Arquivos Z_Destaque_entrevista - Página 11 de 11 - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

Z_Destaque_entrevista

ALGOMAIS 2

"Subfinanciamento da saúde pública levou hospitais filantrópicos a um endividamento de R$ 20 bilhões"

Hospitais filantrópicos e Santas Casas do País enfrentam séria crise financeira porque os recursos repassados pelo SUS são insuficientes para manter esses centros hospitalares. Tereza Campos, a presidente do Fehospe que congrega essas instituições no Estado, fala sobre o problema. A pandemia evidenciou para os brasileiros a importância do SUS (Sistema Único de Saúde). Sem ele, certamente a tragédia provocada pela Covid-19 teria uma dimensão ainda maior no Brasil. O que talvez algumas pessoas não saibam é que os hospitais filantrópicos e as Santas Casas têm um papel estratégico para o sistema. Só para se ter uma ideia, em 824 municípios do Brasil, essas instituições são o único equipamento de acesso ao cuidado e à assistência em saúde, com uma representatividade no SUS de 70% do volume assistencial da alta complexidade e 51% da média complexidade. Apesar de toda essa importância para a saúde pública do País, os hospitais filantrópicos e as Santas Casas passam por uma situação muito difícil. Os recursos que o SUS destina a essas instituições são insuficientes para financiar as suas atividades, um descompasso que perdura há décadas, levando os hospitais a acumularem um endividamento de R$ 20 bilhões, sucateamento das suas estruturas físicas e tecnológicas. Nesta entrevista a Cláudia Santos, a presidente da Fehospe (Federação dos Hospitais Filantrópicos de Pernambuco) e superintendente-geral do Imip, Tereza Campos detalha o problema e fala das reivindicações do movimento Chega de Silêncio encampado pela CMB (Confederação das Santas Casas, Hospitais e Entidades Filantrópicas) com adesão da Fehospe. Qual é a situação hoje dos hospitais filantrópicos e das Santas Casas? Os hospitais filantrópicos e Santas Casas, que têm participação efetiva no atendimento e na contribuição de formulação de políticas públicas de saúde, são essenciais para o sistema público, nas esferas públicas e privadas. No entanto, enfrentam um descompasso gigantesco que representa R$ 10,9 bilhões por ano de desequilíbrio econômico e financeiro na prestação de serviço ao SUS, de todo o segmento. O que levou os hospitais a essa situação? O subfinanciamento crônico do sistema público de saúde levou as instituições a um alto endividamento, com o acúmulo de valores na ordem de R$ 20 bilhões, sucateamento das suas estruturas físicas e tecnológicas. Esta situação foi agravada durante a pandemia da Covid-19, principalmente no abastecimento de materiais, medicamentos e insumos com preços elevadíssimos, além da inflação que atinge os custos dos nossos hospitais. Qual a importância desses hospitais no atendimento à população que utiliza o SUS e qual o tamanho da sua estrutura? O setor hospitalar filantrópico tem papel estratégico para o SUS. Nos serviços oferecidos pelo SUS, muitas vezes são únicos prestadores em municípios do interior do Brasil e, também, nos serviços de maior complexidade hospitalar em capitais e cidades de maior porte. A CMB (Confederação das Santas Casas, Hospitais e Entidades Filantrópicas) representa 1.824 hospitais filantrópicos brasileiros, são 169 mil leitos hospitalares e 26 mil leitos de UTI. Em 824 municípios do Brasil, a Santa Casa ou hospital filantrópico é o único equipamento de acesso ao cuidado e à assistência em saúde, com uma representatividade no SUS de 70% do volume assistencial da alta complexidade e 51% da média complexidade. Anualmente faz mais de 5 milhões de internações, 1,7 milhão de cirurgias e mais de 280 milhões de atendimentos ambulatoriais. Dependem economicamente destas instituições mais de 3 milhões de trabalhadores, com vínculo direto e/ou indireto. Em Pernambuco, os hospitais filantrópicos têm atuação igualmente relevante, em consonância com a sua condição na história nacional. Composto por estrutura assistencial de 35 unidades hospitalares que estão presentes em todas as regiões, do Sertão do Pajeú à capital, essa rede filantrópica representa uma atividade imprescindível e exitosa, assegurando uma cobertura na atenção à saúde eficaz, possuindo, inclusive, uma grande representatividade na assistência em alta complexidade. A Fehospe (Federação dos Hospitais Filantrópicos de Pernambuco) é uma instituição com sede no município de Recife, que congrega 24 Santas Casas e hospitais filantrópicos, que ofertam quase 4 mil leitos de internação e 705 leitos de UTI em assistência à nossa população, protagonizando o SUS em todo o Estado de Pernambuco. É evidente o patrimônio histórico e compromisso social dos hospitais filantrópicos no Brasil, que têm uma expressiva capilaridade e interiorização no território nacional. Qual é a reivindicação dos hospitais e das Santas Casas? Alocação de recursos na ordem de R$ 17,2 bilhões, anualmente, em caráter de urgência, em simultaneidade à aprovação do PL nº 2.564/20, como única alternativa de assunção das obrigações trabalhistas decorrentes do PL, assim como para a imprescindível adequação do equilíbrio econômico e financeiro da relação das instituições filantrópicas com o SUS. O que determina o Projeto de Lei 2564/20? A Fehospe está na defesa para a aprovação do relevante Projeto de Lei 2564/20 que altera a Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, para instituir o piso salarial nacional do enfermeiro, do técnico de enfermagem, do auxiliar de enfermagem e da parteira. A proposta, o valor mínimo inicial para os enfermeiros será de R$ 4.750, a ser pago nacionalmente pelos serviços de saúde públicos e privados. Nos demais casos, haverá proporcionalidade: 70% do piso dos enfermeiros para os técnicos de enfermagem; e 50% para os auxiliares de enfermagem e as parteiras. O PL 2564/20 originário e aprovado no Senado, tramita na Câmara Federal e está com regime de urgência aprovado. O impacto deste PL para os hospitais filantrópicos que prestam serviços ao SUS é estimado em R$ 6,3 bilhões por ano. *Leia a entrevista completa na edição 193.4 da Revista Algomais: assine.algomais.com

"Subfinanciamento da saúde pública levou hospitais filantrópicos a um endividamento de R$ 20 bilhões" Read More »

Ana Brito Fiocruz

"Máscara é uma peça do nosso indumentário sem prazo de validade para acabar"

Ana Brito, epidemiologista e pesquisadora da Fiocruz/PE, analisa o atual estágio da pandemia e as possibilidades do surgimento de novas variantes do coronavírus. Também critica o Conselho Federal de Medicina que segundo ela “assumiu um papel de negação da ciência” Com a crescente redução dos casos de Covid-19 no Brasil, a evolução da atual pandemia para uma situação de endemia tem sido tema de debates e destaques no noticiário. Até o presidente Jair Bolsonaro chegou a anunciar que pediria ao Ministério da Saúde para decretar que o País estaria agora num processo endêmico da infecção pelo novo coronavírus. Entretanto, para Ana Brito, pesquisadora médica do Instituto Aggeu Magalhães-IAM, Fiocruz, está havendo uma grande confusão sobre esses termos. Ana, que é epidemiologista e professora aposentada da Faculdade de Ciências Médicas da UPE, ressalta que apenas a Organização Mundial da Saúde pode decretar o fim da pandemia. Alerta também que um cenário de endemia não deva ser o desejável e sim o fim da transmissão do SARS-CoV-2. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ela analisa a situação atual da crise sanitária no Brasil e no mundo, comenta as sequelas da Covid longa e critica o que ela chama de “postura negacionista” do Conselho Federal de Medicina. A pandemia da Covid-19 no Brasil caminha para uma situação de endemia? Há uma grande incompreensão na determinação dos termos. Esses dados de pandemia, epidemia, surto são todos baseados em estatísticas. A classificação de uma doença como endêmica ocorre quando ela acontece com muita frequência num local. A dengue, por exemplo, é uma doença endêmica em Pernambuco. Desde os anos 1940 que nós não tínhamos caso de dengue no Brasil, o Aedes aegypt tinha sido praticamente eliminado das zonas urbanas do País. Mas em 1984, com a urbanização acelerada, com condições subumanas de habitações das populações, com a contaminação de rios e riachos e assoreamentos etc., ocorre a reintrodução do vetor, o Aedes aegypti. Desde então seus casos são monitorados e durante os anos foi construída uma média do número de casos esperados. Quando as doenças endêmicas, como a dengue, extrapolam o limite máximo esperado, ocorre um surto, se os casos estão circunscritos a uma área geográfica (como um município ou bairro), ou uma epidemia quando ela se dissemina em várias regiões. A pandemia é uma situação de ameaça à saúde da população que extrapola as fronteiras de países e de continentes. Se o problema já existia, é quando esse problema ultrapassa os limites esperados de tolerância. A denominação de pandemia é feita apenas pela Organização Mundial da Saúde, que reúne informações de mais de 190 países membros da Organização das Nações Unidas. Só a OMS pode classificar se a situação é de pandemia ou não. Ninguém mais. Não é correto que o ministro da Saúde diga que o Brasil está caminhando para uma endemia, ele não tem elementos, nem capacidade, nem foram deliberados poderes mundiais para que ele dissesse isso. Se a pandemia da Covid-19 vai evoluir para uma endemia, essa chave aí ainda não disseram para a gente. O desejável não é caminharmos para uma endemia, que não significa uma situação mais simples, significa a permanência do problema, só que a Covid-19 não estaria em níveis que extrapolam todos os continentes. O que a gente espera, como epidemiologista, é que haja uma homogeneidade na distribuição de vacina em todo o mundo, para que possamos caminhar para interromper a transmissão do vírus SARS-CoV-2, como aconteceu com a varíola, nos anos 1970. Se vamos para uma endemia, teremos que conviver com essa doença por várias gerações e fazer vacinas de reforço. Uma endemia custa muito caro a um país, porque a vacina é cara e temos mais de 20 vacinas no nosso calendário normal, que é bancado pelo SUS. Mas enquanto existir a circulação livre do vírus, vai existir a possibilidade de produção de novas variantes com escape tanto para a doença natural como para a vacina. Essa é a última onda? Não sei, ninguém sabe. Até agora a gente não sabe porque existe circulação livre do vírus na África, onde menos de 20% da população está vacinada no continente inteiro e, em outros países, mais de 30% da população não adere à vacina, o que é um crime contra a humanidade. Acho que lidar com essa questão é urgente. Não é possível que os países convivam com o negacionismo sem que essas pessoas sofram qualquer punição, seja punindo sua circulação livre ou pagando cotas altas. Mas nem dinheiro paga o adoecimento pela Covid. Como você analisa o atual momento da Covid-19 no Brasil? O que eu posso dizer hoje é que estamos entrando num processo de diminuição da taxa de transmissão do SARS-CoV-2, causador da Covid-19 e que este momento pode não ser de uma emergência sanitária para o Brasil. A denominação de emergência sanitária implica em questões sobre autorizações emergenciais de compras públicas etc. Existe um arcabouço jurídico que está por trás das definições dessas situações. Em relação à pandemia, posso dizer que ela persiste, porque a Covid-19 está em expansão, inclusive em países gigantescos como é o caso da China que tem um programa de tolerância zero à Covid-19. Eles têm uma forma de abordagem de enfrentamento baseado no diagnóstico, no isolamento, na quarentena e testes massivos para a população. Mas nas duas últimas semanas houve um crescimento em cidades com 17 milhões de habitantes que neste momento estão em lockdown. Taiwan, que é uma área muito próxima da China, que tem coberturas vacinais altas, também assiste a uma nova onda de Covid pela Ômicron. Portanto temos ainda o processo pandêmico porque a doença está em expansão no mundo. Mas alguns países, como o Brasil, já começam a vivenciar este momento que a gente chama de lua de mel da Covid, que significa um arrefecimento de casos e óbitos, com a população bem vacinada. Mas, é preciso correr para vacinar as crianças e particularmente as de 3 a 5 anos, que provavelmente vão começar a ser vacinadas, depende das liberações da Anvisa. Também

"Máscara é uma peça do nosso indumentário sem prazo de validade para acabar" Read More »

ricardo leitao

"Apesar da pandemia, a Cepe continua sendo a maior editora pública do País"

Ricardo Leitão, presidente da Cepe, analisa a influência da crise da Covid-19 na venda de livros, e fala sobre a retomada e as tendências do setor. Também informa os projetos da editora, como a Coleção Recife 500 Anos, a produção de audiolivros e a realização da feira Miolos, dedicada aos editores independentes. Com o isolamento social, seria razoável supor que um número maior de pessoas no País aproveitasse esse tempo em casa para ler mais livros. Não foi, porém, o que aconteceu. O faturamento do mercado das editoras apresentou uma queda de 10% em termos reais em 2020, quando comparado ao desempenho de 2019, segundo a pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro realizada pela Nielsen Book. Em Pernambuco, as vendas da Cepe caíram em torno de 20%. Resultado dos períodos em que suas livrarias permaneceram fechadas e eventos como feiras literárias e lançamentos de livros foram suspensos ou adiados. A retomada do setor, segundo seu presidente Ricardo Leitão, já começa a acontecer guiada por algumas mudanças. “A tendência é que não haja mais megalivrarias, mas livrarias de bairros, pequenas, segmentadas”, prevê. Otimista, mas cauteloso com esse novo momento, Leitão, nesta conversa com Cláudia Santos, fala sobre as dificuldades da venda de livros no País, o avanço do e-commerce, a importância das editoras independentes e os projetos da Cepe. Entre eles o lançamento da Coleção Recife 500 Anos e a produção de audiolivros. O primeiro a contar com a narração de atores será o clássico pernambucano A Emparedada da Rua Nova. Qual o impacto da pandemia no setor editorial? O impacto no mercado editorial daqui foi grande. Temos quatro livrarias próprias que ficaram fechadas durante a pandemia. Elas respondem por uma boa venda do varejo da Cepe. Além disso, o Circuito Cultural Cepe, que é uma série de feiras realizadas no interior, também não aconteceu em 2020 e 2021. São dois pontos de venda que a Cepe tem. O Circuito não aconteceu na forma presencial, mas digitalmente, o que perde muito porque o contato estimula muitas pessoas a comparecerem às feiras. Por outro lado, aumentaram as nossas vendas digitais, mas não na proporção para compensar as perdas dos eventos adiados ou cancelados. Qual foi o percentual de redução das vendas? As vendas no varejo caíram em torno de 20% e a receita da Cepe, que é em torno de R$ 50 milhões, reduziu em R$ 10 milhões. Chegamos no final de 2021 com esforço grande. Mas não deixamos de cumprir nenhum compromisso com pessoal e fornecedores. Reduzimos os custos no que foi possível, mantendo a atividade principal, que não é nem venda de livros: a Cepe foi fundada para editar o Diário Oficial que dá publicidade aos atos do governador e das prefeituras. Isso foi mantido rigorosamente todos os dias. Nossa receita caiu também porque não lançamos livro presencialmente. Um livro vende até 30% de sua tiragem num dia de lançamento de autógrafo. Agora estamos melhor, mas reduzindo um pouco a expectativa de lançamentos e o tamanho dos Circuitos Cepe de Cultura, com o objetivo de reequilibrar financeiramente a Cepe e crescer gradualmente as atividades. Nossa meta este ano é chegar a lançar em torno de 80 livros, porque é um bom tamanho. Quantos lançamentos a Cepe fazia antes da pandemia? Chegamos a lançar 100 livros e a Cepe se transformou na maior editora pública do Brasil, e está situada no Nordeste fora do circuito literário principal que é o Sudeste. Publicamos desde títulos infantis até livros baseados em teses acadêmicas. Isso também nos deu sustentação: se um segmento estava ruim, a gente investia no outro, se o livro físico estava ruim, a gente puxava o livro digital. Como estão as vendas do livro impresso? Um tempo atrás se dizia que ele ia acabar e ser substituído pelo e-book, mas não foi o que aconteceu. A expectativa era que a venda de e-book chegasse a 12% do mercado. Chegou, mas depois não cresceu, ficou estabilizada neste patamar. Acho que o gosto pelo livro imprenso se mantém. Também existe livro impresso que não serve para ser transformado em digital, como o livro de arte. Lançamos agora um livro que é uma retrospectiva do trabalho de Tereza Costa Rego, com 300 fotografias. A reprodução daquelas fotos no meio digital perde muito, não dá para ver uma tela de 13 metros de comprimento no visor do celular ou do computador. Existem outros tipos de livros que têm mapas e tabelas em que a leitura digital fica comprometida. Por isso é que eu acho que o livro impresso permanecerá. A televisão não matou o cinema, o livro digital não vai matar o imprenso. Mas o importante é que as pessoas leiam, a mídia é secundária. Leia a entrevista completa na edição 192.3 da Revista Algomais: assine.algomais.com

"Apesar da pandemia, a Cepe continua sendo a maior editora pública do País" Read More »

victor lamenha cerveja artesanal

"O dólar e a inflação deixaram as cervejarias artesanais numa situação delicada"

Victor Lamenha, Presidente da Associação Pernambucana de Cervejas Artesanais, fala do impacto da pandemia no setor, que nos últimos dois anos sofreu com a redução do número de cervejarias e com o consumidor preferindo produtos com menores preços. Mas ele se diz otimista com a retomada este ano. Q uem é apreciador de bebidas certamente observou que nos últimos cinco anos as gôndolas de supermercados e os cardápios de alguns bares locais passaram a exibir uma variedade de cervejas artesanais made in Pernambuco. Um setor que ostentava crescimento em termos de demanda, produção e de players. Mas, assim como outros segmentos da indústria, sofreu impacto da pandemia, da alta do dólar e da inflação. Das 26 marcas associadas à Apecerva (Associação Pernambucana de Cervejarias Artesanais) apenas 9 continuam afiliadas à entidade. Mas apesar das adversidades, o presidente da associação Victor Lamenha está otimista. “Entendemos que 2022 é o ano em que as coisas vão melhorar, no sentido de haver um controle maior da pandemia”. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ele também detalha outras razões para o seu otimismo como a inauguração neste semestre da Loja de Bebidas Pernambucanas no Marco Zero do Recife e o fato de o pernambucano dar valor ao que é da terra. A pandemia afetou o mercado de cervejas artesanais em Pernambuco? O mercado de cerveja artesanal é composto por indústrias e cervejarias ciganas, que são aquelas que não possuem fábrica própria e produzem nas indústrias de outras cervejarias. Elas compram insumos e uma indústria vai produzir para elas. O número que levantamos até agora é que havia 26 marcas – entre indústrias e ciganas – associadas à Apecerva e esse número caiu para 9 marcas. A redução do número de players foi muito grande e muitas empresas que fazem parte da cadeia indireta do mercado de cerveja artesanal, como PDV (ponto de venda), loja especializada em cerveja artesanal etc. também foram prejudicadas. Muita gente que montava evento diminuiu suas estruturas e entendemos que 2022 é o ano que as coisas vão melhorar, no sentido de haver um controle maior da pandemia. Já observamos um movimento de algumas marcas ciganas que podem voltar a produzir. Quais as causas que provocaram essa queda no número de produtores? O fator mais preponderante é que o consumidor na pandemia ficou muito sensível a preço e a maioria das indústrias de cerveja artesanal não consegue competir com as grandes marcas em termos de preço. Outro fator foi a pressão da inflação. A gente teve uma pressão muito grande no custo de produção dos insumos, das matérias-primas. Os insumos são importados e seus preços tiveram influência do câmbio alto? Existe malte produzido e comercializado no Brasil, mas trata-se de uma commodity que também é regida pelo mercado internacional. O lúpulo é outro item essencial das cervejas que sofreu muito impacto do dólar e esse, sim, é 99,9% importado. Além disso, o dólar pressionou o valor do vidro. Durante a pandemia enfrentamos a escassez de embalagens. O dólar também pressiona a economia como um todo, influencia no combustível, no lúpulo, no malte, nas embalagens. O meu entendimento é que o dólar e a inflação deixaram as cervejarias artesanais e a indústria de quase todos os segmentos numa situação muito delicada porque a gente não consegue repassar tudo para a ponta, porque o consumidor está muito sensível a preço, ele está buscando o melhor custo-benefício. A produção da cerveja artesanal começava com um hobby, que vai ganhando corpo, até se profissionalizar como um negócio? As cervejarias que permaneceram são as que estão mais estruturadas? As cervejarias ciganas, muitas vezes começam como um hobby, mas depois que ela vira cigana não tem mais como ser um hobby, porque agora ela assumiu um contrato com a indústria, comprou insumo, investiu num tanque de fermentação e maturação, comprou garrafa e rótulo. Tem que ir em frente, não tem mais alternativa. Muitas vezes, um advogado, por exemplo, resolveu abrir uma cervejaria para realizar o sonho dele. Isso é muito nobre, porque muita gente surgiu nesse contexto e veio com uma cerveja muito boa, veio para agregar, para somar no mercado e participou dos eventos do calendário da cerveja artesanal de Pernambuco que a gente tentou construir desde o primeiro ano da fundação da Apecerva. Eu vi cervejarias estruturadas, geridas por gente inteligente, fazendo cerveja muito boa que decidiu parar. Também há um detalhe: é mais fácil de fechar uma cervejaria cigana do que uma indústria. Acredito que, do mesmo jeito que foi fácil para eles pararem, pode ser que com a retomada, agora em 2022, seja fácil retornar. Entendo que não é porque eram mais desestruturados, acho que era porque eles tinham uma opção de pausar ou até desistir, porque o mercado de cerveja não é fácil, é muito competitivo. Brigamos com duas das maiores empresas do mundo, temos um market share de 2% (um pouco mais, um pouco menos). Assine a Revista Algomais para ler a entrevista completa: assine.algomais.com

"O dólar e a inflação deixaram as cervejarias artesanais numa situação delicada" Read More »

13 ANA CAROLINA PESSOA Foto Bernardo Dantas Easy Resize.com

"Portadores de hipertensão e diabetes são os mais propensos a ter doença renal crônica"

No mês em que é realizada a campanha do Dia Nacional do Rim, a nefrologista Ana Carolina Pessoa alerta para a importância do diagnóstico precoce da doença renal crônica que só apresenta sintomas numa fase avançada e que pode levar o paciente à necessidade de hemodiálise ou de transplante. É comum algumas pessoas percorrerem vários consultórios médicos com queixas de cansaço, fadiga, falta de apetite, náuseas e vômitos, sem ter um diagnóstico preciso e um tratamento para eliminar os sintomas. Até o momento em que recebem de um nefrologista a notícia de de serem portadoras da doença renal crônica (DRC). Esse desconhecimento da enfermidade levou a Sociedade Brasileira de Nefrologia a focar a Campanha do Dia Mundial do Rim (que ocorre neste mês de março) em ações de educação sobre a DRC. Nesta entrevista a Cláudia Santos, a nefrologista Ana Carolina Pessoa, dos hospitais da Restauração e Infantil Maria Lucinda, explica as causas da doença, que tem levado 140 mil brasileiros a serem submetidos à hemodiálise. A boa notícia é que ao se adotar hábitos saudáveis e fazer check ups frequentes, é possível prevenir ou retardar por muitos anos o desenvolvimento e a progressão da doença renal crônica. Este ano a Sociedade Brasileira de Nefrologia decidiu focar a campanha do Dia Nacional do Rim na educação sobre a doença renal crônica. Por quê? A doença renal crônica é a lesão irreversível da função dos dois rins – quando mantida por três meses ou mais – e suas causas mais frequentes no Brasil e no mundo são a hipertensão arterial sistêmica e a diabetes mellitus, doenças muito prevalentes na população. A doença renal crônica é silenciosa, ou seja, não causa sinais ou sintomas que levem os pacientes ao médico por causa dela. A grande maioria não sabe que apresenta problemas nos rins. Quando a doença já está muito avançada e a taxa de filtração de ambos os rins, muito reduzida, alguns pacientes podem procurar um serviço de saúde com queixas de cansaço, fadiga, falta de apetite, náuseas e vômitos. E apenas nos exames de sangue, muitas vezes numa UPA ou serviço de emergência, é que é flagrado o aumento da creatinina, o mais utilizado marcador da função dos rins. Não é incomum que o paciente procure um médico por essas mesmas queixas e acabe recebendo medicações para o estômago, vitaminas etc. e o diagnóstico de doença renal crônica não é realizado, mesmo após o paciente procurar diversos médicos. Infelizmente, muitas vezes, ele já chega ao hospital com doença renal crônica terminal, com necessidade de diálise de urgência, sem nunca ter antes recebido o diagnóstico de doença renal. Este ano a Campanha da Sociedade Brasileira de Nefrologia foca na educação sobre a doença em três pilares: educação para a comunidade – para que saiba mais sobre as doenças renais numa linguagem mais coloquial – educação para os profissionais de saúde, informando que na atenção básica, mesmo fora da população de risco, deve-se solicitar a dosagem da creatinina e o sumário de urina para fazer um check-up, uma triagem dos pacientes. Outro ponto: a função renal do paciente pode estar alterada mesmo com a creatinina dentro do valor normal para o laboratório de análise – isto porque o valor da creatinina depende da massa muscular do paciente. Exemplo: uma senhora idosa de 85 anos com 50 Kg com uma creatinina de 1,2 mg/dL tem a taxa de filtração dos rins bem menor que um jovem de 24 anos com 90 Kg com o mesmo valor de creatinina. O médico pode achar que a creatinina esteja dentro da faixa do valor de referência do laboratório e não deva encaminhar o paciente para o nefrologista. Por isso, é importante utilizar as calculadoras nefrológicas disponíveis no site da Sociedade Brasileira de Nefrologia e a mais utilizada é a CKD-EPI. A campanha deste ano também foca na educação dos formuladores de políticas em saúde pública, uma vez que a doença renal crônica é uma ameaça global à saúde pública, mas nunca priorizada nas agendas governamentais de saúde. Do ponto de vista populacional, programas de detecção de rastreamento precoce da doença deveriam ser incentivados. Quanto mais precocemente a doença renal crônica for detectada, melhor será a qualidade de vida para os pacientes, menores as taxas de mortalidade e sem contar a menor necessidade das terapias renais substitutivas (hemodiálise, diálise peritoneal e transplante renal) que mudam a vida do paciente e são muito caras para o Estado. Repetindo: o ideal é o diagnóstico precoce para que nós, nefrologistas, possamos atuar no sentido de diminuir a progressão da doença renal, talvez estabilizá-la por longos períodos e, caso o paciente necessite de uma terapia renal substitutiva, que ele chegue a esta terapia com boa qualidade de vida e bem-preparado – não precise iniciar hemodiálise de urgência nas grandes emergências como acontece atualmente. Qual a prevalência na população e qual o número de mortes que a doença renal crônica causa? Existem cerca de 140 mil pacientes em hemodiálise no Brasil. Mas esse número representa apenas os pacientes no estágio V, ou terminal. Muitos outros pacientes apresentam os estágios I, II, IIIa, IIIb e IV e nem sabem que são portadores de doença renal crônica. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia, a prevalência da doença renal crônica no mundo é de 28% a 46% em indivíduos acima dos 64 anos de idade. De acordo com KDOQI (Kidney Disease Outcomes Quality Initiative) nos Estados Unidos, a doença renal crônica atinge cerca de 15% de toda a população adulta (acima de 18 anos de idade). Estima-se que em 2040 a doença renal crônica poderá ser a quinta maior causa de morte no mundo. A prevalência aumenta em todo o mundo junto com o envelhecimento da população e os maus hábitos de vida: quanto mais pessoas com diabetes e hipertensão sobreviventes, maiores as chances dessas populações começarem a apresentar complicações, incluindo a doença renal crônica. Outra causa pouco comentada é a presença de lesões renais agudas de repetição, que acomete, por exemplo, um idoso

"Portadores de hipertensão e diabetes são os mais propensos a ter doença renal crônica" Read More »

FLAIRA FERRO Foto Matheus Melo 2 Easy Resize.com 1 e1646126961966

Flaira Ferro: "A arte foi um hospital de almas durante a pandemia"

Flaira Ferro, cantora, compositora e dançarina, que tem uma forte relação com o Carnaval, fala sobre a não realização da Festa de Momo, das releituras do frevo misturado a outros ritmos, da sua trajetória e ressalta a importância das expressões artísticas nestes tempos de crise da Covid-19. Flaira Ferro nasceu em pleno Carnaval e ao fazer 6 anos de idade pediu para a mãe levá-la para conhecer o Galo da Madrugada. Ao chegar no maior bloco de rua do mundo, ela começou a imitar a multidão dançando frevo e logo uma roda se formou em torno dela de pessoas admiradas com a destreza da pequena passista. Com tal habilidade, ela foi estudar na Escola Municipal de Frevo com o mestre Nascimento do Passo e chegou a trabalhar com Antônio Nóbrega. Mesmo com toda essa biografia, a dançarina, cantora e compositora diz estar resiliente com o fato de não haver folia este ano. “A prioridade tem que ser a saúde pública e todas as formas de sustentar a vida”. Uma resiliência que não a impediu de cantar a música com PC Silva Um frevo pra pular fevereiro (https:// youtu.be/WVRNYsoLGyE), um lamento pela não realização da Festa de Momo, cujo clipe foi muito visualizado na pandemia. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Flaira falou das novas releituras do frevo, dos seus projetos e da importância da arte neste período de pandemia. “Ela foi o nosso álibi, nosso lugar de nutrição do espírito, porque o que seria da gente sem poder ouvir música, sem poder assistir a filmes, sem poder ler livros?” Sua voz doce e tranquila cria um contraste interessante quando fala da fúria das suas letras sobre a condição da mulher e da sua geração que deu um novo impulso às questões feministas. “A raiva tem uma função fundamental para trazer equilíbrio quando as coisas estão muito opressoras.” Como tem sido pra você, que nasceu em pleno Carnaval, passar esse segundo ano sem a folia de Momo. “Me diz como a gente consegue esperar mais um ano?” como diz a canção Um frevo pra pular fevereiro. É sempre com muito pesar que a gente tem que atravessar esse momento, ainda mais pelo motivo que está impedindo o Carnaval de acontecer que é, de fato, essa pandemia em que a prioridade tem que ser a saúde pública e todas as formas de sustentar a vida. Então, óbvio que olhando mais do ponto de vista pessoal, a gente fica triste, querendo que que isso seja atravessado da forma mais rápida possível. Fico querendo inventar formas de criar um Carnaval em casa. Mas, se é pelo bem maior, acho que é muito importante trazer a consciência de que a gente não tem uma festa separada do contexto em que ela vive, né? O Carnaval, inclusive, é reflexo do momento histórico que a gente atravessa. Então, estou resiliente neste momento. É verdade que você começou a dançar frevo desde muito pequena? Minha relação com o Carnaval se deu logo na primeira infância, quando eu pedi de presente de aniversário de 6 anos a minha mãe para conhecer o Galo da Madrugada que é o maior bloco de rua do mundo. Eu via na televisão e ficava muito encantada com as imagens. Aí minha mãe atendeu o pedido e ali foi meu primeiro contato de que eu tenho a memória de estar adiante da dança do frevo, da música, com muita efervescência e me encantar muito com as pessoas, com aquela força lúdica, de ver os homens pintados, as mulheres fantasiadas, os idosos cheio de glitter. Lembro como um grande portal que eu estava conhecendo. A partir dali, eu imitava as pessoas nas ruas, imitava o povo dançando. Pedi para minha mãe uma sombrinha, mas era supercara R$ 50, que na época era muito dinheiro. Veio uma moça, amiga de minha mãe, que me deu a sombrinha e comecei a imitar as pessoas dançando. Logo se formavam rodas ao meu redor de pessoas apreciando ao me ver dançar. Eu tinha já uma facilidade de aprender, tinha uma coordenação motora que assimilava rápido os movimentos e a minha mãe viu que eu fiquei muito feliz. A partir daquele momento, teve todo um processo não de coincidências, eu diria de sincronicidades, que fizeram com que eu fosse parar na Escola Municipal de Frevo. E lá comecei a estudar com o fundador da escola, e criador do primeiro método de ensino do frevo que era Nascimento do Passo. Comecei a ter aulas, a participar de concursos, comecei a me destacar ganhando alguns prêmios como passista. E aí fui desembestando nos festivais de dança do Brasil, ganhando prêmios, sendo reconhecida e foi chegando a notoriedade, as mídias. Até hoje a dança é meu carro-chefe, é a minha primeira língua das artes, assim como o frevo é a matriz. Como você encara o frevo hoje? Muita gente reclama que é uma música só para o Carnaval, mas existem algumas releituras e misturas do ritmo e, por exemplo, na música Revólver você coloca uma atitude rock’n’roll no frevo. característica principal do frevo é a espontaneidade, é a improvisação, é a relação do povo em catarse. A música e a dança são meros reflexos dessas transformações do indivíduo, do corpo humano de quem nasce aqui, de quem bebe desse contexto de manifestações. Então, acredito que o frevo precisa acompanhar o nosso tempo e acompanhar as transformações das novas gerações que estão aí e das que estão vindo. Acho muito importante e é muito saudável a gente ter essa relação entre a tradição e a inovação de mãos dadas. Quando eu propus a música Revólver era o desejo mesmo de fazer uma canção que falasse de questões que estamos atravessando hoje, essa questão armamentista, essa ideia de solucionar a violência pelas armas, era um pouco essa brincadeira de falar do estado de espírito como o principal revólver para as transformações sociais. A própria estética sonora de fazer a música toda praticamente pelo computador, os beats serem timbres eletrônicos, era o desejo de experimentar estéticas

Flaira Ferro: "A arte foi um hospital de almas durante a pandemia" Read More »