o quiabo e o inhame, também africanos. Produtos nativos, da terra, como o milho, a mandioca, o feijão; carnes de diferentes animais; e produtos do mar, especialmente o camarão; unem-se aos temperos para formar comidas saborosas, pois a maioria das comidas dos orixás são as mesmas partilhadas pelos homens. Exemplo de comida ritual que pertence ao orixá Xangô é o begueri, prato feito à base de quiabo, camarões secos, azeite de dendê, carne de boi e muita pimenta.  Este prato é servido numa gamela redonda de madeira. Gilberto Freyre se lembra de Adão, Pai Adão, conhecido no Xangô de

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Doce Presente (por Raul Lody)

“Vinte e quatro de dezembro Meia noite deu sinal, Rompe aurora a primavera Hoje é noite de Natal.” (poesia popular) Entre as festas populares brasileiras, sem dúvida, aquelas que fazem o ciclo natalino, reúnem milhares de pessoas que experimentam manifestações de teatro, dança, cortejo, música e gastronomia, revivendo histórias, fatos e personagens que traduzem o nascimento do Menino Deus. Cada cidade, lugar, comunidade assume estilo e maneira de interpretar o grande evento do mundo cristão; pois, a festa é síntese e culminância do dia-a-dia, quando as pessoas viram personagens, quando um tempo especial comove e reúne, trazendo ancestralidade e memória que atualizadas renovam os rituais sociais. Presépios artesanais em barro, madeira, fibras naturais, materiais reciclados mostram diferentes interpretações regionais sobre a cena do nascimento do Menino Deus. Às mesas cardápios vindos de Portugal, constando de frutas secas ou cozidas como as castanhas; assados de porco, peru, cabrito e galinha; doces, destacando-se as rabanadas, indispensáveis nas ceias da noite de 24 para 25 de dezembro. É assim, com festas nas ruas e nas casas que o nosso Natal é rico e variado nas maneiras de lembrar e louvar o nascimento do Menino De “Meu São José Dai-me licença Para o Pastoril brincar Viemos anunciar, Jesus nasceu para nos salvar.”  (poesia popular)        No imaginário cristão, a cena do nascimento do Menino Deus é o maior símbolo de vida e de renovação da humanidade. O primeiro presépio foi organizado com personagens vivos, verdadeira dramatização religiosa que ocorreu em Grécio, na Itália em 1223, por uma iniciativa de São Francisco de Assis. A partir desse evento que marcou os cristãos, em muitos povos, anualmente os presépios são montados nas casas, em áreas públicas, nos shoppings entre outros. Popularmente chamado de lapinha, o presépio é regionalmente interpretado, recebendo personagens locais e elementos decorativos como folhas aromáticas da pitangueira (Eugenia Pitanga), dando assim caráter tropical brasileiro. É costume e tradição na noite de Natal o oferecimento de presentes entre amigos e familiares, lembrando dessa maneira a visita e os presentes oferecidos pelos três Reis Magos do Oriente que foram até Belém, na região da Palestina, conhecer o Salvador que nascia em um presépio. “Abris a porta Se queres abrir Que somos de longe Queremos nos ir.” (poesia popular) Especialmente na Península Ibérica, Portugal e Espanha, o dia 6 de janeiro é considerado o dia dos presentes, marcando a chegada dos Reis Magos que ofereceram incenso, ouro e mirra, respeitando o nascimento de um outro Rei. Os doces no tempo do ciclo natalino estão nas mesas em variados cardápios ou estão em alguns casos compondo árvores de Natal como biscoitos feitos em formatos de estrela, anjo e demais símbolos de um modelo de festejar europeu. Isso ocorre na região sul em área de forte presença de imigração alemã, como também são comuns um tipo de bolo chamado de cuca ou de cuca alemã. Cuca alemã 1 kg de farinha de trigo 1 xícara de açúcar 4 tabletes de fermento 1 colher de sopa de sal 4 colheres de sopa de manteiga 3 ovos 3 gotas de essência de baunilha 2 xícaras de água 100 gr. de passas 100 gr. de frutas cristalizadas canela em pó Misture a farinha de trigo, o açúcar, o fermento, a baunilha, a manteiga e canela em pó e em seguida com a massa pronta acrescentam-se as passas e as frutas cristalizadas. Continue o processo da massa e coloque em formas untadas de farinha, levando ao forno para assar, resultando em 5 cucas de 400 gramas. Rabanadas Também conhecida como fatias douradas e fatias de parida, as rabanadas são preparadas com:  pão, ovos, fermento, sal, leite de vaca, açúcar, canela e óleo. As fatias de pão são embebidas no leite açucarado e depois são envoltas nas gemas e em seguida seguem para a fritura, retirando-se a gordura excedente. Depois são pulverizadas com açúcar e canela. *RAUL LODY é Antropólogo. Foto: Fernando Sabino

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Feijão de Azeite: com dendê e arte.

*Por Raul Lody É comum dizer: “vou fazer feijão”. E com essa intimidade, localiza-se o que é “fazer feijão”.  Pois feijão é um símbolo da casa, da cozinha, do cotidiano. Uma comida que está na grande maioria das mesas brasileiras. Então detalhamentos de um imaginário que individualiza qual é o tipo de feijão e a sua receita culinária. E assim posso fazer feijão magro; fazer feijão de leite, diga-se ao leite de coco; feijão de azeite, e com essa característica já se sabe, no caso dos baianos, que o feijão é do tipo fradinho e temperado com azeite de dendê. Assim o feijão de azeite faz a base dos cardápios para as outras receitas com dendê, o mesmo ocorrendo com a farofa de dendê. Dessa maneira retoma-se a harmonização feijão e farinha de mandioca .Essa opção de se comer é a opção mais geral e nacional que encontramos na união do feijão e da farinha, diga-se feijões e farinhas de muitos e diferentes tipos, cores, formas e  sabores . As comidas “de azeite” integram receitas de carnes, peixes, aves, legumes, todas celebradas no dendê, que também é chamado de “azeite de cheiro”. O de oliva chama-se de “azeite doce”, também um ingrediente tradicional destas mesas reinventadas na matriz africana que compõe com a mesa ibérica e mediterrânea. A mão africana misturou o leite de coco ao dendê, ao azeite de oliva, também pela África Magrebe, e assim nascem diferentes sabores afrodescendentes.  Como também nas interpretações das pimentas frescas e secas, e outros temperos como, por exemplo, cominho, urucum; “egussí”, que é a semente da abóbora ou da melancia, torrada e salgada, usada para destacar o cheiro, a cor e o gosto das comidas. Embora o feijão de azeite esteja presente na tradição da mesa baiana, no clássico “A arte culinária da Bahia” (1928), de Manuel Querino, os pratos com feijão apresentados pelo autor, que viveu e realizou suas etnografias, século XIX,  na cidade do São Salvador, são  os da feijoada e do feijão de leite.Não citando  a  receita   que se conhece por feijão de azeite.  . Como acontece com a maioria dos pratos “de azeite”, há uma presença marcante do camarão defumado, e certamente do molho de pimenta fresca para aguçar os sabores.  A mistura do feijão fradinho com o camarão defumado está no abará, por exemplo, e que se complementa na pimenta e no dendê. Também pode-se ver o acarajé como uma elaboração do feijão e do dendê. E ainda com dendê os recheios do vatapá de acarajé, diferente do vatapá de mesa, do camarão defumado refogado e no próprio molho do acarajé . Então para se fazer o feijão de azeite segue-se um roteiro que começa com o  feijão fradinho que é bem cozido e na sequencia vai para o refogado, sem o caldo; e, na receita tradicional, são acrescentados: camarão defumado, cebola, coentro, dendê, sal. Ainda deste processo culinário de se fazer o feijão de azeite, a água do cozimento, que é a água escorrida do feijão fradinho, poderá ser a base de um tipo de sopa que é complementada com legumes, carne “verde” ou fresca geralmente de boi, algum embutido entre outros ingredientes.  A partir da receita do feijão de azeite, há uma receita de amplo uso ritual religioso chamada de omolocum, que é uma das comidas preferidas   do Orixá Oxum. O feijão é muito cozido e refogado com cebola, camarão defumado e dendê.Quando esta etapa está realizada este feijão é colocado em um utensílio de louça onde  são acrescentados ovos cozidos inteiros , pois o prato com estas características  assume seu conceito estético,  e assim segue para o seu uso  sagrado.    O feijão é tanto uma comida consagrada do dia a dia, e o feijão é também uma comida da festa e é ainda a base de muitas receitas rituais, fazendo com que  o nosso paladar  busque no feijão uma notável referência do sabor brasileiro. *RAUL LODY é antropólogo

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Sabores imigrantes sírio-libaneses

*Por Raul Lody Pode-se dizer que a comida é um grande argumento que a pessoa preserva para marcar e localizar sua história, sua sociedade, e, desse modo, definir-se naquilo que se entende por pertencer a uma cultura, a uma tradição. E deste amplo e diverso tema o Brasil entende muito bem, porque tem uma sociedade formada, principalmente, por imigrantes, desde os oficiais colonizadores que vieram de Portugal até as imigrações que foram organizadas no século XIX para cá, quando vieram os italianos, os japoneses, os sírios, os libaneses, entre outras culturas.Com tudo isso, o Brasil recebeu uma grande diversidade de sistemas alimentares que formaram diferentes cozinhas regionais aonde se encontram amplos acervos culinários que atestam a nossa multiculturalidade. São as matrizes etnoculturais que selecionam os ingredientes, seja por motivos nutricionais ou simbólicos. E, sem dúvida, está na comida o maior acervo de memórias afetivas, e representações distintas que fazem parte do ato sagrado da alimentação. Através da alimentação, e seus rituais de comensalidade, há o reconhecimento das identidades que dão sentido ao sabor, a sua funcionalidade, e o seu significado para as relações sociais.O Brasil reúne uma cozinha geral que é composta de muitas cozinhas imigrantes; e destaco o gosto e o hábito do brasileiro que se identifica com um amplo acervo gastronômico nominado por comida árabe.Há muito tempo, as comidas que trazem as culturas do Oriente Médio integram os nossos hábitos alimentares e, em especial, as receitas de sírios e libaneses. Destas comidas as que ganharam mais popularidade foram: o quibe, a esfirra, a pasta de grão-de-bico; o pão-boina ou pão-árabe; e a coalhada. O valor simbólico do quibe ou do pão kubs, que segue as técnicas dos preparos tradicionais e usam seus ingredientes especiais, faz com que cada comida seja um texto memorial que representa histórias coletivas, pessoas que distantes dos seus territórios se reconhecem a partir de sabores, de formas, de cores, de estéticas, que trazem as mais profundas referências do seu povo, da sua sociedade, da sua civilização.Um quibe deve ser preparado com ingredientes tradicionais como carne de cordeiro; burghul – trigo inteiro –; fulful bar – mistura com pimenta branca e pimenta preta –; cebola; sumak – tempero vermelho. Além disso, há ainda uma variedade de tipos de quibes, tais como: jublie, naie, irake. Aliado ao conceito de comidas que estão integradas aos nossos hábitos alimentares, cardápios que chegam com o crescimento das imigrações de populações do Oriente Médio, na sua maioria na condição de refugiados, e, em especial, os sírios; há uma nova busca por interpretações ou retomadas de receitas de maior relação com o terroir, com as assinaturas que definem identidade, singularidade nas cozinhas.Além de recuperar memórias coletivas, os ingredientes, as receitas, e o ato social da alimentação, têm um forte significado de celebração dentro das relações fundamentais de sociabilidades à mesa.Assim, palestinos, sírios, libaneses, turcos, e tantos outros imigrantes transitam com suas panelas e suas histórias pelo mundo para distribuírem experiências saborosas que fazem do ato de comer um encontro emocional, um tipo de viagem que amplia o conhecimento sobre a diversidade. RAUL LODY é antropólogo

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O caruru de Dª Magdalena Freyre

(Foto: Fernando Sabino) Muitas vezes os cadernos de receitas são textos especialmente preparados para os membros da família. Eles são textos pessoais, íntimos e autorais. D. Magdalena, mulher de Gilberto, preservou assim os seus acervos de receitas, que tinham também comentários sobre processos culinários e avaliações dos comensais, sempre nos próprios cadernos.As comidas selecionadas, que particularizam os cadernos, traziam histórias, sentimentos, preferências culinárias da família Freyre; e ainda mostravam cardápios temáticos que eram organizados para as festas e para o cotidiano. Estes cadernos dão um entendimento mais profundo do que era a casa de Apipucos. Certamente os cadernos de receitas colecionados por D. Magdalena já mostravam o seu estilo e tendência de entender a comida regional, sempre presente nos seus cardápios. Como exemplo, trago uma receita do Caruru: Ingredientes2 garrafas de leite de coco; 1 quilo de camarão descascado; 20 quiabos; gengibre; pimenta do reino; louro; 2 tomates picadinhos; 1 cebola picadinha; 1 colher de sopa de vinagre; azeite; alho amassado; pedaços de bacalhau moídos; camarões cozidos e moídos. Modo de fazerMisture parte do leite de coco com um pouco de água, mais gengibre, a pimenta, o louro, a cebola, os tomates, o vinagre, o azeite e o alho. Leve essa mistura ao fogo, rapidamente e coe. À parte, cozinhe os quiabos cortados em rodelas. Escorra a baba e misture ao molho coado. Adicione o bacalhau e o camarão e leve, novamente, ao fogo, acrescentando um pouco de azeite de dendê, de vinagre e meia xícara de farinha de mandioca. Mexa até engrossar um pouco. (Lody, Raul (org.). À mesa com Gilberto Freyre. Pag. 71). As nossas conversas sobre as comidas da casa de Apipucos, minha com D. Madalena, tiveram como tema inicial o arroz doce, um preparo com diferentes características, e do nosso gosto pessoal. Na verdade, trocamos algumas receitas experimentadas nas nossas casas: arroz doce com leite de coco; arroz doce com raspas de limão; arroz doce com gemas de ovos; entre tantas outras. Sempre com muita canela para cobrir as travessas. Lá, estar à mesa era um momento de comensalidade, de sociabilidades e, em especial, quando eram servidos os cardápios que promoviam estas relações, como, por exemplo, a feijoada, a peixada, o cozido. Tudo para ser comido de forma lenta e reflexiva. A isso se alia o sentido da comida na obra de Gilberto Freyre enquanto um verdadeiro método para se interpretar o Nordeste, especialmente Pernambuco. “Mas o bom pernambucano é que não se deixará facilmente se desenraizar da mais fina tradição culinária do Brasil. É um paladar, o seu, enobrecido por cento e cinquenta, duzentos e até quatrocentos anos de feijão de coco e de sabongo, de doce de caju e de vinho de jenipapo”. (Crônicas do Cotidiano. A vida cultural de Pernambuco nos artigos de Gilberto Freyre. Org. Carolina Leão. Diário de Pernambuco. 2009:65). E dessa maneira, Gilberto valoriza um estilo especial de colonização, que ele chamava de “luso-tropical”, onde os ingredientes do Ocidente e do Oriente dão um sentido especial a formação da nossa mesa desde a colonização, o que possibilita viver uma mesa mundializada. “Não é só o arroz doce: todos os pratos tradicionais do Nordeste estão sob ameaça de desaparecer (…). O próprio coco verde é aqui considerado tão vergonhoso como a gameleira, que os estetas municipais vêm substituindo pelo fícus benjamin, quando a arborização que as nossas ruas, parques e jardins pedem é a das boas árvores matriarcais da terra ou aqui já internamente aclimatadas: pau d'arco, mangueira, jambeiro, palmeira, gameleira, jaqueira, jacarandá. ” (Freyre, Gilberto. Manifesto regionalista. 1976:57) O seu método de interpretação do homem brasileiro representado através da alimentação é ecológico, é patrimonial, e é contemporâneo no que se refere à valorização dos ingredientes regionais. Raul Lody é antropólogo

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  Com Mário de Andrade à mesa

*Por Raul Lody / Fotoinstalação de Jorge Sabino  “Tacacá com tucupi”, certamente, é o único texto exclusivo de Mário de Andrade sobre comida brasileira.E assim, Mário a partir do seu olhar e sentimento modernista que é  profundamente valorizador da identidade, da singularidade e da etnicidade que formam os nosso sabores regionais e autorais.   Dessa maneira há um sentimento dominante de Mário nas suas formas de buscar brasilidades, no que ele olha como a “arte - fazer”. A arte-fazer é um evidente reconhecimento dos saberes tradicionais por meio das muitas tecnologias artesanais que estão desde a feitura de um berimbau aos processos par se obter o leite se obter  o leite coco , por exemplo .Ainda neste princípio  conceitual  da arte-fazer está uma fruição ampla e diversa das matrizes etnoculturais que fazem a nossa criação popular.    Tudo reúne-se a esta busca de Mário por um Brasil brasileiro E assim com identidades regionais marcadas por diferentes processos históricos , sociais, ecológicos e culturais, reveladores suas preferências gastronômicas e principalmente  os relatos  dos seus alumbramentos com os  sabores da Amazônia. Está também em Mário, um desejo de mapear as nossas comidas . E buscar um entendimento para a diversidade alimentar do brasileiro com um reconhecimento patrimonial e de expressão de arte.  É preciso segundo Mário:” conhecer o Brasil pela sua cultura culinária”. Nos movimentos intelectuais no Brasil nos anos 1920 fervem com os movimentos artísticos no mundo ocidental, vive-se  os “loucos anos 1920”e sem dúvida além e Paris  assinar a maioria destes movimentos a “paulicéia”,  também fala de modernidade e também Pernambuco conectado com a Europa  e com o Brasil regional.    Nestes cenários ampliados sobre uma valorização integrada das comidas regionais é fortalecido com o entendimento de tradição e de modernidade a partir da multiculturalidade e da pluralidade das matrizes étnicas tradutoras dos nossos sistemas alimentares.   As descobertas e a valorização presente das nossas comidas e trazem  no artigo de Mário de 1939 desejos de organizar e principalmente criar restaurantes de comida brasileira , inclusive em Nova York e em São Paulo.  Na proximidade do lançamento do livro Açúcar de Gilberto Freyre, em 1939, Mário sensível aos temas de comer cita e olha para  o açúcar . “(...)  a reserva de caloria ajudam grandemente a dar para o nosso corpo brasileiro um fogo mais permanente(...)’ E ainda sobre o açúcar ´e preciso mostrar que este produto é formador de uma verdadeira civilização com muitas formas e linguagens de manifestar o que Mário olha e a chama da “arte-fazer”.    Em “Tucupi no Tacacá´”, embora Mário tenha experimentado comidas  tradicionais do  Nordeste mostra uma preferência com as comidas da Amazônia.  .  As aventuras etnográficas traçam muitas faces do Brasil e sem dúvida, o sentimento paulistano e modernista constroem elementos evidentes de filtro na exposição dos modos pessoais do fascínio de  de Mário com aa  etnografias das culturas populares. São todos componentes de um projeto estético modernista que quer nas manifestações artísticas nacionais construir suas bases de mostrar um Brasil brasileiro e principalmente que busca o moderno.  Creio que o que é exótico marca também este certo ‘purismo’ sobre o Brasil  dos povos tradicionais, idealizações do Brasil.  Mário deslumbra-se na Amazonia, certamente são muitos os motivos , muitos encantamentos com a floresta ,  com as águas,  com os peixes,  com a mandioca interpretada no tucupi, na maniçoba , muitas maneiras de comer e de beber o Basil. “Belém me entusiasma cada vez mais. O mercado estava hoje fantástico de tão acolhedor , Só aquela sensação do mungunzá sentado no chão (...) saia s fumaça branquinha do mungunzá branco branco. Tenho gozado demais Belém”    Mário ainda na busca para mostrar a nossa culinária multicultural brasileira  diz :  “O importante é que fundindo bases, princípios constitucionais de pratos asiáticos e condimentação africana, modificando nesse ou  naquele sentido pratos ibéricos, tínhamos chegado a uma cozinha original e inconfundível. E completa”. Em Tucupi e Tacaca´, Mário revela-se nas descobertas dos temperos e dos novos sabores, em especial da comida da Bahia.   “(...) o efó preparado à baiana, com muita pimenta é diluído no azeite de dendê, é tão brutalmente delirante que nem somos nós que o comemos, ele é que nos devora” .  Ainda no Nordeste outras experiências estéticas e gastronômicas “(...) o sururu alagoano bem como o dulcíssimo pitú nordestino são espécimes delicadíssimas de manjar”. E ainda  “Em geral a nossa culinária se dirige também pelas normas do belo”  E assim, Mário depara-se com a clássica feijoada  “A feijoada, por exemplo em que o feijão deixa de ser propriamente a base .para se tornar a dissolvente das carnes fortes.” O texto de Mário de Andrade no seu artigo ‘Tucupi no tacacá ´” ´e um  evidente revelar da formação cultural dos paladares, das maneiras de se relacionar com os novos temperos e usos de ingredientes traduzidos na diversidade multicultural brasileira  . E assim diz :”Almoça-se pelo Brasil, mas  janta-se na Amazônia”. Raul Lody é antropólogo

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 À mesa com Gilberto Freyre (por Raul Lody)

A vasta produção intelectual de Gilberto Freyre inclui de maneira antropológica e sensível a gastronomia enquanto uma das manifestações mais representativas da mediação entre o homem e a natureza. Destaca-se o livro Açúcar, verdadeira celebração da mesa pernambucana, ampliando-se para novos e sempre atualizados olhares perante a doçaria e diferentes rituais sociais do fazer, do servir e do consumir. Certamente, entre os muitos pioneirismos de Gilberto Freyre na interpretação sobre o brasileiro está, em espaço especial, simbolicamente marcado o valor da comida, formando identidades. São sabedorias tradicionais que adquirem linguagens que acompanham, dinamicamente, os processos da cultura, da sociedade e da ecologia. No livro Nordeste, Gilberto situa, contextualmente, os muitos fatores que caracterizam a Região, apontando para os impactos da ocupação pela monocultura da cana-de-açúcar, a nossa cana sacarina, e como uma civilização agrária estabeleceu múltiplas relações étnicas, unindo também modelos do Ocidente e do Oriente. Chegam do açúcar cardápios doces, pratos que vivem o litoral, a zona da mata, o agreste e o sertão. Gilberto aufere aos encontros gastronômicos entre o homem lusitano, diria mouro-lusitano, culturas da África ocidental, austral e oriental, povos indígenas e os imigrantes manifestando conteúdos estético e nutricional co-formando nossas maneiras de ser brasileiro. Em Casa-Grande & Senzala, livro que expõe os fundamentos da família patriarcal brasileira no Nordeste, destaca e relaciona a comida enquanto moeda das relações homem e mulher, senhor e escravo, na casa, na rua, nos rituais do cotidiano e nas festas religiosas. Tudo vive e é ungido pelo açúcar. Há uma marca que emblematiza o Nordeste pelo açúcar, unindo tantos cardápios. Cardápios dos mosteiros medievais, da gastronomia popular de Portugal, das receitas muçulmanas, trazendo o trabalho e a criação africana para ampliar e significar processos já brasileiros. Certamente, Gilberto dá a gastronomia um lugar de valor, compreendendo que pela boca o homem manifesta grande parcela da sua história, da sua civilização, da sua cultura. O livro À mesa com Gilberto Freyre, quer também trazer o cotidiano e o tempo das festas em Santo Antônio de Apipucos no Recife e em outros momentos e situações que possam unir e identificar Gilberto com as gastronomias do Nordeste e do mundo. Os livros e cadernos pessoais de receitas de D. Madalena Freyre trazem a experiência da casa e da mesa amorosa em hábitos e preferências da família e de amigos. À mesa com Gilberto Freyre reúne cardápios e receitas de mais de 80 pratos doces e salgados além de aspectos dos hábitos cotidianos em capítulo chamado À moda da casa; aborda também o conhaque de pitanga, alfaias da casa e demais temas que incluem vida, mesa e comida no daí a dia e no tempo das festas. Assim, busca-se uma nova e significativa leitura sobre a personalidade plural de Gilberto Freyre, agora visto e situado à mesa revelando comidas e seus diferentes entornos sociais e culturais.  Dos Livros e cadernos de receitas de D. Magdalena Freyre foram coletadas todas  estas receitas do cotidiano e da festas . . Pratos principais Bredo de coco Feijão de coco Berinjela napolitana Salada de abacaxi Lombo alemão Torta de camarão (ou de galinha) de Dulce Ranulpho Mão-de-vaca Bacalhau espiritual Inhoque de Tia Sana Sarapatel Cuscuz paulista Risoto verde Arroz de Braga Pato ao conhaque Cuscuz de lombo de porco Salpicão Suflê de milho Caldo verde Farofa básica Vatapá Fritada de camarão Frango com cebola Feijoada Presunto Peixe com purê e molho branco e queijo Salada de batatas com maçã Arroz temperado Arroz de coco com camarões Peru com farofa à moda da casa Peru com miúdos Língua Caruru Costelas de porco Peixada Fritada de aratu Filé com manteiga . Aperitivos e salgadinhos Leite de onça Bloody Mary Empadinhas de queijo de Conceição Canapés Barquetes de Sonia Empadinhas de palmito Bolinhos de bacalhau Pastéis de queijo Bombinhas de camarão Recheio de sanduíche de queijo e patê Pastéis de porco Empadas de Zefa . Doces Bolo de batata doce Bombocados de Marta Pastel de nata Pão-de-ló de Maria Filhós de Carmen Bolo de ameixa de Conceição Bolo-de-rolo Bolo de laranja de Maria Clara Creme de Pompéia Sorvete de chocolate de Lourdes Grude Bolo inglês Bombocados de Tia Sana Gelatina de leite de coco Toucinho do céu Pudim de macaxeira Pudim de cupuaçu Pudim de pão Quindins Creme de amêndoas Bolo de água de Cristina Pudim de natal Bolo de chocolate de Titia Carolina Creme de Sonia Tarteletes de limão Tarteletes de uva Pavê de Bebé Pudim Souza Leão Kiss me Olhos de sogra Papos-de-anjo Passas recheadas Bolo xadrez Pé-de-moleque Bolo Souza Leão Arroz-doce Doce de coco Doce de leite Doce de banana . Cardápios especiais Chá nº. 1 Chá nº. 2 Chá nº. 3 Jantar dos Nabuco Jantar do ministro Natal Jantar da condessa À moda da casa Pratos e receitas do cotidiano, exemplificando com preferências de Gilberto Freyre, quanto aos modos de fazer e de servir à mesa. Molho de pimenta com pão Sabongo Chá das cinco Sucos de cajá e pitanga Sorvete e pão-de-ló Sorvete de aticum cagão Abacate com açúcar Fatia parida Manga carlota Quiabada Cozido Cavala frita – perna de moça Peixe ao coco Bife grelhado – bife morcego Café da manhã Conhaque    de pitanga.  NOTA: o livro Á mesa com Gilberto Freyre, organizado por Raul Lody, uma publicação Editora  Senac, reúne  todas estas receitas . RAUL LODY.

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Queijo: para pensar e comer

Na ampla e diversa história da alimentação, o queijo artesanal tem testemunhado o seu consumo, e fabricação, há cerca de cinco mil anos; e assim integra variados sistemas alimentares no mundo.São muitos os tipos de leite e de processos artesanais para se fazer o queijo. O leite de rena, de búfala, do iaque; e os leites mais convencionais e próximos dos nossos hábitos como leite de gado vacum, de gado caprino, de gado ovino. O queijo preparado com um leite específico, ou com a mistura de leites diferentes, traz uma imensa variedade de tipos e de sabores. Com certeza, são muitos os processos técnicos para se fazer queijo, entretanto há uma sequência clássica na fabricação que, na sua maioria, apresenta a coleta do leite, o processo de pasteurização ou processo de fabricação com o leite cru. Depois da coagulação ou coalhadura, separa-se a coalhada do soro; há a moldagem e a salgadura; para então seguir-se a maturação e o affineur, entre outras técnicas que atendem aos milhares de tipos de queijos que estão em consumo hoje no mundo. Atualmente, há uma ampla e forte tendência para a recuperação dos queijos regionais, e tudo isso se inicia a partir da valorização dos produtos de terroir, e os seus bens culturais agregados, assim já assistimos a tão merecida patrimonialização dos queijos brasileiros pelo IPHAN. Ainda, novas leituras para os queijos nacionais, na sua rica variedade de sabores, de técnicas, de estilos, de territórios de produção; e de vocações gastronômicas. Muitas das questões sobre a fabricação, a circulação de produtos e sua legislação, precisam ser resolvidas para possibilitar um consumo mais ampliado, e desse modo chegue de forma mais abrangente até os apaixonados por queijos, e os cozinheiros, os chefes, e outros profissionais. O Ministério da Agricultura mostra que a produção de queijo no Brasil é feita por cerca de 170 mil produtores artesanais/domésticos, que os fazem de muitos e diferentes tipos e estilos. Novos sabores podem ampliar novos mercados de consumo, trazer identidade, e mostrar como é plural a cozinha brasileira. Assim, a necessidade de uma normatização, uma legislação, que toque no que diz respeito ao “artesanal” é importante para novas pesquisas, novos trabalhos, sobre uma gastronomia integrada à cultura e a sua diversidade. E este tão desejado reconhecimento avança, e se dá com a promulgação da LEI 13860 de 18 de julho de 2019, que no seu Artigo 1 diz: Considera-se queijo artesanal aquele elaborado por métodos tradicionais, com vinculação e valorização territorial, regional ou cultural, conforme protocolo de elaboração especifico estabelecido para cada tipo e variedade, e com emprego de boas práticas agropecuárias e de fabricação.Nestes contextos, destaco a figura do produtor agro-artesanal, um tema que necessita de maiores leituras e observações. Tudo em virtude da variedade de técnicas, tipos de fabricação e processos, que mostram bases etno-históricas, e ainda trazem características peculiares como: meio-ambiente, tipos de criatórios, tipo de fornecimento de leite, e outros itens que marcam tantas e diferentes formas de produção de queijo no âmbito artesanal. Destaco que a ampliação crescente das premiações nacionais e internacionais dos nossos queijos artesanais, que recentemente em 2019, no Mondial du Fromage (França), o Brasil recebeu medalhas de ouro; e o queijo paraibano “Serra do Pico”, da fazenda Carnaúba, Taperoá (Paraíba) recebeu medalha de bronze. Creio que os nossos queijos da região Nordeste, possam revelar muitas questões que ampliem o conhecimento que gera valorização tanto no seu uso em receitas, quanto em ações organizadas dentro do segmento .de ensino/aprendizagem na gastronomia, como áreas afins que tratam do amplo e complexo universo da comida.

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