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Cultura e história

Uma voz cristalina

Cantor de entonação refinada, Paulo Molin interpretou varios sucessos, mas ficou esquecido pelos conterrâneos Américas, Europa, Ásia, África, Oceania... Nos cinco continentes, quase todos os países comemoram o Dia da Criança. Em muitos, no mês de outubro, como no Brasil. Entre nós, a data foi criada em 1924, mas só em 1960, quando a Estrela e a Johnson & Johnson lançaram a Semana do bebê robusto, começou a ser comemorada. Desde então, é de grande importância no calendário promocional das empresas. Nesta página, no entanto, não se busca falar do calendário promocional. Neste momento, o Dia da Criança é um motivo para falar de uma criança pernambucana, um menino-prodígio. Seu nome, Paulo Fernando Monteiro Molin, que ganhou fama como o pequeno grande cantor Paulo Molin, um descendente de franceses nascido no Recife em 2 de janeiro de 1938. Aos 8 anos de idade ele começou a cantar, e com apenas 12 anos gravou, em 1950, seu primeiro disco, um 78rpm, contendo as músicas Olinda, cidade eterna e Recife, cidade lendária, ambas de Capiba. Ainda tão jovem, Paulo Molin já era um cantor profissional, contratado da Rádio Tamandaré (Recife), tinha suas músicas tocadas nas emissoras de rádio de todo o Nordeste, e seus discos eram disputados. Recife começava a ficar pequena para o seu talento, levando-o a migrar para o Sudeste. Primeiro para o Rio de Janeiro e em seguida para São Paulo. Ali ele experimentou uma fase de intenso trabalho. Foi contratado pela Rádio Nacional, gravou Igarassu, cidade do passado, de Capiba, e a canção A chama, de Capiba e Ascenço Ferreira. Gravou o bolero Bem sabes, o samba-canção Por quê?, com acompanhamento de Lírio Panicalli e sua orquestra; gravou também o fox-canção Daqui para a eternidade, uma versão de Lourival Faissal; e o samba-canção Se você vai embora, de Luiz Fernando e Nelson Bastos. Naquele mesmo ano, gravou ainda o samba Não tenho lar, e participou da coletânea Carnaval 1955, da gravadora Sinter, com a marcha Não aguento este calor. Em 1955, ano que marcou o auge do seu sucesso, Paulo Molin foi tema de reportagem da então famosa Revista do Rádio, e participou do LP Feira de Ritmos, da gravadora Sinter, interpretando o fox-canção Daqui para a eternidade. Chegou 1956, e ele lançou, pela Mocambo, a saudosa gravadora pernambucana, o tango Caminho errado e o samba Desligue este rádio. No ano seguinte, gravou as baladas-rock Sereno, que veio a fazer parte da trilha sonora da novela Estúpido cupido, da Rede Globo; Como antes (Come prima), sucesso da música italiana; o samba Quem sabe; os boleros Sinto que a vida se vai e Prece do perdão; além da guarânia Serenata suburbana, de Capiba. Entrava ano saía ano, a agenda de Paulo Molin era repleta de compromissos. Em 1958, ele gravou os rocks-balada Minha janela, de Fernando César e Ted Moreno, e Se aquela noite não tivesse fim, de Nelson Ferreira e Ziul Matos. Mais um ano de trabalho intenso se passou, e chegado 1959, gravou as marchas A vida é boa e Bebo sem parar. Em 1960, ele gravou o samba Estamos quites, o bolero Fui eu, e lançou, pela Mocambo, o LP Surpresa com diferentes músicas gravadas em 78 rpm, além da balada És a luz do meu olhar, de sua autoria. Passou a integrar o elenco da gravadora Copacabana e participou da coletânea Tudo é carnaval - Nº 1 interpretando a marcha Eu não sou doutor, de G. Nunes, B. Lobo e F. Favero. Em 1961, gravou Olhando estrelas, um fox de M. Anthony e Paulo Rogério, e a guarânia A deusa da montanha, de Hilton Acioli e Marconi da Silva. Em 1962, participou da coletânea Tudo é carnaval - Nº 2, com a marcha Viva a cegonha, de Silvio Arduino e Ercilio Consoni. No mesmo ano, de volta à gravadora Continental, gravou a balada Chorando por você, de Roy Orbison e Noe Nelson, em versão de Romeu Nunes; e o samba É tua vez de sorrir, de Fernando César e Luiz Antônio. Ainda em 1962, ingressou na gravadora Philips e gravou, com acompanhamento de Portinho e sua orquestra, o bolero-mambo Teimosia e a Balada do desespero, ambas de Francisco de Pietro. No mesmo ano, gravou pela Mocambo o samba-canção Inconstante, de Aloísio T. de Carvalho, e o samba Rosa do mato, de Sérgio Ricardo e Geraldo Serafim. Em 1963, lançou, pela gravadora Philips, o LP Meu bom amigo Capiba, interpretando as belas Olinda cidade eterna, Recife cidade lendária, Praia da Boa Viagem, Maria Betânia, Cais do porto, Igaraçu cidade do passado e Que foi que eu fiz, todas composições solo de Capiba, e mais Depois, de Capiba e Talma de Oliveira; e A mesma rosa amarela, Claro amor e Não quero amizade com você, de Capiba em parceria com poeta Carlos Penna Filho. Ainda naquele ano, participou da coletânea Carnaval bossa nova, da gravadora Fermata, com a marcha Quem tem mulata, parceria dele com Vicente Longo e Waldemar Camargo. Em 1964, gravou duas marchas para a coletânea Carnaval - Vol. 1, da Philips, Balzac disse, de Denis Brean e Osvaldo Guilherme, e Me leva, de Waldemar Camargo e Vicente Longo. Assim, ao longo da carreira Paulo Molin gravou 15 discos em 78 rpm e três LPs pelas gravadoras Continental, Mocambo, Copacabana, Philips e Fermata. Foram seus anos de ouro, em que ele chegou a atuar também no cinema, fazendo parte do elenco do filme Zé do periquito, produzido e estrelado por Mazzaropi. O tempo, contudo, indiferente ao que as pessoas almejam, passara. Novos valores eram surgidos, mudavam as predileções musicais. Paulo Molin, então, resolveu fixar-se em Guaxupé, interior de Minas Gerais, onde, lado a lado com a atividade jornalística exercida na Folha do Povo, um jornal local, prosseguiu em sua carreira de cantor, embora àquela altura da vida a voz estivesse muito distante daqueles tempos do Recife. Em Guaxupé ele construiu amizades, conquistou a admiração de todos, criou fama, marcou positivamente a cidade. Tanto, aliás, que recebeu o título honorífico de cidadão guaxupeano. Paulo Molin

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Exposição mostra o olhar de Francisco Cunha sobre o Recife

Feitas de celular, 40 imagens do consultor estão até o dia 31 de outubro no Espaço Vitrúvio Para os amantes das paisagens recifenses, uma dica para o mês de outubro é visitar a exposição “O Recife Tomado à Luz - Fotografias de um Caminhante”. Reunindo 40 fotografias do consultor Francisco Cunha, sócio da TGI, a mostra é um pequeno recorte dos seus quilômetros de caminhada pela capital pernambucana. Todas as imagens foram feitar a partir do seu celular, em suas andanças pelas ruas da cidade.  As fotografias que ganharam as paredes do  Espaço Vitrúvio partiram de uma seleção de 13 mil imagens registradas pelo consultor. Dessas, a equipe responsável pela curadoria da mostra fez uma seleção de 200 imagens para um livro, que está sendo editado, com previsão de lançamento para 2016. A mostra apresenta um Recife das águas, dos monumentos e de prédios históricos. A decisão de organizar a exposição veio de muitos pedidos dos amigos, após visualizar as fotos nas redes sociais. Desde que começou a fotografar, Francisco Cunha compartilha as imagens que capta pelo celular pelo seu perfil do Facebook e Instagram, trazendo lugares poucos conhecidos da cidade ou um novo olhar, de um andarilho, de espaços que a maioria dos recifenses transita diariamente. Serviço O Recife Tomado à Luz - Fotografias de um Caminhante Visitação: de sexta (9) a 31 de outubro, quartas e domingos, das 16h às 21h Espaço Vitrúvio - Rua Antônio Vitruvio, 71, Poço da Panela Entrada gratuita

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A batalha que se fez barro

Nem o progresso com sua pressa irrefreável, seu desapreço pela contemplação, seu trânsito nervoso e seus edifícios que, a cada dia mais altos, parecem querer arranhar os céus, conseguem obscurecer a tradição de Casa Forte. Ali, por onde quer que se ande, as marcas do tempo estarão impressas nas ruas e nos antigos casarões que parecem falar. A Avenida 17 de Agosto, por exemplo, é homenagem a uma das datas mais importantes da nossa história. A Praça de Casa Forte, por seu turno, é um capítulo especial da história a ser contada. É obra paisagística de Burle Marx, um paulistano que amou Pernambuco e espalhou o seu talento por todo o Recife. As belezas daquela praça, contudo, não significam que a história do bairro é alcatifada de flores. Há também espinhos. Falar de Casa Forte também impõe falar de Anna Paes, filha de Jerônimo Paes de Azevedo e Izabel Gonsalves Paes, proprietários de um dos mais importantes engenhos pernambucanos. Foi nele que, no dia 17 de agosto de 1645, aconteceu a Batalha de Casa Forte, um cruento embate em que pernambucanos e holandeses escreveram com sangue uma das páginas mais marcantes da vida de Pernambuco. Foi, de fato, uma das mais notáveis vitórias na luta contra o domínio holandês. Aconteceu assim: derrotado na Batalha das Tabocas, em Vitória de Santo Antão, no dia 3 de agosto de 1645, quando regressava ao Recife, o exército holandês acampou no Engenho Casa Forte, pertencente a Anna Paes. Porque a situação se agravava a cada momento, no dia 16 de agosto o comandante holandês, coronel Henrique van Haus, mandou o major Carlos Blaer revistar as casas do povoado da Várzea, onde residiam as famílias de chefes revolucionários pernambucanos. O objetivo era prender suas mulheres. A missão foi prontamente cumprida, tanto que, no mesmo dia, voltou com muitas prisioneiras, inclusive Isabel de Góis, mulher de Antônio Bezerra; Ana Bezerra, sogra de João Fernandes Vieira, e Maria Luísa de Oliveira, mulher de Amaro Lopes. Foram todas encarceradas na casa-grande do engenho, levando João Fernandes Vieira, André Vidal de Negreiros, Henrique Dias e Felipe Camarão, chefes do exército pernambucano, a reunir as tropas e resgatá-las. Desafiaram a chuva, a lama, a inviabilidade dos caminhos, mas, finalmente, no amanhecer do dia 17 de agosto cercaram o engenho de Anna Paes. Atônitos ante a fúria dos pernambucanos, os holandeses se refugiaram na casa-grande e logo colocaram as mulheres prisioneiras nas janelas, para que fossem vistas pelos combatentes. Interpretando o ato como uma rendição, os líderes das tropas pernambucanas suspenderam o fogo e enviaram um oficial para negociar os termos da rendição. Para surpresa de todos, no entanto, o emissário foi assassinado, o que despertou enorme indignação. Tanta que, esquecidos de que entre os inimigos estavam as mulheres, os pernambucanos atacaram com ferocidade e sedentos de vingança atearam fogo à casa. Vendo-se cercado e sufocado pela fumaça, o coronel Henrique van Hous, empunhou uma bandeira branca e o cabo de uma pistola, desta feita um claro sinal, e capitulou. Foram 37 holandeses mortos, muitos feridos e mais de 300 prisioneiros, incluindo expoentes da oficialidade neerlandesa, além da grande apreensão de armas, cavalos e víveres. A partir daquele dia, os invasores ficaram tão atemorizados que, a pretexto de garantir a segurança do Recife, mandaram vir reforços dos fortes Sergipe, São Francisco e Porto Calvo. Em vez de garantir a segurança, no entanto, aumentaram a insegurança, arrasando, em atos de demonstração de força, as casas do Recife e as árvores do Parque de Maurício de Nassau. Para encurtar a história, os prisioneiros holandeses foram transferidos para a Bahia, inclusive o coronel Henrique van Hous, que de lá foi mandado para Portugal e encarcerado no castelo de São João, na Ilha Terceira, até a ida para Lisboa. Ali, tendo se recusado a servir a Portugal, foi enviado para a Holanda, e tempos depois voltou a Pernambuco, morrendo na primeira Batalha dos Guararapes, ocorrida em abril de 1648. Foi esse o cenário para os momentos mais marcantes da acidentada existência de Anna Paes. Como dote matrimonial ela herdara o Engenho Casa Forte, mas com a morte do seu pai, e com seu irmão morando na Bahia, ela, por força das circunstâncias, foi compelida a administrar o engenho, fazendo-o com muita energia e determinação. Competiu com os homens que administravam outros engenhos, e conseguiu manter o Casa Forte entre os dez melhores do Estado. Aos 18 anos, ficou viúva do capitão Pedro Correia da Silva, que enfrentando os holandeses tomou parte na defesa do forte São Jorge e morreu em virtude de ferimentos recebidos durante os combates. Quando enviuvou, entretanto, não emigrou para a Bahia como fizeram algumas famílias pernambucanas por conta da invasão holandesa. Optou por ficar no seu engenho e a ele se dedicou. Educada sob os princípios, métodos e costumes portugueses, vivia com a mãe, dividindo-se entre o engenho e a casa da Rua do Bom Jesus. Além do português, falava e escrevia em latim e alemão, e possuía extrema beleza. Em 1637 rendeu-se ao amor e, ousada como era, casou-se com Carlos de Tourlon, capitão do exército holandês, com quem teve uma filha, Isabel de Tourlon, que também viria a casar-se com um holandês, Virgilio Gaspar de Kroyestein, oficial da infantaria. Não se sabe o motivo, mas, por determinação de Maurício de Nassau, Carlos de Tourlon foi mandado de volta para a Holanda. Mais uma vez Anna ficou só e, anos depois, com a confirmação oficial da morte do marido, casou-se, novamente com um holandês, Gilberto de With, conselheiro de justiça do governo daquele país, nascendo da união Kornelius e Elizabeth, que, como Isabel, foram batizados na religião calvinista. Os holandeses estavam derrotados e Anna Paes, por ser casada com um deles, foi considerada igualmente holandesa, pelo que teve todos os seus bens imóveis confiscados, deixando, então, o Brasil. Resultante da sua conduta avançada para a época, das suas atitudes em relação aos holandeses e da sua conversão ao calvinismo, Anna Paes passou a ser execrada, mas há que se considerar

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