Arquivos Entrevistas - Página 10 De 31 - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco

Entrevistas

pierre rec n play

"Nós nos consideramos um movimento popular de cultura digital"

Pierre Lucena, presidente do Porto Digital, comemora o sucesso do Rec’n’Play que atraiu mais de 60 mil pessoas e destaca a grande presença de jovens da periferia no evento. Ele também analisa os desafios para instalar moradias do Centro do Recife e as perspectivas do parque tecnológico. Este ano do Rec’n’Play atraiu 61.700 pessoas que foram ao Bairro do Recife em busca de conteúdos sobre inovação. O sucesso de público surpreendeu até os organizadores. Para Pierre Lucena, presidente do Porto Digital, além da qualidade das palestras, algumas novidades também contribuíram para incentivar as pessoas a irem ao festival, como as ativações de rua — tais como as arenas Gamer e de Negócios — e atividades culturais. Pierre comemora ainda a grande presença de jovens da periferia, que era um objetivo perseguido com mais ênfase nesta edição. Na sua opinião, o aumento do público no evento mostra que o Porto Digital começa a trabalhar melhor o sentido de comunidade no Recife, a partir de uma rede de engajamento muito forte na cidade. Nesta conversa com Cláudia Santos, ele fala do êxito do Rec’n’Play, adianta algumas novidades do evento do ano que vem, analisa os desafios para a revitalização do Centro do Recife e expõe sua visão sobre o futuro do setor. Qual o balanço que você faz do Rec’n’Play? Ficamos surpresos. Eu, particularmente, não achava que seriamos capazes de mobilizar tanta gente em busca de conteúdo. Foram 61.700 inscritos. O ano passado teve 40 mil, que já tinha sido recorde. A que você atribui esse sucesso? Primeiro, começamos a trabalhar melhor o sentido de comunidade. Temos atualmente uma rede de engajamento muito forte na cidade. Hoje, nós nos consideramos um movimento popular de cultural digital. São pessoas que trabalham, estudam, têm interesse em tecnologia e viram no Porto Digital o movimento para que isso surgisse. É muito fora da bolha tradicional de tecnologia. Também qualificamos o evento, com o nível das palestras. Tivemos muita ativação de rua, como a arena de robô incrível — a Arena Gamer —, e a Arena de Negócios. Era um pedido das empresas do ecossistema ter um lugar para as startups se apresentarem. As apresentações estiveram lotadas todos os dias. Na entrevista anterior que concedeu a Algomais, você disse que um dos intentos do Rec’n’Play seria atrair a juventude da periferia para Porto Digital. Isso foi atingido? Isso ficou muito visível no evento. Quando acabou o Carnaval do REC'n'Play, fui ao show de Rayssa Dias, na Avenida Rio Branco. Ela é uma cantora da periferia. Estava lotado. Fiquei impressionado com a quantidade de gente que veio fazer selfies comigo, eram os meninos do programa Embarque Digital. Muitos também não eram e diziam: “muito obrigado por ter trazido a periferia para dentro do Rec’n’Play”. Essa era a grande questão: como é que a gente atrairia esse público? Porque não é atrair para um carnaval, mas para que eles se sintam acolhidos. Foi bonito de ver a participação da juventude. A gente ampliou até a faixa de idade do público, fizemos atividades para bebês – teve muitas ações para criança – até para o grupo 50+. Tudo foi feito de forma colaborativa, o que é muito complexo, porque tem uma margem para dar errado, mas tudo deu certo. O coronel da guarda municipal, disse: “eu nunca fiz um evento de massa que não tivesse uma confusão. Fiquei impressionado. Eu não tive uma ocorrência de roubo de celular”. Mas o ponto decisivo foi a qualidade do evento em termos de conteúdo. A gente teve muita coisa de inovação, de inteligência artificial, trouxemos palestrantes conhecidos. As atividades e palestras estavam todas lotadas. Eu falei para João Campos: colocar 60 mil pessoas no Carnaval para tomar cerveja é fácil. Agora, para participar de conteúdo, de atividades educacionais, é outra coisa. Acho que um dos grandes acertos do Rec’n’Play é ligar tecnologias com arte, com educação. O importante é que esse movimento popular, digamos assim, em torno da tecnologia vem se consolidando no Recife como em nenhuma outra cidade. Às vezes as coisas são muito dispersas, aqui não, aqui é no Porto Digital. E todo mundo se sente bem dentro desse guarda-chuva, se sente protagonista do evento, é um espaço de debates que a cidade conquistou. Queremos manter essa pegada, vamos qualificar mais ainda o evento. No próximo ano, vamos ampliar a área de negócios, vamos manter o Carnaval e insistir na atração de gente de periferia. Vamos debater a de inteligência artificial, o futuro da educação, e já tem a data. Quando será? De 6 a 9 de novembro de 2024. Vamos crescer essa área de negócio absurdamente. Na pauta do ano que vem, vamos discutir o futuro. Ainda não temos temas, mas estamos preocupados com essas discussões. Qual vai ser o futuro da educação, já que na sala de aula a gente tem que buscar uma outra experiência? Qual vai ser o futuro do emprego com a chegada da inteligência artificial? Tem uma outra novidade: vamos abrir para as pessoas montarem as mesas. Como assim? Vamos abrir um período para perguntar: “você quer discutir no Rec’n’Play? Monte uma mesa, faça uma proposta em dois parágrafos dizendo ‘eu quero discutir isso, que vai custar X, vou precisar trazer uma pessoa de São Paulo etc”. Vamos montar uma comissão pública para escolher as propostas. Vamos fazer uma curadoria popular. Se uma empresa ou um coletivo quiser propor uma mesa, nós vamos correr atrás para realizá-la. Se chegar umas mil propostas, vamos selecionar 100. Há uma demanda reprimida nessa área de negócio? Sim. Conversei com o Daniel Coelho (secretário de Turismo do Estado) sobre a necessidade de fazermos do Rec’n’ Play um evento turístico de negócios nacional, porque não tem nada igual. O Brasil precisa saber que esse é o maior festival do País. Vamos precisar fazer isso como um modelo de negócio. Vamos também crescer o número de ativações na rua, que foi uma experiência que deu certo, como a Arena de Robô, a Arena do Bradesco. Vamos manter e qualificar

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"Pernambuco poderia ter uma relação melhor com a China"

Evandro Carvalho, professor da FGV Direito Rio, é um conhecedor da economia da China e da forma singular e prática como os chineses realizam os negócios. Ele morou em Xangai de 2013 a 2015, quando atuou como senior scholar da Escola de Finanças e Economia da Universidade de Xangai. Em seguida, ajudou a fundar o Centro para Estudos do BRICS da Universidade de Fudan, também em Xangai. Atualmente, está em Pequim, onde é senior visiting da universidade local. Diante de toda essa vivência na China, ele observa que o Brasil e, em especial, Pernambuco, estão muito aquém do potencial que poderiam usufruir com as relações econômicas com o Gigante Asiático. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Evandro Carvalho, que é pernambucano e também professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense, analisa os motivos que levam brasileiros a não vislumbrarem as oportunidades com investimentos chineses. Ele destaca principalmente a área das novas tecnologias, que tiveram um grande desenvolvimento nas últimas décadas na China e que podem favorecer a criação de uma infraestrutura necessária para aumentar a competitividade e a eficiência do Brasil. Como o Brasil pode se beneficiar das relações econômicas com a China, que tem investido na infraestrutura dos países? Os investimentos da China no setor de infraestrutura são voltados para portos, aeroportos ou ferrovias que contribuem para a importação de produtos chineses. É normal que os bancos chineses invistam onde identifiquem algo que vai favorecer empresas chinesas naquele país. Muito embora uma boa parte dos investimentos da China tenha sido em eletricidade e, mais recentemente no Brasil, em energia eólica e solar. A China é uma produtora de equipamentos, como geradores de energia solar. Os investimentos beneficiam o Brasil, mas também a China. O Brasil precisa identificar a sua prioridade, não só dentro dos setores em que o País já tem uma presença, como o agronegócio, exportação de soja, minério, petróleo. Quando se fala dos investimentos chineses em infraestrutura, penso na infraestrutura do digital, das novas tecnologias, que é um setor que está muito aquém do potencial que pode ter. O Brasil poderia aproveitar o superávit que tem com a China de US$ 28 bilhões para fortalecer outros setores, outras infraestruturas importantes. Como o Brasil poderia desenvolver a relação econômica nessas áreas? No governo passado houve o problema em relação ao 5G da Huawei, que criou um obstáculo desnecessário ao avanço de uma agenda que é importante para o Brasil. A Huawei estava aqui desde o 2G, 3G, 4G e nunca houve nenhum tipo de suspeita de uso dessa tecnologia que ela vende para as empresas de telecomunicações do País. Ocorreu o contrário, o governo de Dilma Rousseff foi espionado pelo Governo Obama. Não existe um fundamento para o tipo de problema que foi levantado no governo passado. Isso criou um clima de quebra de confiança que atrasou parcerias que poderiam ser desenvolvidas não só no 5G, mas na computação em nuvem, na inteligência artificial, no desenvolvimento da economia digital, no uso dessas tecnologias para favorecer a infraestrutura necessária para aumentar a competitividade e a eficiência do País. A China utiliza essa tecnologia para incrementar toda a sua cadeia de valor, desde o processo de produção até a entrega e toda a informação que circula nisso. Nos inúmeros encontros focados na inovação que acontecem nos hubs de tecnologia no Brasil, você mal vê a presença de empresas chinesas ou parcerias com empresas chinesas. Na China vemos a importância dos superaplicativos. Por trás deles, há uma rede de logística poderosa que o Estado fornece. Então, há uma ausência muito grande de parcerias que poderiam ser feitas usando as novas tecnologias para, por exemplo, o setor de saúde. A China é muito habituada com a gestão de grandes volumes de pessoas e de problemas. Consegue gerir grandes volumes de dados, inclusive com a big data e a computação quântica que ela desenvolveu de maneira extraordinária. Isso tudo ela usa na gestão e na governança do país. Como aproveitar essas experiências que a China tem e que o Brasil também tenta fazer da melhor forma possível? Isso envolve o setor espacial, aéreo, de segurança. Vez ou outra a gente vê notícia de alguns prefeitos de grandes cidades do Brasil que visitam a China para verificar como fazem a gestão da cidade, utilizando essa tecnologia. Mas ainda está muito aquém do potencial, considerando a realidade hoje da China na área de tecnologia. Qual a razão dessa falta de interesse do Brasil em relação a toda essa expertise da China? Tem havido investimentos de empresas chinesas ou empresas chinesas vindo para o Brasil na área de TI. Mas é muito aquém do potencial. O problema tem diversas causas. Primeiro, há uma ausência de clareza por parte do governo de uma política digital e de incremento dessa nova infraestrutura que pudesse dialogar com a China. O Brasil precisa intensificar mais essa discussão e ver quais são as parcerias que poderiam ser feitas entre as instituições de pesquisas sérias de ambos os lados, conectadas com os principais atores econômicos que atuam nos mercados estratégicos. A China tem investido em muitos setores e é preciso identificar quais seriam aqueles que o Brasil tem interesse para poder estimular. Falta também uma visão estratégica mais ampla. Darei um exemplo: os trens bala. O que mais se escuta é que isso caro e é mais complexo no Brasil por causa da topografia. Um trem bala Rio/São Paulo vai passar por diversas cidades, o que pode provocar diversos problemas jurídicos em cada uma delas. Porém qualquer processo de mudança significativo da estrutura econômica de um país não é feito de maneira simples e vai sempre requerer custos e grandes obstáculos. No passado quando se falava em petróleo no Brasil, a quantidade de gente que dizia que o País não tinha petróleo era alta, depois, falava- -se dos custos e, no entanto, hoje o País está autossuficiente. Na China, a estrutura de ferrovias foi um componente essencial para o desenvolvimento do país. Tudo isso permite ter esses superaplicativos de entrega

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Farjardo Recife 2023

"Fundamental é repovoar o Centro do Recife com moradores"

Washington Fajardo, ex-secretário municipal de Planejamento Urbano do Rio de Janeiro, aborda os desafios de atrair moradias para a região central da capital pernambucana, elogia as iniciativas do Recentro e defende ações como a instalação de instituições de ensino na área para cativar a juventude. Estimular a moradia no Centro do Recife tem sido uma estratégia defendida por estudiosos e até pela prefeitura para revitalizar a região. O arquiteto e urbanista Washington Fajardo é um desses especialistas que acreditam que nenhum processo de reabilitação urbana tem sustentabilidade se não tiver pessoas morando no espaço a ser revitalizado. Fajardo é ex-secretário municipal de Planejamento Urbano do Rio de Janeiro, responsável pelo projeto Reviver Centro elaborado para atrair moradores para a região central da Cidade Maravilhosa. O sucesso do programa o levou a ser convidado a ser consultor do planejamento estratégico do Centro do Recife - Recentro na Rota do Futuro. O urbanista ressalta, no entanto, que seduzir a população a morar no Centro é uma tarefa complexa. Nesta entrevista a Rafael Dantas, ele fala dessas dificuldades como, por exemplo, a percepção de segurança que as pessoas têm do Centro, a oferta de moradias no local e o fato de a região não ser mais vista como uma centralidade, onde os moradores resolviam coisas, estudavam, faziam compras e atividades culturais. Mas ressalva que a proposta de se ter uma governança local, a partir do Recentro, é um passo importante para a recuperação da região, assim como a decisão do gabinete de ouvir a população sobre o Centro, a partir de uma consulta pública. Quais as diretrizes para que o Recife possa promover uma recuperação do Centro da cidade? O ponto fundamental é repovoar o Centro do Recife com moradores. Ou seja, nenhum processo de reabilitação urbana tem sustentabilidade se não tiver pessoas morando. Esse é o princípio. É muito sintético e objetivo, mas implementar isso é muito complexo. Porque, assim como outras cidades brasileiras, o Recife cresceu horizontalmente nas últimas décadas, numa velocidade muito intensa. A gente está falando de um Centro Histórico de toda uma região metropolitana, que é onde as pessoas estão morando. Esse modelo de crescimento da cidade acabou criando uma economia imobiliária que sabe pegar terrenos e fazer prédios. Mas hoje temos essa tendência de investir em retrofits também. Esse é um fenômeno recente brasileiro. No Brasil desaprendemos a reocupar, reformar. A palavra hoje é o retrofit. É importante entender que essa área central está em direta competição com essas outras áreas, onde encontramos uma cultura técnica que passa pela economia, mas vai até a arquitetura e a engenharia. Os próprios órgãos públicos dos municípios aprenderam a criar uma normativa urbanística que favorece essa expansão da ocupação. O resultado disso é que as áreas centrais ganharam uma ociosidade do ponto de vista de moradia, mas conseguiram manter uma função comercial ou de centralidade dos empregos. Aí veio segundo um fenômeno, um pouco de nossa época, que tem a ver com digitalização da economia. Então, além do problema histórico de ocupação, a economia digital já está afetando os centros urbanos também? Tanto o emprego, quantos hábitos de consumo estão muito organizados em função das facilidades que a internet nos proporciona. Esses novos hábitos, que têm a ver com a digitalização da vida da cidade, também têm impactado diretamente a relevância do varejo. Por exemplo: comprar algo não significa mais a necessidade de ter que ir à rua. E isso tem tido um crescimento exponencial, especialmente a partir da pandemia da Covid-19. É um fenômeno que ganhou uma proporção planetária, quando fomos obrigados a aprender novos hábitos. Passamos a fazer reuniões online, pedir comida em casa, fazer compras pela internet. Algo que era incipiente ainda, ganhou relevância e está presente em diferentes gerações. Antes era mais concentrado na juventude, mas com pandemia mesmo as gerações mais maduras ganharam novos hábitos. Ou seja, os centros urbanos têm situação histórica, de longo prazo, muito brasileira. E tem também o contexto novo, um pouco mais global, que tem a ver com digitalização. Isso aumentou mais ainda os esvaziamentos das áreas centrais. Estão correndo certo risco de ficarem irrelevantes. Nesse contexto, como o senhor avalia a experiência do Recife? O Recife é um caso interessante. Teve uma posição de vanguarda, quando algumas décadas atrás tomou decisão de implantar o Porto Digital em sua área central. Observe que o Recife tomou uma decisão muito avançada para época, em dois sentidos: priorizar o Centro da cidade e priorizar a nova economia. Uma reflexão que trago é que apesar desse vanguardismo, não se constituiu, de fato, uma nova camada social morando no Centro. Apesar do sucesso do Porto Digital, a população continua a não morar na região. Isso mostra como essa produção habitacional nas áreas centrais é muito complexa. A prioridade é trazer pessoas para morar, mas não é simples. Como modificar esse cenário para incentivar a moradia no Centro do Recife? Temos que ter visão de mercado. Ou seja, a produção habitacional tem que acontecer com as próprias pernas. Ao mesmo tempo, é necessário ter estímulo público. Que tipo de estímulo? Incentivos fiscais e subsídios, com regulação urbanística própria. É fundamental também que as pessoas passem a desejar mais o Centro. Isso significa que as famílias que hoje estão tomando decisão de moradia deveriam considerar área central como opção. Para isso é fundamental que existam alternativas no Centro para incentivar a decisão de comprar ou alugar uma moradia. Será que a população pensa em morar no Centro? E se pensar, será que conseguirá encontrar algo? Essas questões precisam ser resolvidas. Opções para quem queira e ter o desejo de povoar os bairros centrais. É um desafio que está tanto na demanda como na oferta. Para ter desejo, a população precisa se sentir bem no Centro. Ser um lugar seguro, organizado. Um bom parâmetro é pensar a cidade tomando as crianças como referência. Você viveria com seus filhos no Centro do Recife? A população percebe na área central da cidade um lugar para educar seus filhos

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Cláudio Fernandes: "O mercado muda, a gente muda também"

Cláudio Fernandes, Socio-fundador do Trino, conta como o grupo tem-se adaptado às constantes transformações do mercado de logística, com o uso de tecnologia e oferecimento de novos serviços. Essa capacidade tem garantido à empresa se destacar frente à concorrência com multinacionais. Saber perceber as tendências do mercado e ter a capacidade de rapidamente se adaptar a elas é uma receita de sucesso nestes tempos fluidos de transformação digital. O Grupo Trino é prova disso. Com atuação na área de logística e armazenamento, passou a oferecer novos serviços e introduzir novas rotinas de acordo com a demanda. Os supermercados, por exemplo, estão com lojas menores e menos espaço para estocar. “As entregas que eram feitas semanalmente, passaram a ser quase diárias”, compara Cláudio Fernandes, diretor administrativo e sócio-fundador. Hoje a Trino oferece também serviço de armazenagem indoor nos espaços dos clientes e ainda faz o inventário da carga com o uso de sofisticadas tecnologias. Com o apelo cada vez maior das energias renováveis, grupo está testando o uso de caminhões elétricos. A agilidade em se ajustar às rápidas exigências do mercado permitiu à empresa crescer 14% no ano passado e projetar um crescimento semelhante para este ano. Com 1.300 funcionários distribuídos nas operações do Norte, Nordeste, Minas Gerais, São Paulo e Bahia, o grupo conta com cinco filiais, duas em Pernambuco, e uma em Salvador, em São Paulo e na Paraíba. A inovação está no DNA do Trino mas também da família de Fernandes que compartilha a gestão da empresa, como sua mulher Edla Couto, e se perpetua na nova geração, com as filhas Cláudia e Jessica, que já atuam na direção do grupo. Como começou a trajetória da Trino? Bem, a empresa, inicialmente, não foi idealizada do jeito que é hoje. Nós prestávamos serviços artísticos; fazíamos shows, eventos de empresas, na década de 1980. Quando Fernando Henrique assumiu o governo, houve muita mudança de moeda e esse serviço artístico ficou muito caro para as empresas pagarem. Por isso, sentimos a necessidade de agregar outros serviços. Procuramos fazer mais eventos para o setor corporativo, ou seja, alugar nosso espaço, que ficava no bairro de Casa Forte, para convenções e para treinamento. Contratamos instrutores, psicólogos, consultores, para ofertar aos clientes. Mas as várias trocas de moeda deixaram as empresas sem capital de giro e o investimento em treinamento baixou muito. Então, demos uma parada. Fui trabalhar na iniciativa privada e minha esposa, Edla, foi atuar no ramo de terceirização de venda de serviços. Mas nossa empresa estava lá, adormecida. Após um ano, tivemos um convite do Bompreço para fazer um serviço de beneficiamento de laranjas. Eles adquiriram máquinas para embalar a fruta, mas não conseguiam fazê-las funcionar. Nós conseguimos colocar as máquinas em operação. Fizemos um contrato de produtividade para fazer esse gerenciamento e colocamos as laranjas para embalar. Como isso era um pepino muito grande para o pessoal da logística, eles ficaram muito gratificados. Aí, surgiu a oportunidade de fazermos a movimentação de cargas dentro do Walmart. Eles tinham uma demanda muito variável, porque havia época em que chegava muito caminhão e outra, que tinha menos. Mas eles tinham muito custo com mão de obra, por isso, queriam uma empresa que fornecesse um custo variável. Como a gente já estava lá, eles nos ofereceram esse serviço. Depois vieram outras empresas, algumas multinacionais, fomos oferecendo propostas de serviço para elas até o ponto de abrirmos um armazém na Muribeca, onde movimentamos produtos como os da Whirlpool (Brastemp e Consul). Depois entramos na área da armazenagem frigorificada no Cabo de Santo Agostinho. Havia algumas empresas que ofereciam esse serviço, mas com problemas. O cliente às vezes vendia um produto, que ele tinha em determinada data e, na hora de entregar, não tinha mais porque o produto foi trocado por um de data mais antiga e o cliente não queria aceitar. Vimos aí uma oportunidade para trabalhar com equipamentos de informática, de controle, de WMS (Sistema de Gerenciamento de Armazém). Isso nos fortaleceu muito porque ficamos tanto no segmento de secos com o galpão na Muribeca, quanto no segmento de frio, no Cabo. Começamos a ser vistos. Como trabalhamos para o Walmart, com o Bompreço, depois com a JBS Friboi (fomos diversas vezes eleitos o melhor operador da JBS nacional), fomos agregando ao nosso portfólio esses clientes. Hoje já prestamos serviços para a Seara, para a BRF, para a Pepsico do Brasil. Tivemos que começar a vender serviços ao cliente. Que tipo de serviços? Muitas empresas tinham o armazém e o produto, mas não a expertise de controle de movimentação e de inventários que temos. Dava muita diferença o inventário dos clientes. Isso começou a encantar o mercado e a abrir segmentos dentro de indústrias e dentro de outros clientes nossos. Foi o caso da Pepsico do Brasil. Hoje temos uma operação na fábrica do Cabo, temos um CD deles na Muribeca, outro em Simões Filho (BA) e temos na fábrica também em Feira de Santana (BA). Começamos também a prestar serviço em empresas do segmento vidros. Trabalhávamos com o Grupo Brennand. Depois para Owens Illinois que é a Cisper. Hoje temos atividade na planta da Várzea, em Vitória, e na unidade de São Paulo. Começamos a avançar e abrir filiais. Desbravamos essa parte do Norte/Nordeste, montamos a operação em Minas Gerais, onde temos como cliente a rede Drogaria Araújo. Então hoje temos tanto a parte de frio, de galpões secos e a parte de atendimento ao cliente indoor. Montamos um braço também de facilities, que é a parte de limpeza, conservação e jardinagem. Não é forte nosso, mas é um serviço que oferecemos em razão da demanda dos clientes. Como vocês desenvolveram essa expertise de logística e armazenagem? Sou engenheiro eletrônico e fui treinado muitos anos em fabricação de produtos. Trabalhei na Philips. Como eu estava muito ligado à produção, à produtividade e com bom conhecimento de inglês, já tinha lidado com outras máquinas de montagem, mas não com a que embalava laranja do Bompreço. Eu tinha formação em controle de qualidade

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"O fator de risco mais prevalente relacionado à demência no Brasil é a baixa escolaridade"

Carla Nubia, Diretora da Abraz (Associação Brasileira de Alzheimer) analisa a pesquisa da entidade sobre o panorama da demência no País. Ela ressalta a importância do controle dos fatores de risco que desencadeiam a doença e necessidade de seus sintomas serem mais conhecidos pela população e profissionais de saúde. A doença de Alzheimer apresenta 12 fatores de risco modificáveis, isto é, que podem ser controlados, entre eles: o grau de instrução, a perda de audição e a hipertensão. Se a população brasileira pudesse controlar todos os fatores, haveria uma redução de 48,2% dos casos de demência no Brasil. A diminuição seria de até 54% nas regiões mais pobres do País. Os dados fazem parte de um compilado de vários estudos divulgado no 1º Big Data Abraz, realizado no Hospital Albert Einstein em São Paulo. A geriatra pernambucana Carla Nubia Nunes Borges, diretora científica nacional da Abraz (Associação Brasileira de Alzheimer), conversou com Cláudia Santos sobre a pesquisa, que revelou ser a baixa escolaridade o fator de risco para a demência mais comum no Brasil. Ela também falou das dificuldades relacionadas ao diagnóstico da doença, por ser desconhecida da população e até dos médicos. “Sessenta e dois por cento dos profissionais de saúde em todo o mundo ainda acham que demência é algo normal do envelhecimento”, destaca a geriatra. Como surge a Doença de Alzheimer? A Doença de Alzheimer está associada à alteração de duas proteínas: a proteína chamada beta-amiloide que formam placas amiloides extracelulares que matam os neurônios, e a alteração da proteína TAU intracelular, os chamados emaranhados neurofibrilares, que também levam à morte neuronal. Essas duas alterações começam principalmente no centro do cérebro, onde está o hipocampo que é área da memória. Por isso que os primeiros sinais e sintomas estão relacionados a essa área. Depois, outras áreas do cérebro vão sendo atingidas. Trata-se de uma doença muito inflamatória, que tem várias causas e vários fatores de risco podem ajudar a desencadeá-la como obesidade, hipertensão, diabetes, sedentarismo, uso de álcool e drogas, déficit auditivo, distúrbios do sono, baixa escolaridade. Cada vez mais está clara a interferência dos fatores de risco. É uma doença que para evitá-la você tem que cuidar da saúde como um todo. Mas isso não quer dizer que se você adotar todas essas medidas saudáveis não vá desenvolver a Doença de Alzheimer. Mas, ao cuidar da saúde, você pode até retardar o aparecimento da doença, embora se ela estiver codificada geneticamente, você vai desenvolvê-la. Porém, cuidando bem da saúde você aumenta sua reserva cognitiva, funcional, muscular, sua saúde mental, para, se aparecer a doença, você enfrentar de maneira diferente, por ter um organismo mais bem cuidado, com mais reservas funcionais e isso é um diferencial muito grande. Qual a importância da dieta mediterrânea como medida preventiva? Ela é um dos pilares da prevenção, mas, sozinha, ela não vai prevenir. Se você só faz a dieta, mas fuma, não faz atividade física, não estuda, não trabalha sua saúde mental, só a alimentação não vai adiantar. E existem várias dietas que são preconizadas, porém a que a gente mais indica é a do Mediterrâneo (baseada em azeite, em frutas, verduras, oleaginosas, peixes) por ser rica em ômega 3 e em várias substâncias que fazem parte da bainha de mielina que é a membrana que envolve os neurônios. Essa dieta tem um poder anti-inflamatório a nível cerebral e, consequentemente, menos ativação da micróglia que são células cerebrais ativadas no processo inflamatório. Essa ativação persistente inflamatória leva ao desencadeamento da formação de placas amiloides. Quais os principais desafios relacionados à doença de Alzheimer? Uma pesquisa mundial com vários centros mostrou que uma a cada três pessoas não sabe o que é demência, mas a cada três segundos alguém é diagnosticado com Alzheimer no mundo. Muitos pensam que demência é algo normal. Então, o grande desafio é o diagnóstico precoce porque há um desconhecimento. As famílias das pessoas com Alzheimer não valorizam muitas vezes os sintomas porque nem sempre a doença começa pela memória, pode começar com alteração de comportamento ou funcional, ou seja, aquela atividade que a pessoa fazia de forma corriqueira passa a não fazer mais. Pode ser algo como fazer um bolo, em que se coloca o ovo, o leite, a farinha. Aí, a pessoa começa a não botar o ovo ou o leite, ela pula etapas. Um grande executivo que tem reunião, tem documentos para entregar, pode começar a faltar reuniões, a não conseguir fazer entregas. A pessoa começa a perder a sequência lógica de como realizar ações rotineiras. No aspecto comportamento, a pessoa pode chorar com facilidade ou dizer que a estão perseguindo, que está sendo roubada, além de ficar irritada, gritando do nada, ou ficar muita apática, totalmente sem energia. Os três grandes pilares da doença são: alteração de memória (esquecimento principalmente de coisas recentes e o passado fica mantido), alteração de comportamento e alteração de funcionalidade. Um dado muito interessante é que os familiares começam a encontrar justificativas para esses comportamentos, como por exemplo: “ah, mamãe está assim porque o neto se casou”, “papai está esquecido porque deixou de trabalhar”. Isso é um erro que pode retardar um diagnóstico precoce. Esquecimento é normal em qualquer idade, a criança esqueceu o presente da professora, adultos esquecem reuniões, documentos. Isso pode estar atrelado a cansaço, sono, estresse, momentos ruins. Mas aquele esquecimento que é repetido e, principalmente, quando vem associado a alterações comportamentais, esse requer procurar ajuda médica. O que é preciso fazer para reverter essa falta de conhecimento sobre a doença? É preciso sensibilizar a população para, ao surgirem os primeiros sinais e sintomas, procurar um profissional. Também sensibilizar os profissionais para perceberem que aquilo não é só uma tristeza, mas pode se tratar de uma demência, e sensibilizar a sociedade política civil para colocar mais frentes de profissionais que lidam com as demências: neurologistas, geriátricas e psiquiatras. É muito difícil pelo SUS você conseguir um psiquiatra ou geriatra porque há poucos trabalhando no sistema. Por isso precisamos sensibilizar os profissionais como um todo.

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flavia suassuna apl

"Uma das coisas que literatura faz é criar laços"

Flávia Suassuna, nova integrante da Academia Pernambucana de Letras fala da sua produção literária e conta como seu tio Ariano Suassuna contribuiu para tornar-se escritora. Ela também é professora e analisa o impacto da internet no ensino e afirma que a ficção pode ajudar a reduzir a polarização atual. É comum os alunos de Flávia Suassuna se encantarem com a maneira como ela oferece os conteúdos das suas aulas de História da Literatura. Prova disso é que esta entrevista, que ela concedeu a Cláudia Santos no café de uma livraria no Recife, foi interrompida por uma ex-estudante que não se conteve para abraçar e fazer elogios à antiga mestra. Talvez esse talento se deva à maneira envolvente como Flávia conversa e que pode ter origem no DNA que compartilha com o tio Ariano Suassuna. Além da prosa boa — que pode ser constatada nesta entrevista — a professora também herdou do tio o ofício de escritora e seu trabalho foi reconhecido ao ser recentemente eleita para integrar a Academia Pernambucana de Letras. Nesta conversa, ela fala da sua trajetória pedagógica e literária, da relação com Ariano, do impacto da internet no aprendizado das crianças e na polarização ideológica que, para ela, pode ser revertida com a leitura de romances. Ao se identificar com os personagens, muitas vezes, o leitor, segundo Flávia, desfaz preconceitos e amplia seus conhecimentos. Parafraseando Contardo Calligaris, ela assegura: “a literatura, a ficção, tem uma mágica complementar porque ensina também a identificação como ser humano”. Como surgiu seu interesse pela literatura? Quando eu era muito pequena, as pessoas me perguntavam: o que você vai ser quando crescer? Eu dizia que queria ser mãe e escritora. Não entendia por que todo mundo achava graça da resposta, eu estava falando sério. Talvez tenha organizado isso na minha cabeça a partir da existência de tio Ariano, que era escritor, porque uma menina de 5 anos provavelmente não saiba o que seja um escritor. E como era Ariano como tio? Ele foi perfeito comigo. Um dia papai disse a tio Ariano: tem uma pessoa lá em casa que gosta desses livros que você gosta. Tio Ariano ficou todo entusiasmado e começou a me mandar livros no Natal, no aniversário. Quando fiz 11 anos, ele me deu As Minas do Rei Salomão, um livro de aventura que eu amei. Depois passou a me dar livros que tinham a ver com a minha idade. Foi um orientador perfeito das minhas leituras. O que acho lindo de tio Ariano é que ele é uma pessoa muito forte, muito incisiva, mas nunca me orientou para eu ser armorial, por exemplo. Ele deixou que eu seguisse meu caminho. Perto de morrer, ele disse: “as pessoas vêm me perguntar o que é que eu sou de Flávia. Aí eu digo que eu sou tio e todo mundo diz que você é uma professora muito adorável. E eu fico muito orgulhoso”. Vê que coisa bonitinha! Uma das coisas que literatura faz é isso: criar laços. É você contar e discutir a história de Capitu, ver como cada geração enxerga essa a história, trazer o filme de Capitu, trazer uma adaptação do livro Dom Casmurro. Tudo isso vai criando laços entre as pessoas de uma sociedade. Esse é um dos motivos por que existe essa história da criação de uma identidade nacional com aqueles livros. Nunca conheci um russo, mas eu amo os russos por causa de Tolstói. É nesse sentido que a literatura cria esses laços de identidade e fraternidade mais amplos. Li um artigo do psicanalista Contardo Calligaris, em que ele diz que quando leu O Caçador de Pipas se identificou com o narrador, apesar de o romance se passar num espaço político, social, ideológico totalmente diferente do dele. Calligaris disse também que num documentário sobre o Afeganistão, você aprende muito, mas você aprende a diferença, as particularidades do país. Já a literatura, a ficção, tem uma mágica complementar porque ensina também a identificação como ser humano. Você percebe que uma pessoa que mora no Afeganistão é tão humana quanto você. E a história é muito linda, fala de um menino de 8 anos que viu um amigo sendo violentado e correu. Esse artigo de Contardo Calligaris me bateu muito porque eu pensei a mesma coisa que ele: se eu tivesse 8 anos e visse uma amiga sendo violentada, eu acho que eu correria… Como você decidiu atuar como escritora e professora? Isso foram os desastres da vida porque eu queria ser mãe. Tive três filhos, mas fui abandonada pelo pai deles e precisei sustentá- los. Eu tinha o curso de Letras e me tornei professora por uma necessidade básica de sobrevivência. Acho, inclusive, que ser professora dificulta um pouco ser escritora, porque a gente tem muita coisa para fazer em casa, mas não tinha outro jeito. Somos pagos pela hora dada, mas quando chegamos na sala de aula, já gastamos um tempão preparando a aula, corrigindo trabalhos. Você começou sua carreira como escritora ao lançar Jogo de trevas (1980), que foi o primeiro romance a ser publicado por uma mulher em Pernambuco. Como foi essa produção? Eu ainda era solteira. Esse romance foi publicado pelas Edições Pirata em 1980. Eu tinha um professor maravilhoso chamado José Rodrigues de Paiva e eu fiz uma proposta indecente a ele. Eu disse: se eu lhe der o meu romance pronto, você perdoa o meu último trabalho? Porque eu não conseguia conciliar o trabalho e fazer o romance. Ele aceitou. Dei os originais do meu romance, e ele me deu uma nota, me livrei do trabalho dele e consegui terminar esse livro. Depois participei do concurso literário para marcar os 450 anos do Recife, instituído por Jarbas Vasconcelos, que era prefeito. Eu ganhei e esse foi meu segundo romance chamado Remissão ao Silêncio. Comecei com prosa que exige uma disciplina. Para fazer esse segundo romance, eu saía da minha casa, ia para a casa da minha mãe toda quarta-feira de tarde, deixava meus filhos para poder escrever. Depois passei

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magna refazenda

"A produção de roupa como geradora de lixo sempre me incomodou"

Magna Coeli, fundadora da Refazenda conta como a empresa se tornou referência em moda sustentável, a ponto de ser reconhecida pela ONU, e explica o seu processo de fabricação que não produz sobras de tecido. Também fala da relação com o filho, Marcos, com quem trabalha, e das dificuldades de financiamento. Quando adolescente, Magna Coeli costumava usar as sobras dos tecidos que sua mãe, costureira, jogava no lixo. Com os retalhos, Magna fazia peças para ela vestir ou acessórios como bolsas. Tal habilidade e o incômodo pelo refugo da produção de roupas permaneceram até a idade adulta e a impulsionaram a fundar a Refazenda. Reconhecida com várias premiações por sua atuação sustentável, inclusive pela ONU (Organização das Nações Unidas), empresa do setor de moda foi pioneira ao produzir de acordo com padrões de economia circular. Assim como fazia na adolescência, na fábrica Magna não descarta retalhos no lixo: a produção é feita de forma a usar todo o tecido. A sustentabilidade social é outra marca da Refazenda, que faz parceria com cooperativas de rendeiras e bordadeiras de vários estados do Nordeste. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Magna conta a trajetória da empresa, os desafios para gerir um negócio com preocupações ecológicas, as dificuldades em obter financiamentos e a relação com o filho Marcos Queiroz, que é diretor de Soluções da Refazenda. Como começou a Refazenda? Há 33 anos, eu tinha uma confecção com meu ex-marido e com a família dele. Quando resolvi criar a Refazenda, foi uma inquietação ecológica, romântica, exótica, que tinha todos esses nomes, menos sustentável ou economia circular. Era quase fazer um hobby. A produção de roupa como geradora de lixo sempre me incomodou, porque o lixo que mamãe fazia, enquanto costureira, me proporcionava fazer coisas para eu vestir, ou para fazer bolsas. Pensava nessa minha habilidade de transformar ao criar a Refazenda. Eu tinha um olhar muito bom para cor, sabia modelar. Então migrei da tradicional confecção de camisaria e fui fazer uma produção com princípios ecológicos. Daí o nome Refazenda. Gilberto Gil criou a música e me inspirou, como também foi um princípio para esse norte: transformar a fazenda em algo primoroso, mas de valor agregado. Venho de uma família de costureira e alfaiate e a minha grande revolta era o pouco valor agregado nas peças que meu pai e minha mãe faziam. Eu pensava: hei de fazer as pessoas respeitarem quem faz roupas como uma coisa muito digna, muito preciosa. Agora, tudo isso de maneira inconsciente. A empresa começou com uma fábrica ou uma loja? Primeiro foi um divórcio. Na hora da separação, eu poderia ter ido para um setor diferente, mas insisti nesse porque eu tinha o ideal de montar algo que fosse pioneiro. Os primeiros cinco anos foram de consolidação da marca e definição de perfil de produto. Era um ateliê, mas eu me sustentava financeiramente de forma bem austera. Depois, procurei o associativismo, para tentar crescer do ponto de vista da confecção e encontrar aliados com as pessoas que falassem a mesma língua. Foi uma busca inútil, porque o setor de confecção não conversa com o setor de ideias, de utopia. Ele é commodity, fabrica fardamento, roupa íntima e modinha e opta por volume, não por valor agregado. Passei a participar de missões empresariais, conhecer projetos fora até que um dos filhos começou a trabalhar na empresa para me ajudar financeiramente. Quem é ele? Marcos, o mais velho. Ele fazia publicidade e veio para me ajudar financeiramente porque tínhamos crescido um pouco mais, a empresa tornou-se mais complexa. Mas não encontrávamos um ponto de venda para o nosso produto que fosse autoexplicável, tínhamos que concorrer com produtos que não tinham a mesmas características. E aí tivemos que montar loja própria. Isso dá um trabalho danado, fabricar e montar loja própria é desafio para loucos. Chegamos a ter sete lojas, uma em São Paulo. Quando estávamos com quatro lojas, entrou o outro filho, André, que fazia administração, para ajudar na gestão. Também tenho a família desses aliados que trabalham e vieram comigo lá de trás que são tão família minha quanto a biológica. São pessoas que acreditam no projeto, que torcem e estão comigo até hoje. Esse foi um dos pilares que seguraram a empresa. Mas, veio a crise em 2013, a perda do capital foi muito grande, assim como a perda de fôlego para girar essa máquina com as dificuldades que o setor têxtil tem no Brasil, com taxação absurda e nenhum projeto ou diferencial para as empresas inovadoras. A loja de São Paulo ficou aberta até 2016, remando contra a maré porque o custo aéreo do frete aumentou. Tínhamos que trazer parte da matéria-prima de lá, fabricar aqui e levar de volta para lá. Além disso, um de nós três da família teria que morar lá e nenhum quis perder qualidade de vida. Resolvemos finalizar a atividade e investir no comércio eletrônico, que começou em 2012. De lá pra cá, trabalhamos de forma mais enxuta, mas com mais liquidez, porque chegamos a ter dívidas em banco. Tivemos que modificar a estrutura administrativa porque o crescimento não respondeu na ponta pelo varejo que estava trucidado pela taxação. Aí, André saiu da empresa para atuar na construção civil. Já Marcos se transformou num grande gestor e articulador de mídia nessas novas linguagens, coisa que eu estava defasada. Estamos fazendo parte do Instituto Capitalismo Consciente, que é nacional, temos o certificado B, ganhamos premiação na ONU pela prática da economia circular. Isso tudo graças a Marcos, que mostrou a nossa experiência como inédita e precisava ser divulgada. Esse reconhecimento tem sido revertido para a marca e para os negócios? Por um lado, é algo para consolidar e legitimar o produto que tem propósito, tem alcance, longevidade, é um produto com ética. Mas, em compensação, o pouco capital de giro que temos também atrofia porque à medida que somos falados e alcançamos níveis longínquos, não conseguimos acompanhar o escalonamento financeiro na mesma proporção. Quando procuramos outros cases que são semelhantes a nós, ou

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Bruno Bezerra

"Temos um robusto ecossistema empreendedor cercado por péssimas estradas"

Conhecido pela determinação de seus empreendedores, o Polo de Confecção do Agreste superou mais uma dificuldade ao atravessar o complicado período da pandemia. Hoje o setor se recupera da crise sanitária e econômica e investe em novas tecnologias, principalmente na venda pela internet e, segundo Bruno Bezerra, presidente da CDL (Câmara de Diretores Lojistas) de Santa Cruz do Capibaribe, são boas as perspectivas para o segundo semestre. Mas o polo ainda enfrenta desafios como os transtornos logísticos provocados pela situação das rodovias na região, o antigo problema do abastecimento de água, além de dificuldades na área da segurança. Outro tema que tem trazido dor de cabeça aos empresários do ramo de confecções no Agreste é a isenção concedida pelo Governo Federal nas importações de compras de até US$ 50. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Bruno Bezerra analisa as dificuldades e os progressos do setor e como o anúncio do PAC e o fato de a governadora Raquel Lyra ser do Agreste e conhecer a realidade local podem ajudar a solucionar os gargalos do setor. Como está a conjuntura atual do Polo de Confecções, neste pós-pandemia? No decorrer de uma jornada empreendedora de aproximadamente 60 anos, um dos grandes diferenciais do Polo de Confecções do Agreste Pernambucano tem sido uma incrível capacidade de adaptação para melhor posicionar-se diante de adversidades e oportunidades. Foi assim durante a pandemia e tem sido assim no pós-pandemia. Este ano, por exemplo, depois de décadas, mudamos os dias de funcionamento do Moda Center, a nossa principal feira, que acontece em Santa Cruz do Capibaribe, cidade-mãe do Polo de Confecções do Agreste. Antes era realizada sempre às segundas e nos períodos de alta temporada (maio, junho e novembro/dezembro) aos domingos e segundas. Atualmente a feira acontece às sextas. Uma mudança necessária para ganharmos competitividade e nos adaptar a uma nova dinâmica logística do mercado, além de promover a qualidade de vida dos nossos empreendedores. Outro ponto relevante no pós-pandemia tem sido a profissionalização do processo de digitalização das empresas do polo. Nossos empreendedores entenderam a importância estratégica de dominar as vendas digitais e aliar o físico com o digital no negócio. Como tem sido esse investimento das empresas nas vendas digitais e quais os resultados? Muitas empresas do Polo de Confecções estão conseguindo um excelente nível de maturidade digital. Isso acontece quando o empreendedor de curiosidade aguçada decide investir tempo e recursos financeiros na preparação das equipes e na adequação da estrutura para dominar as vendas online, além de se manter atualizado com as mudanças que acontecem cada vez mais rápido. Os resultados têm sido os melhores possíveis, sobretudo porque os empreendedores não precisam deixar as vendas presenciais por causa das vendas online. Eles estão entendendo que não é um contra o outro, é um com o outro, é o digital como mais um canal de vendas. Qual foi o crescimento de vendas e/ou faturamento do setor no ano passado e quais as perspectivas para este ano? São períodos complicados para termos como referência, pois em 2021 e 2022 houve uma forte influência da pandemia no ambiente de negócios. Já em 2023 houve uma mudança de Governo Federal, depois de uma das mais polarizadas eleições para presidente da República, o que gerou um cenário de incerteza que praticamente paralisou o mercado. A partir do início do segundo semestre de 2023, começamos a ter mais clareza da situação. Esperamos ter boas rodadas de negócio no mês de agosto e um excelente período de alta temporada nos meses de novembro e dezembro. Qual a perspectiva do setor em relação à gestão da governadora Raquel Lyra, que é do Agreste Pernambucano? A expectativa é a melhor possível. Pela primeira vez na história temos uma governadora que é do Agreste Pernambucano e conhece bem o potencial do Polo de Confecções. Contudo, temos também desafios gigantescos. Se levarmos em consideração que a maior parte dos insumos vem de fora de Pernambuco e a maioria também dos clientes que compram no polo vem de outros estados, podemos afirmar que nosso negócio é essencialmente de logística. Hoje temos no Polo de Confecções do Agreste Pernambucano um robusto ecossistema empreendedor cercado por péssimas estradas de todos os lados (do território pernambucano). O problema do abastecimento d’água que se arrasta por décadas e dificulta a promoção de um real desenvolvimento socioeconômico. Sem falar na falta de segurança que afasta compradores do Polo de Confecções com a violência nas cidades que formam o polo e, especialmente, com os assaltos que acontecem constantemente nas estradas que levam até as feiras de Santa Cruz do Capibaribe, Toritama e Caruaru. O setor já levou essas questões para a governadora? E como o setor avalia o anúncio do PAC que entre outros investimentos prevê adequação da BR 104 (Caruaru - Divisa PB) e a primeira etapa da Adutora do Agreste Pernambucano? Constantemente essas questões são levadas para o Governo do Estado, agora em agosto tivemos reunião com a secretária de Defesa Social para tratar da questão da segurança. A questão da BR-104 em 2024 completará 15 anos. Uma situação lamentável, uma vergonhosa debutante que promove prejuízos ao nosso ambiente de negócios e vem tirando a vida de muitas pessoas com diversos acidentes ao longo de todos esses anos. A questão da água é um apelo de décadas. Durante todo esse tempo nunca desistimos de gritar, por mais que todos parecessem surdos. Como sempre, nos resta continuar trabalhando duro no fortalecimento do Polo de Confecções do Agreste Pernambucano, um dos mais robustos ecossistemas de negócios da América Latina. Por mais que a jornada até aqui diga que não, é nosso dever abraçar a esperança, ainda mais agora com o anúncio do PAC. Vamos seguir cobrando o retorno dos impostos que pagamos, para que nossos governantes façam o que precisa ser feito para melhorar a infraestrutura do Polo de Confecções. Que Deus nos abençoe nessa missão. O setor tem sofrido o impacto do e-commerce internacional que agora tem isenção de imposto de importação em compras até US$ 50? A isenção de imposto

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marcus andre silva

"Podemos aprender com o mangue a nos adaptar às mudanças climáticas"

Marcus André Silva, Professor do Departamento de Oceanografia da UFPE, alerta que o processo de modificação do clima tem ocorrido de forma mais acelerada do que apontavam as previsões, mas que o Brasil tem potencial para adotar soluções para mitigar os danos do fenômeno, muitas delas baseada na natureza. Diante dos efeitos das mudanças climáticas, que seguem em ritmo acelerado, teremos que encontrar soluções que se adaptem à natureza ao invés de confrontá-la. A recomendação é do professor do Departamento de Oceanografia da UFPE Marcus André Silva. Ele sugere que em alguns lugares do Recife, poderemos não recorrer à fria engenharia que ergue barreiras de concreto para impedir a cheia da maré, mas deixar que a água invada e depois vá embora. “Em Veneza, por exemplo, nas macro-marés, alguns lugares são alagados e todo veneziano sai de galocha”, compara o professor que também é coordenador substituto do Centro de Estudos Avançados da universidade. Assim como Chico Science inspirou-se na riqueza da vida no mangue para produzir a sua arte, Marcus Silva, pelas vias da ciência, nos convida também a aprender com esse ecossistema que convive com as oscilações da maré. Nesse sentido, até a palafita pode se tornar uma boa solução, desde que receba modificações para que se transformar numa moradia digna aos ribeirinhos. Nesta entrevista a Cláudia Santos, o oceanógrafo fala dessas soluções, explica como acontece o complexo processo de elevação do nível dos oceanos e alerta que temos que ser ligeiros em abandonar práticas como o uso de combustíveis fósseis porque o curso das mudanças climáticas está mais adiantado do que mostraram as previsões dos estudiosos. Como se dá o processo de elevação do nível dos oceanos? Não é um processo simples, ele envolve uma série de características físicas associadas à água, principalmente a do mar, e ao processo de mudança climática, que começou a partir da Revolução Industrial. Esse evento provocou o aumento das emissões de gás carbônico na atmosfera, que age como um filtro, impedindo que o calor seja dissipado para o espaço. Isso faz com que o planeta retenha mais calor. O oceano é um elemento importante no balanço da temperatura do planeta. Esses 2/3 de água que fazem parte da superfície da Terra retém 90% do calor que é absorvido da radiação solar. Se o continente não tivesse a parcela de oceano, a temperatura entre dia e noite oscilaria bastante. Um exemplo é o deserto do Saara, que é carente de água. Durante o dia ele chega a quase 50°C e, à noite, a temperatura está abaixo de zero. Enquanto no Recife, às margens do Atlântico, mesmo no inverno, a temperatura ficar abaixo de 20° é muito raro, porque recebemos o calor do oceano. Uma vez que aumenta o calor retido no planeta, a temperatura da superfície do mar também aumenta e aí a água vai expandir, vai haver o processo de expansão térmica, um fenômeno físico. Mas esse fenômeno não acontece apenas na superfície do oceano. Se focarmos na temperatura do Atlântico tropical, por exemplo, ela é mais quente até mais ou menos uns 100m de profundidade. Mas no oceano profundo, a 4 mil metros, as temperaturas caem para 4°C. Essa é uma água mais fria, que vem do Ártico e da Antártica. Nos oceanos há uma circulação que conecta a circulação superficial da água, que é basicamente induzida pelo vento, e a circulação profunda, induzida pelas diferenças de temperatura e salinidade que comandam a densidade da água. Então, se a gente tem uma água gelada mais densa ela vai empurrar uma água mais quente e menos densa. Basta pensar num aquário: se colocarmos água gelada de um lado e água quente do outro e juntarmos essas duas águas, a água gelada tende a circular por baixo e a água quente vai circular por cima. Existe um processo que é a circulação profunda da água do mar que vem dos polos para a região tropical e a água quente vai passar a fluir na superfície ao ser empurrada pela água fria da profundidade. Um processo que é contínuo. Acontece que há um aquecimento dos polos, principalmente do Ártico, que está perdendo massa de gelo, de permafrost, o gelo permanente do Ártico. As previsões apontam que essa água doce, que está aportando do desgelo da calota polar, tem a tendência de enfraquecer a circulação profunda. Ela é doce porque quando a água marinha congela, o sal fica na superfície. E, como eu disse, além da temperatura, a salinidade também aumenta a densidade dessa água e ela afunda, fazendo com que ela seja a bomba, o propulsor dessa circulação profunda. Mas com o aporte de água doce do derretimento da calota das geleiras, a água está menos salina, o que diminui a densidade da água do mar do Ártico enfraquecendo essa circulação profunda. Aí, ocorre o enfraquecimento do que chamamos de Célula de Revolvimento Meridional. Ela conecta as principais correntes num processo em que a circulação superficial da água do mar retira calor dos trópicos e o leva para as regiões temperadas e aos polos. A Célula de Revolvimento Meridional funciona como grande trocador de calor do planeta mas, ao enfraquecer, leva o planeta a reter mais calor na superfície do oceano tropical e diminuir o transporte de calor superficial para as regiões temperadas dos hemisférios sul e norte que tendem a ficar mais frias. Por isso que hoje falamos de mudança climática e não de aquecimento global, porque há uma transformação do clima no planeta todo onde algumas regiões apontam ficar mais frias e, outras, mais quentes. Além disso, essa água profunda também está esquentando, logo também está expandindo. Então, não temos só o processo da radiação e da temperatura da atmosfera induzindo a circulação e a temperatura da superfície do mar mas, também, uma tendência de aquecimento de toda a água do oceano. Isso é um processo lento, que as previsões avaliam começar em 2100 e evoluir ao longo do dos séculos. Então o processo é muito mais complexo do que o

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Diego e Manu rodebens

"Somos uma família que está dentro dos negócios em tempo integral"

Entrevista com MANUELLA MENDONÇA E DIEGO MENDONCA Empresa que começou com uma borracharia em Carpina, hoje ostenta sete operações das marcas Rode Bem, Rode Mais e Rodo Max, que abrangem distribuição no atacado e revenda de pneus e serviços de recapagem. A segunda geração de gestores do empreendimento leva adiante o empreendedorismo do fundador Manuel Mendonça. Tudo começou com uma simples borracharia em Carpina, na Zona da Mata Norte, que em 30 anos se transformou num grupo que hoje conta com 80 funcionários e ostenta sete operações ligadas ao setor de pneus: são três truck centers (que atendem ao segmento de caminhão), uma renovadora (que faz a recapagem), uma distribuidora das marcas Bridgestone e Firestone que atende todo o Estado de Pernambuco, e mais duas revendedoras multimarcas voltadas para o segmento de carros de passeio (car center). Para contar a trajetória de sucesso do grupo proprietário das marcas Rode Bem, Rode Mais e Rodo Max, Cláudia Santos conversou com a segunda geração dessa empresa familiar que começou com o empreendedorismo de Manuel Mendonça. Seus filhos, Diego Mendonça de 32 anos, e Manuella Mendonça de 27, contam como o negócio se expandiu, falam da relação com o pai e a mãe Fabiana, que também trabalha na empresa, e do setor de pneus e dos projetos da empresa. Como começou a Rode Bem? Diego - Ela começou em 1993. Está completando 30 anos. Nosso pai, Manuel, veio do segmento de recapagem de pneu de uma empresa que fechou. Então, ele abriu uma borracharia em Carpina. Na época teve início a importação de pneus usados vindos da Europa que ele comprava e revendia na cidade, tanto pneus de caminhão como de automóveis, e fazia a parte da recapagem. Na verdade, ele levava o pneu numa renovadora que recapava e entregava ao cliente. Manuella – Ele era do administrativo, vendas e compras, mas havia uma pessoa que fazia o serviço de borracharia. O negócio foi crescendo, ele começou revender pneu novo e aos pouquinhos foi evoluindo. Diego – O negócio foi ficando mais estruturado, já não era mais uma borracharia, mas uma loja de pneus e em 1996 ou 1997, ele abriu uma nova loja em Surubim, com um sócio e, como tem esse sócio, não faz parte do nosso grupo e leva outro nome, Siga Bem Pneus. Continuamos evoluindo, nos estruturando e passamos a ter um atacado de pneus em Carpina. Havia os importadores que traziam para o Brasil os pneus novos, meu pai comprava como atacadista na importadora e distribuía em todo o Estado de Pernambuco. Depois passou a fazer também Paraíba e Rio Grande do Norte. Mas, com o passar dos anos, os importadores passaram a vender direto aos clientes. A margem [de lucro] ficou muito espremida. Manuella – Mais ou menos em 2012 ele encerrou o atacado, não era viável mais, e em 2013 a Bridgestone nos procurou – em razão de a Rode Bem ser referência na região – e fechou a parceria para abrir uma loja em Carpina voltada para o público de caminhões e ônibus, a linha pesada de pneus, serviços e máquinas agrícolas. Eles fizeram questão de utilizar o nome Rode Bem Pneus por ser uma marca já conhecida na região. A primeira loja vende pneus no varejo de automóveis em todas as medidas. Depois, montamos essa nova loja com a bandeira Bridgestone/Firestone e depois de uns dois anos, montamos uma renovadora de pneus também da Bridgestone. O trabalho de uma renovadora é industrial? Diego – A renovadora é uma indústria que pega o pneu usado, no final da vida útil, e coloca uma borracha nova em cima. Faz todo um processo para ele “sair novo de novo”, como a gente costuma dizer. O pneu hoje custa em torno de R$ 3 mil dependendo do modelo e da marca e, para recapar o custo é em torno de R$ 700 ou R$ 800. Numa frota de caminhão, que é o nosso principal cliente, o maior custo é o combustível e o segundo é o pneu. Recapando, há uma redução muito maior no custo. Tem muita operação hoje que, se não existisse a recapagem, não se pagaria, inclusive, a borracha que usamos é a Bandag que oferece mais quilometragem que um pneu novo. Imagine o custo de um rodotrem graneleiro, que tem 34 pneus com o preço médio de R$ 2.800 cada. Ao recapar, ele terá um resultado muito considerável. Manuella – Esse serviço da recapagem tem a certificação do Inmetro. E vocês se adaptaram às demandas de uma região agrícola? Diego – Sim. Atendemos tanto a parte do caminhão frotista, caminhão de autônomo, como também o pessoal do agro. Bem, em 2014, começamos a operar no Recife com vendedor externo para fazer negócios, vender, fazer recapagem. Fomos ganhando, com o tempo, espaço no mercado. Até que em 2021 surgiu uma oportunidade de expansão do nosso truck center para Jaboatão dos Guararapes. Inauguramos na BR-101, uma loja grande, perto da Vitarella, que é um foco logístico do Estado. Em 2022 abrimos mais uma loja em Carpina. Tínhamos um concorrente que nos ofereceu a vaga dele, compramos a loja e ficamos com três unidades, duas voltadas para o público de passeio (car center) que é a Rode Mais, aonde a gente começou. Na verdade, Rode Bem é o nome que começou, mas quando abrimos o truck center, em 2013, a Bridgestone queria que tivesse o nome Rode Bem. Então o que era Rode Bem antigamente, transformou-se em Rode Mais. Quando abrimos a unidade em Jaboatão foi como Rode Bem, uma filial de Carpina. Quando surgiu uma oportunidade de uma nova loja em Carpina, compramos e, para não ficar os nomes iguais colocamos como Rodo Max, que é uma loja de pneus e rodas esportivas. Abrimos essa loja em 2022 e agora em 2023 inauguramos uma em Suape, dentro do complexo da E-LOG. Hoje temos três Rode Bem em Carpina, Jaboatão e Suape e uma renovadora que fica em Carpina, mas atende toda a Mata Norte, Mata Sul

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