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Coronavírus

Ana Brito Fiocruz

"Máscara é uma peça do nosso indumentário sem prazo de validade para acabar"

Ana Brito, epidemiologista e pesquisadora da Fiocruz/PE, analisa o atual estágio da pandemia e as possibilidades do surgimento de novas variantes do coronavírus. Também critica o Conselho Federal de Medicina que segundo ela “assumiu um papel de negação da ciência” Com a crescente redução dos casos de Covid-19 no Brasil, a evolução da atual pandemia para uma situação de endemia tem sido tema de debates e destaques no noticiário. Até o presidente Jair Bolsonaro chegou a anunciar que pediria ao Ministério da Saúde para decretar que o País estaria agora num processo endêmico da infecção pelo novo coronavírus. Entretanto, para Ana Brito, pesquisadora médica do Instituto Aggeu Magalhães-IAM, Fiocruz, está havendo uma grande confusão sobre esses termos. Ana, que é epidemiologista e professora aposentada da Faculdade de Ciências Médicas da UPE, ressalta que apenas a Organização Mundial da Saúde pode decretar o fim da pandemia. Alerta também que um cenário de endemia não deva ser o desejável e sim o fim da transmissão do SARS-CoV-2. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ela analisa a situação atual da crise sanitária no Brasil e no mundo, comenta as sequelas da Covid longa e critica o que ela chama de “postura negacionista” do Conselho Federal de Medicina. A pandemia da Covid-19 no Brasil caminha para uma situação de endemia? Há uma grande incompreensão na determinação dos termos. Esses dados de pandemia, epidemia, surto são todos baseados em estatísticas. A classificação de uma doença como endêmica ocorre quando ela acontece com muita frequência num local. A dengue, por exemplo, é uma doença endêmica em Pernambuco. Desde os anos 1940 que nós não tínhamos caso de dengue no Brasil, o Aedes aegypt tinha sido praticamente eliminado das zonas urbanas do País. Mas em 1984, com a urbanização acelerada, com condições subumanas de habitações das populações, com a contaminação de rios e riachos e assoreamentos etc., ocorre a reintrodução do vetor, o Aedes aegypti. Desde então seus casos são monitorados e durante os anos foi construída uma média do número de casos esperados. Quando as doenças endêmicas, como a dengue, extrapolam o limite máximo esperado, ocorre um surto, se os casos estão circunscritos a uma área geográfica (como um município ou bairro), ou uma epidemia quando ela se dissemina em várias regiões. A pandemia é uma situação de ameaça à saúde da população que extrapola as fronteiras de países e de continentes. Se o problema já existia, é quando esse problema ultrapassa os limites esperados de tolerância. A denominação de pandemia é feita apenas pela Organização Mundial da Saúde, que reúne informações de mais de 190 países membros da Organização das Nações Unidas. Só a OMS pode classificar se a situação é de pandemia ou não. Ninguém mais. Não é correto que o ministro da Saúde diga que o Brasil está caminhando para uma endemia, ele não tem elementos, nem capacidade, nem foram deliberados poderes mundiais para que ele dissesse isso. Se a pandemia da Covid-19 vai evoluir para uma endemia, essa chave aí ainda não disseram para a gente. O desejável não é caminharmos para uma endemia, que não significa uma situação mais simples, significa a permanência do problema, só que a Covid-19 não estaria em níveis que extrapolam todos os continentes. O que a gente espera, como epidemiologista, é que haja uma homogeneidade na distribuição de vacina em todo o mundo, para que possamos caminhar para interromper a transmissão do vírus SARS-CoV-2, como aconteceu com a varíola, nos anos 1970. Se vamos para uma endemia, teremos que conviver com essa doença por várias gerações e fazer vacinas de reforço. Uma endemia custa muito caro a um país, porque a vacina é cara e temos mais de 20 vacinas no nosso calendário normal, que é bancado pelo SUS. Mas enquanto existir a circulação livre do vírus, vai existir a possibilidade de produção de novas variantes com escape tanto para a doença natural como para a vacina. Essa é a última onda? Não sei, ninguém sabe. Até agora a gente não sabe porque existe circulação livre do vírus na África, onde menos de 20% da população está vacinada no continente inteiro e, em outros países, mais de 30% da população não adere à vacina, o que é um crime contra a humanidade. Acho que lidar com essa questão é urgente. Não é possível que os países convivam com o negacionismo sem que essas pessoas sofram qualquer punição, seja punindo sua circulação livre ou pagando cotas altas. Mas nem dinheiro paga o adoecimento pela Covid. Como você analisa o atual momento da Covid-19 no Brasil? O que eu posso dizer hoje é que estamos entrando num processo de diminuição da taxa de transmissão do SARS-CoV-2, causador da Covid-19 e que este momento pode não ser de uma emergência sanitária para o Brasil. A denominação de emergência sanitária implica em questões sobre autorizações emergenciais de compras públicas etc. Existe um arcabouço jurídico que está por trás das definições dessas situações. Em relação à pandemia, posso dizer que ela persiste, porque a Covid-19 está em expansão, inclusive em países gigantescos como é o caso da China que tem um programa de tolerância zero à Covid-19. Eles têm uma forma de abordagem de enfrentamento baseado no diagnóstico, no isolamento, na quarentena e testes massivos para a população. Mas nas duas últimas semanas houve um crescimento em cidades com 17 milhões de habitantes que neste momento estão em lockdown. Taiwan, que é uma área muito próxima da China, que tem coberturas vacinais altas, também assiste a uma nova onda de Covid pela Ômicron. Portanto temos ainda o processo pandêmico porque a doença está em expansão no mundo. Mas alguns países, como o Brasil, já começam a vivenciar este momento que a gente chama de lua de mel da Covid, que significa um arrefecimento de casos e óbitos, com a população bem vacinada. Mas, é preciso correr para vacinar as crianças e particularmente as de 3 a 5 anos, que provavelmente vão começar a ser vacinadas, depende das liberações da Anvisa. Também

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Medidas de restrição sinalizam isolamento mais duro nas próximas semanas

Todos os pernambucanos que experimentaram o medo da primeira onda de Covid-19 e uma paralisação dura da maioria das atividades econômicas, com restrições inclusive no transporte público, podem ter estranhado as restrições atuais, que cobrem apenas o horário noturno, sendo das 22h às 5h para todo o Estado. Apenas um grupo de 63 cidades possui um "toque de recolher" mais amplo, começando a partir das 17h em alguns dias na semana. Essa primeira semana de imposição parcial de isolamento social pode ser um aviso - ou uma preparação - para um novo lockdown, como tem acontecido no mundo inteiro. A suspensão de atividades econômicas e sociais no turno da noite em Pernambuco neste primeiro momento parece mais uma medida simbólica do que de fato uma ação mais direcionada de restrição de movimentação para contenção da pandemia. Evidentemente que endurecer para a realização de festividades e atividades de bares e casas noturnas, que foram afetados diretamente pela medida, indica que nesses lugares reside uma maior preocupação do poder público estadual com a disseminação do vírus. No caso das 63 cidades onde a medida é mais dura, a proibição atinge também as atividades religiosas, com a paralisação de cultos e missas, que é outro ponto que pode estar levantando preocupação das autoridades. “A polícia e os órgãos de fiscalização estarão nas ruas para observar o cumprimento desse novo decreto. Vamos monitorar os dados minuto a minuto e, caso os índices permaneçam piorando, novas medidas restritivas podem ser anunciadas já no início da próxima semana”, afirmou o governador Paulo Câmara na última coletiva, realizada na sexta-feira passada. De acordo com especialistas que analisam o quadro de epidemiologia de Pernambuco, como Jones Albuquerque, do Instituto para Redução de Riscos de Pernambuco (IRRD), o Estado já carece há algum tempo de medidas duras de contenção do vírus. Como publicamos na semana passado, embora o número de mortes no Estado esteja ainda distante dos registros do auge da pandemia, a quantidade de novos casos confirmados da doença já empatou com a crise sanitária dos meses de março a maio de 2020. O ponto chave para a adoção das atuais medidas de restrições, porém, veio da ocupação de leitos hospitalares, que circulou acima de 90% no Estado, se aproximando rapidamente do colapso. Isso porque o Governo de Pernambuco vem aumentando o número de leitos para atender a população vítima de Covid-19. Jones Albuquerque lembra que ainda que o poder público estadual tenha capacidade de aumentar com velocidade o número de leitos hospitalares, a disseminação do vírus pode fazer crescer exponencialmente a quantidade de pacientes do Covid-19 com necessidades de atendimento médico e de internamentos. Pernambuco conta atualmente com aproximadamente dois mil leitos dedicados aos pacientes infectados pelo vírus, sendo 998 de UTI, em 16 municípios. De acordo com informações do Governo do Estado, trata-se da segunda maior rede de leitos de terapia intensiva do País. Apesar disso, no gráfico abaixo, do IRRD, é possível ver a escalada de crescimento da taxa de ocupação de leitos de UTI em Pernambuco. O neurocientista Miguel Nicolelis, em entrevista para a Rede CNN Brasil, afirmou que o mês de março deve ser o pior desde o início da Pandemia. Na sua análise, ele foi ainda mais longe. O pesquisador acredita que será o mês mais difícil da história do Brasil. A exemplo do que aconteceu em outros Países, nas próximas semanas ou talvez nos próximos dias, vejamos as medidas de proteção do Governo de Pernambuco se acentuando para conter o avanço da Covid-19. Além da maior circulação de pessoas e da redução das medidas de prevenção (que é um fenômeno que ocorreu no mundo inteiro, mesmo em vários Países que passaram bem pela primeira onda da pandemia), a disseminação de novas variantes, como a descoberta em Manaus, é outro sinal de alerta. Os estudos iniciais apontam para um maior poder de contaminação dessas variantes do novo coronavírus e os relatos médicos iniciais indicam que ela tem atingido de forma mais frequente um público mais jovem. O remédio do isolamento social é amargo, mas é o tratamento paliativo mais eficiente que o mundo tem experimentado enquanto não há uma taxa de vacinação em massa que cubra a maioria da população e consiga conter a pandemia. Jogam contra esse momento a ausência do Auxílio Emergencial, que ainda não foi decidida pelo Congresso Nacional e pelo Governo Federal, e o próprio cansaço da população diante de um período tão longo de enfrentamento à pandemia. Joga a favor, no entanto, o maior aprendizado da sociedade em como se isolar e se proteger da contaminação após um ano de avanço nas informações sobre a doença e de própria estruturação das residências e empresas para atravessar períodos de maior necessidade de home office ou de atendimento de serviços em delivery, por exemplo. *Por Rafael Dantas, repórter da Revista Algomais e especialista em Gestão Pública (rafael@algomais.com)   Número de casos de Covid-19 empata com pior momento da pandemia    

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Estudantes da UFPE vencem competição com trabalho sobre Covid-19 e doam prêmio

Da Ascom da UFPE O curso de Odontologia da UFPE foi contemplado com oito equipamentos para lavagem ultrassônica de instrumentos que vão compor o Centro de Material e Esterilização do curso, tornando o trabalho mais seguro para estudantes e servidores do setor. As máquinas são fruto de uma doação de estudantes e professores do curso, que ganharam um concurso nacional de Biossegurança, no evento Set-Bio 2020, realizado em setembro de 2020. O trabalho foi apresentado pela acadêmica Larissa Alexsandra dos Santos Silva, tendo como título “Análise microscópica dos espaços interfibrilares em barreiras de proteção respiratória no contexto da Covid-19”, para uma banca de experts no assunto que o elegeram como o melhor trabalho de Biossegurança. Exibida no mês alusivo ao tema, a pesquisa foi orientada pelos professores Carlos Weber, do Departamento de Medicina Tropical, e Fábio de Souza, do Departamento de Prótese e Cirurgia Buco Facial. Também foram autores do trabalho a acadêmica Ingrid Arreguy e o graduado Rafael Bastos Lundgren. Publicado na Revista Journal of Clinical and Diagnostic Research, a pesquisa é resultado do trabalho de conclusão de curso do Rafael Bastos Lundgren. A publicação ganhou destaque internacional e foi incluída na biblioteca da Organização Mundial de Saúde, como referência de artigo científico na temática relacionada à Covid-19. Segundo o professor Fábio de Souza, “esse reconhecimento denota a excelência da UFPE na pesquisa e do envolvimento de estudantes na produção de conhecimento, capazes de conduzir a resultados diretos para a sociedade e, neste caso, com relação direta para a temática da pandemia da Covid-19”.

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Número de casos de Covid-19 empata com pior momento da pandemia

O número de novos casos confirmados de Covid-19 na Região Metropolitana do Recife já é praticamente o mesmo do pior momento da pandemia, quando a capital e um cinturão de cidades vizinhas sofreu o período mais duro lockdown. O alerta foi feito pelo Instituto para Redução de Riscos e Desastres de Pernambuco (IRRD). O gráfico acima, por exemplo, da última semana, fechada no dia 19 de fevereiro, apontou a média móvel dos últimos 7 dias de 973 novos casos. A média mais elevada desde o descobrimento do novo coronavírus em Pernambuco foi em 22 de maio, quando foram registrados uma média em 7 dias de 1024 novos casos por dia de Covid-19 na RMR. Os números estão no site do instituto: https://www.irrd.org/covid-19 Quando olhamos o gráfico do Estado de Pernambuco, a média móvel da última semana é pior que o momento mais crítico da pandemia, alcançando 1.513 novos casos no dia 19 de fevereiro deste ano. Em julho do ano passado, na pior semana no Estado, foi registrada uma média de 1.450 novos infectados da doença. "O Brasil não dá sinal nenhum de melhora na pandemia. Pernambuco oscila em alta, acompanhando o mundo como um todo. Se observarmos os dados absolutos da RMR, percebemos que hoje temos uma média móvel de infecção dos últimos 7 dias, comparada com a média móvel de 19 de maio, quando trancamos tudo. Agora estamos no mesmo patamar, mas com tudo funcionando. Isso é muito preocupante", afirma o pesquisador que coordena o IRRD, Jones Albuquerque. Ele lembra que nos ultimos 30 dias o Recife caminhou para o pior cenário de infecção. "Os Estados Unidos consideram 50 novos casos por 100 mil habitantes como risco alto. Na Região Metropolitana do Recife estamos com 454 por 100 mil habitantes. Isso nos deixa céticos e preocupados quanto à eficácia do processo de vacinação para conter uma pandemia deste tamanho. Não estamos conseguindo conviver com o vírus, os protocolos não estão funcionando com a população. Daí os números altíssimos que vemos. Esse é o cenário da pandemia hoje. Um dos piores momentos", revela o pesquisador. Apesar dos números de novos casos em alta, o número de mortes, apesar de ter crescido no último mês, não segue a mesma curva.

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“A realidade da Gripe Espanhola se repete com a politização da Covid-19.”

Uma pandemia se abate sobre o mundo causada por um vírus. No início, integrantes do Governo Federal fazem pouco caso da virulência da infecção, dizendo tratar-se de uma gripezinha benigna. Mas logo a doença se espalha pelo País e no planeta causando 50 milhões de mortes e colocando o sistema hospitalar em colapso. Surgem teorias da conspiração sobre a origem do maligno micro-organismo. Apesar dos cientistas alegarem não haver medicamento para combater a doença, várias pessoas acreditam em tratamentos sem nenhuma comprovação científica. Um resumo da situação da Covid-19 no Brasil? Nada disso, essa foi a realidade da Gripe Espanhola, que chegou pelos portos de cidades brasileiras, como o Recife, em 1918. Para entender melhor esse momento histórico e sua analogia com o momento atual, Cláudia Santos conversou com Alexandre Caetano da Silva, autor da dissertação de mestrado pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) Recife, uma cidade doente: a Gripe Espanhola no espaço urbano recifense (1918). Por que a pandemia da Gripe Espanhola teve este nome? A pandemia acontece durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). A imprensa dos países que participavam da guerra censurava as notícias sobre a doença. A Espanha não participou do conflito e sua imprensa noticiava livremente a pandemia que, por isso, ficou conhecida como Gripe Espanhola. Mas a sua origem, na verdade, é norte-americana. A epidemia tem início no campo de treinamento militar em Kansas, nos Estados Unidos. Esses militares participam da guerra em 1917 e espalham a doença na Europa e depois no mundo. Porém, assim como hoje há teorias da conspiração afirmando que o novo coronavírus surgiu de um laboratório chinês, na época da Gripe Espanhola, havia o boato de que os alemães, na guerra, engarrafaram o vírus e o jogaram nas praias brasileiras. Como ocorreu a entrada do vírus Influeza A H1N1 causador da gripe Brasil? Foi quando o paquete (embarcação) britânico Demerara que, vindo da Europa no início de setembro de 1918, atracou no Rio de Janeiro no dia 14 daquele mês, já com vários tripulantes enfermos. Essa é a primeira notícia da presença da Gripe Espanhola no Brasil. Como foi a atuação de Carlos Seidl, diretor geral da Saúde Pública (espécie de Ministério da Saúde à época), no combate e prevenção da pandemia no País? É verdade que ele se referiu à doença como “uma gripe de caráter benigno” e num primeiro momento se recusou a propor a quarentena? Inicialmente a Gripe Espanhola foi tratada de uma forma geral como uma gripezinha, mas com o aumento dos casos e a situação piorando com o crescimento constante do número de óbitos em todo o País, o Estado começou a tomar medidas como o isolamento social e o fechamento do comércio e outros estabelecimentos. Carlos Seidl sai da Direção em 1918 e quem assume é o médico e biólogo renomado Carlos Chagas. Você poderia fazer uma comparação entre a atuação dos jornais na época da Gripe Espanhola e as redes sociais na atual pandemia? A doença só existe quando as pessoas acreditam nela. Em 1918, a Gripe foi noticiada pelos jornais. Em Pernambuco, o Diario de Pernambuco representava a situação do governo de Manoel Borba e o jornal A Província representava a oposição, mas também havia outros. As notícias sobre a Gripe Espanhola eram dadas de uma forma mais direta e clara pelo jornal A Província, por representar a oposição ao governo. Só depois de alguns dias, em função da calamidade que o Estado passava, é que o Diario de Pernambuco começou a divulgar e aceitar a realidade que a Gripe colocava à sociedade. Hoje, com a Covid-19, a realidade se repete no que toca à questão da politização da doença, por meio das redes sociais e de instituições que desacreditam na pandemia. Dessa forma, colocam parte da sociedade em conflito, por acreditarem nas lideranças dessas instituições. Como a Gripe Espanhola assolou o Recife, qual o número de mortos e infectados, houve colapso do atendimento hospitalar? A Gripe Espanhola entra no Recife através do Porto da cidade. As primeiras notícias da doença foram de 25 de setembro de 1918, afirmando que ela chegou por intermédio do vapor Piauhy, vindo de Dacar (Senegal, África) com dois doentes abordo, no dia 24 de setembro. Não se tem um número exato de mortes provocadas pela Gripe Espanhola, mas de acordo com o relatório do diretor de Higiene do Estado Dr. Octávio de Freitas, no Recife morreram 2.500 pessoas. A cidade não possuía um instituto de medicina legal e nem uma estrutura de hospitais públicos. Existiam dois hospitais de referência no período, o Santa Águeda e o Pedro II. Houve, sim, um colapso no atendimento hospitalar, em que as farmácias serviram como ponto de ajuda aos infectados no combate à epidemia, oferecendo medicamentos, mas, na verdade, não havia um antídoto contra o vírus. Sem atendimento, as pessoas morriam nas ruas, as funerárias trabalhavam 24 horas por dia fabricando caixões. LEIA A ENTREVISTA COMPLETA NA EDIÇÃO 179.1 DA REVISTA ALGOMAIS: assine.algomais.com

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UFPE disponibiliza ultrafreezers e infraestrutura para armazenar um milhão de vacinas

Da Ascom da UFPE A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) ofereceu à União e ao Governo de Pernambuco sua infraestrutura disponível para armazenamento de vacinas em baixas temperaturas, a exemplo da rede de ultrafreezers (com temperaturas de até -80°C) e câmaras frias adequadas para apoio ao Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19. Em ofício encaminhado ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, à superintendente do Ministério da Saúde em Pernambuco, Ana Paula Amorim Batista, ao governador do Estado, Paulo Câmara, e ao secretário Estadual de Saúde, André Longo, na última sexta-feira (8), o reitor Alfredo Gomes coloca a instituição à disposição para visitas, agendas, grupos de trabalho e reuniões que sejam necessárias para integrar a UFPE em mais esse esforço de enfrentamento dos graves problemas causados pela pandemia. Até fevereiro, a UFPE se propõe a disponibilizar oito ultrafreezers de 728 litros, certificados pela Anvisa, com controle remoto da variação de temperatura, e dez câmaras frias de 572 litros para acondicionamento de vacinas que demandam armazenamento entre 2°C e 8°C, o que totaliza uma capacidade de receber cerca de um milhão de doses de vacina contra a Covid-19. “No prédio que atualmente sedia o Laboratório de Campanha de Diagnóstico da Covid-19, no Campus da UFPE, há salas apropriadas e disponíveis que poderão receber, no total, 22 ultrafreezers, com condições adequadas de biossegurança, bem como climatizadores, estabilizadores e gerador de energia”, informa o reitor Alfredo Gomes, no documento. Segundo destaca a gestão da universidade, desde o início da pandemia, a UFPE vem, a partir de seus pesquisadores, profissionais e infraestrutura, promovendo e se envolvendo em ações de enfrentamento à pandemia, a exemplo do Laboratório de Campanha da Covid-19, que já realizou mais de 64 mil testes diagnósticos do tipo RT-PCR para 128 municípios pernambucanos. ”Cabe ressaltar a capacidade institucional para o armazenamento de insumos estratégicos para a saúde que demandam temperaturas reduzidas, posto que algumas vacinas requerem atenção especial para seu armazenamento e logística, a exemplo da Pfizer-BioNTech Covid-19, da vacina Sinovac/Instituto Butantan, Moderna e AstraZenca/Oxford”, reforça o ofício. A gestão da UFPE também está buscando reunir condições para novas aquisições e ampliação da capacidade, assim como tem articulado, junto a outros laboratórios institucionais, ações conjuntas. No documento, o professor Alfredo Gomes reitera a condição da Universidade como instituição parceira das instâncias federal e estadual, e coloca o quadro especializado da instituição a serviço do Ministério da Saúde e do Governo do Estado, reafirmando o compromisso com a saúde pública e com o Sistema Único de Saúde (SUS). ”Para a UFPE, colocar-se à disposição para armazenamento e/ou aplicação vacinal, o mais breve possível, é estar ao lado da defesa da vida, da preservação da saúde, reduzindo os números de casos, óbitos e a transmissão da doença”, afirma o reitor. De acordo com a professora Maira Galdino da Rocha Pitta, que é coordenadora do Núcleo de Pesquisa em Inovação Terapêutica Suely Galdino da UFPE (Nupit), está em processo de autorização mais uma sala de vacinação na UFPE, além da existente no Hospital das Clínicas (HC).

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Estudo indica um dos fatores que tornam nova variante do coronavírus mais contagiosa

Pesquisadores das faculdades de Medicina (FMRP) e de Odontologia (FORP) da Universidade de São Paulo (USP), campus de Ribeirão Preto, identificaram um dos fatores que tornaram mais infecciosa a nova variante do coronavírus SARS-CoV-2, a B.1.1.7, originária do Reino Unido e com dois casos confirmados no Brasil pelo Instituto Adolf Lutz. Por meio da aplicação de ferramentas de bioinformática, eles constataram que a proteína spike da nova cepa viral – que forma a estrutura de coroa que dá nome à família dos coronavírus – estabelece maior força de interação molecular com o receptor ACE2, presente na superfície das células humanas e com o qual o SARS-CoV-2 se liga para viabilizar a infecção. O aumento na força de interação molecular da nova linhagem é causado por uma mutação já identificada no resíduo de aminoácido 501 da proteína spike do SARS-CoV-2, chamada de N501Y, que deu origem à nova variante do vírus, observaram os pesquisadores. Os resultados do trabalho, apoiado pela FAPESP, foram publicados na plataforma bioRxiv, em artigo ainda sem revisão por pares. “Vimos que a interação entre a proteína spike da nova cepa do coronavírus com a mutação N501Y é muito maior do que a apresentada pela primeira linhagem do vírus isolado em Wuhan, na China”, diz à Agência FAPESP Geraldo Aleixo Passos, professor da FMRP e da FORP-USP e coordenador do projeto. Outro autor do estudo, que realizou as análises bionformáticas, é Jadson Santos, que realiza doutorado na FMRP-USP sob orientação de Passos. Com o surgimento da linhagem B.1.1.7 no Reino Unido, os pesquisadores levantaram a hipótese de que a mutação N501Y presente na proteína spike da nova variante, resultante da substituição de um aminoácido asparagina (N501) por um do tipo tirosina (N501Y), poderia ser um dos fatores responsáveis pela alta contagiosidade da nova linhagem do coronavírus. Isso porque o N501 já havia sido identificado como um resíduo de aminoácido crucial na afinidade de ligação da proteína spike ao receptor ACE2 humano e, consequentemente, implicado na infectividade do novo coronavírus. Além disso, estudos anteriores também apontaram que a mutação N501Y encontrada na linhagem B.1.1.7 cobre um dos seis resíduos de aminoácidos de contato-chave dentro da proteína spike. “Existem outras mutações no genoma dessa linhagem que não analisamos. Focamos na N501Y porque ela está implicada na ligação da proteína spike com o ACE2”, explica Passos. A fim de testar a hipótese de que a alta infectividade da linhagem B.1.1.7 poderia ser devido a mudanças na força de interação entre a proteína spike mutante e o receptor ACE2, foram utilizadas estruturas da proteína spike do SARS-CoV-2 isolado em Wuhan e da linhagem B.1.1.7, depositadas em um banco de dados de proteínas, o Protein Data Bank. Por meio de um software de domínio público, chamado PyMOL, foi possível visualizar a interação entre o resíduo de aminoácido 501 da proteína spike do SARS-CoV-2 com o resíduo Y41 da proteína ACE2 humana e simular e analisar as interações resultantes da mutação N501Y encontrada na linhagem B.1.1.7 com o receptor celular. “Esse software permite visualizar imagens dessas estruturas moleculares com uma aproximação de 3.5 angstrom de campo, muito maior do que as imagens geradas até mesmo por um ultramicroscópio”, compara Passos. Por meio de outro software também de domínio público, chamado PDBePISA, foi possível comparar a interação das proteínas spike da linhagem selvagem do SARS-CoV-2 e da mutante com o receptor ACE2 humano. Os resultados das análises mostraram que a mutação N501Y na proteína spike da nova variante do coronavírus estabelece maior interação com o receptor ACE2 em comparação com a linhagem selvagem do vírus. As interações foram predominantemente não covalentes – mais fracas –, observaram os pesquisadores. “A somatória de várias ligações fracas entre a proteína spike mutante da nova variante do coronavírus com o receptor ACE2 humano resulta em interações moleculares mais fortes, que permitem que o vírus entre mais facilmente nas células e deflagre o sistema de replicação”, explica Passos. O estudo também revelou que a mutação N501Y causa uma alteração no espaçamento entre os resíduos de aminoácidos da proteína spike, permitindo que estabeleça ainda mais interações com o receptor ACE2. “Juntas, essas mudanças confirmaram a hipótese de que a proteína spike da cepa B.1.1.7 interage mais fortemente com o receptor ACE2”, afirma Passos. De acordo com o pesquisador, os resultados do estudo feito por meio de simulações computacionais in silico permitirão orientar novos experimentos in vitro, voltados a avaliar em laboratório a infectividade da nova variante do coronavírus em culturas de células humanas. Evolução surpreendente Segundo os pesquisadores, a rápida propagação do SARS-CoV-2 entre os humanos está impulsionando sua evolução molecular. Até agora, o vírus acumulou mutações a uma taxa de até dois nucleotídeos por mês, e isolados recentes apresentam pelo menos 20 alterações de nucleotídeos em seus genomas em comparação com a linhagem selvagem, isolada em janeiro de 2020. A maior parte das mutações está localizada na proteína spike. A linhagem B.1.1.7., detectada no início de setembro e descrita em dezembro de 2020 pelo COVID-19 Genomics UK Consortium, no Reino Unido, e já registrada em outros 17 países, incluindo o Brasil, representa um exemplo, entre vários outros, da rápida evolução molecular do novo coronavírus. Contudo, surpreendeu os cientistas por acumular 17 mutações, das quais oito estão localizadas no gene que codifica a proteína spike na superfície do vírus. “Essa nova cepa acumula muitas mutações. Se observa um número menor em outras linhagens virais”, compara Passos. Como a descrição dessa nova variante é recente, ainda não dá para avaliar com maior detalhe o fenótipo, ou seja, se ela é mais ou menos patogênica, explica o pesquisador. A animação (abaixo) mostra a interação da proteína spike da nova cepa viral com o receptor ACE2.   Elton Alisson | Agência FAPESP

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Governo de Pernambuco proíbe festas e shows

Do Blog do Governo de Pernambco O Governo de Pernambuco, após análise do Gabinete de Enfrentamento à Covid-19, anunciou a proibição de shows, festas e similares, com ou sem cobrança de ingresso, independente do número de participantes. Casamentos, formaturas e eventos sociais semelhantes são exceções, e poderão ser realizados, desde que cumpram os protocolos. A medida, que teve como base o atual momento epidemiológico, vale para todo o Estado, e inclui a proibição de shows e festas em comemoração ao Natal e Réveillon, realizados em espaços públicos ou privados, como condomínios, clubes, hotéis e estabelecimentos afins, com ou sem cobrança de ingresso. O decreto entrou em vigor a partir desta terça-feira (08.12). De acordo com o secretário estadual de Saúde, André Longo, Pernambuco fechou a semana epidemiológica (SE) 49, no último sábado (05.12), com alta nos indicadores de solicitações de UTI, casos de SRAG, além de aumento nas taxas de ocupação dos leitos, o que configurou a semana como a 3ª seguida com aumento dos patamares epidemiológicos. Na SE 49, houve aumento de 5,6% nos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave, suspeitos para a Covid-19, na comparação com a SE 48, e de 18% em relação à SE 47. “Intensificamos a fiscalização no último fim de semana e constatamos o descumprimento dos protocolos em alguns bares, restaurantes e clubes que promoveram festas e shows. A fiscalização, a partir de hoje, será ainda mais intensa, para coibir as situações de descumprimento dos protocolos e também para conscientizar a população”, explicou o secretário. No último final de semana, o PROCON Estadual, em ação conjunta com a Polícia Militar, Bombeiros e Brigada Ambiental, vistoriou 16 estabelecimentos, chegando a interditar ou notificar sete deles. “Se continuarmos a ver a recorrência do descumprimento de protocolos, ações mais duras poderão ser adotadas nestes setores de lazer e entretenimento”, advertiu Longo. O secretário de Saúde lembrou ainda que, diante do aumento das taxas de ocupação, o Governo do Estado vem trabalhando para abrir novos leitos. “Em menos de um mês, já reativamos 150 leitos – os últimos 20, inclusive, foram abertos nesta segunda-feira na Maternidade Brites de Albuquerque”, concluiu.  

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A Covid-19 internacionalizou o trabalho em conhecimento. E agora?

*Por Silvio Meira Em 1971, quando vim morar no Recife, meu pai veio trabalhar num escritório na Rua Marquês de Olinda (um dia eu ainda consigo comprar o prédio onde estava sediada a empresa que era líder no mercado de algodão no País). Mas, ao desistir de competir globalmente, o negócio deixou de ser competitivo no Brasil e acabou fechando. Resultado: desemprego de todos os funcionários no Nordeste, com muitos migrando para as novas zonas do algodão no Cerrado. . Em 1972, a Ilha do Recife abrigava a sede de cinco bancos, quatro regionais e um banco regional/nacional. Nenhum desses cinco bancos decidiu competir nacionalmente. Pelo menos um deles poderia ter feito isso. Nenhum nem tentou. Estavam contentes em serem pequenos bancos e isso os levou a uma inviabilidade de modelo de negócios e à venda, à falência ou ao fechamento de todos. Resultado: perda total de capacidade de decisão local para investimentos; perda total das competências fin+tech para o espaço econômico local; migração em massa para São Paulo e fora do Brasil e – ainda bem! – um bom número de competências em empresas e organizações que hoje fazem parte do Porto Digital. . . A destruição criativa do setor financeiro do Recife – que tinha tido até uma Bolsa de Valores, criada em 1967 – talvez tenha sido uma das fundações para a criação do que hoje é o Porto Digital, por muitas vias. . . Em 2020, a Covid-19 nacionalizou o mercado de trabalho em software e globalizou o mercado de trabalho de conhecimento para quem fala inglês. A deslocalização e a dessincronização de boa parte do trabalho em conhecimento foi acelerada (na minha opinião) de 5 a 10 anos. Ao globalizar o trabalho, a pandemia globalizou, inequivocamente, as empresas porque, na economia do conhecimento, as empresas não competem por clientes mas por trabalhadores. A verdadeira disputa global por colaboradores começou agora. "Na economia do conhecimento, as empresas não competem por clientes mas por trabalhadores. A verdadeira disputa global por colaboradores começou agora." Qual é o desafio das empresas de software (e de conhecimento), no mundo inteiro? Escrito de forma muito simples e, consequentemente, incompleta, é criar e evoluir um ambiente cultural digital de classe mundial, capaz de manter o capital humano que ainda tem e atrair o capital humano que precisar, quando precisar, seja lá de onde for, para ir, física ou digitalmente, para onde elas estiverem. No nosso caso, no Recife, para o Porto Digital. . . Sem nem entrar em detalhes de como se chega lá e no subproblema (sim, é só um subproblema) de salários, a sobrevivência de negócios de conhecimento, na economia do conhecimento, em qualquer lugar do mundo, vai depender de cultura. Em quase todos os negócios e em todos os lugares, cultura depende de lugar. De espaço físico. De contexto. Da casa, do bar, da praça e do Carnaval; a rua, o restaurante e o festival, como o Rec’n’Play. Nós não somos digitais. Não tomamos café de bits. Churrasco não é um download e o dá-o-loud (nome do bloco carnavalesco fundado por colaboradores do CESAR) é Carnaval de gente, frevo, suor e cerveja. Podemos ser – nos nossos negócios – processadores simbólicos. Mas isso somos os “nós-como-fim”, que é ameaçado por robôs e, talvez, conquistado pra trabalhar remoto, pra uma empresa que pouco importa onde fica, porque nos paga mais pra ficar longe, em casa e, não, criar os problemas contextuais (como de relações de trabalho) lá onde a empresa está, fisicamente, porque em algum lugar há de. Por um tempo, acho que vai ser muito massa pra todo mundo que participar. Mas... depois de um tempo, para os “nós-como-meio”, quase todo mundo vai sacar que esse é, em parte, um processo desumanizante. E isso não tem nada a ver com as relações de trabalho, está relacionado ao status de cada pessoa como cidadão de primeira classe (que tem todos os direitos e deveres), seja lá onde estiver. "Mas será que o futuro do trabalho (de conhecimento, em especial) é puramente digital? Não sabemos. Talvez seja. Eu acho que não será." Mas será que o futuro do trabalho (de conhecimento, em especial) é puramente digital? Não sabemos. Talvez seja. Eu acho que não será. Não completamente. Mas, seja como for, só há um caminho para as empresas sobreviverem que é serem tão boas para atrair pessoas quanto as melhores empresas do mundo atraem para elas, seja digital ou fisicamente ou no modo figital, o físico, estendido pelo digital, articulado pelo e no social, em tempo quase real. Três exemplos? A Amazon já está tentando criar o melhor ambiente de trabalho físico possível. Google está construindo um novo megacampus físico que, em si, é uma atração para o trabalhador. Paris está montando a maior rede de incubadoras em grandes cidades do mundo e um campus físico (Paris-Saclay, https://econ.st/2DVxkGy), com nove mil professores, pra ser “o MIT” da Europa... Tudo físico. Local. Prédios, gente, bares, labs, ruas, bikes, empresas, escolas, de classe global, como no Porto Digital. . . O campus de tecnologia do Recife – e do Nordeste – é o Porto Digital. Nosso maior problema de sobrevivência, desde sempre e para sempre, é atrair talentos para trabalharem nas empresas do Porto, começando a fazer isso desde o ensino fundamental, no Recife e região, e criando as condições para que as pessoas possam trabalhar nas empresas daqui, aqui e para o mundo. Isso vai exigir que as empresas locais aumentem dramaticamente sua competitividade? Disso eu não tenho dúvida. A Covid-19 nos pôs, a todos, no mesmo campo de competição por talento, que passou a ser o mundo. E eu vi o mundo e ele começava no Recife. Para ser mais exato, no Marco Zero. Tá escrito lá no Marco, no chão. E é um quadro de Cícero Dias. Lindo, por sinal! *Silvio Meira é Presidente do Conselho de Administração do Porto Digital. . LEIA TAMBÉM O futuro é pra quem tem capacidade de aprender José Carlos Cavalcanti: “Porto Digital tem perspectiva

A Covid-19 internacionalizou o trabalho em conhecimento. E agora? Read More »

Vidas absolutas e alento- Por Maurício Costa Romão*

 As mídias em geral têm repercutido ad nauseam o nefasto atingimento de 100 mil mortes por coronavírus no Brasil, registrado no dia 8 de agosto próximo passado. E aí não adianta acalentar ressalvas de que o País é continental, onde vivem 213 milhões de pessoas e que, portanto, em se tratando de uma pandemia, o número de óbitos tem que ser visto não em termos absolutos, mas proporcionalmente ao tamanho de sua população. Se assim fosse feito, o Brasil teria no cotejo internacional uma taxa até razoável de 504 óbitos por milhão de habitantes, atrás, por exemplo, de países como a Bélgica (857), Peru (789), Espanha (612), Reino Unido (609), Itália (585), Suécia (572), Chile (543), Estado Unidos (521), e um pouco acima da França (466). (Dados de 16/8/2020, Worldmeter) Embora tal procedimento seja o correto, do ponto de vista avaliativo, argumentar a seu favor nesta hora triste é minimizar a tragédia das mortes, circunscrevendo-as a meros números relativos, quando, o que importa mesmo são as vidas absolutas perdidas. Não obstante o infortúnio vivenciado, é oportuno observar o quadro numérico da crise sanitária no Brasil a partir de algumas tendências recentes que se estão delineando. Veja-se, por exemplo, o número de mortes desde o dia 12 de julho até o dia 15 de agosto (28 dias, para coincidir com as últimas quatro semanas epidemiológicas computadas pelo Ministério da Saúde, da 30ª a 33ª, quer dizer, de 19-25/07 até 9-15/08). Calcule-se para esse período a média móvel de 7 dias desde o dia 19 de julho. O resultado está espelhado no Gráfico 1, abaixo. A média móvel consiste em incorporar continuamente novos dados da série, descartando os mais antigos, o que a torna sempre atualizada. Tem a vantagem adicional de diluir o peso dos valores extremos, e arrefecer oscilações bruscas, por exemplo, como as que ocorrem nos registros de casos do vírus nos fins de semana. Nota-se que a linha de óbitos, construída a partir das 21 médias do período, apresenta um perfil evolutivo descendente, indicando que as últimas quatro semanas registraram promissora tendência de regressão diária de vidas perdidas.   O mesmo pode ser visto de outro ângulo, olhando-se o histograma no Gráfico 2, que retrata o número de mortes no Brasil por semana epidemiológica.   Vê-se que quando o país ultrapassou pela primeira vez a lamentável marca de mais de 7 mil mortes na 23ª semana epidemiológica (31 de maio a 6 de junho), de lá para cá houve uma notável estabilidade nesses números, conforme está ilustrada pela linha vermelha de tendência. Isso significa que nos últimos 75 dias, inobstante o total de óbitos por semana continuar alto, gravitando no entorno de 7 mil por semana, ou mil por dia, esse total não está aumentando, tendo, inclusive, uma leve perspectiva de baixa a partir da 30ª semana (colunas azul-claras). O corolário dessa constatação se reflete na taxa de letalidade do coronavírus (total de mortes sobre o total de casos), ajudando a explicar a significativa queda na sua trajetória (Gráfico 3).     Desde o primeiro caso de morte registrado no país em 17 de março, a taxa de letalidade cresce continuamente até atingir 7% no fim de abril. Permanece ao redor desse patamar até meados de maio e, a partir de então, inicia trajetória sistemática de queda, estando hoje estabilizada no entorno de 3,2%. Isso é importante porque mostra que embora o total de casos registrados da Covid-19 esteja aumentando no País, como acontecer em muitas partes do mundo, a quantidade de vidas perdidas pela doença está diminuindo proporcionalmente. Em outras palavras, dos novos casos de contração da doença, uma quantidade relativa cada vez menor de pessoas está falecendo e mais pessoas se estão recuperando. Por último, se se considerar o número de novos casos de coronavírus no Brasil do ponto de vista das médias móveis de 7 dias (girando atualmente perto de 45 mil casos por dia), das mesmas quatro semanas epidemiológicas tratadas neste texto, pode-se notar que há estabilidade e até ligeira tendência de declínio de ocorrências na população. Essa constatação está retratada no Gráfico 4 abaixo.   Não há nada que compense as vidas que se foram. Resta pelo menos o alento de que o quadro devastador da doença no Brasil emite sinais de que pode estar em regressão. * Maurício Costa Romão, é Ph.D. em economia pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos. mauricio-romao@uol.com.br    

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