"Inovação não é só tecnologia. Esse mercado também abarca profissionais que não são de TI"
Entrevista com Daniela Freire sobre o mercado profissional para inovação.
Entrevista com Daniela Freire sobre o mercado profissional para inovação.
Gabriela Coutinho, organizadora da CASACOR-PE, conta como será a edição da mostra, que este ano será realizada no mítico edifício do Bairro do Recife e terá espaços de entrada gratuita para o público. Ela também detalha as obras de requalificação feitas no imóvel. Muitos boêmios que frequentavam o Recife Antigo, décadas atrás, têm na memória as alegres noitadas vividas no edifício Chanteclair, que já abrigou boates, um famoso bordel e o bar Gambrinus, que tinha clientes famosos, como o jornalista, cronista e compositor Antônio Maria. Mas há relatos de que o imponente imóvel, localizado às margens do Rio Capibaribe – ocupando todo um quarteirão da Av. Marquês de Olinda, Rua da Madre de Deus, Vigário Tenório e Cais da Alfândega – também chegou a ser usado como armazém de açúcar no térreo e como moradia nos andares superiores. O certo é que com o tempo e o esvaziamento do Bairro do Recife, o Chanteclair sofreu um processo de deterioração. Tombado pelo Iphan em 1998, e fechado para reforma anos depois, o prédio pertence a Santa Casa de Misericórdia, mas é cedido a Realesis Empreendimentos, gestora do Complexo Paço Alfândega. Sua fachada foi recuperada em 2012, mas seu interior continuava em estado precário, e nunca mais foi aberto. Desde então, o edifício permaneceu no imaginário do recifense que sonha com sua reabertura. Esse desejo se tornará realidade, ao menos de forma transitória, graças à decisão das organizadoras da CASACOR Pernambuco, Carla Cavalcanti, Gabriela e Isabela Coutinho, de realizar a edição deste ano da mostra no icônico edifício. Para contar como será esta CASACOR, a arquiteta Gabriela Coutinho conversou com Cláudia Santos, dentro do Chanteclair, em meio às obras que estão sendo feitas para acolher o evento. Entre as novidades, estão a praça modelo a ser instalada na lateral externa do prédio, na Rua Vigário Tenório, e uma área no térreo com restaurante, bar e galeria de arte popular que terão acesso gratuito ao público. Como surgiu a ideia de fazer a CASACOR no edifício Chanteclair? Na verdade, esse já era um sonho antigo. Eu, Isabela (Coutinho, que também é organizadora do evento) e meu pai fomos fazer um passeio pela cidade – como geralmente fazemos quando estamos procurando um imóvel para a CASACOR – e aí passamos aqui na frente do prédio e começamos a discutir: poxa, a gente quis o Chanteclair, será que agora que a pandemia arrefeceu, a gente não poderia retomar esse plano? Foi quando ligamos para Ana Paula (Vilaça, chefe do Recentro – Gabinete do Centro do Recife). Ela nos deu todo o apoio, fez a ponte com o proprietário e começamos as negociações. O Recentro está com uma série de ações para requalificar o Bairro do Recife e eles estão nos ajudando em tudo o que podem, porque entendem a importância do edifício e de requalificar um imóvel que está fechado há tanto tempo. Desde o começo do ano estamos nesse processo, vendo o que poderia fazer de entrega, gerando masterplan (planejamento do projeto do evento) contatando patrocinador. O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) também nos deu todo o suporte e apoio, em tudo o que precisamos em termos de autorização. Eles têm sido superparceiros por entender a importância de reabrir um imóvel de relevância histórica para a cidade. O que se sabe sobre o prédio? Estamos pesquisando sobre o assunto, porque tem muita coisa que não está documentada no papel e estamos pesquisando histórias antigas, com a ajuda do Iphan e da nossa equipe, como os jornalistas envolvidos que estão ajudando a levantar informações do tipo: há quanto tempo o imóvel está fechado, as ocupações que já ocorreram etc. Então, estamos fazendo um levantamento bem legal, tanto para podermos divulgar, como para ter isso no nosso anuário e contar a história do Chanteclair. Muita gente tem muitos “achismos” e até memórias, mas para sabermos ao certo, temos que fazer uma série de apurações para entender o que de fato aconteceu aqui dentro, para poder documentar e divulgar isso para todo o público. O Chanteclair tem quase 100 anos e o que se sabe é que havia um bordel. Minha equipe foi conversar com Paulo Brusky (artista plástico), que era frequentador do imóvel e trouxe várias histórias. Ele já fez exposição de arte aqui, dentro do bordel, na época da ditadura e foi preso. São várias histórias que queremos resgatar. Havia também o Gambrinus, que era um restaurante. Era um prédio utilizado de modo múltiplo. O que está muito no imaginário do pernambucano é o bordel, porque o porto estava próximo, havia os marinheiros, toda essa história desse Recife que está no passado, mas que nem é tão velho, porque na década de 1970 ainda funcionava. Como será a CASACOR no Chanteclair? A CASACOR vai acontecer no térreo e mezanino do imóvel. A parte externa terá uma praça modelo de uso público, num trecho da Rua Vigário Tenório, (que fica numa das laterais do Chanteclair). Nesse trecho, não vai poder circular automóveis, terá acessibilidade, vegetação e todos os itens ideais da boa gentileza urbana. A praça modelo vai ser projetada pela Haut, que está assinando esse projeto. O acesso à praça será gratuito, não vai ser preciso ter ingresso para entrar nela. Essa praça será transitória ou permanente? Ela está numa passagem de carro e temos uma autorização temporária. Mas acreditamos que se for uma coisa muito positiva e que a prefeitura tenha interesse que fique, acho que tem tudo para dar certo. Acho que vai ficar bem legal, vai dar esse apoio para a rua Madre de Deus, que tem muito movimento. Vai ser bom pra todo mundo, vai tirar essa aridez de hoje que só tem carro. O acesso ao prédio será a porta central localizada na Vigário Tenório. No andar térreo, em frente à praça, ficarão os espaços operacionais, onde também não será preciso pagar ingresso. Nele estarão o Bistrô Recentro, que será comandado por Manu Tenório e funcionará durante toda a mostra. Nesta área operacional, também haverá um
"Todo mundo quer entrar no Chanteclair e agora isso vai ser possível" Read More »
Os constantes avanços da medicina (com a crescente incorporação de novas tecnologias e o surgimento de fármacos de última geração), o processo de oligopolização da área de saúde e o aumento do número de cirurgias eletivas que foram represadas no início da pandemia são alguns dos fatores que têm pressionado os custos dos planos de saúde. Nesta entrevista a Cláudia Santos, o médico clínico, especialista em medicina do trabalho e diretor-presidente do Fisco-Saúde, Pablo Cavalcanti de Andrade Lima Brito, analisa a conjuntura atual do setor de saúde suplementar. Brito, que também é auditor tributário, diretor operacional da Febrafite-Saúde (Federação Brasileira de Associações de Fiscais de Tributos Estaduais) e membro do Conselho Deliberativo da Unidas (União Nacional das Instituições de Autogestões em Saúde), avalia ainda os desafios do segmento de autogestão. Ele defende o incentivo à prevenção e à atenção primária à saúde como soluções para reduzir os custos da saúde suplementar e preservar a qualidade de vida dos seus beneficiários. Qual é a participação da saúde suplementar na assistência à saúde prestada aos brasileiros? No Brasil, hoje, 75% da população brasileira depende do SUS (Sistema Único de Saúde), 25% utiliza a saúde suplementar, que é de caráter privado, o que equivale a aproximadamente 50 milhões de brasileiros. É importante ressaltar que esses números variam de região para região. No Norte e Nordeste, esse número cai para 10% a 15%, já nas regiões Sul e Sudeste, equivale a subir até 30%. Então, além de ser uma parcela pequena da população brasileira que tem acesso aos planos de saúde, ainda enfrentamos, como em qualquer outro aspecto da realidade brasileira, essas diversidades regionais. A saúde suplementar é normatizada e fiscalizada pela ANS (Agência Nacional de Saúde) e há vários modelos de atuação. Existem as cooperativas médicas, as medicinas de grupo, os grupos de filantropia, as seguradoras de saúde e as autogestões. Eu, por exemplo, sou presidente de uma autogestão, o Fisco Saúde Pernambuco, que é a caixa de assistência dos auditores tributários do Estado. Essas autogestões representam hoje cerca de 10% desse contingente de vidas que têm acesso à saúde suplementar, ou seja, 5 milhões de pessoas fazem parte de planos de saúde de autogestão, que são característicos do Brasil. Temos em torno de 150 planos de saúde de autogestão no País. Foi no Brasil que surgiu essa modalidade? É um modelo brasileiro e há poucas experiências no mundo neste sentido, por isso não temos como fazer uma análise comparativa com outros países. Quais os problemas enfrentados pela saúde suplementar no Brasil? A saúde suplementar como um todo enfrenta alguns desafios consideráveis. Em primeiro lugar, a velocidade com que a tecnologia avança na medicina faz com que novos procedimentos e novos medicamentos de alto custo sejam incorporados ao rol de cobertura obrigatória determinada pela ANS. Essa é uma questão bem significativa porque aumenta o custo operacional de todos os planos de saúde. Outra questão que enfrentamos no Brasil, atualmente, é o processo de oligopolização da saúde suplementar. Cada vez mais, há uma concentração maior em poucas mãos dos hospitais e laboratórios. Isso diminui a margem de negociação para buscar o melhor custo para o beneficiário, cria dificuldade de relacionamento e é prejudicial à concorrência que é extremamente saudável para qualquer atividade econômica. Além disso, se já há na economia um processo inflacionário importante, na medicina isso é bastante notado, sobretudo porque dependemos, muitas vezes, de medicamentos importados, de tecnologia de alto custo, de uma medicina cada vez mais desenvolvida, mas também mais cara. Nesse contexto econômico, a inflação médica passou a ser um ponto muito relevante no desequilíbrio do custo dos planos de saúde. Outro problema que os planos de saúde de maneira geral enfrentam é a judicialização. As questões médicas são muito judicializadas. Sempre defendemos que houvesse varas de direito médicos nos tribunais de Justiça para que essas ações fossem direcionadas para esse juiz que poderia, com olhar mais profundo, mais especializado, julgar. O que acontece hoje é que as liminares são dadas com muita facilidade, sem exame maior e isso acaba gerando custo para os planos de saúde. Leia a entrevista completa na edição 197.1 da Revista Algomais: assine.algomais.com
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Para os que pensam que paisagem é apenas uma bela vista e que a natureza é o oposto do mundo urbano, a presidente da ABAP (Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas) Luciana Schenk apresenta um pensamento que faz reconsiderar esses conceitos. Na palestra realizada durante o lançamento da coleção de livros Recife 500 Anos, no último dia 15 de julho, na capital pernambucana, Luciana afirmou que a paisagem urbana é uma construção cultural que expressa a relação entre a humanidade e a natureza. Nesta entrevista a Rafael Dantas, a arquiteta defende que as alterações que realizamos no meio ambiente podem ser mitigadas por meio de um sistema de ruas arborizadas, praças verdejadas e parques que permitiria às áreas urbanas se adaptarem às mudanças: “se chover pouco, ou se chover muito, esses espaços verdes nos ajudam a umidificar ou drenar a cidade”. Ela também observa que as injustiças ambiental e social são interligadas e elogia os projetos de cidades parques, como o Parque Capibaribe, no Recife, e do Guaíba, em Porto Alegre. O que é planejar as cidades com a paisagem e porque a senhora defende essa abordagem no planejamento público? A paisagem é comumente compreendida como o que se vê e, mais, com aquilo que o senso comum chama de bela paisagem mas o termo, e seu significado, tem uma dimensão bem mais complexa. Muitos são os campos profissionais e disciplinares que têm a paisagem como tema ou pauta: geógrafos, biólogos, ecólogos tomam a paisagem como parte de suas investigações, bem como artistas, literatos, historiadores, sociólogos e filósofos, todos esses campos do conhecimento podem ter na paisagem importante referência ou questão. O mais importante de reter aqui é que a paisagem não é apenas o que se vê, mas um meio, uma construção cultural que expressa a relação entre a humanidade e a natureza. Por isso normalmente pensamos em paisagem como aquilo que se vê mas essa relação que se expressa de diversas formas – nas descrições literárias de Guimarães Rosa ou Euclides da Cunha, nas telas de Van Gogh ou nas fotografias de Sebastião Salgado – pode também ser um trecho do território sobre o qual se empreende uma pesquisa ou investigação. A paisagem se presta a diversas abordagens porque sua natureza é complexa, ela reúne dimensões físicas e metafísicas: dela participa a natureza física, relevo, vegetação, corpos de água, mas também o uso e as alterações que a humanidade realizou e todos os significados que nascem dessa alteração. No processo de crescimento urbano, as cidades deram às costas para seus ativos ambientais, como rios e florestas urbanas, e até ao patrimônio arquitetônico. Essa tendência se inverteu ou pelo menos está se transformando? A história do desenvolvimento humano parece guardar essa contradição: alteramos o meio físico, promovemos a adaptação dele, suprimimos a vegetação e nos esquecemos de questões básicas que não podem ser suprimidas como, por exemplo, o ciclo da água que não deve ser interrompido porque a água limpa é fundamental para a sobrevivência. Menciono a água porque ela costuma ser lembrada quando falta ou se apresenta em excesso nas enchentes, e isso se liga ao ciclo que mencionei. As civilizações ancestrais mantiveram sabedoria em relação ao uso e armazenamento da água, ou não sobreviveriam para serem chamadas ancestrais. Nossa fé na técnica nos levou a uma falsa crença de que tudo é possível resolver e são muitos os autores que fazem esse tipo de crítica que, aliás, é possível referendar olhando as cidades brasileiras. Canalizamos, poluímos e tamponamos nossos córregos e rios. Contemporaneamente, uma ciência atenta à ideia de sistema vem desenvolvendo técnicas e tecnologias que não apenas procuram observar o ciclo da água, mas o relacionam com outros ciclos, da flora e fauna, de modo que uma nova paisagem possa nascer desse esforço sistêmico. Qual a importância da preservação ou mesmo reconstrução dos espaços verdes para a qualidade de vida urbana? A principal questão que tratei em minha palestra foi a de que os impactos causados pelas alterações que realizamos no meio ambiente físico podem ser mitigados por meio de um planejamento que pense em um sistema de espaços livres (SEL), que diminua, atenue, os danos causados. Em outras palavras, o sistema de ruas arborizadas, praças verdejadas e parques são, acima de tudo, um poderoso meio criador de resiliência, cuja tradução seria: capacidade de se adaptar às mudanças: se chover pouco, ou se chover muito, esses espaços verdes nos ajudam a umidificar ou drenar a cidade. Essa função, que sem dúvida é de infraestrutura urbana, vem sendo chamada desde o final do século passado de infraestrutura verde. O que eu também procurei mostrar em minha apresentação é que essa perspectiva sempre esteve presente dentro do campo disciplinar do qual participo, a arquitetura da paisagem. Essas funções, ou objetivos, estão presentes desde sua fundação no Século 19, mas não apenas elas: à infraestrutura sempre foi associada uma dimensão social e cultural. Já em finais do Século 19, planos e projetos foram realizados e defendidos não como luxo, mas como necessidade: uma cidade precisa de um sistema de espaços livres, verdejados, pensados sistemicamente, essa perspectiva associa infraestrutura, lazer, descanso, saúde e educação. Na palestra de lançamento dos livros do Recife 500 Anos a senhora mencionou algumas experiências de cidades que mantêm um cinturão de produção de alimentos nas proximidades. Isso já é uma demanda da sociedade? Essa perspectiva aparece no urbanismo como parte do planejamento de cidades ou rede de cidades desde a virada do Século 19 para o 20. Como exemplo seria possível mencionar a experiência e os escritos que tratam do modelo cidade-jardim formulado por Ebenezer Howard e que teve muitos desdobramentos a partir de suas primeiras ideias. O que antes aparecia naturalmente, plantar o que se come nas franjas das cidades, passou a ser compreendido como uma necessidade que merecia planejamento, em especial porque, depois da Revolução Industrial, o fenômeno urbano se qualificou com novas informações. Cidades densas e insalubres serão objeto de debates e proposições, e o abastecimento seria uma dimensão desse debate. Atualmente
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Sérgio Xavier, articulador do CBC (Centro Brasil no Clima) e desenvolvedor do Projeto HidroSinergia - Lab de Economia Regenerativa do Rio São Francisco fala sobre a primeira cooperativa de créditos de carbono do Brasil que foca na sustentabilidade do ambiente do semiárido e da sua população. Mais da metade da Caatinga está degradada e a situação no semiárido tende a se agravar. Projeções científicas apontam menos chuva, mais calor, secas mais prolongadas e desertificação nessa região que abriga 28 milhões de pessoas e concentra imensas desigualdades. Uma solução criativa para contribuir para a reversão desses efeitos das mudanças climáticas foi a criação da primeira cooperativa de créditos de carbono do Brasil. A Associação de Produtores de Crédito de Carbono Social do Bioma Caatinga visa a colaborar com os pequenos produtores da região na conservação e na regeneração de áreas das suas propriedades e, dessa forma, terem acesso a créditos de carbono. Nesta conversa com Cláudia Santos, Sérgio Xavier, articulador do CBC (Centro Brasil no Clima) e desenvolvedor do Projeto HidroSinergia - Lab de Economia Regenerativa do Rio São Francisco, explica detalhes da iniciativa. Um ponto interessante é a ideia de agregar um valor social aos créditos de carbono, já que a Caatinga captura menos CO2 do que a Amazônia e possui muitos habitantes de baixa renda que podem agravar sua condição de vulnerabilidade com o aquecimento global. O que é a Associação de Produtores de Crédito de Carbono Social do Bioma Caatinga e qual a sua proposta? Trata-se da primeira cooperativa de créditos de carbono do Brasil, em implantação na Caatinga, nas fronteiras de Alagoas, Sergipe, Bahia e Pernambuco. É uma inovação dentro do emergente conceito de economia regenerativa. Visa a gerar renda para pequenos produtores rurais, reverter desmatamentos, reduzir desigualdades, desenvolver novas cadeias de negócios sustentáveis e, simultaneamente, regenerar ambientes florestais, proteger a biodiversidade e mitigar os impactos das mudanças climáticas. A ideia é que esses pequenos produtores da região façam a conservação e regeneração da Caatinga nas suas propriedades e tenham acesso aos créditos de carbono. Esse projeto experimental está integrado ao Lab de Economia Regenerativa do Rio São Francisco, em desenvolvimento pelo CBC (Centro Brasil no Clima), com apoio do iCS (Instituto Clima e Sociedade), Instituto Climainfo e diversos parceiros. Além da inserção da agricultura familiar no promissor e irreversível mercado global de carbono, o Lab interconecta outros eixos, como: geração de energia solar em rede cooperativa; produção de mudas de espécies nativas; cadeias de reciclagem; e bioeconomia – com pesquisas de aplicações industriais para produtos da caatinga viva, de pé, buscando criar um novo modelo econômico socialmente inclusivo, cientificamente embasado e ambientalmente regenerativo. Qual o impacto das mudanças climáticas na caatinga e qual a importância da preservação do bioma? O IPCC, Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU, que reúne centenas de cientistas de 67 países, aponta o semiárido brasileiro como uma das áreas mais impactadas com o aquecimento global. Com a temperatura média do planeta subindo, resultante da queima incessante de combustíveis fósseis e desmatamentos, as projeções científicas apontam menos chuva, mais calor, secas mais prolongadas e desertificação nessa região, que abriga 28 milhões de pessoas e concentra imensas desigualdades. Metade da Caatinga já está degradada, o que agrava ainda mais a situação e exige uma urgente economia de reflorestamento, com educação ambiental e fortalecimento social. Mercado de carbono, conservação hídrica e pequenas bioindústrias comunitárias são algumas alternativas possíveis e necessárias para enfrentar este cenário. Quais as atividades desenvolvidas nesse projeto da cooperativa com os pequenos produtores voltadas para a preservação da Caatinga? Nesta fase de estruturação está sendo realizado um levantamento do estoque de carbono das áreas preservadas dos associados e a modelagem do cálculo de captura de carbono, buscando agregar valor social e mecanismos de justiça climática. Considerando que o bioma Caatinga captura menos carbono do que a Amazônia e possui milhões de pessoas com baixíssima renda, em grave risco de colapso nas condições de vida, a ideia é agregar um valor social aos créditos de carbono, visando a uma soma que envolve recomposição florestal, pagamentos por serviços ambientais, proteção da biodiversidade, redução de desigualdades e melhoria da qualidade de vida e da resiliência comunitária. Simultaneamente a esse processo, estamos articulando potenciais financiadores de eixos econômicos verdes e possíveis compradores de créditos de carbono, serviços ambientais e bioprodutos, comprometidos com o desenvolvimento inclusivo e regenerativo do bioma. Algumas grandes empresas com efetivo compromisso socioambiental estão interessadas em participar do Lab para desenvolver modelos de negócios que já trazem em si processos de regeneração florestal, economia circular, educação ambiental e fortalecimento social. Além dessas ações em desenvolvimento pelo CBC e parceiros, o presidente eleito da cooperativa, Haroldo Almeida, em conjunto com dezenas de associados e especialistas, está reunindo conhecimentos e discutindo ideias para o funcionamento institucional da iniciativa. O que é o Lab de Economia Regenerativa do Rio São Francisco, que está sendo estruturado em Paulo Afonso? O Lab do São Francisco é similar ao modelo que o Consórcio Noronha Pelo Planeta – composto por CBC, InterCidadania, Sins- Pire e Circularis, está implantando na ilha de Fernando de Noronha, com apoio da administração do arquipélago (Governo de Pernambuco) e grande patrocínio da empresa Ball Corporation, líder global em fabricação e reciclagem de latinhas de bebidas. Com 100% de investimentos privados, o Lab de Noronha também tem participação da Ambev, Minalba, Novelis, Neoenergia, Renault e Gol. Esses Labs visam unir conhecimentos acadêmicos, saberes das comunidades locais, empresas, políticas públicas e iniciativas não governamentais para desenvolver cadeias econômicas que, em vez de degradar, poluir e gerar lixo e exclusão, possam promover a reciclagem plena, o uso de energia renovável, a alta eficiência hídrica, a efetiva recuperação de ambientes degradados e, sobretudo, a reversão de desigualdades. De que forma serão lançados os créditos de carbono social e como eles serão comercializados? O modelo e a estratégia estão sendo desenvolvidos pelos associados, especialistas de diversas áreas e potenciais patrocinadores e compradores. A incorporação da dimensão social no cálculo do crédito de carbono exige visão sistêmica e conhecimento
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As cotas modificaram a história do ensino superior público no Brasil. A Lei de Cotas completa 10 anos e o professor do Departamento de Educação da UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco), José Nilton de Almeida, faz uma avaliação dos seus resultados. Ele alerta que para obter impactos positivos ainda mais intensos seriam necessários mais investimentos nas universidades públicas. Ao completar 10 anos, a Lei de Cotas contabiliza resultados palpáveis. Segundo o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), em 2011, a população de pretos e pardos representava 11% de um total de 8 milhões de matrículas nas universidades. Em 2016, ano do último censo, este percentual subiu para 30%. A Lei de Cotas (Lei 12.711, de 2012) prevê que 50% das vagas em universidades e institutos federais sejam direcionadas para pessoas que estudaram em escolas públicas. Desse total, metade é destinada à população com renda familiar de até 1,5 salário mínimo per capita. A distribuição das vagas da cota racial e deficiência é feita de acordo com a proporção de indígenas, negros, pardos e pessoas com deficiência do Estado onde está situada a universidade ou instituto federal, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Este ano está previsto que a lei deverá passar por uma revisão e há um temor por parte dos setores favoráveis às cotas que possa ocorrer um retrocesso em razão do posicionamento do atual Governo Bolsonaro. Para falar sobre o legado das cotas nas universidades, Cláudia Santos conversou com José Nilton de Almeida, do Departamento de Educação da UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco). Ele também avalia a revisão da lei e critica o fato de os mecanismos necessários para realizar um diagnóstico dessa política pública de ação afirmativa tenham sido descontinuados. Qual o impacto da Lei de Cotas no ensino superior? As políticas afirmativas, em particular as cotas, modificaram a história do ensino superior público no Brasil. Foi uma revolução silenciosa, mesmo em face das crises financeiras e das fases importantes da falta de compromissos efetivos dos poderes públicos com investimentos em educação, como a gestão federal atual. As políticas de ação afirmativa repercutiram intensamente nas universidades federais e estaduais, porque é nelas que se encontra a maioria das iniciativas de inclusão de estudantes matriculados no ensino superior público do País. Em 2018, essas instituições representaram 82% das políticas de inclusão com qualidade. Dados de IBGE são muito reveladores: em 2000, existiam aproximadamente 12% de diplomados no ensino superior, e deles somente 2,2% eram pretos e pardos. Em 2018, este índice alcança 9,3%. Para a população branca esses indicadores eram 9,3%, em 2002, e alcançam 22%. Segundo o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), em 2011, a população de pretos e pardos representava 11% de um total de 8 milhões de matrículas nas universidades. Em 2016, ano do último censo, este percentual subiu para 30%. Esses são indicadores extraordinários! Para avaliar o impacto das políticas de ação afirmativa e a Lei de Cotas é preciso compreender o contexto da expansão e da interiorização da oferta de vagas no ensino superior provocadas pelo Reuni (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), criado em 2007, e nesse mesmo contexto deu-se a ampliação da Rede de Educação Profissional Tecnológica, com criação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. E de outro lado, a implementação, ainda que modestas, das políticas inclusão e de financiamento para assistência estudantil. Internamente nas instituições de ensino, os impactos também estiveram associados à ampliação de grupos de pesquisas, temas de estudos e consolidação de produção de estudos acadêmicos a fim de qualificar o debate público, o planejamento e a avaliação sobre diferentes iniciativas de políticas públicas voltadas à promoção da igualdade e da inclusão de populações negras e indígenas no ensino superior. Qual tem sido o desempenho dos estudantes que entraram na universidade pelo sistema de cotas? Apesar de recorrente, esta pergunta, atualmente, é bastante irrelevante. Vista da perspectiva da gestão universitária das políticas afirmativas, as questões centrais são de outra natureza. Isto porque a análise temporal das ações afirmativas demonstraram – e continuam demonstrando – que a interrogação sobre o desempenho dos estudantes incluídos por cotas estava sempre vinculada ao mito da perda da qualidade das instituições em face das políticas inclusivas. Isto é, uma interrogação que, de algum modo, era uma forma de camuflar um preconceito social em um país desigual e com uma forte base de racismo estrutural. Após 20 anos, temos experiências institucionais muito consolidadas, que tiveram início de 2003 (ano em que a UnB implantou as cotas), e dos 10 anos da Lei de Cotas, se, por um lado, os dados de pesquisa sobre a realidade educacional brasileira reafirmam o persistente caráter elitista ainda fortemente presente no acesso ao ensino superior, por outo lado, também evidenciam que os/ as cotistas vêm obtendo rendimentos similares aos demais estudantes, superando-os/as, inclusive, nos índices de diplomação e nas menores taxas de evasão. Essas pesquisas também revelam que a efetividade dessas políticas pode adquirir repercussões com resultados positivos mais intensos, aumento do financiamento para a gestão do sistema de ensino público, ampliação do corpo docente, incremento em recursos para assistência estudantil e a expansão dos programas de monitorias ou a adoção de projetos pedagógicos inclusivos. Todas estas condições auspiciosas que não vemos presentes em compromissos e iniciativas de responsabilidades governamentais. Em algumas universidades há uma mobilização para incluir mais transgêneros entre os matriculados. O que o senhor acha dessa reivindicação? Compreendo que a preciosidade da liberdade de cátedra e autonomia da universidade nos permitem, constantemente, ressignificar o sentido de universidade democrática e plural. De fato, as políticas de ação afirmativa foram implementadas no âmbito das universidades públicas federais anteriormente a um marco legal. Antes da promulgação da Lei de Cotas, aproximadamente, mais de 50% das universidades federais haviam constituído um modelo de democratização de acesso, com novos perfis de ingressantes, a partir de debate no contexto da comunidade acadêmica e aprovação de resolução própria no Conselho Universitário, instância máxima de decisão em uma
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No ano passado, em entrevista a Algomais, Cláudia Lima, diretora do ITCBio (Instituto Tecnológico das Cadeias Biossustentáveis) defendeu ser possível aplacar a fome do País e ainda ganhar muito dinheiro com a biodiversidade do Brasil. E o melhor: deixando a floresta em pé. Em meio à atual crise econômica, que tem arrastado um grande contingente de brasileiros para a pobreza, Cláudia vive hoje a expectativa de o instituto começar a caminhar em direção a que ela idealiza e acredita. A organização foi selecionada em três editais para capacitar pequenas comunidades no sertão, na mata atlântica e no litoral do Nordeste para atuar na cadeia produtiva de bioinsumos. Está prevista a instalação de três biofábricas. As marisqueiras do litoral norte pernambucano também serão beneficiadas. Um dos projetos visa a implantar a qualidade no processo da pesca e lançar um novo produto no mercado para aumentar o valor agregado e a biossegurança. Exultante com as novas perspectivas, Cláudia, que também é professora da UFPE, crê na abertura de grandes oportunidades, já que a indústria brasileira importa boa parte dos bioinsumos produzidos em clima tropical. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ela detalha os projetos e as possibilidades desse mercado. Quais ações deste ano do ICTbio? A indústria brasileira importa insumos originários de climas tropicais, mas nós também podemos produzi-los. Nós desconhecemos a riqueza que temos com a biodiversidade do Brasil, que é a maior do planeta. A nossa população nordestina, tão trabalhadora, está passando fome. Mais da metade da população brasileira está abaixo do limite de pobreza, uma boa parte morando na região do semiárido nordestino. É algo muito triste e a gente pode e deve fazer alguma coisa para reverter essa situação. A saída, que a gente vem defendendo há seis anos, é a bioeconomia. Numa outra entrevista, eu disse a você que com a bioeconomia dá para aplacar a fome e ganhar dinheiro. Essa é uma frase que não são espumas ao vento, é algo concreto. Demos um primeiro passo nesse sentido com a aprovação do nosso projeto num edital da Facepe (Fundação de Amparo a Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco) para instalação de fábricas de bioinsumos, ou seja, insumos biológicos, originados da natureza, para fornecermos para o setor industrial, nas áreas de alimentos, cosméticos e farmacêutica. A produção será realizada por pequenas comunidades que serão capacitadas por nós para profissionalizar os seus processos, que estão em nível artesanal, e estabelecer uma cadeia produtiva. A capacitação também abrangerá a gestão desses bionegócios. Estamos comprando os equipamentos, organizando toda a infraestrutura, para capacitarmos as comunidades. No final de 2019, concorremos com um projeto em um edital de pesquisa e desenvolvimento do Banco do Nordeste, com foco na cadeira de valor de mariscos e ostras. O objetivo é apoiar pescadoras artesanais (a maioria são mulheres) no litoral norte de Pernambuco, implantar a qualidade no processo e lançar um novo produto no mercado para aumentar o valor agregado e a biossegurança. Esse projeto também foi aprovado. E acabamos de aprovar um grande projeto na Sudene para implantação de fábricas de bioinsumos em três Estados do Nordeste. Foi um edital muito concorrido, com alto nível de exigência e tenho muita satisfação de dizer que fomos os únicos aprovados. Vamos capacitar, mas a palavra seria empoderar as comunidades, propor cooperativas, realizar um diagnóstico social para mostrar as potencialidades de cada região. Ao mesmo tempo, entramos em contato com indústrias que utilizam esses insumos. Perguntamos: se você tivesse um insumo produzido no Brasil, qualificado pelo ITCbio, que fará toda a parte de controle de qualidade, você tem interesse em comprar? Claro que eles têm interesse, porque vão deixar de importar esses ativos. Onde serão localizadas essas biofábricas? Uma delas será sediada na cidade de Crateús (na foto abaixo), no sertão do Ceará, que um tem um polo de desenvolvimento tecnológico e um trabalho muito interessante na produção do mel. As outras biofábricas serão na região de Caicó, no Rio Grande do Norte, e em Carpina, em Pernambuco. Vamos contar com o apoio da Universidade Federal do Ceará, do Instituto Federal do Ceará, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, da Universidade Federal de Pernambuco e da Universidade Federal Rural de Pernambuco, que foi a nossa primeira parceira. Inclusive a biofábrica daqui do Estado vai ser instalada numa estação experimental UFRPE, em Carpina. Quais os bioinsumos que serão produzidos? Levantamos quais os insumos que a indústria está precisando. Inicialmente não vamos colocar produtos novos, mas aqueles que o setor industrial brasileiro já importa. O objetivo é fortalecer a base dessa cadeia produtiva para essas comunidades terem o retorno financeiro e, a partir daí, poderemos ampliar. Faremos um manejo racional de produtos que já são utilizados, em especial na indústria alimentícia e cosmética, e que estão sendo importados. Selecionamos três insumos da caatinga, três da mata atlântica e dois do litoral do Nordeste. Um fator importante é que o ITCbio vai fornecer um selo de origem biotecnológica. Não se trata de indicação geográfica, mas um selo desenvolvido pelo ITCBio que irá atestar a qualidade e a origem dos insumos e dos produtos acabados. Quais os insumos que serão produzidos no sertão? Um dos insumos que selecionamos é o mel produzido na caatinga. O que ele tem de tão interessante? Essa é uma região muito árida, muito agressiva para as pessoas e para as plantas. Fazendo um comparativo, podemos imaginar que ao estar num ambiente hostil, a pessoa fica preparada para se defender a qualquer momento. Na caatinga, que tem alto estresse solar, baixa quantidade de água e competitividade por nutrientes no solo, as plantas também precisam se defender. E elas se defendem produzindo compostos para que possam se manter vivas por mais tempo, para ter uma reserva nutritiva necessária para crescer. Esses compostos apresentam maior índice de oxigenação nos seus componentes. Isso significa que eles têm um potencial antioxidante fantástico contra radicais livres. O Nordeste tem esse potencial em relação às outras regiões do Brasil. Por exemplo há um estudo mostrando que a pitanga nossa
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Edna Granja, psicóloga do Centro Universitário UniFBV, comenta a decisão da OMS de classificar o vício em games como um transtorno mental, informa o que pode levar uma pessoa a se tornar uma jogadora patológica e opina sobre a lei em tramitação no Congresso que legaliza jogos, como o de cassinos. D esde tempos remotos, os jogos são uma maneira lúdica de brincar e até de aprender. Com o surgimento dos games e jogos digitais, esse uso foi ampliado e hoje um grande número de adultos, adolescentes e crianças se diverte e aprende jogando em computadores. Porém, para algumas pessoas esse hábito deixou de ser mera diversão para se transformar num vício que tem preocupado especialistas em saúde mental. Estatísticas mostram que no mundo existem mais de 150 milhões de jogadores patológicos; e no Brasil, cerca de 2 milhões. O assunto ganhou um componente controverso no País com a aprovação pela Câmara dos Deputados do texto base do Projeto de Lei 442/91, que legaliza cassinos, bingos, jogo do bicho e jogos online e que agora tramita no Senado. Nesta entrevista a Cláudia Santos, a psicóloga do Centro Universitário UniFBV Edna Granja explica os motivos que levam uma pessoa a desenvolver o vício em jogos, como deve ser realizado o tratamento e como prevenir esse comportamento patológico. Edna, que tem doutorado em saúde coletiva pela Fiocruz no Rio de Janeiro, alerta que o modo de vida atual, que propicia estados de ansiedade, é também um agravante para essa situação. Qual o número de pessoas viciadas em jogos no Brasil ou no mundo? Esse número tem aumentado? Há uma estatística divulgada pelo Jornal de Psiquiatria da Austrália e da Nova Zelândia que mostra que 2% da população mundial é acometida por essa desordem. O jogo patológico é classificado como uma desordem a partir de 2018 pela Classificação Internacional das Doenças (CID) que é um documento de referência. Bem, isso significa que mais ou menos 154 milhões de pessoas são jogadoras patológicas, trata-se, então, de um universo grande, e há uma perspectiva crescente porque estamos falando de um campo ligado a uma indústria de jogos que está em crescimento. Quanto mais gira dinheiro nessa indústria, maior será a repercussão no que se refere a pessoas que consomem esse tipo de entretenimento e que podem vir a adoecer emocionalmente em função disso. No Brasil essa estatística é um pouco diferente, um estudo do Departamento de Psiquiatria da USP (Universidade de São Paulo) aponta que 1% da população brasileira deve ser acometida por esse transtorno. Aí falamos de um universo de 2 milhões de pessoas, o que também é alto. Como diferenciar uma pessoa que apenas gosta de jogar de um jogador patológico? Em relação ao jogo e à saúde mental de forma geral, existe um critério que diz respeito a prejuízos sociais. O que significa isso? Se o hábito de jogar estiver produzindo prejuízo às relações sociais daquela pessoa – com a família, com a mulher ou o marido, no trabalho, no estudo – é algo que nos acende um sinal de alerta porque podemos estar diante de um adoecimento do ponto de vista psíquico. No caso dos jogadores patológicos, consideramos esses prejuízos da vida social e também a saúde mental e física, porque algumas pessoas são acometidas de dores, o corpo vai sucumbindo, como uma lesão na coluna ou no punho, mas, ainda sim, elas não conseguem minimizar ou interromper o uso dos jogos. Ocorre uma redução da produtividade, a pessoa começa a chegar atrasada no trabalho. porque passa a noite jogando. Esse prejuízo tende a começar sutil e vai agravando. Se acontecer falta ao trabalho por exemplo, essa pessoa certamente está num grau mais elevado no que se refere ao comprometimento da desordem fruto do jogo. Mas se a pessoa está bem, consegue manter suas relações preservadas, suas funcionalidades também, o jogo não é um problema. E quantos aos chamados jogos de azar, em que a pessoa joga por dinheiro? Este é um outro componente. A competitividade, seja em função de uma recompensa, que seria o dinheiro, seja uma recompensa até afetiva, que seria o destaque em algum espaço, é um elemento que contribui com o envolvimento da pessoa com o jogo. No caso de jogos de azar que envolvem dinheiro é importante que esse hábito não prejudique a saúde financeira. Do ponto de vista da saúde mental, haverá sempre um limiar muito sutil que vai tornar algo saudável em problemático. Não sou contra o jogo, mas é algo para que, diante das características da sociedade do nosso tempo, devemos ficar atentos. Temos que reconhecer que estamos num contexto muito ansiogênico, que alimenta a nossa ansiedade e que produz lucro a partir da nossa ansiedade. Existem vários dispositivos que são criados em cima de características desse tempo. Qual a importância do fato de a OMS (Organização Mundial de Saúde) referendar a entrada do “vício em games” na sua classificação internacional de doenças, como um transtorno mental? É importante que de tempos em tempos possamos rever o CID e colocar nesse instrumento informações que são do nosso tempo. Por exemplo, quando eu era adolescente não havia computador, o máximo que havia eram videogames, como o Atari, já minha mãe, na época dela, vivia numa cidade que não dispunha de luz elétrica. Vivemos num tempo de transformação do ponto de vista tecnológico, que repercute na vida das pessoas e, consequentemente, na saúde mental delas. Por isso é de extrema importância que um documento como o CID possa contemplar os transtornos e as questões que são do nosso tempo. É essa geração de agora que está sendo acometida por esse tipo de desordem. O CID é muito importante porque tem elementos que nos ajudam a identificar quando o jogo é um problema, são orientações sobre a frequência, a intensidade do hábito de jogar e destacadamente essa ponderação sobre o prejuízo que o jogo está trazendo para a saúde mental e física. E isso nos orienta, como profissionais, a trabalhar melhor. Primeiro, nos ajuda a
No ano passado, em entrevista a Algomais, Cláudia Lima, diretora do ITCBio (Instituto Tecnológico das Cadeias Biossustentáveis) defendeu ser possível aplacar a fome do País e ainda ganhar muito dinheiro com a biodiversidade do Brasil. E o melhor: deixando a floresta em pé. Em meio à atual crise econômica, que tem arrastado um grande contingente de brasileiros para a pobreza, Cláudia vive hoje a expectativa de o instituto começar a caminhar em direção a que ela idealiza e acredita. A organização foi selecionada em três editais para capacitar pequenas comunidades no sertão, na mata atlântica e no litoral do Nordeste para atuar na cadeia produtiva de bioinsumos. Está prevista a instalação de três biofábricas. As marisqueiras do litoral norte pernambucano também serão beneficiadas. Um dos projetos visa a implantar a qualidade no processo da pesca e lançar um novo produto no mercado para aumentar o valor agregado e a biossegurança. Exultante com as novas perspectivas, Cláudia, que também é professora da UFPE, crê na abertura de grandes oportunidades, já que a indústria brasileira importa boa parte dos bioinsumos produzidos em clima tropical. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ela detalha os projetos e as possibilidades desse mercado. Quais ações deste ano do ICTbio? A indústria brasileira importa insumos originários de climas tropicais, mas nós também podemos produzi-los. Nós desconhecemos a riqueza que temos com a biodiversidade do Brasil, que é a maior do planeta. A nossa população nordestina, tão trabalhadora, está passando fome. Mais da metade da população brasileira está abaixo do limite de pobreza, uma boa parte morando na região do semiárido nordestino. É algo muito triste e a gente pode e deve fazer alguma coisa para reverter essa situação. A saída, que a gente vem defendendo há seis anos, é a bioeconomia. Numa outra entrevista, eu disse a você que com a bioeconomia dá para aplacar a fome e ganhar dinheiro. Essa é uma frase que não são espumas ao vento, é algo concreto. Demos um primeiro passo nesse sentido com a aprovação do nosso projeto num edital da Facepe (Fundação de Amparo a Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco) para instalação de fábricas de bioinsumos, ou seja, insumos biológicos, originados da natureza, para fornecermos para o setor industrial, nas áreas de alimentos, cosméticos e farmacêutica. A produção será realizada por pequenas comunidades que serão capacitadas por nós para profissionalizar os seus processos, que estão em nível artesanal, e estabelecer uma cadeia produtiva. A capacitação também abrangerá a gestão desses bionegócios. Estamos comprando os equipamentos, organizando toda a infraestrutura, para capacitarmos as comunidades. No final de 2019, concorremos com um projeto em um edital de pesquisa e desenvolvimento do Banco do Nordeste, com foco na cadeira de valor de mariscos e ostras. O objetivo é apoiar pescadoras artesanais (a maioria são mulheres) no litoral norte de Pernambuco, implantar a qualidade no processo e lançar um novo produto no mercado para aumentar o valor agregado e a biossegurança. Esse projeto também foi aprovado. E acabamos de aprovar um grande projeto na Sudene para implantação de fábricas de bioinsumos em três Estados do Nordeste. Foi um edital muito concorrido, com alto nível de exigência e tenho muita satisfação de dizer que fomos os únicos aprovados. Vamos capacitar, mas a palavra seria empoderar as comunidades, propor cooperativas, realizar um diagnóstico social para mostrar as potencialidades de cada região. Ao mesmo tempo, entramos em contato com indústrias que utilizam esses insumos. Perguntamos: se você tivesse um insumo produzido no Brasil, qualificado pelo ITCbio, que fará toda a parte de controle de qualidade, você tem interesse em comprar? Claro que eles têm interesse, porque vão deixar de importar esses ativos. Onde serão localizadas essas biofábricas? Uma delas será sediada na cidade de Crateús (na foto abaixo), no sertão do Ceará, que um tem um polo de desenvolvimento tecnológico e um trabalho muito interessante na produção do mel. As outras biofábricas serão na região de Caicó, no Rio Grande do Norte, e em Carpina, em Pernambuco. Vamos contar com o apoio da Universidade Federal do Ceará, do Instituto Federal do Ceará, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, da Universidade Federal de Pernambuco e da Universidade Federal Rural de Pernambuco, que foi a nossa primeira parceira. Inclusive a biofábrica daqui do Estado vai ser instalada numa estação experimental UFRPE, em Carpina. Quais os bioinsumos que serão produzidos? Levantamos quais os insumos que a indústria está precisando. Inicialmente não vamos colocar produtos novos, mas aqueles que o setor industrial brasileiro já importa. O objetivo é fortalecer a base dessa cadeia produtiva para essas comunidades terem o retorno financeiro e, a partir daí, poderemos ampliar. Faremos um manejo racional de produtos que já são utilizados, em especial na indústria alimentícia e cosmética, e que estão sendo importados. Selecionamos três insumos da caatinga, três da mata atlântica e dois do litoral do Nordeste. Um fator importante é que o ITCbio vai fornecer um selo de origem biotecnológica. Não se trata de indicação geográfica, mas um selo desenvolvido pelo ITCBio que irá atestar a qualidade e a origem dos insumos e dos produtos acabados. Quais os insumos que serão produzidos no sertão? Um dos insumos que selecionamos é o mel produzido na caatinga. O que ele tem de tão interessante? Essa é uma região muito árida, muito agressiva para as pessoas e para as plantas. Fazendo um comparativo, podemos imaginar que ao estar num ambiente hostil, a pessoa fica preparada para se defender a qualquer momento. Na caatinga, que tem alto estresse solar, baixa quantidade de água e competitividade por nutrientes no solo, as plantas também precisam se defender. E elas se defendem produzindo compostos para que possam se manter vivas por mais tempo, para ter uma reserva nutritiva necessária para crescer. Esses compostos apresentam maior índice de oxigenação nos seus componentes. Isso significa que eles têm um potencial antioxidante fantástico contra radicais livres. O Nordeste tem esse potencial em relação às outras regiões do Brasil. Por exemplo há um estudo mostrando que a pitanga nossa
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Em um mercado com predominância dos homens, Laís Xavier se tornou, há um ano e meio, a primeira mulher a presidir a Assespro PE/PB (Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação de Pernambuco e da Paraíba). A entidade é a segunda maior do País em número de associados no segmento de TIC. Apesar de o setor exibir um desempenho de fôlego, como a própria expansão do ecossistema do Porto Digital comprova, o momento em que Laís estreou na gestão da entidade, em janeiro de 2021, era extremamente desafiante. A pandemia forçava o mundo a se reinventar e o avanço exponencial do trabalho remoto aumentou ainda mais a grande dificuldade da área: a baixa oferta de mão de obra qualificada. Neste mês em que a associação anunciou uma parceria importante com a Prefeitura do Recife, conectando a Central de Estágios da Assespro ao Programa Embarque Digital, ela conversou com o jornalista Rafael Dantas sobre o papel da entidade e sobre os esforços de interiorização do ecossistema de tecnologia. Caruaru e Petrolina são os primeiros destinos da Assespro no Agreste e no Sertão. Atualmente com quantos associados a Assespro-PE/PB conta no Estado? Em Pernambuco e na Paraíba temos 173 empresas associadas. Houve um aumento de 13% do número de associados na atual gestão. Nós alcançamos o segundo lugar em número de associados de todo Brasil. Quais os principais segmentos representados entre os associados da Assespro-PE/PB? Os principais segmentos das empresas associadas são business intelligence, marketing & branding, educação, consultoria em TIC, e-commerce, AI (inteligência artificial), healthtech, HRtech, fintech, agrotech, lawtech, segurança, call center, data center, energia, entre outras. Como foi a sua trajetória profissional no setor de TIC até chegar à presidência da Assespro PE/PB? Sou formada em ciências da computação na UFPE. Assim que saí da faculdade, abri uma empresa e fui CEO dela durante 12 anos, a Mídias Educativas. Hoje estou no conselho dessa empresa, mas agora estou num desafio maravilhoso. Sou CTO (Chief Technology Officer ou diretora de tecnologia) e fundadora da Muda meu Mundo. Atuamos no setor agro, conectando pequenos agricultores e agricultoras familiares com empresas do setor de varejo. Mas durante esse percurso sempre participei ativamente de todas as discussões do ecossistema de tecnologia e inovação. Já fui vice-presidente da Assespro, já fui diretora e desde o começo de 2021 fui conduzida para a presidência. Como tem sido a experiência à frente da Assespro e quais os principais marcos desse período de gestão? Estou à frente da Assespro desde janeiro de 2021. Sou a primeira presidente mulher. Iniciamos o trabalho na associação em um momento difícil que foi a pandemia. Tivemos que transformar muita coisa que fazíamos de networking, que era presencial, para um formato virtual. Foram tempos difíceis no começo da gestão. Mas conseguimos evoluir muito na Central de Estágios, que é o braço de empregabilidade da Assespro. Conseguimos fazer com que os nossos associados tenham acesso a um banco de talentos muito legal. Esse foi um ponto superfavorável. Conseguimos também interiorizar parte das nossas ações. E voltamos recentemente com os almoços presenciais, num formato mais arrojado, ampliando networking e a quantidade de associados. Ainda é um momento desafiador, porque estamos na retomada da pandemia, mas tem sido muito bom. Como tem sido esse esforço de interiorização da Assespro? Estamos agora em Caruaru e em Petrolina. Estamos com presença, temos um ponto nessas cidades e alguns representantes que são embaixadores nossos nesses espaços. Que tipo de empresas estão nessas cidades? Começamos a fazer interiorização há três meses. O objetivo é que ampliemos essa ideia de ecossistema que temos na capital e no Porto Digital para o interior do Estado. Porque lá existem muitas indústrias pujantes. Temos uma indústria criativa fantástica no Agreste, em Caruaru, que precisa do suporte de tecnologia. E já existem muitas empresas de tecnologia lá. Em Petrolina temos um polo do agro muito grande e muitas empresas tecnológicas que conseguem ajudar no desenvolvimento da indústria local. Então, qual é a ideia? Ampliar a experiência que temos na capital para todo o Estado para que Pernambuco se transforme em um grande ecossistema de TIC. Leia a entrevista completa na edição 195.4 da Revista Algomais: assine.algomais.com
Laís Xavier: "Queremos ampliar o ecossistema de tecnologia para o interior do Estado" Read More »