Claudia Santos, Autor Em Revista Algomais - A Revista De Pernambuco - Página 82 De 141

Claudia Santos

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“Que país é este?”

A pergunta do título foi formulada por Francelino Pereira (1921-2017), político nascido no Piauí mas que fez carreira em Minas Gerais onde foi governador e senador, além de presidente nacional da Arena, partido de apoio ao regime militar nas décadas de 1960/70/80. Francelino inquiria, então, sobre a falta de confiança de boa parte da opinião pública acerca da sinceridade do presidente Ernesto Geisel em levar adiante a abertura política prometida. Em meio ao ambiente de radicalização da época (situação x oposição), a pergunta virou uma espécie de meme usado principalmente pelos humoristas, em especial no jornal mais crítico da época, O Pasquim. Transformou-se até em título de uma música do Legião Urbana... Tenho muita curiosidade de saber o que pensaria Francelino do País nos dias de hoje. Que pergunta faria? Afinal, o que diria observando o ambiente político dos últimos cinco anos? Um afluxo inusitado e surpreendente de gente na rua protestando contra a qualidade dos serviços públicos que se requeria fossem “padrão Fifa” (as famosas “jornadas de junho de 2013); uma eleição presidencial ultrapolarizada; uma crise que muitos dizem ser a pior da história documentada e que começa apenas timidamente a se reverter, projetando mais uma década perdida de crescimento econômico; uma operação policial/judicial que levou à barra dos tribunais e à cadeia figuras importantes do cenário empresarial e político nacional, devendo ampliar em muito seu espectro de atuação; o segundo impeachment de um presidente da República em menos de 25 anos; um vice-presidente que assume e se mantém com a maior taxa de desaprovação da história conhecida; uma tremenda radicalização política pelas redes sociais e que começa a manifestar-se nas ruas, ameaçando jogar o País numa espiral de violência e incerteza política sem precedentes; uma classe política completamente desacreditada; uma suprema corte que se transformou numa fonte perene de insegurança jurídica; e, por último, mas não menos importante, a eleição presidencial mais incerta desde a redemocratização... Tenho a impressão de que Francelino ficaria pasmo, sem ter o que dizer diante da magnitude dos fatos recentes... Daí, a enorme importância de, penso, os não radicais buscarmos conservar e cultivar o bom senso e evitar, ao máximo, radicalizações. O futuro do País está sendo seriamente jogado nas próximas eleições. Neste cenário, não eleger nenhum populista é absolutamente vital!

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N. S. de Nazaré do Cabo de Santo Agostinho

Para os primeiros navegadores europeus chegados à costa de Pernambuco, o Cabo de Santo Agostinho, antes chamado pelo navegador espanhol Vicente Yañez Pinzón de Santa Maria de la Consolacion, apresentava-se como sendo de “terra baixa (com) muito arvoredo junto ao mar e parecendo alguns campos sem árvores”, segundo observação do piloto português Luís Teixeira, in Roteiro de todos os sinais etc., manuscrito elaborado entre 1582 e 1585. Para aquele homem do mar, o Cabo de Santo Agostinho era o primeiro acidente geográfico, situado a oito graus e meio, avistado por qualquer navegador procedente da Europa, na costa brasileira: Virei correndo a costa para o norte e terei aviso que se vir algumas barreiras ao longo do mar em demanda ao Cabo de Santo Agostinho, vê-lo-ei cortado e lança-se ao mar e faz um focinho como de baleia, em cima dele um monte, redondo de arvoredo, como cerca. Em 1597, o piloto-mor da Carreira das Índias Mateus Jorge, ao descrever o Cabo de Santo Agostinho faz referência a uma ermida branca localizada no alto. No Exame de Pilotos, publicado em 1614, Manuel de Figueiredo, piloto e cosmógrafo do Reino de Portugal, registra que, em dia claro, se avista aquela igrejinha dedicada a Nossa Senhora de Nazaré. A construção da ermida, como sendo obra do fim do século 16 e primeiros anos do século 17, parece ter confirmação na lápide que marca a colocação da sineira, datada de 1603 ou 1605, segundo relatório de pesquisa do professor Ayrton Almeida Carvalho, durante os trabalhos de restauração da igreja (1959). Frei Agostinho de Santa Maria, no seu Santuário Mariano (1722), informa que a construção do atual templo data de 1627, ocasião em que se edificou uma capelinha de abóbada e sobre essa uma torre com coruchéu, destinada ao balizamento do ancoradouro pelos navegantes. A devoção de Nossa Senhora de Nazaré seria originária de Portugal, devido à semelhança existente entre a paisagem do Cabo de Santo Agostinho e o promontório da praia de Nazaré, localizada junto à vila da Pederneira, em Alcobaça (Portugal). O mesmo frei Agostinho conta que pouco depois um ermitão chegou ao local carregando consigo uma imagem de Nossa Senhora de Nazaré, originária da vila da Pederneira, com a qual pedia esmolas e a colocou no altar da dita capela. O Arraial de Nazaré do Cabo foi tomado pelos holandeses, em 1635, sendo o seu reduto arrasado, restando tão-somente, segundo relatório de Adriaen van der Dussen (1639), quatro peças de metal de seis libras, bombardas e uma paliçada, que servia de guarda avançada. Com a sua retomada pelos luso-brasileiros, em 1640, o senhor do Engenho Salgado, Pedro Dias da Fonseca, inicia a reconstrução da capela, concluída nas festas do Natal de 1648. Expulsos os holandeses em 1654, o terreno onde se erguera a Capela de Nossa Senhora de Nazaré veio a ser doado, em 1687, aos frades carmelitas do Recife que iniciaram, junto ao templo, a construção de um pequenino convento. As obras se estenderam de 1692 a 1731, como se depreende da inscrição latina existente no corredor que antecede a sacristia, comemorativa da conclusão dos trabalhos.

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As perspectivas para 2018 e as ondas da transformação digital

A rápida velocidade das inovações disruptivas é a principal ameaça aos negócios em 2018. Foi o que apontou o estudo Perspectivas de Executivos para os Principais Riscos em 2018, realizado pela consultoria Protiviti com 728 empresários de diversas regiões do mundo, incluindo o Brasil. A transformação digital ficou na frente de ameaças como as incertezas do cenário econômico, a instabilidade das eleições, a corrupção e o terrorismo. Isso mostra que o assunto transformação digital já é percebido pela maioria dos executivos. Mas isso não quer dizer que as atitudes adequadas estão sendo tomadas dentro das empresas para enfrentar essa ameaça. Nesse sentido, é importante compreender que a transformação digital se movimenta em ondas, com impactos diferentes a depender da cadeia de valor de cada segmento: produção, distribuição, marketing e consumo. A primeira onda da transformação digital aconteceu com mais intensidade de 10 anos para cá. Um exemplo clássico é o filme fotográfico, que foi substituído pela imagem digital. A função de registrar uma imagem foi mantida, mas a forma foi totalmente modificada em poucos anos. Isso levou a Kodak à falência, mesmo que tenha sido ela a criadora da câmera digital. Com a música também foi assim. O CD foi reduzido a uma participação irrelevante de mercado e o streaming é quem lidera atualmente a preferência do consumidor. A segunda onda da transformação digital está acontecendo agora. Um bom exemplo é o automóvel, que vem sendo impactado não somente na sua forma, como também na sua função. Por causa do avanço da tecnologia, o carro está evoluindo nos próximos 10 anos na direção de ser elétrico, autônomo e compartilhado. Em outras palavras, a mudança de comportamento do consumidor com o ato de não abastecer no posto, de não dirigir e de não ter a propriedade de um veículo está causando uma grande transformação na indústria do petróleo e de autopeças, na organização das cidades (leis, fiscalização, sinalização, habilitação, vias, estacionamento etc.) na rede de distribuição (concessionárias), na manutenção (oficinas), no financiamento bancário, nos serviços como seguro, etc. Muito provavelmente um impacto tão profundo que vai custar trilhões de dólares. Ainda não dá para prever com precisão como será a terceira onda da transformação digital porque as novas tecnologias continuam surgindo e se consolidando a cada dia. Inteligência artificial, blockchain e internet das coisas estarão de alguma forma entre os grandes pilares dessa nova fase. Só não devemos esquecer que todos os negócios serão afetados no presente e no futuro, seja de forma direta ou indireta, com mais ou menos impacto. Portanto, avaliar corretamente esse cenário e responder com a atitude adequada são as melhores decisões a se tomar para não ser engolido pela transformação digital.

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Lagarta

Desde que passei a observá-la, há 20 minutos, andou metro, talvez metro e meio. Ultrapassa pedras com persistência, paciência e perseverança. Obstáculos vencidos com rebolado. É brasileira, a lagarta. Gingado de sobra. É colorida, a lagarta. Sensual, lenta e ofuscante. Sozinha, sem os seus por perto, lá vai ela. Por hora, tem somente a mim. Não sabe o risco que corre. Humanos são imprevisíveis. Pisá-la não seria tarefa difícil. Mas hipnotiza-me sua beleza. O tênis made in China logo desiste da maldade que pensou em fazer. Por que faria(m) isso? Acomodo-me no batente que divide a estradinha de paralelepípedo da porção de terra pedregosa onde desfila. Resolvo observar-te, querida. Almejo acompanhar-te do pedestal desta calçada. Do alto de minha falsa superioridade, desejo saber onde vais. Qual teu destino, lagartinha brasileira? Observo teu pequeno mundo. O modo como te moves. Tua solidão. Tua elegância. Tua maneira de encarar os desafios. Invejo-te. Parece que não tens que dar satisfação a ninguém. À exceção desta momentânea visita, ninguém mais procura saber de ti. Ninguém. Absolutamente ninguém. Ponho-me a imaginar uma vida como a tua. Sem grandes decisões a serem tomadas. Sem satisfações a dar. Sem explicações. Sem ter que se expor à multidão. Sem sonhos frustrados. Sem ser julgada. Sem metas, nem relatórios. Sem contas a pagar. Sem escolhas difíceis. Andas, agora, mais depressa. Parece que sentes minha presença. Desesperadamente rápida. De repente...imóvel. Implacável. Bastou esse inseto atravessar teu caminho para esqueceres de mim. Ignoras, por hora, minha humilde presença. Somente folhas, pensava, interessariam a ti. Alimentar-se, ao sol ardente deste agreste, devorando o minúsculo nojento, não me apetece. Mas torço para que se delicies no banquete divino da sobrevivência. Como te entregas de maneira linda aos prazeres da vida, lagartinha. Maravilha é andar por aí, sozinha, independente, fragilmente forte, autônoma. Mesmo com todos os perigos que esse pequeno pedaço de chão possa te oferecer. Invejo tua coragem ou, talvez, tua ignorância do perigo. Tua audácia em subir essa pedra impressiona-me. Poderias vir pela direita onde o caminho está livre. A decisão é tua. Quem sou eu para dizer a ti por onde andar? Quem sou eu para opinar assim de forma tão invasiva quanto aos caminhos que a vida te faz optar? Pois saiba você, lagarta sedutora, a simplicidade da tua vida é algo extraordinário. É de se admirar. Gostaria de te dizer isso antes de partir. Talvez nem passe por essa cabecinha desmiolada, mas qualquer dia desses, sem menos esperar, voarás. Para bem longe. Para uma nova vida. Para novas possibilidades. Quem sabe, encontros. E não há nada mais animador, lagartinha querida, do que recomeçar. Renascer. Voar. Para bem longe. De preferência, para uma vida igualmente simples e plena, como é a tua.

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Pedro vai às compras (Por Joca Souza Leão)

Meu neto Pedro já foi três vezes ao exterior, mas não conhecia o Centro do Recife. Nem os recifenses que circulam por lá. Como os meninos de classe média da sua idade, dez anos, Pedro só conhecia os caminhos da escola, do clube, um ou outro parque, a praia de Boa Viagem, shoppings, aeroporto e saídas da cidade para o interior e litoral. De carro. E de bicicleta, com o pai, João, em algumas incursões pelas precárias ciclovias domingueiras. Ah!, também conhecia o Marco Zero e os museus do Sertão, do Estado, do Recife (no Forte das Cinco Pontas), do Homem, zoológico, em Dois Irmãos, Teatro Santa Isabel e alguns outros, onde assistiu peças infantis. Mas, pouco anda pelo bairro onde mora. Apenas na pracinha em frente ao prédio, no supermercado e no mercado público, porque muito próximos de casa. E os bairros? Peixinhos, Beberibe, Cajueiro, Arruda, Casa Amarela, Alto do Mandu, Vasco, Macaxeira, Linha do Tiro, Iputinga, Cordeiro, Engenho do Meio, Afogados, Tejipió...? Nada. A Várzea, de passagem, a caminho dos Brennand, Oficina de Francisco e Instituto de Ricardo. Mas, Pedro precisou comprar uma bola de handball infantil. Bateram todos os shoppings. Nada. Pela internet, a entrega seria demorada e mais cara porque a bola viria cheia. O treinador deu a dica: Dimarca Sports, na Rua de Santa Rita, no bairro de São José. “Papai, é muita gente!” A exclamação de Pedro revelou a sua natural e compreensível perplexidade. “Muita gente.” E muita gente diferente da que ele estava acostumado a ver nos shoppings. A loja, desarrumada. Cheia de tudo por todo canto, produtos pendurados no teto, tabuleiros abarrotados. Tudo para esportes. De todas as marcas e preços. Bem mais baratos que nos shoppings e pela internet. (Isto é um comercial explícito; de graça, mas é.) Bola comprada, João propôs e Pedro topou irem ao Mercado de São José. E andaram nas ruas por ali. Pátio do Livramento, Rua Direita, das Calçadas, do Rangel, Pátio de São Pedro, Rua Nova, Guararapes, até a Rua do Sol. Pedro conheceu um pouco do Recife. E gostou do que viu. (Ah se ele tivesse conhecido o Recife que eu conheci quando tinha a idade dele!) Você, caro leitor, mora onde? No Recife? Qual deles? A televisão se refere a alguns deles, poucos, como “áreas nobres”. A outros, um pouco mais numerosos, pelos nomes dos bairros. E a outros, a grande maioria, dependendo do conteúdo da notícia, como favela, periferia, invasão ou comunidade. Baile funk é na favela. Troça carnavalesca, na comunidade. Bala perdida é na favela. Indignação, revolta e resistência é (ou será) na comunidade. Recife. Recifes. Várias. Muitas. Cidades apartadas. Poucas com tanto; muitas com tão pouco, quase nada.

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Vagas prioritárias e travessia segura marcam o Maio Amarelo do Plaza Shopping

Serão cinco dias de atividades desenvolvidas para alertar sobre a importância das vagas prioritárias no estacionamento e os cuidados na faixa de pedestre A área Socioambiental do Plaza Shopping em parceria com o Departamento Estadual de Trânsito de Pernambuco – DETRAN-PE, promove nos dias 02, 04, 05, 06 e 30 de maio as ações “Turma do Fom Fom na faixa” e “Vagas Prioritárias” para celebrar o Maio Amarelo, campanha em prol de um trânsito mais seguro. Este ano o tema é “Nós Somos o Trânsito”, trazendo para cada um, a responsabilidade de cuidar e respeitar, mensagem que é reforçada no subtítulo da campanha: Trânsito é feito de gente e a gente merece respeito. A campanha, que é mundial e foi criada pelo ONU em 2010, busca chamar a atenção da sociedade para o alto índice de mortes e feridos no trânsito em todo o mundo. Entre os centros de compras do Recife, o Plaza Shopping foi o escolhido pelo Detran-PE para dar início às comemorações com o projeto “Turma do Fom Fom na Faixa”, e não por acaso, uma vez que a faixa de pedestre em frente ao Plaza Shopping é, talvez, a única faixa de pedestre na cidade que é respeitada pelo motorista. Nos dias 02, 04 e 30 de maio, os integrantes da turminha mais divertida e experiente nas leis de trânsito, estarão acompanhando pedestres em suas travessias e conversando sobre a maneira correta de atravessar a faixa em companhia de crianças ou a sós, aproveitando o momento para saudar motoristas que pararem espontaneamente para permitir a passagem dos pedestres. Já nos dias 05 e 06 de maio, a ação é dentro do Plaza Shopping e ressalta mais uma vez o respeito ao direito pelo uso das vagas especiais, sobretudo respeito aos cadeirantes. Com o título “Vagas Prioritárias” a ação conta com a participação especial da ONG DNA Solidário, voluntários do Rotary, além da Turma do Fom Fom. Na ocasião, serão colocadas cadeiras de rodas em vagas comuns do piso E1 do Edifício Garagem havendo, em cada uma delas, placas com desculpas como “é só um minutinho” e “já volto”, frases comuns ao cotidiano dos cadeirantes voluntários. A iniciativa tem o objetivo de estimular os clientes a refletir sobre a importância das vagas reservadas em estacionamentos públicos e privados. Durante o “Vagas Prioritárias”, também serão realizadas ações para esclarecer os usuários sobre o dispositivo legal que ampara a vaga reservada. O “Maio Amarelo” é um movimento internacional de mobilização e conscientização para a redução de acidentes e para um trânsito seguro em qualquer situação. Os visitantes também receberão panfletos com orientações sobre segurança no trânsito e fitilhos amarelos – símbolos da campanha, além de multa moral aos motoristas que estacionarem nas vagas erradas. MAIO AMARELO - A cor amarela da campanha foi escolhida por simbolizar atenção, em referência à sinalização de advertência no trânsito. Já o mês, foi escolhido por ter uma ligação com a história de segurança no trânsito, uma vez que foi em maio de 2010 que a ONU decretou a Década de Ações para a Segurança no Trânsito, com meta para reduzir acidentes de trânsito em todo o mundo. MAIO AMARELO NO PLAZA SHOPPING -TURMA DO FOMFOM NA FAIXA: Data: 02, 04 e 30 de maio Horário: 10h às 12h Local: faixa de pedestre em frente ao Plaza Shopping Casa Forte -VAGAS PRIORITÁRIAS: Data: 05 e 06 de maio Horário: das 11h às 13h, no sábado (05), e das 12h às 14h no domingo Local: piso E1 do Edifício Garagem

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Tombos amorosos e o poder da amizade

*Por Beatriz Braga Há dez anos, em uma aula de francês, aprendi que a tradução para “se apaixonar” é “tomber amoureux”, sendo “tomber” o mais próximo possível do bom e velho ‘tombar’ em português. Amar é, pois, segundo o país mais romântico do mundo, um inevitável tombo. As personagens das séries que indico aqui provavelmente concordam com os franceses. A primeira é Midge, protagonista de The Marvelous Mrs Maisel (A Maravilhosa Senhora Maisel, em português, disponível na Amazon Prime Video) e Frankie e Grace, personagens centrais da produção da Netflix cujo título leva seus nomes. Midge é uma dona de casa na Nova York de 1958. Jovem, submissa e vive para o marido e filhos. Até que sofre uma desilusão amorosa e acaba se descobrindo uma talentosa comediante. A série narra sua jornada até o palco, onde usa seu papel de esposa de forma irônica e divertida. A premiada Mrs Maisel – da mesma criadora de Gilmore Girls - é a melhor dica que você vai receber nos últimos tempos. Frankie e Grace recentemente estreou sua quarta temporada. Jane Fonda e Lily Tomlin interpretam duas septuagenárias cujos maridos se revelam um par romântico e juntas vão se reerguendo. As duas séries trazem épocas emblemáticas na vida das mulheres comuns. A primeira vive os quase trinta, quando já é “obrigatório” se ter uma vida amorosa bem resolvida. O divórcio é um fracasso para Midge. Ela vive a época retratada por Betty Friedan, num dos livros precursores do movimento feminista -  A mística feminina - no qual relata o descontentamento das mulheres brancas e classe média dos anos 1950, que se descobriam infelizes dentro dos seus casamentos. As mulheres atuais podem se conectar com as angústias de Midge, afinal, o machismo não ficou preso ao passado. Já Frankie e Grace estão na idade não permitida. Envelhecer é um pecado num mundo antirrugas. Nada é bem-vindo: surpresas, amores, sexo, prazer e independência. E aqui estão elas fazendo vibradores desenhados especialmente para idosas. O que os dois roteiros têm em comum é a reinvenção após o tombo. Somos ensinadas a esperar de um relacionamento mais do que ele pode nos dar. Dizem, quando pequenas, que somos metades incompletas, panelas destampadas a procura da tampa perfeita. O outro se torna, então, nossa completude. Deve ser algo construído nas narrativas da nossa infância, quando as mocinhas e princesas tinham no centro das suas histórias a grande ambição de encontrar um amor. Enquanto o seu par lutava, corria atrás de dragões e vencia lutas impossíveis, ela esperava o seu final feliz ser conquistado por outra pessoa. O encontro era o fim e nunca o começo. Era ali, mocinha e mocinho, com os créditos subindo na tela, que a felicidade congelada simulava eternidade. E o depois? O que acontece quando o relacionamento se desgasta, falha ou não nos faz tão feliz como sonhávamos? Nos sentimos como a metade podre da laranja, muitas vezes incapazes de nos desfazer de um caso que já não dá mais certo. Lembro da linguagem amorosa francesa ao observar a rede feminina da qual faço parte. Das mulheres ao meu redor, as mais solitárias são aquelas que estão presas em relacionamentos tão desgastados e opressores que não sentem mais o peso do tombo. Como se o relacionamento fosse um contrato social com a garantia de um futuro bom, muitas vezes as promessas de “final feliz” se transformam em estagnação. O fim da busca da felicidade, do autoconhecimento, da liberdade, da independência e o pior de todos: o fim do amor próprio. Midge, Frankie e Grace são levadas ao recomeço. O outro delicioso ponto em comum das séries é que o combustível das protagonistas está em um elemento especial: a amizade com outra mulher. Enquanto a comediante em aspiração encontra força na parceria com uma funcionária de um bar de stand up comedy, Frankie e Grace tornam-se, uma para outra, a melhor das companhias. Dois novos casamentos que jamais significam o fim. A Maravilhosa Senhora Maisel e Frankie Gracie são daquelas séries que nos fazem sutilmente um carinho no coração. Nos sentimos bem ao ver a dupla de senhoras testando vibradores, dizendo não aos filhos e se libertando das pressões de uma juventude que já passou. Assim como quando assistimos Midge se descobrindo mais talentosa e inteligente que o marido, se permitindo rir da humilhação enquanto esposa traída, arrasando no palco e incomodando os machões. Deixemos que essas histórias sejam um incentivo para nós também. Sejamos velhas. Sejamos falhas. Sejamos desquitadas se for preciso. Tenhamos relacionamentos que signifiquem sempre parte do caminho e não o destino final. Tenhamos a audácia de querer mais da vida do que os planos que fizemos no passado. Tenhamos amigas-combustíveis. Tenhamos coragem de abandonar os nossos roteiros e inventar novos começos. A qualquer idade e status social. *Beatriz Braga é jornalista e empresária

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Sport vence na estreia de Claudinei Oliveira

Houldine Nascimento A primeira vitória do Sport nesta edição do Campeonato Brasileiro veio diante de um adversário direto na briga contra o rebaixamento. Nesse domingo (29), o Leão foi a Curitiba enfrentar o Paraná Clube e venceu por 2 a 1. Rogério, aos 7 minutos da primeira etapa, e Marlone, aos 3 minutos do segundo tempo, em magistral cobrança de falta, marcaram para o time pernambucano. Os gols do Sport saíram em momentos cruciais do jogo e minaram a reação paranista, que descontou somente aos 43 minutos da etapa final com Jhonny Lucas. É bem verdade que o Paraná criou várias chances, mas o ataque vacilou na hora de finalizar e, quando acertou, parou nas mãos do goleiro Mailson, que fez uma partida segura e praticou boas defesas. O volume de jogo maior do time da casa (65%) e a quantidade excessiva de cruzamentos (35) foram insuficientes para mudar a realidade da partida, que também marcou a estreia de Claudinei Oliveira (ex-Avaí) como técnico do Sport. Mesmo com o importante triunfo obtido, o time rubro-negro ainda precisa melhorar em diversos pontos. Em vários momentos, os atletas paranistas trocavam passes sem serem incomodados pela marcação pernambucana. Prova tamanha disso é que os atacantes ficaram cara a cara com Mailson em incontáveis vezes. Após vivenciar uma semana turbulenta pela saída do técnico Nelsinho Baptista, que fez duras críticas à diretoria, o Sport conseguiu contornar a crise dentro de campo. Fora dele, tudo é um mistério. A próxima partida do Leão é contra o Bahia, no domingo (6), às 16h, na Ilha do Retiro. O clássico regional pode ser um divisor de águas na vida do Rubro-negro. *Houldine Nascimento é jornalista

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Na Série C, Santa Cruz parte na frente

Por Houldine Nascimento Desacreditado pelas eliminações na primeira fase da Copa do Brasil e nas quartas de final do Campeonato Pernambucano, o Santa Cruz, em tese, era o clube pernambucano que inspirava maiores cuidados. Os dois resultados obtidos no Campeonato Brasileiro Série C, no entanto, vão em direção oposta. Debaixo de chuva, o Tricolor venceu o Atlético-AC por 3 a 1, nesse domingo (22), no Arruda, e assumiu a terceira colocação no grupo A com quatro pontos. Os gols do Santa foram marcados por Geovani, Carlinhos Paraíba e Robert. O time acreano descontou com Araújo. Na partida, a equipe pernambucana teve dois pênaltis assinalados a favor e que foram convertidos. Os jogadores dos dois clubes ainda tiveram que lutar contra o gramado encharcado. Na primeira rodada, o Santa Cruz teve de enfrentar o rival Náutico na Arena de Pernambuco e conquistou um bom resultado ao empatar por 1 a 1. E poderia ser ainda melhor pelas chances reais que a Cobra Coral criou após buscar a igualdade no placar, não fosse o goleiro Bruno. Júnior Rocha ainda estava no comando Tricolor. O novo técnico, o experiente Paulo César Gusmão, ainda não fez a estreia à beira do gramado. Coube ao auxiliar Adriano Teixeira conduzir os atletas corais à vitória. Além da Série C, o Santa continua na disputa pelo bicampeonato da Copa do Nordeste. O mais importante mesmo para o time pernambucano é obter o acesso à Segunda Divisão nacional. Pela tradição do Santa Cruz, o retorno à Série B deve ser alcançado de imediato. O caso do Náutico é semelhante, só que, até o momento, o Timbu parece não ter despertado do título estadual. Na estreia da Série C, fez uma boa partida, mas não transformou as oportunidades criadas em gol. No último sábado (21), em João Pessoa, passou por um vexame ao ser goleado pelo Botafogo-PB por 4 a 0. O revés fez o técnico Roberto Fernandes não só chamar a atenção dos seus comandados como também pedir desculpas à torcida alvirrubra. A reação na competição é urgente. Já na Copa do Brasil, mesmo desclassificado no campo, o Náutico ainda tem real possibilidade de passar às oitavas devido a escalações irregulares de dois jogadores da Ponte Preta. No placar agregado, o time de Campinas venceu o Timbu por 3 a 1.

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Eu não sou um homem fácil

*Por Beatriz Braga Você é homem e acorda num dia comum. Abre o guarda-roupa, põe uma calça justa o suficiente para apertar seus sacos. Hoje não é dia de vestir shorts, pois a sua perna “não está feita”. Vai ao trabalho e sua chefe - que fala de fluxo menstrual sem tabu - ignora seu trabalho e sugere troca de favores sexuais. Você é despedido por ser histérico. Sai em um encontro e a parceira reclama da perna peluda, diz que assim não dá pra ter tesão. Tudo que seu pai fala é sobre como você anda promíscuo e o relógio biológico está alarmando. O mundo está ao contrário e só você reparou. Essa é a trama de Eu não sou um homem fácil, primeira comédia francesa da Netflix. Damien sofre um acidente e acorda em um mundo onde os corpos masculinos são hipersexualizados. Mulheres são a maioria nos cargos de liderança e exercem profissões antes consideradas dignas de testosterona, como pintoras e açougueiras. Elas assobiam nas ruas, correm de peitos livres e dizem coisas como “do que você está reclamando? de ganhar presentes e mulheres carregando pesos para você?”. O filme é uma comédia francesa que acerta no tragicômico. O homem recém acordado era um machista mulherengo. Na sociedade às avessas, só aguenta as primeiras horas. No começo, acha graça das mulheres que fixam o olhar na sua bunda. Em pouco tempo, pede pra sair. Logo ele, macho alfa das arábias, torna-se “masculista” (respectivo para feminista no filme) e cheio de “mimimi”. Mulheres, vocês conhecem algum homem que aguentaria o tranco? O cara que estava noO cara que estava notopo da pirâmide, a pica das galáxias, de uma hora para outra, se encontra nafrente do espelho testando enchimento para bunda (porque rapidamente foiatingido pela pressão de ter um corpo perfeito, durinho e preenchido). O filme apela para os estereótipos. As mulheres da trama gostam de carros, futebol, arrotam e traem. Os homens são sentimentais e dependentes. Isso, no entanto, não me incomoda, porque também é uma provocação. Afinal, o mundo nos encaixa em fôrmas pré-definidas cada vez que abrimos os olhos. Dois pontos me chamaram a atenção no roteiro. O primeiro é a linguagem não verbal dos personagens. Falamos não apenas com palavras, mas nossa postura revela muito do que somos e do que achamos que merecemos ser. No filme, ao inverter os papéis, vemos mulheres mais eretas, de braços abertos, com pernas espaçadas e olhares indicando poder. A linguagem corporal implica que elas são os seres dominantes. Ao passo que vemos homens ineditamente se encolhendo, cruzando as pernas, curvando o tronco, olhando para baixo e ocupando menos lugar no sofá. O movimento que revela opressão, timidez e insegurança. As roupas que usamos estimulam essa dicotomia. Enquanto no mundo real os homens sambam em roupas confortáveis o suficiente para fazer o que quiserem com as pernas, mulheres se equilibram em saltos, saias, shorts e sutiens apertados. Além disso, estão sempre na trincheira sobre o que é vulgar, agradável, indecente e adequado. O ato dos homens abrirem as pernas no transporte público recebeu até nome: manspreading. Eles costumeiramente se expandem. As mulheres são ensinadas a se diminuírem. Na palestra “Sua linguagem corporal pode moldar quem você é”, a psicóloga americana Amy Cuddy fala sobre como a atenção às nossas posturas podem amenizar angústias. Ela cita as mulheres como mais propensas a se encolherem corporalmente, como consequência de uma sensação de inferioridade crônica. A dica dela é quase simples: moldar a linguagem corporal a nosso favor. Fingir que nos achamos poderosas até de fato convencermos a nós mesmas que somos. Mulheres, atenção: corpos erguidos, nariz pra cima e braços abertos para dizer ao mundo que sabemos do nosso valor. O outro ponto é uma lembrança. No filme, a sociedade - que tem como verdade inquestionável que Deus é uma mulher - acredita que a natureza concedeu o poder da gravidez ao sexo forte. Mulheres grávidas não são criaturas frágeis destinadas à reclusa de uma alcova, são seres ativos da sociedade. E não são mesmo? São quem aguenta a barra de gerar um ser e parir entre as suas pernas. Estejamos atentos para desmistificar a visão enraizada; afinal são elas que fazem o mundo girar; carregando no ventre a tarefa árdua de dar luz à Terra. Não vou mentir. Dá um certo prazer ver um homem branco e chauvinista ser ridicularizado porque suas angústias são consideradas exageros; ou no momento em que ele entende que assédio não é elogio, porque sentiu na pele o incômodo; e quando percebe que o problema do sexismo está em toda parte da sua vida, sem exceção. Mas a questão não é essa. Não queremos vingança. Não queremos corpos masculinos sendo tratados como objetos para o prazer feminino. Não queremos Magic Mike. Não temos inveja do papel que o homem ocupa na sociedade, nossa meta não é chegar ali. Queremos, sim, mulheres se sentindo confortáveis ao ocupar espaços. Queremos uma lista inquestionável de quereres, mas isso só será possível no meio termo de uma comunidade que reconhece e recusa suas vantagens imparciais. O filme fala de privilégios e da emergente necessidade de questionarmos as nossas posições. A lição é muito simples de entender e difícil demais para pôr em prática neste mundo piramidal: empatia. Colocar-se no lugar do outro. É assim que chegaremos ao equilíbrio. Quando eu, branca, imaginar a perspectiva do negro na rua ou no mercado de trabalho. Quando você, homem, imaginar-se acordando em um matriarcado. Calar-se diante do próximo. É pedir muito? Fica o questionamento: quem estará disposto a abrir mão do privilégio e ser ameaçado pelo desconhecido quando a contraproposta é “apenas” um mundo mais justo? Por Beatriz Braga

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