Entrevistas – Página: 5 – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

Entrevistas

“Energias renováveis são necessárias, mas não podem ser implantadas a custo da Caatinga e das comunidades”

Secretária de Meio Ambiente, Ana Luiza Ferreira, explica a estratégia do governo para unir sustentabilidade e desenvolvimento econômico, fala da meta de reviver 80 nascentes de rios e das políticas para evitar a desertificação do semiárido e priorizar a justiça climática nos projetos energéticos. (Foto: Tarciso Augusto) Ana Luiza Ferreira, a secretária de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Fernando de Noronha, embora jovem, já tem uma longa carreira na iniciativa privada e em órgãos de fomento. Foi estagiária no Citibank, atuou no BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), passou pela Endeavor e trabalhou em consultoria com captação de financiamento no Banco do Nordeste e no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento). Ao ser convidada pela governadora Raquel Lyra para assumir a Semas, aceitou o desafio com o objetivo de trazer um olhar da nova economia sustentável regenerativa ao Estado. Nesta conversa com Cláudia Santos, ela aborda os programas governamentais: PerMeie (Plano Pernambucano de Mudança Econômica-Ecológica), que tem o objetivo de redirecionar a economia para um desenvolvimento inclusivo e sustentável, e o Plantar Juntos, que tem a meta de plantar quatro milhões de árvores. Ana Luiza também falou sobre as ações para o semiárido, que vão contar com recursos do Fundo Caatinga e do programa Floresta Viva Caatinga, divulgados na COP 28. A secretária ressaltou também sua preocupação de que os projetos de energias renováveis não sejam instalados sem a chamada justiça climática. “Comunidades produtoras, muitas vezes, estão deixando a vocação de produção rural para arrendar uma terra para torres eólicas. Se eu tiro essas pessoas dessas atividades, quem vai plantar com sustentabilidade, de forma agroecológica?”, preocupa-se a secretária que abordou ainda as políticas relacionadas à elevação do nível do mar, ao hidrogênio verde e à descarbonização. Na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 28), Pernambuco lançou, junto ao Consórcio Nordeste, uma proposta de criação de um Fundo Caatinga nos mesmos moldes do Fundo da Amazônia. Como estão as articulações nesse sentido? Já tínhamos o Fundo Caatinga e, na COP, a governadora lançou o programa Floresta Viva Caatinga, assinando junto com Aloizio Mercadante (presidente do Bando Nacional de Desenvolvimento), um protocolo de intenções de R$ 60 milhões – R$ 30 milhões não reembolsáveis do BNDES mais R$ 30 milhões do Governo do Estado – exclusivamente para o recaatingamento (restauro florestal na caatinga). Ou seja, além do fundo que já existia, entre as iniciativas do Governo junto ao Consórcio Nordeste e ao BNDES, temos o Floresta Viva Caatinga. O fundo e o programa são duas iniciativas que estamos amadurecendo com carinho, porque sabemos do potencial de capital ambiental e cultural no nosso semiárido. Para além do capital monetário, são necessárias pesquisas que nos deem mais clareza para usufruir melhor dessa área, quantificando, por exemplo, o potencial da caatinga para sequestro de carbono. Esse potencial é significativo, mas sempre foi subestimado, desacreditado ou negado, porque a caatinga era vista como um bioma pobre, sinônimo de escassez e, na verdade, é o contrário. Ela é rica em biodiversidade, com potencial enorme de explicar para o Brasil e para o mundo a resiliência, palavra da ordem em discussões referentes à adaptação às mudanças climáticas. Há um bioma mais resiliente do que a Caatinga que, com pouca água consegue manter sua biodiversidade e sua vida? Esses recursos já chegaram? Como está a implementação dessas iniciativas? Os encaminhamentos para o contrato já estão em curso por meio de reuniões com o BNDES. O protocolo assinado exige revisão da Procuradoria Geral do Estado e do jurídico e, com isso, já concluímos a viabilidade do programa. Agora estamos nas tratativas para destravar a fonte orçamentária. Está caminhando bem. Mas, o Fundo Caatinga, além de Pernambuco, depende dos outros estados que compõem o Consórcio Nordeste. Estive com o Governo da Bahia, que preside a Câmara Técnica de Meio Ambiente, e com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, para tratar do tema. A ministra propôs a criação do Fundo Biomas e tivemos a ideia de tornar nossa iniciativa um fundo bioma, mas começando pela Caatinga. Ano passado, com o início da gestão de Raquel Lyra, na reforma administrativa, aumentamos mais uma secretaria executiva e passamos de três para 10 gerências técnicas. Nessa estrutura, com uma nova visão de economia regenerativa, criamos gerências gerais de instrumentos econômicos verdes, de projetos especiais e a ESG. Desenhamos, ao longo do ano, dois grandes programas do meio ambiente de Pernambuco, em que todos os nossos projetos se encaixam em um ou em ambos. Um deles é o PerMeie (Plano Pernambucano de Mudança Econômica-Ecológica), cujo grande objetivo é fazer um redirecionamento do vetor de desenvolvimento de Pernambuco, reforçando que a política econômica do Estado não pode existir sem o olhar sobre a sustentabilidade, e a política da sustentabilidade não pode existir sem um olhar sobre desenvolvimento econômico, investindo, assim, num desenvolvimento que seja, de fato sustentável, regenerativo. E o outro grande programa é o Plantar Juntos, que tem um foco menos econômico e mais de restauração ambiental, com uma meta ambiciosa de plantar 4 milhões de árvores por meio de um amplo programa de conscientização da sociedade em todos os biomas. Então, muitas das nossas iniciativas têm, tanto a etiqueta do Plantar Juntos, quanto a etiqueta do PerMeie, mas algumas são mais direcionados a um ou a outro. Quais as medidas adotadas pelo Governo do Estado para evitar a desertificação do semiárido? Numa iniciativa conjunta Semas e Sdec (Secretaria de Desenvolvimento Econômico), relacionada ao PerMeie, com foco econômico, mas de extrema importância no combate à desertificação, contratamos um mapeamento e planejamento estratégico para a transição de Pernambuco de uma economia tradicional para a economia regenerativa. Esta nova economia do mundo afirma que a restauração florestal vai caracterizar a nova construção civil enquanto atividade que emprega muita gente com baixo nível de formação técnica. Como transformar isso em realidade? Teremos fontes que financiem pessoas para plantar árvores e manter a floresta em  pé? Isso não é utopia, existem fundos internacionais que podem  e querem pagar para isso. O primeiro passo é mapear o nosso

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“A agricultura urbana atinge a dupla crise: a da fome e a climática”

Juliana Luiz, gerente Projetos de Instituto Escolhas, afirma que o Recife produz 700 toneladas de alimentos/ano. Ela fala de como essa atividade é invisibilizada e do estudo que mostra os gargalos e o potencial da cidade, e também do Rio de Janeiro e Curitiba, de ampliar essa produção. Poucos recifenses sabem que agricultores familiares produzem em pleno Recife 700 toneladas de alimentos/ano. Na cidade existem 242 estabelecimentos que cultivam hortaliças como quiabo, milho e alface. Esses dados constam no último Censo Agropecuário, mas estão invisibilizados. Reverter essa invisibilidade da agricultura praticada nos centros urbanos e aumentar as áreas produtivas são objetivos perseguidos pelo Instituto Escolhas. Essa seria uma estratégia para promoção da segurança alimentar nas cidades e para torná-las mais resilientes às mudanças climáticas. A organização acaba de lançar o estudo Como o Governo Federal pode apoiar os municípios no fomento à produção local de alimentos?. A pesquisa traz dados sobre a produção de alimentos no Recife, em Curitiba e no Rio de Janeiro, os gargalos que enfrentam para consolidar a atividade, além de uma proposta para elevar a produção de hortaliças nas três cidades e recomendações para a União. Foi desenvolvida em parceria com as prefeituras dos três municípios e com a Cátedra Josué de Castro do Nupens/USP. Nesta entrevista a Cláudia Santos, a gerente de Projetos do Instituto Escolhas, Juliana Luiz, fala do estudo, dos benefícios e desafios para a produção de alimentos nos espaços urbanos e elogiou a iniciativa da Prefeitura do Recife de criar a Secretaria de Agricultura Urbana dentro da Secretaria de Planejamento Urbano. Antes de falar do estudo, gostaria que a senhora explicasse os benefícios da agricultura urbana e periurbana. Agricultura urbana e periurbana podem parecer uma novidade, mas não são. A produção perto das cidades é histórica. Elas foram constituídas ao redor do cultivo de alimentos. Mas as longas cadeias de produção fizeram com que esses alimentos ficassem cada vez mais distantes dos consumidores. Só que agora, as cidades estão cada vez maiores, com mais pessoas e esse alimento está cada vez mais distante, mais caro, pouco variado, que é a chamada monotonia alimentar. Quando olhamos para a produção perto das cidades, falamos, sobretudo, de horticultura. O último Censo Agropecuário, de 2017, mostra que no Recife existem 242 estabelecimentos agropecuários, mais de 50% deles tem até 20 hectares, um número considerado dentro do módulo rural em que se enquadra um agricultor familiar. Mais de 50% são considerados com parentesco, ou seja, mais uma vez estamos falando de agricultores familiares. Eles existem na cidade, mas são invisibilizados. No Censo, existe ainda uma categoria que são produtores de horticultura, quase 80% deles são agricultores familiares que produzem muito pouco no Recife, mais ou menos 700 toneladas por ano. A maior parte, quiabo, milho verde e alface. Um movimento positivo da Prefeitura do Recife começou em 2021, quando criou uma secretaria para olhar a agricultura urbana porque ela se confunde, tanto com agricultores familiares – que são esses números que informei – mas há, também, agricultores comunitários que, não necessariamente, têm um vínculo familiar mas produzem dentro da cidade. Quanto aos benefícios, estamos falando de uma produção próxima do consumidor, de um aumento da disponibilidade de legumes e verduras. O Nordeste consome apenas 31% do recomendado de frutas, legumes e verduras, só não é pior do que o Norte. Na nossa pesquisa ouvimos muitos agricultores, produtores e grupos comunitários que produzem em cidades satélites à capital, então há essa interação com outras cidades, o que é extremamente benéfico. Outro benefício é conter os choques de abastecimento. Vimos isso acontecer na pandemia, quando a circulação dessa produção mais distante começou a ser afetada. A greve dos caminhoneiros foi um outro exemplo. Quando se produz perto, esses riscos são reduzidos. Outro ponto positivo é o uso de áreas abandonadas consideradas como perigosas na cidade, como terrenos baldios usados como lixões que ficam improdutivos porque sofreram despejo inapropriado de resíduos. Mas ao recuperar a qualidade do solo para a produção, geram o benefício de aumentar a infiltração do solo, evitando outro problema nas cidades que são os alagamentos. E, óbvio, existem dois grandes benefícios associados aos efeitos das mudanças climáticas: quanto mais áreas verdes, menor é o calor que sentimos, além disso, teremos mais alimentos disponíveis. Estamos falando de um país que passa fome, dos 33 milhões que estão nessa situação, 27 milhões estão nas cidades. Então ter mais alimentos próximos das pessoas que passam fome também é uma estratégia de política pública. Qual a proposta do estudo do Instituto Escolhas e por que o Recife foi uma das cidades analisadas? O Escolhas trabalha com o tema da produção local de alimentos há vários anos. Começamos em 2019, falando sobre a produção metropolitana de São Paulo, depois fomos para o Norte, para olhar a produção em Belém e, aí, demos um novo passo, que é olhar a produção em três cidades em diferentes regiões do País para sugerir propostas ao Governo Federal. Curitiba, Rio de Janeiro e Recife foram escolhidas porque possuem políticas públicas voltadas para o tema. O Recife tem a Secretaria de Agricultura Urbana dentro da Secretaria de Planejamento Urbano. Embora a agricultura urbana esteja institucionalizada nessas cidades, há inúmeros desafios. O orçamento dessas políticas públicas é sempre muito baixo e elas são vistas como projetos pilotos ou pontuais, dialogam pouco com o planejamento urbano. Poderíamos olhar para os estados mas eles têm muitas áreas rurais e o desafio dessa produção local de alimentos são das cidades que é onde as pessoas moram e consomem. Também é onde as regras do planejamento urbano são aplicadas, como o plano diretor, o zoneamento, a lei de uso do solo, isso tudo é competência da cidade. Não é à toa que o pontapé inicial para esse debate sobre produção de alimentos e resiliência dos centros urbanos veio com o Pacto de Milão, que é um acordo internacional que várias cidades, o Recife inclusive, assinaram, com o compromisso de fomentar e melhorar a produção, o acesso e o consumo de

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“Nosso povo gostaria de música de qualidade, se os políticos oferecessem”

Refúgio de milhares de pessoas que dispensam a agitação do Carnaval, o Garanhuns Jazz Festival consolidou-se como evento musical e atrativo turístico para a cidade do Agreste. Seu curador e produtor fala da atrações desta edição, dos desafios enfrentados e como concebeu o GJF. Há mais de uma década, o Garanhuns Jazz Festival se consolidou como uma alternativa para aqueles que desejam passar o período carnavalesco longe do agito dos foliões. A edição deste ano, que vai de 10 a 13 deste mês, traz uma programação que une os diferentes estilos jazzísticos, ao rock, ao chorinho, ao blues e à soul music, com shows gratuitos na Praça Mestre Dominguinhos. São mais de 40 artistas entre atrações nacionais e internacionais, como Marcel Powell, Nasi, vocalista do Ira!, George Israel, Roberta Campos, Serial Funkers, Leo Gandelman, Uptown Band, Ivan Barreto — vencedor do The Voice Brasil 2023 — e a blueswoman Laretha Weathersby. O curador e produtor do evento Giovanni Papaléo conversou com Cláudia Santos sobre as novidades desta edição do Garanhuns Jazz Festival, contou como surgiu a ideia do evento e como ele contribui para movimentar a economia da cidade. Como e surgiu a ideia do Garanhuns Jazz Festival? Está comprovado que mais de 50% da população no Brasil não quer brincar Carnaval. Ao mesmo tempo, a cidade de Garanhuns tinha uma ocupação histórica na sua rede hoteleira de 15% no período da folia. Todo mundo ia para as praias. Então, o pessoal da prefeitura, na gestão de Luiz Carlos de Oliveira (que agora é nome de praça) perguntou a meu irmão Francisco Papaléo que projeto pode atrair turistas para Garanhuns na época do Carnaval. Eles já tinham tentado tudo: Garanheta, fuleiragem music e nada dava certo. Meu irmão falou comigo e eu disse uma frase que li nos Estados Unidos e se aplica no Brasil: “música de qualidade é um fator de aquecimento do turismo em nível mundial”. O prefeito, na época, não estava acreditando mas me apoiou pois nós tínhamos a paixão pelo Náutico em comum (risos). O produtor executivo do evento é meu sócio, Jackson Rocha Júnior. Logo na primeira edição do festival, em 2008, e na segunda e terceira edições conquistamos o prêmio Mestre Salustiano, do turismo estadual, superamos o Carnaval do Recife e de Olinda. O prêmio era da Empetur, destinado a projetos que ajudassem a incentivar o turismo. Na primeira vez fomos segundo lugar, depois fomos primeiro lugar duas vezes. Isso foi importante porque a gente faz um projeto que nem sempre é apoiado pelo poder público, quer dizer, a prefeitura sempre apoiou mas só agora, por exemplo, depois de vários anos, o Governo do Estado voltou a apoiar, o que é uma coisa muito boa. É um tipo de festival que, se por acaso, não tivesse razão de ser, não estava acontecendo mais porque a gente conseguiu sobreviver a vários fatores, como o humor do gestor político de outras épocas. O evento começou em 2008 e a gente fez todos os anos, até 2015, quando foi o ápice do sucesso, pois não tinha mais vaga na rede hoteleira naquele ano. Mas, o prefeito da época, por motivos que prefiro não comentar, resolveu achar que o evento não funcionava mais e aí tivemos o apoio de Felipe Carreiras que, na época, estava participando da intervenção na prefeitura de Gravatá e levamos o evento para lá, o Gravatá Jazz Festival, que funcionou de 2016 a 2020. Quando teve a pandemia, a gente parou. Agora, em 2023, em Garanhuns, foi a retomada com a gestão de Sivaldo Albino que teve a coragem de trazer esse festival de volta à cidade. Não sou ligado à política, não tenho ideologia. Para mim, cultura não tem partido. O que eu quero ressaltar é uma coisa muito importante: tanto em Gravatá em 2020, quanto em Garanhuns em 2023, em função do festival de jazz, essas duas cidades tiveram a maior taxa de incremento de novos turistas durante o Carnaval de Pernambuco. Isso foi uma pesquisa feita pela Empetur. Qual o atrativo que o jazz exerce para atrair turistas? É o estilo musical mais antigo da cultura pop ocidental em nível mundial mas, nem por isso, as pessoas, principalmente do Brasil, conseguem entender qual é a proposta do festival e no Nordeste não seria diferente. Quando falamos em festival de jazz, não nos referimos apenas à música alienígena, estrangeira ou música para intelectual, mesmo porque o jazz, na década de 1930, era a música que se usava para dançar, que tocava no rádio. Para você ter uma ideia, se não fosse o instrumento bateria, que foi criado para o jazz, não haveria, hoje em dia, a bateria do rock, do pop, e do funk, e por aí vai. Mas quando falamos em festival de jazz, estamos dizendo que é um festival com música de qualidade. Isso é uma tendência em todos os festivais de jazz do mundo. Eu e minha esposa passamos 20 dias nos Estados Unidos percorrendo alguns dos principais festivais de jazz e vimos que não estamos longe do que eles estão fazendo. Eu fiquei muito feliz com isso pois, com o pouco recurso que temos, conseguimos fazer algo que tem uma repercussão muito positiva, um resultado muito bom. O nosso festival só não tem música apelativa, fuleragem music, isso aí a gente deixa para outras propostas. Era justamente o que eu ia perguntar: o jazz é um ritmo que já há algum tempo tem acolhido outros ritmos. E essa parece ser uma característica também do festival cuja programação inclui nomes como Nasi, da banda de rock Ira! Para montar um festival, não penso simplesmente naquela atração que vai trazer gente para a cidade ou vai animar o público. É tudo muito equilibrado, pois venho fazendo eventos há mais de 30 anos nessa área. Eu nunca me aventuraria a fazer uma coisa numa área musical que eu não domino como músico, como produtor. Então, tem uma coerência. O jazz e o blues são as raízes da música pop ocidental,

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“Temos que olhar o mapa do Nordeste sem as fronteiras que nos separam”

Um conjunto de entidades empresariais ligadas à engenharia de Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte se reuniu na sede do Sinduscon-PE para articular a defesa da recuperação da antiga Malha Nordeste que conectava por trilhos os quatro Estados. Sem operações há mais de 10 anos, ela pode agora ser devolvida pela concessionária FTL (Ferrovia Transnordestina Logística) que entrou com um pedido de devolução junto à ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres). Guilherme Cavalcanti, secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, esteve presente no evento e integra também o esforço de recuperar o modal considerado indispensável para a economia regional. Nesta entrevista a Rafael Dantas, ele faz também um balanço da sua pasta no primeiro ano de gestão do Governo Raquel Lyra e comenta sobre os planos para 2024. Ele prevê, por exemplo, que as obras para o primeiro trecho do Arco Metropolitano podem começar ainda este ano, já que o projeto executivo fica pronto em abril, o que abre caminho para realizar a licitação. O que o Estado pretende fazer diante de mais uma iniciativa prejudicial da concessionária que, depois de excluir Suape da Transnordestina, agora quer abandonar a Malha Nordeste? Esse é um movimento que deixa evidente que a atual Transnordestina incompleta deixou de ser um projeto de nação e passou a ser, exclusivamente, um projeto de quintal da empresa A ou B ou C. É lamentável que o País esteja se submetendo ao capricho individual de uma empresa. A certeza que temos é que estamos na defesa do que é correto e isso é o que alimenta a força da nossa luta. Vamos, cada vez mais, expor a realidade de que o Nordeste, principalmente o Nordeste Oriental, com os estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas, está sendo alijado da possibilidade de ter, de fato, uma maior competitividade. Em Pernambuco vamos seguir firmes na cobrança dos compromissos reforçados pelo Governo Federal no que diz respeito ao trecho Salgueiro-Suape. Mas, agora, integraremos também essa luta para a reativação de uma conexão das regiões econômicas mais pujantes do Nordeste Oriental. Isso significa ligar o norte do Rio Grande do Norte ao sul de Alagoas e fazer isso dentro de uma concessão que possa privilegiar a integração dessas regiões. Por fim, a gente já tem dito isso, mas gosto de ressaltar sempre: não estamos falando do trecho Salgueiro-Suape, mas do trecho Suape-Ferrovia Norte e Sul [com a conclusão da Transnordestina fica mais factível a possibilidade de conectar o porto pernambucano com essa importante ferrovia que é a Norte Sul]. Se o Brasil quiser levar a sério o desafio de ter uma integração ferroviária que entrega competitividade, precisamos conectar o Porto de Suape, que é o hub port do Nordeste, às regiões produtivas do Matopiba (sigla para Maranhão, Tocantins, Piauí, Bahia) e ao País como um todo através da Ferrovia Norte-Sul. Temos uma oportunidade de fazer isso. Os planos do Brasil sempre apontaram nessa direção e não faz nenhum sentido que as pessoas abandonem essa linha estratégica. Então, é isso que a gente vai cobrar permanentemente. Qual a importância dessa articulação regional das entidades empresariais para retomada da antiga Malha Nordeste? A área de influência de Suape vai de Natal à Maceió. A gente serve às principais áreas metropolitanas de todo o Nordeste Oriental, servimos às grandes cidades do interior e é isso que tem sustentado a demanda. Nesse embate em defesa da Transnordestina, o Porto de Suape, em parceria com a Federação das Indústrias e o Senai, está realizando estudos de cargas e ampliando o raio desses estudos para alcançar todas as regiões produtivas aqui no Estado e prospectando cargas muito além do limite de Pernambuco e do Nordeste Oriental. Então, é fundamental o fato de o governador da Paraíba [João Azevêdo] ser o presidente do Consórcio Nordeste, o ministro dos Transportes ser alagoano, termos no Rio Grande do Norte talvez o maior potencial das energias renováveis do Brasil e quiçá do mundo. Há uma revolução se iniciando que começa pela capacidade dos ventos e do sol, que tem brilhado um pouco mais forte no Rio Grande do Norte. Tudo isso vai se integrar numa economia pujante que está, sim, ao longo das nossas capitais. Precisamos defender que essa integração se faça de uma forma que fiquemos cada vez mais perto em vez de cada vez mais longe. Temos que começar a olhar o nosso mapa sem as fronteiras que nos separam. O Estado da Paraíba, por exemplo, de forma muito inteligente abraçou o polo automotivo da Stellantis, como sendo o polo da Paraíba também. Essas grandes obras e grandes investimentos que integram e desenvolvem o Nordeste têm impacto que repercute na região toda e tem que ser objeto de defesa radical da gente. No ano passado o Governo Federal fez um gesto de incluir no PAC o trecho pernambucano da Transnordestina até Salgueiro. O que foi feito de lá para cá? Primeiro, estava correndo o prazo do levantamento de haveres, ou seja, uma auditoria final para que possam ser recebidos os trechos que estão principalmente entre Salgueiro e Custódia. Trata-se de levantamento de ativos, a valoração disso para que possa concluir o processo que teve início no Aditivo Nº 1. Isso é o processo que andou, a companhia fez a sua parte, a ANTT fez a sua também, isso agora está em análise pelo ministério e ele tem um prazo para concluir e estamos acompanhando. Além disso, criamos um grupo de trabalho entre o Governo de Pernambuco e o Federal para desenhar uma nova modelagem de concessão. Já vimos três modelos possíveis que estão sendo explorados e serão aprofundados para que possamos propor isso mais adiante. Também foi colocada à mesa a possibilidade de invertermos parte dessa obra, tendo seu início a partir do Porto de Suape. Isso ainda está em fase de estudo, é cedo para dizer se esse será ou não o caminho a ser trilhado. Mas, o fato é que como não há devolução de ativos nesse trecho, seria uma obra nova,

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“Temos tido um olhar muito especial para a cultura popular”

Ricardo Mello, Secretário de Cultura, fala das novidades do Carnaval do Recife que este ano terá uma forte presença de agremiações culturais nas aberturas das noites do Marco Zero. Ele também faz um balanço da sua gestão e das iniciativas inspiradas no movimento MCP dos anos 1960. (Foto Marcos Pastich PCR) O Recife promete realizar a maior folia carnavalesca da sua história e, não por acaso, seu lema é O maior Carnaval em linha reta. Para fazer jus ao slogan, este ano a festa começa oficialmente na quinta-feira (8), e terá mais de três mil atrações espalhadas em 49 polos da cidade. A abertura terá duas cerimônias: Ubuntu, com a lavagem do Boulevard da Avenida Rio Branco ao som dos afoxés, e Tumaraca, encontro de Nações de Maracatu que, este ano, terá a participação do Olodum e uma homenagem a Naná Vasconcelos denominada Tambores pela Paz. “Essas cerimônias remetem à questão de ancestralidade. Precisamos olhar para a diversidade da cultura popular do Recife e sua riqueza. Ela está conectada com nossas origens”, defende o secretário de Cultura da cidade, Ricardo Mello. Ele afirma que haverá uma maior presença da cultura popular nas aberturas das noites do Marco Zero. Trata-se de mais uma iniciativa da sua gestão que tem priorizado o apoio a esses artistas e às agremiações culturais. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Mello informa como tem realizado esse fomento, fala das novidades do Carnaval 2024 e faz um balanço da sua gestão. Como será a programação do Carnaval do Recife, suas atrações e a realização de cerimônias, como o Ubuntu e o Tumacara? Detalhes sobre as atrações artísticas, o público pode conferir nos perfis do Instagram da prefeitura, do Carnaval do Recife e do Cultura do Recife. O Ubuntu é a cerimônia em que acontece a lavagem da Boulevard da Avenida Rio Branco e o encontro dos afoxés. Em seguida haverá o Tumacara, um encontro de maracatus que, este ano, terá a participação inédita do Olodum e o piano de Amaro Freitas. Será o Encontro de Tambores pela Paz. Essas cerimônias remetem à questão de ancestralidade. Precisamos olhar para a diversidade da cultura popular do Recife e sua riqueza. Ela está conectada com nossas origens, com as religiões de matriz africana, de como surgiu o Carnaval, que está ligado ao próprio frevo, ao maracatu, aos afoxés. É um posicionamento que vem desde o ano passado, quando tomamos a decisão do Galo Preto Ancestral (a tradicional escultura do Galo da Madrugada instalada na Ponte Duarte Coelho) que já trazia esse olhar para as nossas origens africanas, para a nossa cultura que foi muitas vezes marginalizada. Em 2023 também homenageamos duas mulheres negras, uma do maracatu e uma do frevo: Marivalda e Zenaide. É algo que também está conectado com a eleição recente dos patrimônios vivos e de Lia de Itamacará, homenageada do Carnaval do Recife deste ano. É uma representação fortíssima, uma mulher negra, praticamente uma entidade da ciranda, da cultura popular. Também homenageamos Chico Science, integrante do Manguebeat. Ele conectou o Recife com o mundo, mas tinha nas suas fontes principais a cultura popular. Então, o Carnaval acaba também sendo esse grande encontro do tradicional com o contemporâneo. Outra questão conceitual importante é que o Baile Municipal terá apenas vozes femininas no palco. Elas serão acompanhadas por maestros – Forró, Ademir Araújo e Spock – mas será um baile comandado pelas mulheres. Temos também algumas iniciativas que foram trazidas no ano passado como o De Pátio a Pátio, um cortejo de cultura popular que vai ser ampliado. Este ano, temos 49 polos espalhados por toda a cidade. A gente vai ter de volta, inclusive, o Pátio de Santa Cruz com atividades lá. Ao longo do Carnaval, teremos a presença muito forte da cultura popular nas aberturas das noites do Marco Zero. Tudo isso faz parte do Plano Recife MCP – Matriz da Cultura Popular. Você poderia explicar esse plano? O MCP tem uma inspiração no Movimento de Cultura Popular [que tinha o objetivo de educar a população pobre da cidade e oferecer acesso à cultura]. Foi algo que planejamos desde o final do ano retrasado, quando trouxemos essa reafirmação do lugar da importância da cultura popular para a diversidade e riqueza da cultura do Recife. Fizemos uma reparação histórica com um aumento significativo de premiações e subvenções para as agremiações. Agora, no segundo ano, concedemos até 50% de reajuste. Também conseguimos aprovar uma lei que isenta as agremiações da cultura popular de pagamento de tributos municipais. Tudo visando salvaguardá-las. Com o MCP, buscamos um acolhimento e um atendimento jurídico para qualificar e formar essas agremiações na participação de editais com o objetivo de cada vez mais democratizarmos o acesso da cultura popular, dos fazedores e fazedoras de cultura, a esses recursos públicos. É importante dizer que o MCP também busca o encontro do público com as manifestações culturais mais genuínas que a gente tem. O diálogo dessas manifestações e expressões culturais com a cidade e com quem nos visita é muito importante. O plano também visa a uma integração com a educação e a ocupação de espaços públicos na cidade para que haja cada vez mais um conhecimento acerca da história, da memória dessa ancestralidade e de tudo o que fomentou e fez surgir e manter, até hoje, esses nossos patrimônios culturais imateriais. O MCP avança agora na perspectiva de ter um espaço no Pátio São Pedro, integrado à educação, com dois prédios públicos que vão atuar integrados fisicamente e nas ideias. É um investimento para a requalificação do Pátio de São Pedro no sentido de um espaço histórico-cultural que chamamos de Centro Histórico de Criação do Futuro. Lá no pátio, iniciamos o movimento de valorização dos espaços culturais, o Move Cultura, quando reabrimos a Casa do Carnaval, o Memorial Chico Science, o Memorial Luiz Gonzaga, o Museu de Arte Popular e a Casa do Conselho. Vamos levar novos projetos para lá buscando trazer de volta a movimentação no pátio, tornando-o sustentável, com outros equipamentos, como restaurantes e

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“Se a concessão da Malha Nordeste for suspensa, Natal, Cabedelo, Suape e Maceió teriam 0 km de ferrovia”.

A FTL, concessionária da malha ferroviária do Nordeste, entrou com um pedido junto à ANTT para devolver a concessão, mas o engenheiro e professor da UFPE e Unicap, Maurício Pina, alerta para os prejuízos que alguns Estados nordestinos terão caso o Governo Federal acate a solicitação. Um novo capítulo da novela do sistema ferroviário pernambucano surge com tons dramáticos. A empresa FTL (Ferrovia Transnordestina Logística) concessionária da Malha Nordeste (abrangendo Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas), entrou com um pedido junto à ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) para devolver a concessão. Caso o pedido seja aceito pelo Governo Federal, será mais um revés para Pernambuco, uma vez que a TLSA, concessionária da Transnordestina – que pertence ao memo grupo da FTL – já retirou os trechos Salgueiro-Petrolina e Salgueiro-Suape do trajeto dessa ferrovia. A medida, segundo o engenheiro Maurício Pina, professor da UFPE e da Unicap, também prejudicará outros Estados nordestinos. “Isso causaria sérios prejuízos aos portos da região, principalmente Suape, Cabedelo, Natal e Maceió. Não existe porto de grande porte no mundo que não seja alimentado por ferrovia. Querer imaginar que Suape seja alimentado por rodovia, como é hoje, é querer condená-lo a não se tornar um grande porto concentrador de cargas”. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Pina, que também é membro titular das Academias Nacional e Pernambucana de Engenharia, faz um histórico da malha ferroviária do Nordeste Oriental, analisa os problemas advindos da concessão e defende que a União não aceite o pedido de devolução da concessionária. O senhor poderia fazer um histórico sobre as ferrovias do Nordeste? A Transnordestina, que seria a ferrovia mais importante do Nordeste, é considerada a obra inacabada mais antiga do País. Em 1847 o imperador Dom Pedro II determinou a abertura de uma ferrovia que ligasse o litoral da região aos Sertões e esse é o primeiro registro que se tem do que hoje é a ferrovia. Mas vamos dar um salto grande no tempo, em 1959 foi criada a Rede Ferroviária Federal mas, em 1997, foi realizado o leilão [para privatizar] a malha ferroviária do Nordeste, como foi feito também em outras regiões do País. O leilão, que abarcava todas as ferrovias situadas nos estados do Nordeste até Alagoas (Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas), excluiu apenas Sergipe e Bahia cuja malha ficou com outra concessão. O leilão abrangeu uma extensão de ferrovias de 4.238 km e a empresa vencedora foi a CFN (Companhia Ferroviária do Nordeste). De início, ela já tomou partido e estabeleceu sua sede em Fortaleza, quando o natural seria se estabelecer no Recife porque a superintendência de Fortaleza (chamada de SR11) até 1988 era subordinada à Superintendência Regional da Rede Ferroviária no Recife, que era a SR1. O contrato de concessão estabelecia o prazo de 30 anos. Desde o final do Século 19, as ferrovias construídas no Nordeste se destinavam a ligar um local de produção até os portos. Então, por exemplo, havia uma ferrovia ligando o Recife a Caruaru que foi inaugurada em 1894 e depois ela foi sendo prolongada, chegou ao Sertão do Pajeú e era para ela ter continuado, mas parou em Salgueiro. Veja a lógica: havia uma ferrovia do Recife até Salgueiro, uma outra de Fortaleza até Missão Velha, no Ceará, e outra de Salvador até Juazeiro da Bahia. Eram três ferrovias que não se comunicavam. A primeira concepção do que se chamou de Ferrovia Transnordestina foi justamente a ligação de Salgueiro com Missão Velha para conectar a malha de Pernambuco com a malha do Ceará e a ligação de Salgueiro até Petrolina e, com isso, permitir em Juazeiro a ligação de Pernambuco com as ferrovias da Bahia. Essa concepção tem um detalhe importante que é a integração com a hidrovia do São Francisco, algo extraordinário. O São Francisco é uma dádiva da natureza para o Nordeste não só porque produz boa parte da nossa energia elétrica mas, também, porque o rio é navegável desde Pirapora, em Minas Gerais, até Petrolina. Se a ferrovia fosse implantada com essa concepção chegando até Petrolina, permitiria que toda a produção de grãos do Cerrado, no Oeste da Bahia, fosse escoada por hidrovia até Petrolina e de lá seguisse por trem até os portos de Suape ou até Pecém. Quais as linhas que foram privatizadas? Quando essa concessionária assumiu, em Pernambuco existiam três linhas férreas: a Linha Norte que saía do Recife, passava em Itabaiana, chegava em Campina Grande, seguia pelo Sertão da Paraíba e subia para Fortaleza, Teresina e São Luís. Havia a Linha Centro que parou em Salgueiro – que era para ter prosseguido até Petrolina – e havia a linha Sul que saía do Recife e ia até o Sul do País. Essa era chamada Estrada de Ferro do Recife ao São Francisco e o trecho inicial, que abrangia do Recife até o Cabo de Santo Agostinho, foi inaugurado pelo imperador Dom Pedro II, em 1858. Na década de 1970 foi construída uma ponte rodoferroviária sobre o Rio São Francisco, ligando Porto Real do Colégio, em Alagoas, até Propriá, em Sergipe. Com essa ponte, tínhamos a ligação completa do Recife até o Sudeste e o Sul do País. Havia vários estudos que recomendavam fortemente a Transnordestina, como o realizado em 1987 pela área de planejamento do Governo Federal, e em função dele, em 1990 as obras foram iniciadas. Mas, em 1992, elas foram paralisadas por falta de recursos, isso antes da concessão. A CFN assumiu a malha ferroviária do Nordeste no início de 1998, como vencedora do leilão realizado em 1997. Pelo contrato, ela era obrigada a fazer manutenção da via permanente da infraestrutura ferroviária. Mas a empresa não investiu na manutenção e em função disso passou a haver um desmonte da malha ferroviária. Dos 4.238 km que ela recebeu como concessão em 1998, apenas 2.750 km estavam em operação em 2000, ou seja, houve uma redução de 35%. Em 2006, o projeto passou a se chamar Nova Transnordestina e veio com

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“Para lidar com a IA é preciso sair da bolha”

Se você teme ser substituído no trabalho por alguma ferramenta de inteligência artificial, a dica do consultor da TGI Fábio Menezes é: invista no desenvolvimento da sua inteligência tipicamente humana. Ou seja, amplie e diversifique seus conhecimentos, leia livros, ouça música e assista a filmes de diferentes temáticas, vá a exposições de artes plásticas e não se limite a obter informações apenas da sua “bolha” profissional ou social. “Isso lhe dá uma condição de fazer conexões que talvez o especialista em determinada tecnologia não consiga porque o campo de raciocínio dele vai ficar mais delimitado (…) por mais inteligente que seja, ele pode ter dificuldade de fazer associações, abstrações, que quem tem uma leitura mais ampla tende a ter mais facilidade”, orienta. Nesta entrevista concedida a Cláudia Santos, o consultor recomenda ainda aos profissionais se inteirarem sobre o uso das ferramentas da IA na sua área de atuação. Ele também analisa o impacto da tecnologia no futuro do mundo do trabalho. Bill Gates afirmou que a IA permitirá uma semana de trabalho de três dias, em razão do aumento da produtividade que a tecnologia proporciona. Já Pierre Lucena, presidente do Porto Digital, disse estar preocupado com o fato de esse ganho de produtividade ser apropriado por quem emprega. Como você analisa essa questão? Em alguns lugares do mundo estão sendo realizados testes de uma semana de trabalho com apenas quatro dias. Há relatos de empresas que fizeram esse teste e observaram um aumento na produtividade, refletindo em uma melhora na receita, além de os funcionários terem demonstrado satisfação. O modelo começou a ser testado no Brasil, porém, ainda não tive acesso aos dados referentes ao País. Bill Gates já mencionou a possibilidade de reduzir para três dias, o que já é uma mudança significativa. Não estou certo se o impacto do aumento na produtividade resultará na redução dos dias de trabalho ou se teremos a mesma quantidade, porém com uma produção muito maior. Ferramentas como a inteligência artificial têm o potencial de aumentar a produtividade, uma vez que poderão substituir, pelo menos, uma parte do processo. Por exemplo, em vez de começar a escrever um texto do zero, possamos iniciar editando-o. Acho importante considerar que, geralmente, as pessoas refletem sobre esses assuntos com base nas ferramentas disponíveis no momento. No entanto, o avanço delas não segue uma progressão aritmética mas, sim, geométrica, o que é extraordinário. Quem sabe, daqui a um ano, entrevistas como esta não precisem mais de sua participação, sendo conduzidas por uma inteligência artificial que interaja comigo e envia a você uma versão esquematizada para revisão final. Isso é pura imaginação, mas não duvido que nos próximos anos o avanço dessas ferramentas será significativo, impactando a produtividade. Quanto à apropriação dessas mudanças, seja por parte das empresas ou das pessoas, é difícil afirmar. Até o momento, parece depender da realidade e natureza de cada trabalho, além do perfil e ambições individuais. Se a empresa passa a produzir apenas de segunda a quarta-feira, os profissionais terão a quinta, sexta, sábado e domingo livres. Mas para fazer o quê? Isso dependerá de cada pessoa. Alguns podem buscar outra atividade ou, até mesmo, empreender enquanto mantêm seu emprego atual. Acredito que isso terá um impacto significativo em mudanças sociais que são difíceis de prever. Por enquanto, o melhor é observar e tentar compreender. Não apenas observar passivamente mas, também, acompanhar e experimentar essas mudanças e ferramentas. Alguns estudiosos apontam também que a IA pode aumentar as desigualdades. Você concorda? Acredito que esse seja um grande desafio pois, com a sofisticação da inteligência artificial, também se sofistica a maneira como podemos usá-las. Hoje, fala-se muito sobre os prompts (nome dado às instruções que o usuário passa para ferramentas como o ChatGPT), uma expressão cada vez mais presente, à medida que as pessoas buscam aprender e se adaptar. Para que as pessoas possam explorar essas ferramentas da melhor forma possível, aproveitando em prol de seu ganho de produtividade, é necessário um certo nível de educação. Em uma sociedade já desigual, acredito que esse seja, de fato, um grande desafio: evitar ampliar ainda mais essas disparidades. Aqueles com maior capacidade ou familiaridade com a IA, ou mesmo com uma base educacional mais sólida, talvez possam aumentar consideravelmente sua produtividade em relação àqueles que não possuem essas vantagens. Trata-se, então, de um velho problema com uma velha solução: o investimento em educação? Justamente. É um antigo problema que pode ser amplificado pela inteligência artificial. É difícil para mim ter posições claras em relação a tudo isso pois a IA é versátil e pode ser aplicada de diversas maneiras. Algumas ferramentas podem agravar a desigualdade, enquanto outras talvez não. Por exemplo, o smartphone é algo que praticamente todas as camadas sociais têm acesso. Observam-se, por exemplo, pessoas que, se tentarem expressar algo por escrito, não conseguem ser compreendidas, mas por meio de mensagens de áudio conseguem se comunicar. Antes, não era possível enviar áudio por carta, tinha que ser escrita, mas a tecnologia possibilitou enviar um áudio ou até mesmo um vídeo. Nesse sentido, a desigualdade diminuiu já que o avanço tecnológico permitiu que tanto uma pessoa da classe A quanto alguém das classes D ou E pudessem enviar o mesmo tipo de áudio ou vídeo. A qualidade pode variar em termos de megapixels, mas a comunicação acontece. Por outro lado, as ferramentas mais complexas de inteligência artificial tendem a demandar um certo nível de educação, habilidades interpretativas e conhecimento para fazer edições necessárias. Acredito que não há uma resposta única para essa questão, mas percebo que é um desafio e requer cuidado para não ampliar esse abismo. Provavelmente, todos os governos ao redor do mundo devem estar pensando sobre isso. Já que tocou neste assunto, especialistas afirmam que os países não estão preparados para esse impacto da IA no trabalho e defendem uma ação de forma globalizada e organizada. Você acredita que essa interferência seria eficaz? Acho que essa articulação seria muitíssimo bem-vinda. No entanto, tenho muita dificuldade em acreditar no grau de

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“As perspectivas do turismo de Porto de Galinhas para janeiro são excelentes”

O presidente da AHPG (Associação dos Hotéis de Porto de Galinhas), Eduardo Tiburtius, avalia a conjuntura atual do setor turístico em Pernambuco, faz projeções animadoras para o Réveillon e janeiro de 2024 mas afirma que a divulgação e a infraestrutura dos destinos precisam melhorar. Eduardo Tiburtius, presidente da AHPG (Associação dos Hotéis de Porto de Galinhas), nesta entrevista a Rafael Dantas, faz um balanço do setor turístico de Pernambuco em 2023, enfatizando a retomada após a pandemia e a atuação proativa do trade estadual para manter o mercado local aquecido. Tiburtius explora os desafios e as conquistas do turismo em Porto de Galinhas, evidenciando o impacto positivo de iniciativas inovadoras, como a BioFábrica de Corais, projeto que desenvolve atividades de educação ambiental e que usa ferramentas biotecnológicas para favorecer a restauração dos recifes, por meio do cultivo de corais. Tiburtius aborda ainda a importância do crescimento conjunto de destinos vizinhos, destacando a necessidade de diversificação e promoção para atrair turistas nacionais e internacionais. As perspectivas para o futuro são otimistas. Em meio a projeções animadoras para o Réveillon e janeiro de 2024, o presidente da AHPG expressa confiança na capacidade de Porto de Galinhas se reinventar, prevendo um ano positivo no horizonte turístico. Qual o balanço que o senhor faz do setor turístico de Pernambuco neste ano? O Estado se recuperou plenamente da pandemia? O mercado de Porto de Galinhas teve sua retomada expressiva já no segundo semestre de 2021 e se repetiu também em 2022. Já em 2023 tivemos um ano de estabilidade em relação a 2022. Hoje temos uma operação doméstica que supera os anos pré-pandemia, mas ainda falta o restabelecimento da malha internacional para que possamos afirmar que temos uma recuperação completa. Pernambuco parece ter voltado à moda, ao desejo do turista nacional. Durante o Visit Pernambuco – Travel Show (evento que promove o turismo no Estado com rodadas de negócios, palestras e espaços de exposição nacionais e internacionais), o secretário Daniel Coelho afirmou que temos o dobro de movimentação dos aeroportos de Fortaleza e Salvador. O que houve para o Estado entrar nessa crescente? Eu considero uma junção de fatores. Creio que o trade do Estado teve uma atuação muito proativa e com uma forte capacidade de se reinventar de 2020 para cá. Exemplificando: em 2020, em plena pandemia, tivemos um número recorde de capacitações online oferecidas aos agentes de viagens naquele momento, explicando além dos temas tradicionais das atividades turísticas, as questões de segurança nas hospedagens necessárias naquele período. Também conseguimos em 2020, com toda segurança necessária, realizar o Visit Pernambuco trazendo para Porto de Galinhas os operadores que, até então, eram especializados em vendas de mercados internacionais e que naquele momento não teriam como vender os produtos internacionais pois as fronteiras estavam fechadas. Em 2021, no segundo semestre, fomos o primeiro mercado a voltar com capacitações presenciais em mais de 20 cidades nos grandes mercados emissores como o programa Encontro com Porto de Galinhas. É importante salientar que todas essas ações tiveram a participação massiva tanto do trade local mas, também, o apoio do Governo do Estado e da Prefeitura de Ipojuca. Devemos ressaltar também as campanhas do Recife com o projeto Recife é para Ficar e de participações de empreendimentos de Fernando de Noronha nas ações de Porto de Galinhas. E por último, mas também muito importante, a Azul Linhas Aéreas, que foi a empresa que, com muita agilidade, adaptou sua malha aérea com o fortalecimento do seu hub e foi essencial para o aumento no número de passageiros. Quais os principais resultados do Visit Pernambuco – Travel Show deste ano? Consideramos o Visit Pernambuco um evento essencial para o calendário do turismo do Estado. Nele, conseguimos trazer agentes de viagem, representantes de operadoras e a imprensa para apresentar in loco todas as nossas potencialidades quer sejam de atrativos como passeios, estabelecimentos comerciais, pousadas, restaurantes, atrações na vila de Porto de Galinhas como também podemos mostrar as atualizações dos hotéis em Porto de Galinhas que têm a característica de estar em constantes remodelações. Outro ponto importante é que o evento permite que empreendimentos que não têm a disponibilidade de participar de feiras fora do Estado possam ter o contato direto com os principais operadores de turismo do Brasil nas rodadas de negócios realizadas durante o Visit. Projetamos, a partir da pesquisa com os participantes, que a edição do Visit deste ano promoveu uma movimentação de R$ 112 milhões em negócios gerados no setor até 2024. As perspectivas são boas para o Réveillon e para as férias de janeiro? Sim, as perspectivas do setor de turismo de Porto de Galinhas para o Réveillon e para janeiro são excelentes. Já estamos com uma ocupação acima de 90% no Réveillon e um pouco acima de 82% no mês de janeiro. Vocês ganharam novas operações ou inauguraram novidades neste ano? Tivemos os lançamentos recentes de novos empreendimentos hoteleiros e este ano tivemos a grande satisfação de ter como novo associado o Samoa Beach Resort que veio muito agregar à Associação de Hotéis de Porto de Galinhas. Aliás, foi apresentado durante o Visit Pernambuco o novo empreendimento do grupo Samoa que será inaugurado em 2025. Outro atrativo importantíssimo é a BioFábrica de Corais que tem uma importância vital para o replantio dos corais da Vila de Porto de Galinhas, o principal atrativo turístico do nosso destino. Porto de Galinhas é a grande âncora do Litoral Sul, que é um dos maiores atrativos de Pernambuco. Mas outros destinos vizinhos estão em crescimento, como Sirinhaém. Esse movimento fortalece a região? Há demanda para todos? Sem dúvida nenhuma. Precisamos que o Estado todo aumente sua gama de destinos turísticos para cada vez mais atrair para o nosso Pernambuco o fluxo de passageiros do Brasil e do mundo. Apenas exemplificando a importância disso, posso lembrar das operações charters internacionais que tivemos até o ano de 2008 em que muitas vezes outros Estados foram escolhidos pelos emissores europeus (como Rio Grande do Norte e Bahia) porque as operadoras precisavam ter a oferta

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“10% da renda das classes C, D e E está comprometida com apostas online”

Sócia de auditoria da PwC, Helena Rocha analisa a pesquisa feita pela empresa e o Instituto Locomotiva que revela um consumidor de baixa renda que valoriza preço, mas também a qualidade do produto. O dado surpreendente foi o apelo que as apostas esportivas exercem nessa parcela da população. (Foto: Bosco Lacerda) Depois de anos de crise econômica, agravada pela pandemia, os consumidores das classes C, D e E estão controlando mais seus gastos, porém, se tivessem acesso ao crédito, consumiriam mais, principalmente eletrônicos e eletrodomésticos. Mas, apesar disso, eles não valorizam apenas o preço na hora da compra mas, também, a qualidade e a marca do produto, e estão muito antenados com as questões sociais e sustentáveis. A ponto de estarem dispostos a pagar um pouco mais por marcas e produtos que apoiem a diversidade e a priorizar aquelas que são sustentáveis. Além disso, já abandonaram ou deixaram de comprar determinada marca por falta de responsabilidade ou porque desrespeitaram o meio ambiente. Esse novo perfil dos consumidores das classes C, D e E foi revelado na recente pesquisa realizada pela PwC e Instituto Locomotiva denominada Mercado da Maioria já que eles representam 76% da população, segundo a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2022, e respondem por quase metade do consumo no País. Nesta entrevista, Helena Rocha, sócia de auditoria, líder da indústria de consumo e varejo para o assurance da PWC, analisa os resultados do estudo. Helena chamou a atenção para o apelo cada vez maior que as apostas online têm exercido sobre essa parcela de consumidores. “Em 2024, a estimativa é que gastos com jogos e apostas podem representar quase 5% do valor destinados a despesas com alimentação”, alerta. Qual o perfil do consumidor que representa esse mercado da maioria? A pesquisa entrevistou 2.400 pessoas, das quais 1.600 da classe C, D e E, além de 800 das classes, A e B, a partir de 18 anos. Dos entrevistados, 44% são região Sudeste, 28% Nordeste e 10% entre Sul, Centro- Oeste e Norte. E temos alguns dados importantes: do total de entrevistados das classes C, D e E, 62% declaram- -se pretos e pardos, 74% já afirmaram ter sofrido algum tipo de preconceito, 56% não concluíram o ensino médio e 50% deles trabalham sem carteira assinada ou por conta própria. Então, existe muita informalidade. A pesquisa destacou também um protagonismo feminino: 52% dos lares das classes C, D e E são chefiados por mulheres, o que também foi constatado nas classes A e B cujo percentual é de 43%. Uma das características identificadas na pesquisa é a de que esse público encara o consumo como uma questão de conquista e esforço individual. Você poderia analisar essa questão? A pesquisa revela o que significa consumo para consumidores das classes C, D e E: 61% dizem que se esforçaram para comprar itens que nunca tiveram condições financeiras de adquirir quando eram mais jovens e 71% afirmaram que se sentem realizados quando economizam para comprar um produto e conseguem. Eles também informaram que nos últimos 10 anos passaram a comprar mais, principalmente em supermercados e hipermercados, e artigos de higiene e beleza e, em torno de 45%, afirmaram adquirir mais na última década produtos para animais de estimação, vestuário e eletrônicos. Mas 48% dos entrevistados das classes C, D e E disseram que se sentem excluídos, ou já se sentiram excluídos ou passaram por situações de constrangimento por não terem condições de consumir algum produto ou marca. Além disso, 30% desses consumidores também disseram que já foram constrangidos por não terem um produto e não usarem uma determinada marca e 42% já se sentiram também excluídos por não terem condições financeiras para consumir um produto que estava na moda. Quando a gente analisa quais as causas das dificuldades de aquisição, para 70% dos entrevistados das classes D e E e 56% da classe C, a principal é a dificuldade de acesso ao crédito. Esse percentual é bem menor nas classes A e B, mas ainda é um percentual importante, 40%. Quais os produtos que eles desejariam comprar? De um modo geral, eles dizem que comprariam mais caso eles tivessem maior acesso ao crédito. Os itens mais desejados são eletrônicos (citados por 36% dos entrevistados das classes C, D e E) e eletrodomésticos (35%), que também são desejo de consumo importante nas classes classe A e B, com percentual de 30%. Houve uma época, há uns 12 anos, em que acreditávamos que para as classes A e B, isso não era mais tão relevante porque essas pessoas já teriam acesso a eletrodomésticos de um modo geral. Mas, novas tecnologias são criadas e surge o desejo de adquiri-las. Então, o que aparece muito são casas automatizadas, produtos mais robustos do ponto de vista tecnológico, de última tendência. Esse é um desejo muito grande que permeia todas as classes sociais. Para as das classes C, D e E também aparecem imóveis e automóveis com percentual de 27%. Um aspecto que chama a atenção é que quando perguntado “o que você gostaria de adquirir nos próximos 12 meses?”, o curso de idiomas e outros cursos aparecem de maneira bem relevante, com percentual de 30%. Foi uma surpresa para nós. Embora a gente não perceba muito, mas é um desejo latente das classes C, D e E, que pode ser de ascensão social. Em seguida, surgem itens mais de consumo, como móveis, eletrodomésticos, materiais de construção, eletrônicos. Todos esses desejos reprimidos esbarram na falta de crédito, cujo acesso é dificultado em razão da taxa de juros muito alta e porque grande parte dessas classes já está muito endividada. Um fato que chama a atenção da pesquisa é o apelo que as apostas esportivas exercem sobre as classes C, D e E. O que mostrou a pesquisa sobre esse assunto? As apostas esportivas estão consumindo uma fatia importante da renda, principalmente das classes C, D e E. Quando a gente faz a análise do perfil desses jogadores, em termos de idade, grande parte realmente

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“Mercado de imóveis econômicos está otimista com os programas habitacionais”

Presidente da Ademi-PE, Rafael Simões, analisa como as novas políticas voltadas para a habitação de interesse social podem solucionar os problemas de acesso ao crédito para a população de baixa renda. Afirma também que o segmento de médio e alto padrão pode aquecer com a melhora da economia em 2024. Pesquisa da FipeZap revela que dos 10 bairros mais caros para morar de aluguel no Nordeste, sete estão no Recife. Segundo o presidente da Ademi-PE (Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Pernambuco), Rafael Simões, isso acontece em razão da baixa oferta de imóveis na cidade e de dificuldades no acesso ao crédito, o que afeta, em especial, a população de baixa renda que se vê obrigada a morar fora da capital. Apesar dessa situação, Pernambuco tem um orçamento de R$ 2,3 bilhões ao ano, proveniente do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), para investir no Minha Casa Minha Vida. Mas o Estado só executa R$ 1,7 bilhão desse total. Uma contradição que se explica, de acordo com Simões, pela incapacidade dessa parcela da população de arcar com o valor da entrada, que não é financiada pelo programa. Mas o presidente da Ademi-PE diz estar otimista com a implantação do programa Morar Bem Pernambuco, que subsidia até R$ 20 mil para complementar o financiamento do Minha Casa Minha Vida. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ele afirma que esses subsídios estaduais trazem boas perspectivas para o mercado imobiliário em 2024. Rafael Simões também comenta as iniciativas para incentivar a moradia no Centro do Recife e as ações da sua gestão à frente da entidade. Assistimos a uma melhora da economia, com inflação menor, a Selic em queda lenta e gradual, além de uma estabilidade política. Esse cenário ajuda o mercado imobiliário? Os ciclos são muito longos no nosso setor, por isso temos que ler o cenário a partir de quatro anos para trás e quatro anos para frente. Nos últimos quatro anos, saímos daquela crise de 2017, dos distratos, quando as empresas tiveram que devolver boa parte do seu faturamento. Isso balançou o mercado nacional inteiro, várias empresas entraram em recuperação judicial, algumas ainda estão. Hoje, isso já mudou o cenário, temos uma lei dos distratos de 2018. Depois, veio a pandemia. Contratamos uma pesquisa e ela reforça o número que eu sempre repito muito: em 2017 tínhamos 10.500 unidades novas para morar em estoque e hoje temos pouco mais de 4 mil. Houve uma redução de 60%. E habitação é uma demanda inelástica, é igual à comida, as pessoas vão comer de todo jeito, ninguém adia um casamento ou deixa de ter um filho porque está esperando licenciar uma obra ou lançar naquele terreno um apartamento de três quartos. Quando há uma redução brusca no estoque de unidades novas, isso vai refletir, sobretudo, nos preços do aluguel. A pesquisa da FipeZap mostra que dos 10 bairros mais caros para morar de aluguel no Nordeste, sete estão no Recife. Quando a gente olha a oferta de imóveis econômicos, a Região Metropolitana do Recife produz 6.500 unidades habitacionais/ano, sendo que a capital faz apenas 300 mas tem quase metade da população da RMR. As pessoas de baixa renda enquadradas no Minha Casa Minha Vida são obrigadas a morar fora da cidade porque não tem oferta. Quando pensamos em política habitacional, após superadas questões de serviços, como mobilidade, nós dependemos de: crédito, que são juros e funding (captação de recursos financeiros para aplicação em um investimento), de demanda, que é demografia e renda, e do item mais importante e um dos mais subestimados que é a política urbana. Ou seja, se tenho um baita estímulo da política urbana, existe o potencial desse terceiro fator superar as dificuldades que o crédito e a demanda oferecem. Qual a análise que o senhor faz desses três itens? O crédito é um problema, o mercado não entende que a Selic baixando de imediato vai respingar nos juros baratos da pessoa física, porque existe uma regra do Banco Central que obriga que 65% do dinheiro da caderneta seja destinado ao crédito imobiliário. Se a Selic baixa, naturalmente a poupança também baixa? Não é bem assim, porque o estoque de poupança já está esgotado e a oferta de crédito imobiliário hoje é uma mistura de recursos da poupança com LCI (Letra de Crédito Imobiliário), outros instrumentos mais modernos que têm juros mais altos. Essas questões são relativas ao mercado de médio e alto padrão. Já o Minha Casa Minha Vida trabalha com recursos do FGTS. Essa montanha de dinheiro, que está em torno de R$ 700 bilhões, é destinada, principalmente para habitação de interesse social. Esse dinheiro a Caixa empresta a 4% e paga 3% para o dono do capital. Está em discussão no STF o ajuste desses 3% para pagar igual à poupança, que hoje daria 6,17%. Então, vai dobrar a remuneração do dono do capital e o custo de aquisição da Caixa. O mercado está um pouco apreensivo com essas questões em relação ao crédito. Vamos agora para a segunda variável, a demanda. Estamos otimistas quanto ao governo. Estamos saindo de crises, fala-se da retomada de Suape em várias obras que podem aumentar a renda. Em relação à demografia, não temos saída e a chegada de pessoas na cidade, não é uma coisa que influencia. Talvez sim do ponto de vista turístico; as passagens estão muito caras e há uma explosão de ofertas de imóveis na área turística. Ninguém sabe o que vai acontecer quando as passagens voltarem aos preços normais. É um ponto a ser observado. Quanto à terceira variável, a política urbana, é importante que sejam criados instrumentos que estimulem a produção de habitação. Um exemplo: até 2016 não existia oferta de apartamentos econômicos na cidade de São Paulo. Quando verificávamos quantos andares tinha o Programa Minha Casa Minha Vida, era zero. Hoje é metade da produção, sem reduzir o que já era produzido de médio e alto padrão. O que aconteceu de 2016 para cá? Simplesmente a prefeitura de São Paulo

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