"Temos duas novas propostas para a Escola de Sargentos do Exército com impacto ambiental muito menor"
Os danos ambientais provocados pela construção da Escola de Sargentos na APA Aldeia Beberibe são ressaltados pelo presidente do Fórum Socioambiental de Aldeia, Herbert Tejo. Ele diz que a obra afetará o abastecimento hídrico e espécies de flora e fauna, muitas delas que só existem na região. Mas afirma ter alternativas sustentáveis para projeto. O Fórum Socioambiental de Aldeia, presidido por Herbert Tejo, tem sido uma das principais vozes da sociedade civil na defesa ambiental da região. Após o debate acerca do Arco Metropolitano, o novo ponto de preocupação é a instalação da ESA (Escola de Sargentos de Armas do Exército). Com quase 23 anos, a organização tem como foco o equilíbrio ecológico. A principal preocupação dos seus integrantes não está na criação da Escola, mas na escolha da localização, que impacta diretamente o maior fragmento de Mata Atlântica ao norte do Rio São Francisco. Herbert Tejo, que é mestre em gestão ambiental, e os demais membros do Fórum têm participado ativamente de debates e negociações com o Exército, o Governo do Estado e demais entidades envolvidas. O debate público conseguiu avanços significativos, como a retirada das vilas militares da área de proteção e a redução do espaço ocupado pelo empreendimento. No entanto, ainda há pontos de desacordo, principalmente no que diz respeito ao cumprimento do Código Florestal e da Lei Estadual 9860/86. Agora, uma nova proposta surge no horizonte, prometendo minimizar os impactos ecológicos do projeto e reacendendo o debate sobre a viabilidade de alternativas de locais para instalar a ESA. O Fórum Socioambiental de Aldeia tem sido uma voz muito presente da sociedade nos debates sobre o Arco Metropolitano e acerca da Escola de Sargentos de Aldeia. Como funciona essa organização? O Fórum Socioambiental de Aldeia é uma organização comunitária, sem fins lucrativos, apartidária e em 2025 está completando 23 anos. A entidade tem como missão a defesa do território da APA Aldeia-Beberibe, o combate em todas as esferas, pública e privada, às agressões ambientais e ao descumprimento do que estabelece a legislação ambiental vigente no País. A instalação da Escola de Sargentos na APA é a principal preocupação dos moradores de Aldeia atualmente? As ameaças ao território de Aldeia são muitas e de toda ordem: da iniciativa privada, com a especulação imobiliária desenfreada que resulta em adensamento populacional incompatível para uma Unidade de Conservação, e do poder público, pelas ações e omissões dos gestores públicos. No campo das ações, todos os projetos lançados nos últimos 15 anos operam na direção de degradar o meio ambiente nesta região. No campo das omissões, falham em cumprir suas obrigações de zelar e fazer valer o arcabouço legal protetivo desse território. Até então, a maior das lutas vinha sendo contra o traçado norte do Arco Metropolitano, defendida por todos os governos desde 2012. O traçado que corta a APA Aldeia-Beberibe ao meio, inviabilizando o território como Área de Proteção Ambiental. Criamos a campanha Arco Viário, Arrudeia!, ou seja, “arrudeia” a APA. Nós nos dedicamos a estudar alternativas que o viabilizassem, para garantir a obra que reconhecemos como uma das mais importantes para o desenvolvimento do Estado. Mas aí, no meio da luta contra o traçado do Arco, surge uma ameaça ainda maior: a localização do Complexo Militar da ESA, patrocinada por uma aliança poderosa, uma vez que se soma ao Exército Brasileiro, o Governo do Estado e o Governo Federal. Todos juntos em defesa do desmatamento evitável. Respondendo objetivamente sua pergunta: sim, a ESA hoje é nossa maior preocupação, não o projeto em si, mas sua localização irracional. Com um agravante, a ESA, onde se projeta atualmente, atrai o Arco que o governo quer. Essa convergência de duas obras é desastrosa ambientalmente para a região. Determinará o fim de uma Área de Proteção Ambiental. Haveremos de chamar de Área de Destruição Ambiental – ADA! "A ESA, onde se projeta atualmente, atrai o Arco que o governo quer. Essa convergência de duas obras é desastrosa ambientalmente. Determinaremos o fim de uma Área de Proteção Ambiental. Haveremos de chamar de Área de Destruição Ambiental – ADA!" Como têm sido as tratativas com o poder público? Quando o tema é a defesa do meio ambiente, as tratativas com o poder público são sempre difíceis. O discurso político ambiental é esquizofrênico. O discurso e a prática de quem exerce o poder costumam estar totalmente dissociados. O Exército alardeia que seu projeto da ESA, com o desmatamento que propõe e os impactos ambientais irreversíveis, é um exemplo de sustentabilidade para o mundo. O Governo do Estado, por sua vez, se afirma defensor do meio ambiente e é omisso na defesa do território. Em nenhum momento se manifestou na defesa das alternativas locacionais apontadas pelo Fórum, nem para ser contra. O Governo Federal, que brada ao mundo combater o desmatamento e preservar as florestas tropicais, vem ao Estado para criticar os ambientalistas e enaltecer o projeto desmatador. Mas reconhecemos a importância da iniciativa da governadora Raquel Lyra quando criou um grupo de trabalho por meio de decreto, o GT-ESA. Ou seja, criou uma mesa formal de diálogo composta por representantes do poder público, do Exército, o Fórum Socioambiental de Aldeia, um representante da UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco) e um da Alepe (Assembleia legislativa de Pernambuco). Foi importante porque até então não existia diálogo com o Exército. Nesse GT, tivemos a oportunidade de demonstrar as irregularidades legais, a desatenção com o arcabouço legal protetivo e dedicado ao território afetado, especialmente por se situar dentro de um local reconhecido pelo Estado como Área de Proteção de Mananciais e como Patrimônio Biológico de Pernambuco. Como resultado, o Exército promoveu três revisões do projeto original. Houve avanços. O desmatamento original defendido era de 188 hectares, depois foi revisado para 146 hectares, com o incremento de verticalização dos equipamentos. No final de 2023, o Exército retirou as duas vilas militares de dentro da Mata. Mas continua um desmatamento gigantesco de quase 100 hectares. Qual a principal preocupação do Fórum Socioambiental com esse projeto? Qualquer desmatamento em um bioma em extinção