Arquivos Gilberto Freyre - Página 2 de 2 - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

Gilberto Freyre

Você sabe o que é rurbanização?

*Por Rafael Dantas Em meados do século passado, Gilberto Freyre publicou uma série de artigos nos jornais defendendo a “rurbanização”. O sociólogo pernambucano defendia o desenvolvimento de cidades que guardassem a convivência das qualidades do rural e do urbano. O tema chegou a ganhar um livro no início da década de 80, chamado: Rurbanização: que é? O crescimento desordenado das cidades brasileiras nos mostra que quase nada de “rurbano” sobreviveu nas capitais e metrópoles. O conceito ficou quase que esquecido por duas décadas, mesmo nas universidades. Mas, desde os anos 2000, esse aspecto menos conhecido da sua obra renasce com força no meio acadêmico e em iniciativas populares que trouxeram para os quintais, terrenos baldios e ruas algumas práticas típicas do campo. A busca pelo contato com a terra, por alimentos saudáveis ou mesmo pela convivência mais harmoniosa com os vizinhos estão incentivando o surgimento de iniciativas de agricultura urbana no Recife. No bairro de Passarinho, periferia da Zona Norte, um projeto de capacitação da ONG Espaço Mulher ensinou moradoras da comunidade a produzirem nos seus quintais. Uma das beneficiadas por esse treinamento foi Vilma de Souza, que mora há 40 anos no bairro. Vivendo bem próximo ao Rio Beberibe, Vilma tinha no seu vasto quintal um problema. De tempos em tempos era preciso pagar alguém para limpar o mato que crescia nos fundos da casa. Após ser despertada pela capacitação, ela começou a cultivar. “Para mim, cuidar da terra e plantar é um entretenimento”, relata Vilma, que é neta de agricultores de Surubim. Do quintal ela retira frutas como jaca, caju, banana, graviola, acerola, entre outras. Ela colhe mais de 100 variedades de frutas, hortaliças, plantas medicinais e ornamentais que trazem qualidade de vida, alimentos saudáveis e um complemento de renda. Ela produz picolés com os excedentes do seu quintal. Na comunidade da Palha de Arroz, que fica entre os bairros do Arruda e de Peixinhos, um grupo de mulheres cuida de uma horta comunitária há dois anos. No terreno que antes era baldio, elas retiram hoje alimentos e plantas medicinais. E tem sonhos de obter infraestrutura para transformá-lo numa praça. “Antes tinha muito lixo e entulho. Agora, mantemos o lugar limpo. Estamos torcendo para vir um projeto que transforme esse espaço numa verdadeira praça, uma área para as crianças terem lazer”, almeja a moradora Marinalva Costa. . . Muitas mulheres da comunidade são filhas de pescadores, mas há também pessoas que chegaram ao Recife pelo êxodo rural. Elas receberam uma capacitação de um projeto de agricultura urbana do Centro Sabiá. Além da orientação sobre o plantio, a ONG motivou a mobilização das moradoras em torno das lutas sociais do local. A horta, por exemplo, resiste na área pelo esforço coletivo das moradoras, pois a própria comunidade não tem água encanada há um ano. “Fizemos um diagnóstico socioeconômico que apresentou um alto índice de insegurança alimentar das famílias do local. Como havia interesse das mulheres em cultivar alimentos, nós olhamos para esse espaço como potencial para o desenvolvimento de uma experiência de horta”, explica Aniérica Almeida, assessora para agricultura urbana do Centro Sabiá. No começo, 20 mulheres foram capacitadas, hoje cerca de 10 seguem no projeto. Elas já recolheram do pequeno terreno da horta batata, maracujá, mamão, abacaxi, pepino, quiabo, coentro, repolho, além das plantas medicinais. Hoje o grupo faz mutirões mensais para manter a horta, que sofre com a escassez de água, e participa de intercâmbios com outras experiências de agricultura urbana de periferias do Recife, como na Muribeca (Jaboatão dos Guararapes) e em Passarinho (Zona Norte do Recife). “Esse é um coletivo que participa do debate da agroecologia e da segurança alimentar na cidade. Nossa meta é que haja a expansão dessa experiência da agricultura em outras comunidades”, almeja Aniérica. Feijões, milhos, tomates, quiabos e outras variedades também brotam em bairros da classe média, como no solo do Poço da Panela. Às margens do Rio Capibaribe, a população construiu o Jardim Secreto no local que antes era um terreno baldio. Mais que uma praça ou um espaço de convivência, o jardim ganhou também uma horta comunitária. Mas o principal benefício para os moradores que tornam esse espaço vivo é o contato com os vizinhos e o lazer do cuidado com o meio ambiente. Além das mandalas com os plantios, o espaço possui um minhocário e um pequeno viveiro, para o nascimento de novas sementes e mudas. A arquiteta aposentada Lúcia Helena Marinho é uma das mais ativas colaboradoras do Jardim Secreto. Enquanto a maioria dos frequentadores do local contribuem nos finais de semana com a horta, ela tem a atividade como um lazer quase que diário. “Para mim é um prazer. Além disso, é uma contribuição com a sociedade, pois trabalhamos numa área pública, servindo o entorno. Para mim isso tem um valor”. . . Ela relata que, apesar de morar há 13 anos no bairro, só veio a conhecer muitas pessoas após a inauguração do Jardim Secreto. “Ampliamos a amizade com a vizinhança. Conheci pessoas que residem há 10 anos no mesmo prédio onde moro e eu nunca as tinha visto! Após essa vivência mais coletiva acabei descobrindo muita gente que pensa parecido, que tem os mesmos anseios. É um convívio bastante saudável”. Para o professor de horticultura da UFRPE e presidente da Associação Brasileira de Horticultura, Roberto de Albuquerque Melo, há um crescimento do interesse da população urbana pelo contato com a natureza e por alimentos saudáveis. Esse desejo por características mais rurais tem sido o impulsionador de experiências de hortas comunitárias ou de quintais agroecológicos (o manejo produtivo dos quintais ou arredores das residências de forma sustentável). “Vejo que as pessoas estão valorizando mais o contato com as plantas, buscando mais equilíbrio. Todos querem chegar na terceira idade com mais qualidade de vida, para isso buscam uma vida menos sedentária e aumentam o consumo de alimentos orgânicos também”. O professor tem orientado o trabalho de hortas em escolas, creches e até no Hospital Psiquiátrico Ulysses Pernambucano. “No hospital, o cultivo da horta é

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Açúcar: um caminho por Gilberto Freyre - Por Raul Lody

Indicador de caminhos e provocador nas suas questões, Gilberto Freyre possibilita uma permanente e sempre atualizada leitura e compreensão sobre o homem situado no Trópico. Inovador, trata da cultura material integrada aos contextos da casa, na rua, no trabalho, privilegiando o que a cana sacarina oferece de referências integradas e integradoras desse homem que vai formando sua casa seus sentimentos, apontando processualmente o que é e como é esse ser chamado brasileiro. em dúvida, uma grande aventura essa da culinária brasileira e, em especial, o doce, tema tão próximo em vivência e em análise por Gilberto Freyre. Nordeste e Açúcar dois textos intercomplementados, que trazem a vida cotidiana da sua região, o seu Pernambuco e amorosamente o seu Recife. Gilberto recorre à história e traça na antropologia transgressora, nova, tendo na coragem de ampliar fronteiras seu traço autoral e de sensibilidade, enquanto fundante na ampla e complexa sobre o brasileiro. Para compreender processos de chegada, de fixação, de ações coloniais no Brasil, sem dúvida o açúcar é o caminho preferencial da ocupação e da formação social e cultural do brasileiro. Assim, Gilberto escolhe também um caminho: o caminho do açúcar. Gilberto Freyre em Açúcar: em torno da etnografia, da história e da sociologia do doce no Nordeste canavieiro do Brasil, com numerosas receitas raras de doces e bolos da região e, para efeitos de comparação, algumas de outras áreas brasileiras e outras tantas de Goa (Índia Portuguesa), reunidas e selecionadas pelo autor, resulta em um texto farto como se oferecesse um cardápio de opções, dizendo que o ato de comer é um ato global. Come-se com o corpo inteiro. Inicialmente come-se com os olhos, depois come-se com o olfato; come-se com o tato, come-se finalmente com a boca, com o prazer, de um sentido tão aguçado que já é um sentimento. Contudo, ainda se come-simbolicamente, comendo-se a cultura, comendo-se a história, a civilização e de uma certa maneira come-se também o homem, uma metáfora antropofágica, pois come-se os valores e os significados plenos do que é oferecido em alimento e diria ainda, come-se a si próprio, como em um contato quase litúrgico e profundo da intimidade do eu individual com o eu coletivo, a própria cultura. Comer, um ato biológico, indispensável e principalmente um ato simbólico, ritualizado, seguindo os padrões da cultura, das ofertas do meio ambiente, das maneiras de misturar, preparar e servir, sendo certamente o ato mais pleno do homem, somente comparado ao sexual. O açúcar adoçou tantos aspectos da vida brasileira que não se pode separar dele a civilização. Para os anos 30, época da primeira edição de Açúcar, um homem interessado por receitas de bolo, doces de frutas e mais ainda por papel de seda recortado como se fosse renda para enfeitar pratos, tabuleiros foi um verdadeiro escândalo; como um sociólogo na cozinha? Sim, na cozinha, na intimidade da casa e mais ainda, na intimidade de quem fazia a casa pulsar, o fogão funcionar, as receitas reviver, as vendas e ganhos nas ruas por mulheres em condição escrava, das sobremesas dos restaurantes populares, aos hábitos de comer e de beber em casa, na rua, no cotidiano e no tempo da festa. Assim, pioneiramente Gilberto Freyre já traçava seus múltiplos caminhos para interpretar, conhecer, documentar e especialmente interagir com o homem regional – homem nordestino – em parentescos onde cabia o sangue, mas principalmente cabia a alma coletiva do povo. Falar de fruta, de açúcar, de canaviais, de receitas de bolos, falar da alta importância das diferentes culinárias do Nordeste, auferindo valor patrimonial tão patrimonial como os açucareiros de Macau, os brasões dos barões, as armas dos heróis oficiais e épicos. Forma Gilberto Freyre um olhar sensível e antropológico perante o homem nordestino, vivendo e etnografando esse mesmo homem; homem tropical, bi-africanizado, criativo, reunindo na mesa o Ocidente e o Oriente do mundo. Adaptando receitas dos mosteiros medievais, incluindo o caju e a pitanga, frutas telúricas, bem como o coco verde, a manga, a jaca, a fruta-pão todas exóticas ou nacionalizando mesas com toalhas de linho e bordados, ampliando o uso de louças da China, ampliando o uso de louças de barro, de madeira, comendo na esteira, comendo de mão, ou partilhando doce de araçá com o Menino Deus no altar doméstico da casa-grande. Manifestando profundo entendimento sobre o que come, como come, quando come, formando cardápios, cozinhas, ampliando os pratos de milho do São João, quiabos e dendê dos Xangôs, bolo Souza Leão servido em porcelana fina, sarapatel de feira e de mercado, doces, tantos e variados doces de um Recife ungido de açúcar, como é ungido de rios e de praias. Gilberto Freyre oferece em sua obra civilizatória inúmeras opções para provar em textos consistentemente bem temperados, gostosos, como um diversificado e sedutor cardápio das relações sociais, da formação da cultura brasileira. Assim, profundamente inspirado em Açúcar de Gilberto Freyre venho realizando sistemático trabalho de antropologia da alimentação desde a década de 1970, vendo, vivendo e provando pratos, inteirando-me dos cotidianos, das festas, da religiosidade, vivendo o meu projeto brasileiro, comprometido com o brasileiro. Agora em 2019 o livro Açúcar de Gilberto Freyre celebra 80 anos da sua publicação.

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Sabores ibéricos em Casa-Grande & Senzala

Gilberto valoriza uma ancestralidade de sabores decorrentes da Península Ibérica, e assim louva Portugal com todos os sabores reunidos de um povo globalizado pelas grandes navegações. Tudo está em um Portugal ibérico com territórios africanizados pelo Magreb afro-islâmicos. Do norte da África chegaram também civilizações do Mediterrâneo, a civilização da “oliva”, do “vinho”, do “queijo”. Pelas rotas das especiarias, Portugal retoma as rotas romanas que o levam para o Oriente, para a África das costas do Atlântico e do Índico; e ainda amplia as suas relações, e comércio, nas Américas e o no Caribe. Com todos estes elementos de civilizações do Ocidente e do Oriente, chegam novas construções de sabores, de técnicas culinárias, de objetos de cozinha e de serviço à mesa; e receitas, muitas dos cardápios do cotidiano, e outras das festas, festas religiosas, essencialmente católicas. Embora de um rico acervo de ingredientes, de receitas, de um Portugal de além-mar, Gilberto, em Casa-Grande & Senzala, aponta para questões econômicas, e os diferentes processos sociais que fazem parte da alimentação no Brasil colônia, e diz: “Má nos engenhos e péssima nas cidades: tal a alimentação da sociedade brasileira nos séculos XVI, XVII, XVIII. Nas cidades péssima e escassa.” Gilberto, em Casa-Grande & Senzala, quer mostrar o Nordeste do século XIX sob o regime patriarcal que foi fundado no açúcar da cana sacarina, e uma análise da civilização ibérica no trópico, assim escolhe a comida para interpretar essa compreensão colonial. É importante dizer também que Gilberto mostra, com outro olhar, a “idealizada” contribuição holandesa na cozinha regional, e diz sobre o “brote”, um tipo de biscoito enquanto, talvez, uma possível “permanência” dos batavos em Pernambuco. Pois nestes momentos da “Maurícia”, passava-se fome no Recife, os soldados batavos caçavam inclusive ratos para comer. Gilberto assim louva a farinha de mandioca e tudo que chega dela, e diz: “o próprio feijão já é luxo”. A maioria dos produtos da tradição alimentar ibérica: azeite de oliva, azeitona, vinho, farinha de trigo, e queijo chegavam de Portugal. Ainda, Gilberto diz que os cardápios mais comuns do cotidiano, da subsistência, estavam baseados na farinha de mandioca e no charque. Os desenhos das mesas repletas de comidas, num cenário de prataria, de sedas, de festas magníficas, estão, na maioria, em leituras ingênuas sobre estes processos econômicos e culturais sobre a comida possível no Nordeste do Brasil colônia. Contudo, Gilberto que exibir as mesas de celebrações, mesas com montes de açúcar, para indicar o poder do senhor de engenho. Sem dúvida, o açúcar é o orientador e formalizador das relações sociais. E também com o açúcar vêm as antigas receitas dos mosteiros de Portugal, que são realizadas e reinventadas nestes contextos da mandioca e das suas muitas possibilidades culinárias . Com a colonização, as referências das culturas de Portugal estão no idioma e na comida. Comida formada a partir de receitas moçárabes, de base muçulmana, como mostra “Arte da Cozinha” (1692) de Domingos Rodrigues: carneiro mourisco, galinha mourisca, entre outros. Também há a comida dos mosteiros medievais. Espaços consagrados às “regras” de alimentação e do “jejum”, uma orientação para a falta de comida, uma santificação para os períodos de comida rara, mesmo em Portugal. Assim, os cardápios e as receitas especiais, que se juntam às tradições populares e as “cozinhas” sofisticadas dos moçárabes na Península Ibérica, vão construindo uma “cozinha” de formação tropical, e que recorre também aos imaginários medievais dos conventos e mosteiros. Ordem dos Agostinhos, dos Beneditinos, das Carmelitas, dos Jesuítas, entre outras. Sabores “santos” que chegam às receitas de: morangos no vinagre, caldo de acelgas, bispos, leite frito, natas imaculadas, frango no vinho da missa, arroz com leite, entre muitas, muitas outras receitas conventuais. E alguns doces: amorzinhos de noviça, argola de abadessa, barrigas de freira, fatias celestiais, queijinhos do céu. E alguns exemplos que trazem os “pontos do açúcar”: de pasta, de fio, de cabelo, de pérola, do assoprado, de espadana, de rebuçado ... Tudo traz os encontros e as criações, pois, “navegar” e principalmente comer é preciso. Invenções nas cozinhas e descobertas à mesa.  

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Casa-Grande & Senzala – A comida como método social em Gilberto Freyre

  Gilberto se propõe a revelar “o seu” Nordeste ao leitor. Um Nordeste orientalizado a partir das matrizes lusas com os seus encontros com a China, Índia, Japão; e nas tradições moçárabes e judaicas. Um Nordeste da Zona da Mata de Pernambuco. Sim, Pernambuco como um foco possível e preferencial de Gilberto. O livro Casa-Grande & Senzala é também um depoimento vivencial de Gilberto, que mistura endoetnografias nos cenários do Recife. Assim, ele traz leituras e experiências familiares; também dá interpretações sentimentais; e ainda busca os sinais de uma região orientada pelo patriarcado que nasce na cana sacarina. É uma obra para muitas interpretações, para ser revisitada apontando-se para as cozinhas como experiências formais da identidade do brasileiro. Por ser um livro de vocação sensorial, sugiro ler algumas páginas ao sabor de um bolo de massa de mandioca, ou bebendo um boa cachaça, para que se possa assim ter um encontro hedonista ao gosto de Gilberto. Ele se revela hedonista quando traz de Ruth Benedict os seus conceitos de “apolíneo” e de “dionisíaco”. São encontros desejáveis e necessários ao tema açúcar, um tema nem sempre tão “doce”. Entender ainda que Gilberto tem suas preocupações literárias e estéticas com Casa-Grande & Senzala. Ele relata ambientes, festas, indumentárias, comidas, processos culinários, rituais de comensalidade. Gilberto tem um olhar iconográfico dominante, e recorre ao desenho e a pintura como processo de criação e de representação cultural. Estes imaginários estão nos textos, e se pode dizer que Casa-Grande & Senzala é um livro “cinematográfico”. E com este desejo visual, Gilberto mostra o melhor deste livro. Tudo acontece em contexto ecológico, na Mata Atlântica e nos canaviais, temas que mais tarde são aprofundados no livro Nordeste de Gilberto. Esta sociedade do século 19, exemplar em Casa-Grande & Senzala, é ampliada também em Sobrados e Mocambos, com um olhar mais urbano sobre a civilização que nasce do açúcar. Casa-Grande & Senzala mostra as histórias das “casas” e das pessoas que vivem nestas casas. Relata religiosidade, maneiras de fazer a comida, escolher os ingredientes; as muitas receitas de um Portugal já globalizado com as “grandes navegações” que aproximaram o Oriente do Ocidente. Esta obra de Gilberto mostra as festas, os rituais do plantio e da colheita da cana sacarina; os encontros de portugueses africanizados pelo Magreb, de povos nativos, de milhares de africanos da Costa, que revelam novos gostos e interpretações de sabores que se espalham pelas cozinhas, pelas mesas, num Brasil à boca. Gilberto quer apresentar um lugar possível do “trópico”.  Mostrar uma civilização onde o poder formal está no mando masculino. Contudo, este poder está também nas cozinhas, territórios consagrados ao mando feminino. Cozinhas na “Casa-Grande”, lugar onde as relações sociais são formalizadas na intimidade de espaços geradores de comidas, de um poder que se projeta no ato da alimentação. Gilberto revela os rituais das alimentações, inclusive dos “santos”, que são íntimos nestas relações sociais já à brasileira. O Menino Deus, para adoração e para o convívio com as crianças da “casa”, torna-se tão próximo que parece estar também se lambuzando de geleia de araçá. Outros doces são marcantes e, em especial, os “bolos”, tema que fundamenta o seu livro Açúcar, também dos anos 1930. Gilberto mostra o doce como um preparo feminino, marcado pela mulher lusa como uma atividade especial, pois o doce tem um preparo que vai muito além do açúcar. É um preparo de memórias ancestrais da história colonial lusa. O termo “doce” valoriza e qualifica aspectos sociais como, por exemplo, “você é um doce”; “te dou um doce”; tudo mostra o açúcar como formador de laços sociais, e isso também é retratado em Casa-Grande & Senzala. As referências dos sabores, a nova forma para se construir o paladar, o reconhecimento do que é o gosto gostoso, daquilo que chega de Portugal com os “gostos do mundo”, e se misturam com este Brasil de mandioca, de peixes, de milho, de pimentas frescas, e de muitos outros produtos da “terra”, produtos nativos. Gilberto, em Casa-Grande & Senzala, expõe uma sociedade que se revela à mesa. É assim que ele quer interpretar o brasileiro: “a partir da comida”. Casa-Grande & Senzala é uma construção formal de análise que está na tese Social life an Brazil in the middlle of the 19th Century para o título de Master Artium ou Master of Arts, Columbia University, 1922. Com certeza, em Gilberto, estão todos os sentimentos do gourmet, do antropólogo e do artista, todos reunidos na sua maneira pessoal de gostar do Recife. * Raul Lody é antropólogo.

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Pesquisa aponta aeroporto de Recife como o melhor do Nordeste

O aeroporto Gilberto Freyre, de Recife (PE), foi classificado pela Pesquisa de Satisfação do Passageiro como o melhor terminal do Nordeste. Numa escala que varia de 1 a 5, o terminal recebeu dos usuários a nota 4,49, passando na frente dos outros aeroportos da região avaliados pela pesquisa: Natal (4,42), Fortaleza (4,32) e Salvador (3,86). Para acessar a pesquisa na íntegra, clique aqui. No ranking geral de satisfação do levantamento, que avalia os 15 principais aeroportos do Brasil, o aeroporto de Recife ficou em 4º lugar. Dos 38 itens avaliados, o Gilberto Freyre obteve notas acima da média estipulada pelo governo federal (4) em 30 quesitos. O item sobre qualidade das instalações dos estacionamentos de veículos teve nota 4,23, e também foi considerado o melhor do Nordeste. Em relação ao custo-benefício dos produtos de lanchonetes e restaurantes, o terminal Gilberto Freyre ficou em 2º lugar entre os 15 avaliados, com nota 3,31, perdendo apenas para Campinas (3,53). RECORDE DE SATISFAÇÃO - os resultados do segundo trimestre da Pesquisa Permanente de Satisfação do Passageiro, realizada pela Secretaria Nacional de Aviação Civil, apontam um novo recorde de satisfação. O índice medido de abril a junho mostrou que 92% dos viajantes avaliaram os terminais como "bons" ou "muito bons", superando o número do trimestre anterior que foi de 91%. Com isso, o índice de satisfação geral teve nota 4,39, numa escala de 1 a 5. Neste segundo trimestre foram entrevistados 13,1 mil passageiros, sendo que quase metade dos viajantes (49%) deram notas 5 (muito bom) para o indicador de satisfação geral avaliado na pesquisa. O resultado foi a maior porcentagem registrada da série histórica desde o início da coleta de dados, em 2013. Outros 43% avaliaram com notas 4 (bom), 7% com notas 3 (regular) e apenas 1% com notas 2 (ruim). Além disso, entre os 15 terminais avaliados, 14 tiveram nota acima de 4 – média estipulada pela Conaero (Comissão Nacional de Autoridades Aeroportuárias), – e todos eles apresentaram melhoria em relação a si mesmo na comparação com o segundo trimestre de 2016. Para o secretário Nacional de Aviação Civil, Dario Lopes, os resultados comprovam o esforço do setor em aprimorar a gestão e entregar um serviço cada vez melhor ao passageiro. "Temos trabalhado junto com os nossos parceiros para identificar e atuar nas melhorias e isso tem funcionado, como comprova a pesquisa”, pontuou. PESQUISA – Desde que passou a ser realizada, em janeiro de 2013, a pesquisa de satisfação já ouviu mais de 280 mil pessoas nos 15 aeroportos responsáveis por 80% da movimentação de passageiros no país. Numa escala de 1 a 5, os usuários classificam o desempenho das operações em 37 indicadores, além do item final sobre a sua satisfação geral com o aeroporto. Neste último trimestre, foram entrevistadas 13.194 pessoas, das quais 8.343 eram passageiros de voos domésticos e 4.851 de internacionais. Os aeroportos estão divididos em três categorias baseadas no número de passageiros processados por ano. Até cinco milhões de passageiros estão os terminais de Natal (RN), Manaus (AM) e Cuiabá (MT). Entre 5 e 15 milhões de passageiros estão: Fortaleza (CE), Recife (PE), Curitiba (PR), Porto Alegre (RS), Salvador (BA), Santos Dumont (RJ), Campinas (SP) e Confins (MG). Acima de 15 milhões de passageiros estão Galeão (RJ), Congonhas (SP), Brasília (DF) e Guarulhos (SP). Os passageiros são ouvidos diariamente por pesquisadores da Praxian – Business & Marketing. O nível de confiança do levantamento é de 95%, com margem de erro de 5%.

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6 livros para conhecer Gilberto Freyre (dicas de Gilberto Freyre Neto)

Gilberto Freyre é um dos intelectuais pernambucanos mais conhecidos no mundo. O sociólogo e historiador é lembrado principalmente por uma de suas obras "Casa Grande & Senzala", mas indicamos aqui mais cinco livros para se apropriar dos trabalhos mais relevantes do pensador. Quem indicou as publicações mais importantes foi Gilberto Freyre Neto, coordenador geral de projetos da Fundação Gilberto Freyre. Veja abaixo as indicações:     Casa-Grande & Senzala Clássico de Gilberto Freyre, Casa-grande & Senzala foi lançado em 1933. A publicação representa culturalmente uma espécie de fundação do Brasil. O livro valoriza o espaço e papel do povo negro na formação brasileira. O autor exalta nesta obra a miscigenação racial.           Sobrados e Mucambos Seguindo a sua análise sobre o Brasil, Freyre estuda a formação da família e da sociedade brasileira. É um livro que expõe a decadência do patriarcado rural, como resultado do declínio da escravidão. Uma análise de como esse extrato social perdeu espaço, poder e prestígio na sociedade brasileira e acerca dos desdobramentos dessa mudança.           Ordem e Progresso É um trabalho do sociólogo que busca interpretar quem é o homem nacional. O livro cumpre o papel de ser uma introdução sociológica e antropológica acerca da sociedade patriarcal no Brasil nos anos de transição do regime Imperial à República.         Guia Prático Histórico e Sentimental da Cidade do Recife O amor do sociólogo pela capital pernambucana fica expressa nas páginas deste livro. Ele detalha o cotidiano do povo, com destaque para os populares, como pescadores, jangadeiros, comerciantes. Lugares e suas histórias estão descritos nesse clássico para conhecer a cidade.             Assombrações do Recife Velho O Recife é conhecido como a capital brasileira das assombrações e um dos livros referenciais que construíram essa marca é justamente 'Assombrações do Recife Velho'. Nessa obra, Freyre conta 27 histórias místicas com personagens e lugares da capital pernambucana, como o Teatro Santa Isabel e diversos prédios e casarões assombrados.       Açúcar Uma sociologia doce, com receitas de bolos e doces do Nordeste do Brasil A relação da culinária e gastronomia com a construção social do Nordeste é o tema deste livro onde Freyre trata das origens das receitas mais açucaradas que agradam o paladar tipicamente nordestino. O cultivo da cana-de-açúcar e a relação desse segmento econômico com a região fazem parte da análise do sociólogo.       Leituras obrigatórias para entender mais sobre as origens do Brasil, do Nordeste e de Pernambuco, os livros são encontrados nas principais livrarias e facilmente achados nas lojas online. As edições mais antigas podem ser adquiridas nos sebos. *Rafael Dantas - repórter da Revista Algomais (rafael@revistaalgomais.com.br)

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