Arquivos Z_Exclusivas - Página 83 De 363 - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco

Z_Exclusivas

"O Hidrogênio Verde pode abrir grandes oportunidades para o Nordeste"

Sérgio Xavier é ex-secretário de Meio Ambiente de Pernambuco e foi um dos entrevistados pra a última edição em que tratamos sobre a possível retomada da economia mundial sob matrizes mais sustentáveis. Ativista da causa ambiental, ele lançou recentemente a plataforma “Política Pelo Clima”, com uma proposta de qualificar o debate público e driblar a polarização que se instalou no nosso País para avançar num projeto de desenvolvimento sustentável. Confira abaixo. Conceitualmente o que seria uma "economia verde"? Sérgio Xavier - Uma economia verde ou sustentável harmoniza processos produtivos com os ciclos naturais. Regenera e fortalece biodiversidade e recursos ambientais em vez de destruir e degradar. É muito mais forte, segura e pode ser infinita. Hoje, a velha economia está quebrando diversos ciclos biogeoquímicos, como o do carbono, que está em excesso na atmosfera, provocando mudanças climáticas e levando a humanidade a uma situação altamente crítica. Muito tem se falado sobre uma tendência da retomada da economia global pós-crise da pandemia acontecer com um viés mais sustentável, ancorada por exemplo em investimentos de projetos de baixo carbono. Você acredita nessa tendência? Que sinais poderíamos apontar para isso? Sérgio Xavier - A União Europeia lançou um robusto plano nesta direção. Considero uma ótima referência prática para o mundo. Grandes investimentos já estão em curso, incentivando tecnologias de descarbono, sistemas de economia circular e fontes energéticas renováveis, com ênfase para o emergente Hidrogênio Verde, que pode, inclusive abrir grandes oportunidades para o nordeste do Brasil. O Hidrogênio é abundante no planeta e pode ser a solução para carros, ônibus, caminhões e Indústrias, eliminando a poluição nas cidades e evitando as emissões de carbono. Pode ser produzido com Eletrólise, separando o Oxigenio da água (H2O). No processo de produção verde pode ser usada energia solar, hidrelétrica, éolica ou biomassa, fontes que o Brasil possui em grandes quantidades. Você visualiza em Pernambuco o crescimento do discurso e de iniciativas de fomento da economia verde? O que você considera mais significativo nesse sentido aqui no Estado? Sérgio Xavier - Pernambuco tem todas as condições para se destacar nas energias renováveis, incluindo Hidrogênio Verde. Pode inclusive envolver a base instalada de cana de açúcar no processo produtivo e ressignificar este setor que enfrenta várias dificuldades. O estado já tem uma lei pioneira no arquipélago de Fernando de Noronha, que motiva a criação de modelos econômicos carbono neutro. Em parceria com diversas empresas, sem uso de recursos públicos, estamos implantando um Laboratório de inovações que vai testar novos negócios e vai servir de modelo a ser replicado em outras cidades. Quais as motivações e os resultados que você espera da criação da plataforma “Política Pelo Clima”? Sérgio Xavier - Vai despertar para as emergências sociais e climáticas e, ao mesmo tempo, articular soluções colaborativas, inovadoras e práticas. A proposta visa despolarizar o ambiente partidário, superar o radicalismo político e focar na construção de saídas efetivas para acelerar a redução de desigualdades e, simultaneamente, construir uma economia sustentável, que aumente a resiliência ambiental da cidade, uma das mais vulneráveis do mundo em relação aos efeitos das mudanças climáticas. Recife já sofre com chuvas fortes, inundações, deslizamentos, elevação de nível do mar, ondas de calor etc e precisa agir com velocidade para não piorar ainda mais seus indicadores sociais. A plataforma vai agregar compromissos do máximo de candidatos; indicar soluções desenvolvidas com parceiros qualificados nos mais diversos setores e definir indicadores para que a população acompanhe o andamento das ações de forma transparente. A ideia é ajudar a catalisar soluções e reunir os melhores conhecimentos e ideias. Para acelerar a superação dos graves problemas socioambientais é fundamental unir todas as forças em nome do interesse comum.

"O Hidrogênio Verde pode abrir grandes oportunidades para o Nordeste" Read More »

Fusão empresarial é anunciada no Porto Digital

A CMTech, com expertise na área de integração de negócios em TIC, comprou a também pernambucana Inhalt, uma softhouse com presença nacional que  só nos últimos cinco anos desenvolveu mais de 50 projetos para grandes clientes da área privada e governamental. Em 2020, as duas empresas do Porto Digital projetam faturar R$ 35 milhões, empatando o ano passado mesmo em um cenário de crise. Com a fusão, as expectativa é de crescer numa média entre 30% e 40% ao ano e levar as tecnologias desenvolvidas aqui para o exterior. Os sócios Italo Nogueira e Rodrigo Vasconcelos revelaram que a negociação envolve recursos financeiros e troca de ações de participação. A partir dessa negociação, a partir de novembro, a Inhalt se integra oficialmente à CMTech. Os fundadores da Inhalt, Rodrigo Vasconcelos e Thiago Porto, assumirão o cargo de COO (chief operating officer) e CTO (chief technology officer), respectivamente. Com esse novo formato, a nova CMTech terá escritório comercial em São Paulo e em Haifa, Israel, um dos maiores pólos de inovação do mundo. Os sócios estimaram um faturamento de R$ 70 milhões para o ano de 2023. Um anúncio feito também na coletiva realizada ontem é que será feito um aporte de R$ 3 milhões já a partir deste ano no CMTech Labs, que é o braço de desenvolvimento de soluções próprias da empresa. O voo na área internacional é uma das principais novidades nesse novo momento das duas empresas, que já tinham uma atuação no mercado brasileiro. A desvalorização do Real e a alta de outras moedas, como o Dólar e o Euro, contribuem nesse cenário para chegar ao mercado exterior. "Na visão da gente é que cada vez mais teremos que ter um pensamento global, olhar para o mundo, aproveitar a possibilidade de vender nossas soluções e tecnologias para fora do País. Sair do Brasil é estratégia pós-pandemia. Daremos foco em relações bilaterais, onde usaremos nossa estrutura nesse novo momento da empresa para trazer soluções que possam se integrar com as nossas e levar as nossas soluções de maneira global para outros lugares. Vamos aproveitar esse momento em que há uma desvalorização da nossa moeda e uma supervalorização de outras moedas. Isso pode ser uma grande oportunidade", afirma Italo Nogueira. Rodrigo Vasconcelos acredita que a fusão vai potencializar a área de inovação da empresa aproveitando esse momento de forte transformação digital, acelerada no País por conta da pandemia. “Além disso, uma operação como essa reduz custos fixos, aumenta receita e reúne o melhor de cada um de nós”. A empresa projeta realizar contratações nos próximos anos nas áreas de desenvolvimento de software, comercial e de comunicação (marketing digital). Produtos e serviços voltados para a área de Internet das Coisas (IOT), inteligência artificial, cidades inteligentes e segurança digital estão no foco da nova CMTech. Thiago Porto afirma que a ideia é manter os produtos das duas empresas que estavam dando certo e aprimorá-los. “Mais que isso, vamos dar um gás no CMTech Labs e criar, do zero, ferramentas totalmente novas e de grande escalabilidade, produtizar e criar nossas soluções é palavra de ordem”, conclui. Lideranças do setor Além de fazerem parte do mesmo ecossistema e de uma mesma geração de empresas de tecnologia, CMTech e Inhalt têm mais um ponto em comum. Seus dirigentes são entusiastas do associativismo. Italo Nogueira já dirigiu por dois mandatos a regional e, atualmente, preside a Assepro Nacional - Associação das Empresas de Tecnologia da Informação, com mais de 2.500 filiados em todo o país e considerada a mais importante entidade representativa do setor. Já Rodrigo Vasconcelos está no seu primeiro ano como presidente da Assespro PE/PB que comemorou este ano, nada menos que 40 anos de atividades. “Pudemos nos conhecer melhor lá dentro da associação. A ideia é essa: defender as empresas de tecnologia e gerar negócios que geram desenvolvimento para sociedade. Daí a importância do associativismo. De estarmos juntos - Assespro, Softex, Seprope, Manguez.Al e Porto Digital. para dar o exemplo de Pernambuco”, conta Nogueira. Seu colega de associação e mais novo sócio confirma. “O fato de nos unirmos nas causas pelo avanço das empresas de TIC nos aproximou bastante. Esse network é essencial para o crescimento do ecossistema”, avalia Vasconcelos.

Fusão empresarial é anunciada no Porto Digital Read More »

Live com João Campos foi adiada para a próxima semana (dia 4)

Adiamos para o dia 4 a próxima Live Algomais para debater as propostas do projeto O Recife que Precisamos 2021, em que teremos o candidato João Campos como convidado. O evento digital é promovido pela Revista Algomais, Iperid (Instituto de Pesquisas Estratégicas em Relações Internacionais e Diplomacia), Rede Gestão (que congrega mais de 30 empresas e organizações), e o Observatório do Recife e será transmitido no Facebook e no canal do Youtube da Algomais. Serão debatidos os seguintes eixos temáticos: O Futuro, que inclui o planejamento de longo prazo da cidade, para além do período de mandato do próximo prefeito, A Cidade, abrangendo o controle e o ordenamento urbano, O Caminho, que engloba a mobilidade sustentável (a pé, de bicicleta e por transporte público) e ordenamento do transporte motorizado. Também serão discutidos: A História, preservação dos bens e marcos históricos e culturais da capital mais antiga do Brasil, primeira a completar 500 anos em 2037, sobretudo no que diz respeito à recuperação do Centro da cidade, O Rio, preservação e aproveitamento do Rio Capibaribe como principal ativo ambiental da cidade e rearticulador do território urbano e O Mundo, que abrange as oportunidades que se apresentam para o Recife no âmbito das relações internacionais e diplomacia, como maior hub consular do Nordeste (43 consulados), nos campos educacional, cultural, do empreendedorismo digital, das relações políticas e dos investimentos. A ancoragem do debate será feita em conjunto pelo presidente do Iperid Rainier Michael e pelo coordenador da Rede Gestão e diretor executivo da Algomais Ricardo de Almeida. A live contará ainda com a apresentação da proposta de O Recife que Precisamos realizada por Francisco Cunha, integrante do Observatório do Recife, e com a participação do repórter da Algomais Rafael Dantas.

Live com João Campos foi adiada para a próxima semana (dia 4) Read More »

“Toda empresa com um alto fluxo de dinheiro se tornará uma fintech.”

Você deve ter recebido várias mensagens do seu banco convidando-o para se cadastrar no PIX, um novo meio de pagamentos instantâneo desenvolvido pelo Banco Central. A expectativa é que o sistema substitua DOCs e TEDs, por ser gratuito e estar disponível a qualquer dia e hora. Essa é apenas uma das transformações digitais que estão a caminho e têm causado uma ferrenha disputa entre fintechs e bancos tradicionais. No ritmo dessas inovações, a notícia do lançamento do primeiro banco digital do Nordeste, comandado pelo pernambucano Edísio Pereira Neto, de 32 anos, mostra como esses tempos disruptivos são surpreendentes. Nesta entrevista a Cláudia Santos, o CEO do Zro Bank fala sobre os planos da fintech que se prepara para uma expansão internacional, o impacto do PIX e do chamado open banking na vida das pessoas e o futuro das criptomoedas, que segundo ele, estão sendo criadas por nações como a China, os Estados Unidos e até o Brasil, além de empresas como o Mc’Donalds. Fale um pouco sobre sua carreira. Quando começou a trabalhar e como foi criar o Zro Bank? Eu comecei a empreender aos 16 anos, fundando uma empresa de câmbio no Recife, chamada Europa Câmbio. Conseguimos crescer bastante e ter mais de 15 lojas no Nordeste até concretizar a venda da companhia para o Grupo B&T, da qual recebi parte do pagamento em dinheiro e parte em participações, além de ser convidado para assumir o cargo de diretor estatutário da B&T Corretora. Durante dois anos, liderei o setor de negócios da B&T Corretora, com mais de 300 colaboradores, ajudando a atingir o posto de maior corretora do Brasil, com escritórios em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Miami, além de 200 lojas em todo o País, superando o volume de mais de R$ 35 bilhões em câmbio por ano. Em 2018, fui co-fundador da fintech Bitblue, uma plataforma online que integra o mercado de criptomoedas internacional com o nacional e que ainda no primeiro ano superou mais de R$ 700 milhões em vendas no site, sendo acelerada pela Endeavor, após ser eleita no programa de melhores startups do Brasil. Em 2019, mesmo atingindo o auge da minha carreira, aceitei o convite para ser CEO do Zro Bank, um projeto ousado de criar o primeiro banco digital multimoedas do Brasil, atuando com tecnologia de ponta, em blockchain, e com serviços inovadores como transferência de dinheiro via chat, pagamentos digitais com QR Code e portfólio de moedas digitais. . . O desenvolvimento do projeto durou pouco mais de um ano e foi marcado como o primeiro banco digital desenvolvido no Nordeste e selecionado como TOP 10 Fintechs pelo prêmio mundial da Visa, em Miami, além de citado no ranking das 100 melhores startups da América Latina pelo Innovation Awards. O banco entrou no ar há 30 dias e rapidamente superou a marca de mais de 10 mil contas. Agora, estamos focados em planejar o próximo passo: a internacionalização do Zro Bank. É importante deixar claro que o Zro Bank é um banco digital feito para qualquer tipo de pessoa pois, de um jeito simples e leve, disponibilizamos todos os serviços financeiros com zero taxa, desde conta digital, TEDs ilimitados, cartão sem anuidade, emissão de boletos, pagamento de contas, etc. O bitcoin é apenas um produto disponível em nosso aplicativo, que utiliza quem quer e quem não entende nada de criptomoeda, não tem problema, pode usar o banco da mesma forma e usufruir de todos os serviços gratuitos. Como você avalia as perspectivas das fintechs no Brasil? São as melhores possíveis. Durante muitos anos o Banco Central foi visto como um obstáculo para o empreendedor, privilegiando sempre os cinco grandes bancos do País. O cenário atual mudou radicalmente e eu sou fã do trabalho feito pelo Roberto Campos Neto que vem abrindo cada vez mais oportunidades e descentralizando o poder dos grandes players que agora estão correndo atrás de adquirir suas próprias fintechs. Movimentos como o open banking e PIX são marcos que irão mudar a vida do brasileiro para sempre, tanto o consumidor quanto o empreendedor. Qual o motivo da disputa entre bancos tradicionais e as fintechs em cadastrar clientes para serem usuários do PIX e qual o impacto do PIX no mercado financeiro do Brasil? A disputa é a mesma de sempre, todos querem ter cada vez mais clientes em sua base, seja com contas, cartões e agora PIX. Faz parte de uma disputa saudável, em que, agora, não é mais só o dinheiro que comanda, pois estamos vendo muitas fintechs com orçamentos inferiores tendo mais sucesso do que os grandes bancos com propagandas na televisão. O fato é que o PIX vai mudar a história do mercado financeiro e do consumo no Brasil, permitindo pagamentos 24 horas por dia, 7 dias por semana, sem custos e com confirmações imediatas. Tudo isso trará um dinamismo ao mercado, gerando muita redução de custo com intermediadores, criando uma nova onda de pagamentos com QR Code que tem tudo para acabar de vez com o cartão, assim como funciona na China. . O aplicativo do Zro Bank permite realizar transações financeiras em real e bitcoin. Qual é o futuro das criptomoedas, uma vez que a China já anunciou a criação de sua moeda digital? Sabemos que criptomoeda é a próxima curva do mercado financeiro e é por isso que a China já está testando sua própria criptomoeda, além dos Estados Unidos que está em fase de desenvolvimento e até o Brasil que montou um grupo de estudos pensando em criar a sua até 2022. Acreditamos que essa será a tendência de todos os países no mundo, porque dinheiro em papel custa caro e criptomoeda é rápida, rastreável, segura e permite a inclusão financeira mundial. . . Percebemos que além dos países, grandes empresas estão também com suas moedas digitais, tokenizando seus ativos e criando um possível novo mercado de ações, assim como Facebook e Mc’Donalds, que estão testando suas próprias criptomoedas. Então, as pessoas terão que se acostumar a comer um BigMac

“Toda empresa com um alto fluxo de dinheiro se tornará uma fintech.” Read More »

Anísio Coelho: "A economia linear precisa ser abolida"

Anísio Coelho é presidente do Conselho Temático de Meio Ambiente da FIEPE. Ele respondeu à Revista Algomais três perguntas sobre o processo de transição das atividades industriais para um modelo econômico mais sustentável. Esse foi o tema da nossa última edição e temos publicado desde segunda-feira entrevistas com especialistas e representantes de classe sobre essa temática que deverá nortear o desenvolvimento econômico nos próximos anos. A transição para uma economia de baixo carbono, principalmente nesse momento de retomada dessa crise da pandemia, está no radar do mundo inteiro. Qual a perspectiva do setor industrial nesse sentido? Anísio Coelho – O mundo foi atingido no final do ano passado e no início deste ano com o alastramento da COVID-19, que surpreendeu pelo rápido poder de propagação, alto grau de letalidade e com abrangência global. Todas as economias foram afetadas e tomamos ciência de nossas enormes vulnerabilidades como sociedade. Problemas já existentes foram aflorados e verificamos que o modo de produção e consumo atual é insustentável do ponto de vista social e ambiental. O aquecimento global, a perda de biodiversidade, a contaminação de rios e de oceanos, a enorme geração de resíduos e o aumento da desertificação são desafios para a humanidade defrontar. Dentre muitas alternativas para enfrentarmos está uma mudança significativa na redução de emissões de gases do efeito estufa e na diminuição da geração de resíduos, com a adoção da economia de baixo carbono e a economia circular. Temos que aprender com a natureza, pois nos ecossistemas naturais não existem resíduos, o subproduto de uma espécie serve de nutriente para outra. O setor industrial tem muitos desafios e oportunidades, para colocar a economia circular na prática de suas atividades e diminuir a pressão sobre a extração de recursos naturais e preservar os ecossistemas. O setor industrial deve cada vez mais buscar a ecoeficiência de todos os seus recursos. Temos exemplos exitosos como a geração de energia renovável. Processos e produtos precisam ser otimizados na direção da racionalização, da redução dos impactos ambientais e do menor consumo de recursos naturais. A indústria nacional tem um grande espaço para crescer nesta rota da economia de baixo carbono, e possuímos importante vantagem competitiva frente a outras economias. Quais os principais desafios da indústria para fazer uma transição em direção a uma economia de baixo carbono? Anísio Coelho – Todo processo de mudança requer foco e persistência, alicerçado principalmente na inovação com base tecnológica. A economia linear, lastreada na extração, no processamento, na manufatura, no consumo e no descarte, precisa ser abolida. O modo de produção e de consumo necessariamente tem que ser responsável e sustentável. Na concepção de um produto, aspectos referentes a otimização de recursos naturais deverão ser considerados, assim como o ciclo de vida do produto deve ser aferido, como também a possibilidade de reaproveitamento após o seu uso. No processo produtivo é preciso rastrear a pegada de carbono e da água, a diminuição de emissões. . . Será necessário a ampliação de investimentos em pesquisa, tecnologia e qualificação da mão de obra. Hoje, o Brasil já é exemplo na Matriz Energética Nacional, pois 46 % são provenientes de fontes limpas e renováveis, enquanto nos países desenvolvidos a média é de 15%. No pós-pandemia, será necessária uma nova mentalidade, entendendo que o futuro é circular e, como o seu ciclo é fechado, será vital alargar o diâmetro desta esfera, para contemplar a todos e cada um com suas responsabilidades e ações consequentes. Como está Pernambuco neste cenário? Anísio Coelho – Temos grandes potencialidades na implementação de uma economia de baixo carbono, com plantas comprovadamente exitosas na geração de energia eólica e solar fotovoltaica, e na produção de etanol e biomassa. A possibilidade do aumento na oferta de gás natural é muito promissora, pois sendo ainda um produto de origem fóssil é o mais eficiente destes. Temos desafios na gestão de resíduos sólidos urbanos, onde ainda não existe a coleta seletiva aplicada em escala comercial, quase todo material passível de reciclagem é depositado em aterros sanitários, a logística reversa precisa funcionar. Mais de 50% do resíduo sólidos urbanos é formado por matéria orgânica, logo não existe compostagem para produção de adubo. A indústria de reciclagem de plástico e de papelão tem mercado para crescer e gerar emprego, renda e tributos, porém falta matéria-prima, pois estão sendo enterradas. Precisamos criar uma política de incentivo à coleta seletiva e investir em educação ambiental. É necessário a rápida ampliação da rede de coleta e tratamento do esgoto doméstico e pensar no reuso da água tratado do esgoto para aproveitamento agrícola e industrial, como já existe no estado de São Paulo, com o projeto Aquapolo, que reaproveita 700 litros por segundo. Temos a necessidade de implementar um programa de incentivo ao manejo florestal sustentável na região do bioma da Caatinga, principalmente no Sertão do Araripe, para produção de lenha visando suprir de forma sustentável a necessidade energética do Polo Gesseiro.

Anísio Coelho: "A economia linear precisa ser abolida" Read More »

Crítica| O Pequeno Refugiado

Começou na quinta (22) a 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Devido à pandemia do novo coronavírus, o evento acontece em plataformas digitais, além de ter exibições em dois cinemas ao ar livre na capital paulista. Alguns filmes já estão disponíveis gratuitamente na plataforma Spcine Play. Entre eles, a ficção turco-iraniana "O Pequeno Refugiado", uma interpretação aberta da comovente história de Aylan Kurdi, o menino curdo de três anos que foi encontrado morto em uma praia na Turquia, em 2015, após fugir com a família da Síria. O longa trata do drama vivido por famílias que, em busca de proteção, fogem de seus países arrasados pela guerra. Aylan entra na história como fio condutor da trama, que abraça o realismo fantástico ao mostrar o menino frente a frente com o próprio corpo estendido na praia. Sua morte marca o início da jornada. Aylan encontra no caminho figuras como o segurança de um estaleiro, desacreditado por causa do alcoolismo. Também tem um encontro com Nebvar (Farshid Gavili), homem que sofre com a morte do filho. Ainda que Aylan nomeie o filme, quem assume o protagonismo é Nebvar, personagem de grande importância para o desenrolar dos três atos. Dirigido por Batin Ghobadi, que em 2010 ganhou um Urso de Cristal no festival de Berlim pelo curta "Ask The Wind", "O Pequeno Refugiado" tem roteiro fraco, autoexplicativo, que subestima o espectador em alguns momentos. Porém nem tudo é ruim. Destaque para a boa direção de fotografia de Morteza Najafi, principalmente nas cenas que acontecem na praia. Além do streaming Spcine Play, é possível assistir ao longa no Looke, na sessão Spccine. Outros filmes da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo poderão ser vistos também nas plataformas Mostra Play e Sesc Digital. Mais informações: https://44.mostra.org/  

Crítica| O Pequeno Refugiado Read More »

Clóvis Cavalcanti: "Todo o modelo de consumo tem que ser revisado"

Clóvis Cavalcanti, pesquisador emérito da Fundação Joaquim Nabuco e professor da UFPE não gosta do termo "retomada econômica verde". Para ele o que é preciso é uma mudança de paradigma de desenvolvimento. Nesta entrevista concedida à Revista Algomais, o presidente de Honra da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica (EcoEco) e ex-presidente da Sociedade Internacional de Economia Ecológica fala sobre a relação entre a atual crise com o impacto ambiental promovido pelas atividades produtivas e sugere algumas alternativas para mudar o rumo. Ideias que não são apenas suas, mas que já ganharam força na academia, no meio empresarial e até político. A atual crise econômica e sanitária teria raízes no modelo de desenvolvimento econômico atual, de alto impacto no meio ambiente e na maioria dos setores ainda sem ser caracterizado pela sustentabilidade ambiental? CLÓVIS CAVALCANTI - Penso que sim. Em 1992, um grupo de cientistas fez um alerta a esse respeito em edição da revista científica BioScience. Repetiu-o, atualizado, 25 anos depois, em 2017, na mesma BioScience. São usados dados de pesquisas respeitáveis. O grupo de cientistas que elaborou esses avisos está indicado no site ScientistsWarning.org, que atua em cooperação com a Alliance of World Scientists. O elenco de nomes envolvidos nessa iniciativa inclui mais de 70 por cento dos detentores vivos de Prêmio Nobel das ciências. Daí por que, confio no que grupo tão respeitável argumenta. A percepção é de que o paradigma de desenvolvimento dos países ricos só poderia culminar, por motivo de uma percepção ecológica do fenômeno, em colapso do ecossistema global. De fato, como o sistema econômico exerce dupla pressão sobre o meio ambiente (suga recursos – alguns deles inequivocamente esgotáveis, como é o caso do petróleo – e joga na natureza a todo instante a sujeira que, em derradeira instância e do ponto de vista termodinâmico, resulta de tudo o que o homem, e qualquer outro ser vivo, faz), o processo global de desenvolvimento tem considerável custo ecológico. Representa ameaça à própria sobrevivência da humanidade, embutindo uma catástrofe planetária que, de toda forma, parece inevitável, se não se muda o curso dessa civilização, conforme argumentou Celso Furtado, em 1974, no seu livro O Mito do Desenvolvimento Econômico. É como, por sua vez, diz o pai do conceito de “pegada ecológica”, meu amigo William Rees, professor das Ciências Ambientais na Universidade de British Columbia (Canadá), “A empresa humana está em uma ultrapassagem potencialmente desastrosa, explorando a ecosfera além da capacidade regenerativa dos ecossistemas e fazendo os sumidouros naturais do planeta transbordar”. Grande responsabilidade disso é por ele atribuída à capacidade das políticas neoliberais de desmontar perigosamente equilíbrios ecológicos planetários. Não tenho nenhuma dúvida a esse respeito. Até porque alertas sobre as ameaças já foram dados pelo maior entomologista vivo, Edward Wilson, professor de Harvard, e pelo astrônomo-real do Reino Unido, meu amigo Martin Rees, professor de Cambridge e membro da Casa dos Lords e da Pontifícia Academia de Ciências do Vaticano. . Há perspectivas de uma "retomada verde" da economia mundial para reverter o grave cenário de crise que enfrentamos? CLÓVIS CAVALCANTI - Retomada de quê? Do crescimento econômico? Convém ressaltar que o crescimento da economia não pode se sustentar indefinidamente, se o ecossistema não cresce e é finito. Afinal, só existe atividade econômica se existir um ecossistema que a acolha. Daí que, tal retomada deveria ser, no meu entendimento, a introdução de um novo paradigma de desenvolvimento, como o que prevalece no Reino do Butão desde 1972, de promoção da felicidade humana e do bem-estar de todos os seres sencientes, com uso moderado e prudente dos recursos (finitos) dos ecossistemas. Essa possibilidade existe. Fiz parte de um grupo de experts internacionais que compôs uma comissão instituída pelo governo do Butão, a convite deste, destinada a preparar relatório para a ONU, atendendo pedido de Ban Ki-moon, então seu secretário-geral, explicando em que consiste esse novo paradigma, baseado no conceito da Felicidade Nacional Bruta, formalizado pelo rei do país em 1979. Meu grupo foi ao Butão em janeiro-fevereiro de 2013, depois de reunião em New York em outubro de 2012, resultando do trabalho da comissão o documento Happiness: Towards a New Development Paradigm, finalizado em dezembro de 2013. Retomada verde, para mim, às vezes, é uma espécie de camuflagem para que se continue com o mesmo projeto de crescimento econômico a todo custo, de enormes custos ecológicos. Nos EUA, o Partido Democrata abraçou a bandeira do Green New Deal, que une o conjunto de reformas sociais defendidas por Franklin Roosevelt na Grande Depressão com a economia de baixo consumo de carbono. Qual o sinal disso para a economia global? CLÓVIS CAVALCANTI - Trata-se de uma sugestão sensata para que se reformule o modelo vigente, com mais atenção para dimensões sociais e ecológicas do processo econômico no mundo hoje. Mas algo ainda tímido, na medida em que poderosos interesses econômicos não podem ser contrariados. Razão pela qual se fala em green (verde). Afinal, niguém se opõe em tese a um “esverdeamento” das ações humanas. . Uma das iniciativas locais recente foi a carta lançada por ex-presidentes do Banco Central e ex-ministros da Fazenda, que defendem ações do setor público e da iniciativa privada na construção de uma economia de baixo carbono. E ressaltam que “a descarbonização significa a valorização da nossa economia no longo prazo, uma consideração cada vez mais importante para investidores internacionais”. Qual a sua avaliação sobre essa manifestação? Já é possível identificar uma maior sensibilização da classe empresarial para essa questão? CLÓVIS CAVALCANTI - Manifestação benvinda. Temos que trabalhar para reduzir o uso de combustíveis fósseis, vilões (com o desflorestamento) do perigoso efeito-estufa. Na verdade, todo o modelo de consumo tem que ser revisado. Ele leva à produção de artigos como os automóveis que são a negação da descarbonização. Um modelo de sobriedade é o mais recomendado. Significa viver com conforto nos limites do possível – assim reduzindo a pegada de carbono. No Butão, combate-se o consumismo. Não existem cartazes de qualquer tipo de propaganda no país, por exemplo. Os refrigerantes foram abolidos. O interesse

Clóvis Cavalcanti: "Todo o modelo de consumo tem que ser revisado" Read More »

Taxa de ocupação dos leitos para Covid-19 está abaixo de 60% em PE

Do Governo de Pernambuco Pernambuco inicia mais uma semana com a ocupação média de leitos voltados para a Covid-19 abaixo dos 60%, patamar que permanece estável desde o período de pico na pandemia, entre metade de maio e início de junho, quando o Estado registrou ocupação média máxima de 93%. Nesta segunda-feira (26.10), das 790 vagas de terapia intensiva abertas para casos mais graves, 72% estão ocupadas. A maior ocupação de UTI registrada no Estado foi de 99%, nos últimos dias de abril, quando o Estado contava com 312 vagas de terapia intensiva. Já em relação aos leitos de enfermaria, voltados para casos moderados e leves, dos 933 leitos disponíveis atualmente, menos da metade (45%) está ocupado. Apesar disso, a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) alerta que Pernambuco permanece com transmissão comunitária do vírus e que a população precisa continuar com os cuidados necessários para evitar a transmissão pela doença. Para trazer uma noção da atual situação dos serviços de saúde estaduais, na capital pernambucana, o Hospital Getúlio Vargas (HGV) está com 60% dos leitos de UTI ocupados, enquanto apenas 20% dos leitos de enfermaria estão preenchidos. O Hospital de Referência Unidade Boa Viagem Covid-19, antigo Alfa, está com 74% de ocupação dos leitos de UTI e 80% dos leitos de enfermaria ocupados. Já o Hospital Dom Helder Câmara, no Cabo de Santo Agostinho, Região Metropolitana, tem ocupação de 75% das vagas de terapia intensiva e 80% dos leitos de enfermaria. Em Caruaru, no Agreste do Estado, o Hospital Mestre Vitalino (HMV) está com ocupação de UTI em 70%, enquanto os leitos de enfermaria têm ocupação de 60%. No Real Hospital Português (RHP), um dos serviços privados considerado referência no tratamento da Covid-19 e que tem contratualização com o Governo de Pernambuco, dos 40 leitos disponíveis para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), 28 estão ocupados. “O Governo de Pernambuco, por determinação do governador Paulo Câmara, continua monitorando, diariamente, os indicadores da Covid-19 e vamos permanecer com o máximo de transparência para levar a informação real e verdadeira para a população. Precisamos reforçar que os próximos passos dependem da atitude de cada um de nós, porque o vírus continua circulando. Por isso, para não termos mais mortes e uma volta da ocupação hospitalar, cada um precisa fazer sua parte, usando máscara, lavando as mãos com frequência e praticando o distanciamento social, evitando aglomerações”, destaca o secretário estadual de Saúde, André Longo. Atualmente, a rede pública de saúde conta com 1.723 leitos voltados exclusivamente para pacientes confirmados ou suspeitos da Covid-19, sendo 790 de UTI. No pico da pandemia, Pernambuco chegou a contar com 2.088 vagas abertas pelo Governo do Estado destinadas ao enfrentamento do novo coronavírus. Nos últimos dois meses, com a queda continuada dos casos da doença, a rede pública de saúde passou por uma readequação e 365 leitos foram desmobilizados, sendo 113 de UTI. Ainda assim, a média de ocupação permanece abaixo de 60%. "Com relação aos dados da rede hospitalar, mesmo com a desmobilização dos leitos dedicados para a Covid-19, realizada ao longo dos últimos meses, as taxas de ocupação continuam estáveis e em níveis considerados baixos", ressalta André Longo. UPAE GOIANA - Após cerca de 6 meses de funcionamento, e com a queda permanente dos casos da Covid-19 na região, o Hospital de Referência à Covid-19 – Unidade Goiana, que funcionava na Unidade Pernambucana de Atenção Especializada (UPAE) do município, na Zona da Mata Norte, encerrou suas atividades de caráter hospitalar nesta segunda-feira (26/10). A Secretaria Estadual de Saúde já está realizando os trâmites para selecionar a organização social que irá gerir o equipamento dentro do seu perfil original, com consultas ambulatoriais especializadas e a oferta de exames, beneficiando a assistência às doenças crônicas dos munícipes das dez cidades que compõem a XII Gerência Regional de Saúde (Geres). A UPAE de Goiana foi construída e equipada pelo Grupo Fiat-Chrysler Automobiles (FCA). Com a desmobilização dos leitos hospitalares, feita após criteriosa análise epidemiológica do cenário atual da Covid-19, parte dos equipamentos, que não será usada no serviço ambulatorial, será realocada para a outra unidade de saúde que continuará prestando assistência aos pacientes acometidos pelo novo coronavírus na Região - o Hospital Belarmino Correia, em Goiana, que continua como referência para os pacientes da Mata Norte, acolhendo os casos de urgência e, quando necessário, encaminhando para outras unidades, por meio da Central de Regulação do Estado. ATENDIMENTO AMBULATORIAL - As UPAEs foram criadas com o intuito de ofertar consultas ambulatoriais especializadas e exames em um mesmo espaço, dando apoio à Atenção Primária dos municípios. Atualmente, já há 11 UPAEs em funcionamento, em todas as regiões do Estado. Toda a oferta de serviços é pactuada com os municípios beneficiados, promovendo a integração da rede estadual com a Estratégia de Saúde da Família em âmbito regional. Para ser consultado com um especialista, o usuário precisa ser, primeiramente, atendido e referenciado pela Atenção Primária do município (posto de saúde ou unidade de Saúde da Família). Quando identificada a necessidade da consulta, a unidade de saúde ou a secretaria de Saúde do município faz o encaminhamento para a UPAE. Após a consulta e a realização dos exames, o paciente, já munido do seu plano de tratamento, volta para continuar o acompanhamento de rotina na Atenção Primária (postos de saúde, Estratégias de Saúde da Família).

Taxa de ocupação dos leitos para Covid-19 está abaixo de 60% em PE Read More »

As eleições municipais no Recife em um cenário atípico

Por *Gabriella Maria Lima Bezerra e **Pedro Gustavo de Sousa Silva As eleições municipais brasileiras de 2020 se apresentam em um cenário político atípico. O desdobramento das turbulências políticas dos últimos sete anos, para além da chegada de um outsider performático na cadeira presidencial, revela mais profundamente um realinhamento ideológico, com a conversão do país à direita e a intensificação do antipetismo - sentimento partidário negativo, que já data dos anos 90 (SAMUELS e ZUCCO, 2018). Entretanto, o resultado das urnas em 2018 não foi homogêneo: a região Nordeste se destacou pela sincronicidade no voto destoante, tanto para o Executivo Federal, como para os Estaduais. No tocante às capitais, como já indicam pesquisas recentes (NICOLAU, 2020), o enfrentamento entre petismo e antipetismo foi mais disputado, levando a uma diligente concentração e inquietude sobre os cenários locais em 2020. As perguntas sobre a permanência do sucesso do bolsonarismo e sobre sua (in)capacidade de penetrar a região nordestina foram uma constante nas análises políticas nacionais. Outro ponto de indagação foi a possibilidade de formação de frentes amplas pelos partidos de oposição no plano federal, entendendo os perigos que a democracia brasileira enfrenta. Contribuindo para o quadro excepcional, a regra de formação de coligação foi modificada para os cargos proporcionais, alterando as estratégias de disputa e o cálculo programático dos partidos políticos para os cargos majoritários, dificultando a construção de alianças. Para fechar o rol das atribulações, a pandemia da Covid-19 obrigou a mudança do calendário eleitoral e inovações logísticas de várias ordens na disputa política e nos formatos de campanha, em um ano de predominante isolamento social. Interferindo também na agenda pública, reorientando prioridades no desenho e no gasto da política pública. Adiante, buscamos analisar como a disputa municipal se desenrola diante deste cenário. As eleições para a Prefeitura do Recife deste ano contam com um total de onze postulantes, distribuídos em distintas faixas do espectro ideológico. As pesquisas apontam um cenário com quatro candidaturas competitivas, ou seja, aquelas com intenções de votos superior à casa dos dois dígitos. Duas candidaturas situadas mais à esquerda do espectro – João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT) – e outras duas mais à direita – Mendonça Filho (DEM) e Delegada Patrícia (Podemos). As quatros candidaturas competitivas revelam um cenário de significativa renovação dos quadros políticos, pois apenas Mendonça Filho configura um quadro reincidente na política pernambucana. Tal renovação, contudo, merece algumas ressalvas. João Campos e Marília Arraes são provenientes de nomes marcantes da política local: como Eduardo Campos e Miguel Arraes. A delegada Patrícia é a estreante na cena eleitoral, trazendo em sua narrativa a figura da candidata outsider que irá combater os esquemas de corrupção entranhados no universo político. Mendonça Filho, por sua vez, se apega ao histórico de gestor experiente com mais de trinta anos de vida pública. João Campos e Marília Arraes, como são os mais jovens, se agarram a nomes conhecidos do imaginário político. A imagem de Eduardo Campos segue firme na estratégia de comunicação de João, ao passo que Lula aparece junto a Marília – os dois candidatos fazem menção a Miguel Arraes. Desde o pleito do ano 2000, PT e PSB encabeçaram as vitórias eleitorais em Recife. O PT encabeçou a chapa vitoriosa em três ocasiões (2000-2004-2008) e o PSB nas duas últimas (2012-2016). Na maior parte desse período, as duas siglas governaram juntas. Portanto, não será nenhuma surpresa se estiverem compondo o mesmo governo no próximo ano. O candidato João Campos conta com o apoio da máquina pública no âmbito municipal e estadual (ambos do PSB). Carrega também a bagagem de ser o deputado federal mais votado da história de Pernambuco, superando a marca que antes pertencia a avó Ana Arraes. João Campos consolida a liderança nas pesquisas do pleito de 2020 a cada semana, enquanto os outros três se embaralham na disputa pelo o segundo lugar. Apesar do cenário mais favorável para o PSB, a corrida eleitoral ainda permanece em aberto dado o intervalo de tempo até o dia da votação. Eventos inesperados com a capacidade de provocar reviravoltas no jogo não podem ser descartados. Por ora, o resultado das pesquisas aponta para o êxito do projeto de continuidade administrativa da ampla coligação eleitoral em torno do nome de João Campos. É o herdeiro de Eduardo Campos quem vem ditando o ritmo do passinho nas eleições do Recife, enquanto os candidatos vinculados ao petismo e ao bolsonarismo buscam desacelerar a movimentação e quem sabe, no segundo turno, ditar outra cadência. . Gabriella Maria Lima Bezerra é doutora em Ciência Política pela UFRGS, professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal Rural de Pernambuco - DECISO/UFRPE, Pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia -LEPEM/UFC e colunista de opinião do Jornal O Povo. E-mail: gabriella.bezerra@ufrpe.br Pedro Gustavo de Sousa Silva é doutor em Ciência Política pela UFPE e participa do grupo de pesquisa Partidos, Eleições e Comportamento Político também da UFPE. E-mail: pgustavoss86@gmail.com . Referências LOPES, M.; PAIVA, G.; BEZERRA, G. “2018, a batalha final”: Lava Jato e Bolsonaro numa campanha anticorrupção e antissistema. Civitas: Revista De Ciências Sociais, out, 2020 (no prelo). MARENCO, A. Regras eleitorais importam? Modelos de listas eleitorais e seus efeitos sobre a competição partidária e o desempenho institucional. Dados, v. 49, n. 4, p. 721-749, 2006. NICOLAU, J. O Brasil dobrou à direita: Uma radiografia da eleição de Bolsonaro em 2018. Zahar, 2020. PERES, P.; BEZERRA, G. Oposição Parlamentar: conceitos e funções. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, n. 110, p. 247-298, 2020. SAMUELS, D.; ZUCCO, C. Partisans, antipartisans, and nonpartisans: Voting behavior in Brazil. Cambridge University Press, 2018.  

As eleições municipais no Recife em um cenário atípico Read More »

"O fluxo do capital caminha para uma economia de baixo carbono"

Teremos uma retomada da economia a partir de uma matriz mais sustentável? Essa foi a principal questão a ser esclarecida na nossa conversa com Marina Grossi, que é presidente do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável). A preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável deixaram de ser uma agenda apenas dos ambientalistas e ganham cada vez mais adeptos no mundo empresarial e político. Na última edição da Algomais vimos que a pandemia acelerou essa tendência, que deverá nortear os investimentos no cenário pós-crise. Confira abaixo a entrevista completa. Quais as principais lições que a pandemia deixa para a classe empresarial no quesito sustentabilidade ambiental? Marina Grossi: Acho que a principal lição é que não há desenvolvimento econômico e social que se sustente no longo prazo sem os serviços da natureza, sem água, ar, solo, chuva. Porque já está comprovado que a floresta em pé tem um valor maior do que áreas desmatadas. O Relatório da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos sobre Restauração de Paisagens aponta que um hectare de floresta em pé na Amazônia, por exemplo, gera em média R$ 3,5 mil por ano; e no cerrado, em torno de R$ 2,3 mil por ano. Em sistemas agroflorestais, esse rendimento pode chegar a mais de R$ 12 mil anuais. Já o mesmo hectare desmatado para a pecuária daria um lucro de R$ 60 a R$ 100 por ano. Se usado para soja, o valor seria de R$ 500 a R$ 1 mil por ano. . Estudo publicado no ano passado pela revista Perspectives in Ecology and Conservation e -- endossado por mais de 407 cientistas brasileiros, de 79 instituições de pesquisa – apontou que os 270 milhões de hectares de vegetação nativa preservados em propriedades rurais, entre áreas desprotegidas e de Reserva Legal, rendem ao Brasil R$ 6 trilhões ao ano em serviços ecossistêmicos, como polinização, controle de pragas, segurança hídrica, produção de chuvas e qualidade do solo. Os serviços oferecidos pelos sistemas naturais têm impacto na segurança alimentar, energética e hídrica; na produtividade da cadeia agrícola e servem de estoque e sumidouro para o carbono. . Na sua opinião, quais as principais tendências deverão nortear o desenvolvimento empresarial e o crescimento das empresas brasileiras nos próximos anos? Como os conceitos relacionados à economia verde afetarão as rotinas e os planos das empresas? Marina Grossi: A pandemia acelerou um processo que já estava em andamento. Os conceitos ESG (Enviromental, Social and Governance) devem guiar cada vez mais os investimentos privados e agora também começam a influenciar políticas públicas. O novo pacto ecológico da União Europeia, por exemplo, prevê a injeção de 1,8 bilhão de euros em projetos e iniciativas voltados para uma economia de baixo carbono. Para as empresas, não é apenas um bom negócio, é fator fundamental para a sustentabilidade financeira no longo prazo. A gente percebe um amadurecimento maior no mercado europeu, mas está claro que há um movimento global crescente. O perfil do consumidor no Brasil ainda privilegia em maior medida o preço e a conveniência do produto, mas já há um processo de amadurecimento em curso. . A recuperação da economia global tende a passar por investimentos na economia de baixo carbono? Quais os sinais do mercado podem apontar para isso? Marina Grossi: O fluxo do capital já caminhava cada vez mais para um modelo de economia de baixo carbono, mesmo antes da pandemia, mas houve uma aceleração após a Covid-19. Esse é um movimento global, que prevê a alocação de capital alinhado aos preceitos e princípios ESG. Os investidores também começam a ver resultados positivos no histórico de investimentos ESG. E isso também vem incentivando o mercado local. É um círculo virtuoso. . Como você analisa o Brasil nesse cenário, visto que temos ao mesmo tempo experiências reconhecidas globalmente de economia verde ao mesmo tempo que vivemos uma crise sequência de crises ambientais e um papel dúbio do Ministério do Meio Ambiente? Marina Grossi: Temos uma grande oportunidade de posicionar o Brasil e usar a vantagem que temos (florestas, água, matriz energética limpa) como forma de desenvolvimento sustentável com acesso a um capital que está buscando isso. O agronegócio brasileiro precisa se adaptar a um novo modelo de agricultura, do século 21, no qual é possível aumentar a produtividade sem ampliar a área agrícola. Caso contrário, haverá maior resistência e até fuga de investimentos externos de baixo carbono, além de perder o acesso a mercados ou a portfólios de investimentos que demandem por esse perfil. Também pode ter impacto nas carteiras de crédito. Ao ter uma gestão climática mais profunda, é possível mitigar o impacto de ter créditos em áreas que sofrerão com as mudanças climáticas, ou que terão quebras e mercados destruídos. No Brasil, estamos interessados em desenvolver ações de longo prazo que permitam colocar o país no rumo de uma economia de baixo carbono quando a pandemia do coronavírus passar. A implementação de um mercado de carbono no Brasil é agenda prioritária. Estamos buscando o diálogo não apenas com o governo, mas com todas as instituições do país com o objetivo de colocar o Brasil na rota de uma economia circular e de baixo carbono. O Brasil é uma potência ambiental e tem tudo para assumir a liderança nesta agenda. Essa é uma agenda de Estado, e não de governo. Temos a oportunidade única, os recursos e o conhecimento para dar escala às boas práticas e, mais do que isso, planejar estrategicamente o futuro sustentável do Brasil. Em nosso entendimento, esse é o melhor caminho para fincarmos os alicerces do país para as próximas gerações. . *Rafael Dantas é jornalista, repórter da Algomais, especialista em gestão pública e mestre em Extensão Rural e Desenvolvimento Local (rafael@algomais.com | rafaeldantas.pe@gmail.com)

"O fluxo do capital caminha para uma economia de baixo carbono" Read More »