Arquivos Entrevistas - Página 23 De 30 - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco

Entrevistas

Queiroz Filho: “A ampla não cabe mais num escritório.”

Na última sexta-feira, dia 2, o mercado publicitário de Pernambuco foi surpreendido com um anúncio imobiliário colocando a sede da Ampla, no Recife, para alugar. Detalhe: o anúncio foi feito pela própria Ampla. Essa foi a maneira bem-humorada criada pela agência para divulgar a revolução que está passando. Afinal, o moderno prédio de 900 m² situado na Madalena era um sonho conquistado pelo fundador, Seu Queiroz, e uma referência no bairro. Mas a pandemia acabou acelerando um processo da forma como a empresa tem evoluído e atuado nos últimos anos e que foi chancelado com o sucesso do home office. Hoje, todos os seus funcionários estão trabalhando de suas casas e assim vão permanecer. E eles podem residir em qualquer lugar do mundo, no Recife, em Lisboa ou Moçambique. Nesta entrevista a Cláudia Santos, o CEO da Ampla, Queiroz Filho, detalha toda essa reviravolta, fala dos planos da agência e de como a pandemia e a internet impactaram o mercado publicitário. Como surgiu a ideia de implantar o home office permanente na Ampla? Vou tentar resgatar um pouco o início da Ampla, que nasceu em 1976, fundada por Seu Queiroz, que era arrimo de família, filho de empregada doméstica. Papai era um vendedor nato, trabalhava como balconista da Primavera (Magazine Primavera que vestia as famílias tradicionais do Recife) e foi cooptado por Mário Leão Ramos, que tinha uma agência muito famosa chamada Abaeté e uma gráfica. Ele era cliente da Primavera e ficou impressionado com a capacidade de venda de Seu Queiroz e o convidou para trabalhar na gráfica dele que estava quebrada. Papai revolucionou a gráfica. Depois ele colocou papai na agência. Terminou que Ramos acabou indo pro Rio de Janeiro e colocou papai para gerenciar a Abaeté. Ele disse que ninguém sabia administrar a agência, porque lá só tinha intelectual. Papai cuidou da empresa dele até 1976, época em que saiu da agência para ser representante comercial que era o sonho dele, olha só! (risos). Quando foi avisar aos clientes que sairia da Abaeté, mas continuaria fazendo as visitas para eles para vender veículos, a Pitú, a Icopervil e o Açúcar Estrela não aceitaram. Disseram que ele iria montar uma agência e eles sairiam da Abaeté para continuar sendo atendidos por papai. Montar a Ampla não foi um sonho para seu Queiroz, foi um acaso que virou um sonho. De 1976 a 1992, a gente pulou muito de casa, o negócio foi crescendo e uma hora ele disse: “tenho que ter minha casa própria”. Esse sonho foi realizado em 1992 com a sede no bairro da Madalena. E lá estamos até hoje. São 28 anos. Ele tinha muito orgulho de dizer que o prédio não era uma casa como a das outras agências que se adaptaram para escritório. O da Ampla foi projetado para ser uma agência de publicidade. A sede tem cerca de 900 m² de área, o prédio é lindo, é imponente e é um patrimônio da família Queiroz. De um tempo pra cá, a gente vem se questionando se a melhor alternativa para a Ampla é continuar no prédio, mas a amarra sentimental é muito forte. Fizemos em 2017 uma fusão com a Massapê, de Gabriel Freire, Anselmo Albuquerque e Henrique Pereira. Quando esses meninos chegaram na agência, a intenção era pra mexer com um bando de velhos, como eu. Era pra chutar o pau da barraca. Nessa discussão sadia, a gente chegou a pensar, em 2018, num projeto no Bairro do Recife, no shopping Alfândega, que transformou o último andar num coworking. Aquela coisa moderna, sem paredes, integração de várias empresas de tecnologias que se confunde com o nosso negócio. Mas faltou coragem pra sair, havia o elo emocional da família Queiroz. A coisa não aconteceu, mas a chama não apagou. Todos concordávamos que estava chegando a hora de tomar essa decisão difícil, mas que ia nos fazer mais felizes. Aí, em 2020, chega a pandemia. O home office veio com uma imposição, mas as empresas do nosso segmento aprenderam e se saíram muito bem. Um dia, conversando com minha irmã e meu sobrinho, decidimos que era a hora perfeita de tomar a decisão de implantarmos o home office e colocar o prédio para alugar. A gente sabia que seria o melhor para a empresa, não o melhor para a família, que é a dona do prédio e ter um cliente que paga aluguel religiosamente todo mês, como a Ampla é muito bom. Nesses tempos de pandemia teremos uma dificuldade enorme de alugar, mas temos que colocar a empresa na frente de tudo, como seu Queiroz colocou. Tinha gente que não entendia e dizia: você tem uma família linda, é o cara mais família que conheço e bota a empresa em primeiro lugar? Ele dizia: “eu tenho essa família linda por causa do trabalho”. Então seguimos o DNA de seu Queiroz. E os funcionários gostam da ideia de trabalhar em home office? Todos fomos trabalhar em casa em 16 de março. Quando chegou no final de junho, fizemos uma pesquisa interna com os colaboradores para saber como estavam aqueles quase 90 dias de home office. A pesquisa mostrou um alto percentual de aceitação, mesmo com as dificuldades. Elencamos, então, essas dificuldades e resolvemos o que podíamos resolver. O mais comum era não ter mesa e cadeira adequadas para trabalhar. Mandamos para as casas deles as mesas e cadeiras em que trabalhavam na Ampla. A pesquisa também mostrou o aumento do gasto de energia na residência. Criamos, então, um voucher pra todos os colaboradores de R$ 100. O que os funcionários acharam de positivo no home office? A convivência familiar, a presença deles em casa. Além disso, hoje, um dos principais ativos é o tempo, e como eles não se deslocam mais para ir ao trabalho, podem gastar esse tempo livre com o que quiserem. Outro formato fundamental é a flexibilidade. Muitos funcionários deixaram de fazer um curso ou de ter uma experiência na Europa porque não queriam perder o emprego na Ampla. Agora

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Gustavo Escobar: “Se sua empresa sequer começou a implantar a LGPD, então corra!”

Vivemos, no cotidiano, informando nossos dados pessoais a todo momento: quando entramos num prédio empresarial e nos identificamos, quando fazemos uma compra online, ou quando nos cadastramos numa rede social, só para ficar em alguns exemplos. Com a instituição da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que entrou em vigência semanas atrás, as empresas passaram a ter uma série de obrigações para preservar a privacidade dessas informações das pessoas, sejam clientes, fornecedores e até empregados. Muitos empresários, porém, segundo o advogado Gustavo Escobar, ainda não atentaram para a urgência da sua adequação às exigências da nova lei. O que é temerário: entre as penalidades previstas está a multa de até R$ 50 milhões. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Escobar, que é especialista em propriedade intelectual e proteção de dados, explica detalhes da LGPD, o que é necessário para se adaptar às suas determinações e alerta que essa adequação já deveria ter sido feita pelas empresas. Você poderia dizer, em linhas gerais, o que estabelece a Lei Geral de Proteção de Dados? A LGPD cria um sistema de proteção e regula o uso dos dados pessoais pelas empresas. Até hoje, o tratamento desses nossos dados não tinha uma proteção mais robusta. Com a vigência da lei, há uma mudança de cultura que coloca as pessoas (titulares dos dados), ou seja, todos nós, no centro da atenção e no controle das nossas informações. A legislação, em síntese, determina que o consentimento para uso dos dados pessoais deve ser a regra e cria todo um sistema legal para fazer valer essa previsão, inclusive com multas pesadas. A lei considera dados pessoais toda informação que identifique ou possa identificar uma pessoa física. Ela se aplica a todos que fazem tratamento de dados de clientes, funcionários, fornecedores etc. Na verdade, na prática, todas as empresas serão impactadas e precisarão se adequar à LGPD. Usando o teor da própria legislação, podemos dizer que a lei tem como fundamentos: “o respeito à privacidade; a autodeterminação informativa; a liberdade de expressão, de informação, de comunicação e de opinião; a inviolabilidade da intimidade, da honra e da imagem; o desenvolvimento econômico e tecnológico e a inovação; a livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor; os direitos humanos, o livre desenvolvimento da personalidade, a dignidade e o exercício da cidadania pelas pessoas naturais”. Por que a lei foi criada? Desde a década de 90, na Europa, existem iniciativas que visam a preservar a privacidade e a proteção aos dados pessoais. À medida que o uso desses dados foi crescendo por parte das empresas, também aumentou a preocupação de todo o mundo civilizado com a necessidade de impor limites e regras. Com o crescimento exponencial do tratamento de dados, a partir do desenvolvimento tecnológico e da velocidade da internet, com o surgimento do chamado big data, redes sociais e depois dos escândalos envolvendo o Facebook e a empresa Cambridge Analytica, que foi acusada de usar massivamente os dados de usuários daquela rede social para manipular a opinião política e influenciar no resultado de eleições, houve praticamente um consenso de que era necessário se fazer algo para impor limites a esse uso indiscriminado de nossos dados pessoais. É nesse cenário que, na Europa, surgiu o RGPD (Regulamento Geral de Proteção de Dados), criando as bases para várias legislações nacionais, inclusive, para a nossa LGPD. É preciso compreender que no cenário de globalização e interconectividade, os dados transitam sem fronteiras entre servidores e computadores que estão localizados em países e mesmo continentes diferentes. Dessa forma, para preservação de tratados internacionais e reciprocidade entre as nações, o Brasil foi induzido a se adequar ao status quo que regula a proteção de dados pessoais. É assim que temos a atual legislação. Os países mais avançados impõem essa regra aos demais, as empresas multinacionais se adequam e passam a pressionar a sua cadeia de fornecedores a se adequar para poderem continuar a fazer negócios e, desta forma, de cima pra baixo, vai surgindo um movimento que passa pela legislação até às cláusulas dos contratos e obrigações de compliance, chegando às pequenas e médias empresas. O que é ANPD (Autoridade Nacional de Proteção de Dados)? A Autoridade Nacional de Proteção de Dados é o órgão criado pela LGPD que, com autonomia técnica, tem várias funções associadas à implementação, cumprimento e eficácia da proteção de dados no Brasil. A ANPD tem funções que vão desde “elaborar diretrizes para a Política Nacional de Proteção de Dados Pessoais e da Privacidade”, passando por “editar regulamentos e procedimentos sobre proteção de dados pessoais e privacidade”, como também “editar normas, orientações e procedimentos simplificados e diferenciados, inclusive quanto aos prazos, para que microempresas e empresas de pequeno porte, bem como iniciativas empresariais de caráter incremental ou disruptivo que se autodeclarem startups ou empresas de inovação, possam adequar-se a esta Lei”, até à imposição de pesadas sanções em casos de violações à lei, vazamento de dados, etc. Quais as consequências da LGPD para as pessoas físicas? O que acontece se os dados de alguma pessoa vazar? Na verdade, para as pessoas físicas, desde que não sejam responsáveis por tratamento de dados, a lei não tem consequências, mas sim, proteção. A LGPD protege os dados pessoais das pessoas naturais (pessoas físicas) e regula como e quando esses dados podem ser usados. Dessa forma, havendo vazamentos por parte de empresas que façam tratamento de dados pessoais (atualmente praticamente todas empresas), surge a possibilidade de que os titulares dos dados (pessoas físicas) possam acionar as empresas pedindo uma reparação moral pelo uso ou exposição indevida de seus dados. Assine a Revista Algomais e leia a entrevista completa na edição 174.4

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Luciano Meira: “Precisamos redesenhar a sala de aula, este é um momento apropriado.”

Luciano Meira, professor de psicologia da UFPE, sempre foi um entusiasta do uso das novas tecnologias na educação, por isso, tem olhado com profunda atenção a repentina introdução da aprendizagem remota na pandemia. Mas ele sempre defendeu que não basta transpor para mídias digitais a tradicional aula expositiva, na qual o professor apenas coloca os conteúdos para os estudantes. O resultado disso são alunos desinteressados e exaustão de docentes e aprendizes, que, segundo o especialista, é o que tem acontecido na maioria das escolas, salvo exceções. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Meira, que também é sócio-empreendedor da Joy Street e professor colaborador da Cesar School, aponta os caminhos para a construção de propostas didáticas que engajem alunos e transforme a aula remota numa experiência virtual significativa. Ele reconhece as dificuldades e a falta de apoio na formação dos professores para este momento, critica a ausência do Ministério da Educação e opina sobre a reabertura das escolas. O que o você tem achado da experiência das aulas remotas na pandemia? O primeiro a se destacar é o papel central, crítico, fundamental do professor e de sua gestão na organização de um ambiente de ensino e aprendizagem que favoreça a construção das relações entre professores e estudantes – que são essenciais como sustentação para o aprendizado nesse novo ambiente. Outro destaque é a necessidade de elaborar o design instrucional, que cuida da montagem de trajetórias de aprendizagem, desde a construção da matriz de competências a serem desenvolvidas, passando pelo desenho detalhado das sequências didáticas para cada tópico de aprendizagem, até os métodos de ensino e formas de avaliação de desempenho dos aprendizes. Temos visto muitas excelentes iniciativas, que são extremamente interessantes, mas, por outro lado, não há muita novidade. Segundo o Instituto Península, em pesquisa realizada ainda no início de abril, com cerca de 2.500 professores no Brasil, mais de 50% deles tentavam construir algum tipo de contato com seus alunos. O que era fundamental naquele momento para evitar que os estudantes deixassem de perceber a escola como um centro das suas vidas ou pelo menos com alguma centralidade nas suas vidas. Um dado interessante é que 60% dos professores ocuparam o seu tempo estudando. É uma situação nova para muita gente, muitos professores jamais haviam entrado num ambiente de salas de aula virtual ou feito cursos online. Isso deveria ser muito frequente, mas a pandemia nos levou para esse ambiente, fazendo avançar, talvez em vários anos, a transformação digital, tão necessária para a educação. Transformação digital não é usar equipamentos ou dispositivos tecnológicos na escola, mas mudar comportamentos e inovar na sala de aula. É uma nova forma de ver a educação habilitada por plataformas digitais. O Instituto Península, um mês depois, em maio, realizou a segunda pesquisa, dessa vez com cerca de 7.500 professores, dos quais 83% não se sentiam preparados para o estabelecimento de um ambiente de aprendizagem produtivo remotamente. Isso é revelador. O fato é que, caso se trate apenas da transposição de uma aula expositiva para uma mídia digital, não vamos ter a mudança fundamental que precisamos na educação, em termos do engajamento das crianças, da imersão dos professores em propostas e práticas didáticas que favoreçam uma aprendizagem significativa. O que me parece é que os ambientes e a abordagem utilizados no ensino remoto até aqui, na maior parte dos casos, não favoreceram à transformação inovadora para engajar melhor os estudantes e construir cenários de aprendizagem que já necessitávamos antes desse movimento. Precisamos muito mais de design instrucional para fazer da aula remota uma experiência virtual significativa. Após seis meses de aulas por sistemas online, há relatos de alunos que se sentem muito cansados. Por que isso acontece e qual seria a possível solução? A fadiga tem uma diversidade de origens. Pode ser a fadiga ocular, que aflige o nervo ótico pela hiperexposição à tela, mas essa não é minha área de expertise. Ficamos também fatigados porque somos seres corpóreos. Todos temos uma presença física no mundo que precisa de uma expressão. Isso exige um tipo de interação social que é melhor estabelecida quando estamos em momentos de conversação com as pessoas convivendo num mesmo ambiente físico. Quando você está numa tela e vê as faces de várias pessoas, você passa a se fixar e, de uma certa forma, estabelecer um escrutínio do rosto de todas elas. Isso é cansativo porque você começa a avaliar todas as expressões que estão ali naquela tela mais detidamente, o que não é o caso do mundo físico, porque nossa atenção é fluida e está mais conectada com o sentido, não com a imagem do que aparece. Isso se dá porque no mundo físico nós transitamos corporeamente e no mundo online estamos fixos diante de uma observação e de um conjunto de imagens. Não temos os dispositivos psicológicos que permitem no mundo físico nos desconectarmos, digamos assim, a atenção de um rosto específico e passar a ter uma análise mais ampla do sentido de uma interação. Bom, isso é um pouco da explicação psicológica. Além disso, do ponto de vista educacional, essa fadiga, emerge, na minha opinião, mais rapidamente e com consequências mais sérias se a transposição que foi feita daquela experiência da sala de aula for unicamente baseada na exposição de conteúdo. E mesmo que haja um debate após a exposição, é sempre o mesmo debate, a criança se esforça para participar disso. Mesmo um bom jogo quando é jogado diversas vezes, a criança não quer mais jogar, ela precisa de novos jogos, novos tipos de sequenciamento das formas didáticas e isso exige, como já disse, inovação das práticas didáticas. Existe hoje um conjunto enorme de possibilidades: sala de aula invertida, prática por projetos, challenge basead learning (aprendizagem baseada em desafios) que os professores podem pesquisar em lugares como site da Nova Escola e o portal do Porvir (porvir.org), talvez um dos melhores que temos hoje no Brasil para os educadores buscarem boas ideias de como pode se dar essa reorganização didática no âmbito da sala de aula. Professores também se

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Amaury Cantilino: “A pandemia deixará muitas pessoas vulneráveis a problemas de saúde mental.”

Neste ano, a campanha do Setembro Amarelo pela prevenção do suicídio tem na pandemia um componente importante a ser levando em consideração. Segundo Amaury Cantilino, professor de psiquiatria do Centro de Ciências Médicas da UFPE, nesta situação de isolamento, estresse e dificuldades econômicas, deve-se ter atenção especial às pessoas com transtornos psiquiátricos pré-existentes, com o crescimento do alcoolismo na população, a exaustão dos profissionais de saúde e com as sequelas traumáticas de quem ficou internado muito tempo em UTI. Cantilino, que é doutor em neuropsiquiatria e ciências do comportamento, faz um alerta para os governos se prepararem para um crescimento dos casos de transtornos mentais e comportamentos suicidas. Mas, esperançoso, o especialista orienta que a melhor forma de prevenir o suicídio é cada um identificar aquilo que valoriza e assumir atitudes que levem a esses valores. E, neste momento, em que o sentimento de impotência é muito presente diante da ameaça da Covid-19, o psiquiatra lembra que uma vida significativa não depende daquilo que desejamos, mas daquilo que fazemos. “A ideia é aceitar aquilo que está fora do nosso controle e praticar ações, dentro das nossas possibilidades”. Tempos de pandemia podem aumentar o risco de suicídio? O que dizem as estatísticas dos estudos científicos? Um artigo recente de Gunnell e colaboradores saiu num dos mais respeitados periódicos da psiquiatria, o JAMA Psychiatry. Os autores afirmam que o suicídio provavelmente tem se tornado uma preocupação mais urgente à medida que a pandemia vem se espalhando e tem efeitos de longo prazo na população em geral, na economia e nos grupos vulneráveis. Há algumas evidências de que as mortes por suicídio aumentaram nos EUA durante a pandemia de influenza de 1918-1919 e entre pessoas mais velhas em Hong Kong durante a epidemia de síndrome respiratória aguda (SARS) de 2003. O contexto atual está em evolução. Uma resposta interdisciplinar abrangente que reconheça como a pandemia pode aumentar o risco e aplique o conhecimento sobre abordagens eficazes de prevenção do suicídio é fundamental. Gunnell e colaboradores também ressaltam que os prováveis efeitos adversos da pandemia em pessoas com doença psiquiátrica e na saúde mental da população como um todo podem ser exacerbados pelo medo, autoisolamento e distanciamento físico. Aqueles com transtornos psiquiátricos podem ter piora dos sintomas e outros podem desenvolver novos problemas de saúde mental, especialmente depressão, ansiedade e estresse pós-traumático – todos associados a um risco aumentado de suicídio. Esses problemas estão afetando sobretudo aqueles com altos níveis de exposição à Covid-19, como profissionais de saúde da linha de frente e aqueles que desenvolvem a doença. De acordo com um estudo recente do Well Being Trust, os altos níveis de estresse, isolamento e desemprego devidos à pandemia Covid-19 podem causar até 75 mil “mortes por desespero” relacionadas a drogas, álcool e suicídio. As consequências para os serviços de saúde mental já estão sendo sentidas, por exemplo, no aumento da carga de trabalho de psiquiatras e necessidade de encontrar novas formas de trabalhar, como o uso da telemedicina. Qual o perfil das pessoas que apresentam maior risco de suicídio? Quanto ao risco de suicídio, o fator de maior preocupação é a existência anterior de um transtorno psiquiátrico, seja depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, dentre outros. Mas também podem ser consideradas categorias vulneráveis os idosos (maior de 80 anos), adolescentes e indivíduos de áreas carentes. Os efeitos podem ser piores em locais com poucos recursos, onde a adversidade econômica é agravada pela falta de suporte em saúde mental. Os trabalhadores da saúde têm experimentado uma sobrecarga emocional em razão de vários motivos, incluindo questões organizacionais, redução de recursos humanos e turnos de trabalho implacáveis. Além disso, deve-se mencionar o medo de se infectarem e de transmitirem a parentes. Sofrem com o luto pela perda de pacientes e colegas. Muitos se separaram de suas famílias. Pessoas que vivem em ambientes de grande violência interpessoal e/ou doméstica estão, neste momento, ainda mais expostas e indefesas. De que forma o isolamento social, que é necessário neste momento, pode contribuir para o comportamento suicida? O isolamento social e a solidão contribuem para o risco de suicídio e tendem a aumentar durante a pandemia. Especial atenção deve ser dada aos indivíduos enlutados. Fornecer apoio comunitário para aqueles que vivem sozinhos e encorajar famílias e amigos a se fazerem presentes é fundamental. Sabemos que os vínculos sociais e a convivência com pessoas queridas são impulsionadores de uma vida satisfatória. Outras preocupações incluem os efeitos sociais das restrições de reuniões religiosas. Sabe-se que as igrejas são fonte de amparo social e espiritual em momentos de sofrimento emocional. Leia a entrevista completa na Edição 174.2 da Revista Algomais:  http://assine.algomais.com/

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Clélia Franco: "Pandemia trouxe grande prejuízo à qualidade do sono"

Se você está com dificuldades de dormir nesta quarentena, saiba que não é o único. Relatos sobre noites mal dormidas têm chegado com mais frequência nos consultórios médicos. Nesta entrevista a Cláudia Santos, a neurologista especialista em medicina do sono e coordenadora do Departamento Científico de Sono da Academia Brasileira de Neurologia, Clélia Franco, explica os vários motivos que têm deixado as pessoas insones nesta pandemia. Clélia, que também atua no Hospital das Clínicas da UFPE, no Hospital Oswaldo Cruz da UPE e na Real Neuro do Hospital Português, também orienta como não passar as noites em claro, apensar dos problemas provocados pela Covid-19. Muitas pessoas têm reclamado da dificuldade de dormir na pandemia. Existem pesquisas revelando um aumento dos distúrbios do sono depois da decretação do isolamento social? O que elas mostram? Os estudos já publicados sobre o impacto da pandemia no sono das pessoas mostram que houve grande prejuízo na qualidade do sono em grande parte dos adultos e também nas crianças, com surgimento de transtornos como a insônia e os transtornos do ritmo circadiano (que determina as funções do ciclo biológico dos seres vivos num período de 24 horas, dentre elas o estabelecimento do sono e da vigília). Nesse caso, as pessoas passam a ter dificuldades para iniciar ou manter o sono. No caso da insônia, passam a ter ter vontade de dormir em horários irregulares do dia e falta de sono noturno. Quais os fatores que estão relacionados aos distúrbios do sono na pandemia? O estresse agudo, o medo, a insegurança relativos ao risco de adoecimento e morte pela Covid-19, às mudanças súbitas na rotina e contextos de vida, ao isolamento social, a perdas financeiras e emocionais relacionadas ao desemprego e afastamento entre pessoas, às dificuldades inúmeras de acessibilidade aos serviços pelo isolamento, o agravamento de doenças físicas e mentais preexistentes por dificuldades no acompanhamento durante a pandemia. Foram muitas restrições e mudanças súbitas gerando alta carga de estresse para a maioria das pessoas. Pessoas relatam também que, embora tenham mais tempo para dormir, a qualidade do sono piorou. Por que isso acontece? Porque quando a mente está intranquila ou em estado de alarme diante de uma ameaça ou problema (que foram ou são muitos durante a pandemia), os mecanismos neurais que mantêm a vigília – o alerta – ficam hiperativados. O eixo neuro-hormonal hipotálamo - hipófise - adrenal está hiperativo nessas situações de estresse e alarme, no estado hiperalerta. Com isso, maiores níveis de substâncias pró-vigilância estão atuantes no âmbito cerebral e sistêmico, tais como noradrenalina, adrenalina e cortisol, que prejudicam a atividade dos sistemas pró-sono ou de relaxamento, dificultando o início do sono ou deixando-o mais superficial e não reparador. Assine a Revista Algomais para ler a entrevista completa: http://assine.algomais.com/

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Maurício Romão: “Fake news não decidem eleições"

Numa campanha eleitoral influenciada pela pandemia e com a perspectiva de uso intenso das redes sociais, as fake news, segundo o analista político Maurício Romão, continuarão sendo um recurso usado pelos candidatos. Mas, ressalta que elas não são tão decisivas no resultado das eleições. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Romão, que é Ph.D em economia pela Universidade de Illinois (EUA), comenta a disputa no Recife, a influência do presidente Jair Bolsonaro no pleito e assegura que o brasileiro é religioso, tradicional nos costumes, pacato, conciliador, de apego familiar. “Uma candidatura que não respeite esse status quo está fadada à derrota”, sentencia. Como a pandemia pode impactar a próxima eleição? As campanhas dos candidatos vão acontecer com pouca presença física junto ao eleitorado. A campanha, digamos, analógica, passa a ser virtual e isso traz consequências: a rua física se torna rua virtual, o comitê físico agora é remoto, os contatos pessoais de rua passam a ser de redes, e o bom cabo eleitoral agora é o que tem influência digital. A propaganda com panfletos, santinhos, etc., agora será divulgada com mensagens de vídeo e por aí vai. É uma mudança muito profunda em termos de eleição. Então as mídias sociais terão um peso grande nesta eleição? Terão influência cada vez maior à medida em que seu uso se vai alastrando. O Brasil é o quarto país mais conectado à internet do mundo, tem cerca de 134 milhões de usuários, o que dá uma ideia de como essa ferramenta pode impactar nas eleições. Mas, apenas um pouco mais de 60% da população brasileira têm acesso à internet. As classes D e E, por exemplo, quando se tornam usuárias de internet, o fazem com pacotes de dados limitados.  As mídias sociais são segmentadas por essência. O óbvio precisa ser dito: o alcance das mídias sociais depende do seu uso profissional pelo candidato. Não adianta apenas divulgar os eventos da campanha, o dia a dia do candidato ou disparar mensagens de apelo, genéricas, retóricas, pelo Twitter, Facebook, Instagram, WhatsApp, etc., na tentativa de apreender a atenção do internauta eleitor e eventualmente conquistar seu voto. As mídias sociais exigem consonância cognitiva entre o emissor e o receptor das mensagens. Além da criatividade, candidatos têm que ter postura ativa, interagindo com os eleitores, mostrando suas propostas e soluções para os problemas da comunidade. Mas, a TV aberta continua importante, principalmente com o afastamento social causado pela pandemia. É um veículo de massa. Alcança milhares de eleitores, incluindo os que estão nos mais distantes rincões. As inserções, todavia, são muito mais valorizadas pelas campanhas do que o horário fixo da propaganda eleitoral, naquele formato antiquado, repetitivo. Nas inserções, a comunicação se faz de surpresa, imiscuindo-se momentaneamente pela programação que o eleitor está vendo ou ouvindo. Enfim, as redes sociais serão mais relevantes do que foram no passado e, se forem usadas profissionalmente e com competência, junto com o rádio e a TV, poderão ser decisivas. Há um combate às fake news por parte do STF e de iniciativas como a do Sleeping Giants. O senhor acredita que as fake news serão usadas com a mesma intensidade da campanha anterior? O problema das fake news é mundial. Em todos os lugares estão tentando achar uma fórmula de coibi-las. O intento é necessário e urgente, mas sempre esbarra na questão de controle da mídia, individualidade, liberdade de expressão, etc. Na eleição deste ano acho que ainda vão dar muito o que falar, mas não creio que influenciarão resultados, até porque se trata de um jogo de soma zero: os concorrentes praticam o mesmo expediente. Com todos os lados usando massivamente as tecnologias digitais, fake news não decidem eleições para um deles. Qual foi o impacto das fake news na eleição passada para presidente, já que você mencionou? Há uma narrativa forte do PT de que o partido perdeu a eleição de 2018 por causa das fake news bolsonaristas. Yoval Harari, no seu livro 21 Lições Para o Século 21, diz que “os humanos pensam em forma de narrativas e , não, de fatos, números ou equações e quanto mais simples a narrativa, melhor”. O PT sempre cria narrativas simples e eficazes. Na derrota de 2018, para se justificar perante sua militância, dissemina uma fake news travestida de narrativa, bem simples. Mas exagerou na dose, foi de simples à simplória: como uma eleição com uma diferença de 18 milhões de votos a favor de Bolsonaro contra Haddad no primeiro turno e mais de 10 milhões no segundo, teria sido decidida por causa das fake news? LEIA A ENTREVISTA COMPLETA NA EDIÇÃO 173.4 DA REVISTA ALGOMAIS

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Lígia Barros: "Não devemos crucificar pessoas que tiveram ganho de peso na quarentena"

Neste mundo contemporâneo onde o padrão é o corpo magro – ou mesmo esquálido – das modelos nas passarelas, engodar é um verdadeiro pecado. Mas, ao ficarem isoladas em suas casas, não são poucas as pessoas que veem, assustadas, o ponteiro da balança subir além do desejável ao se pesarem. Mas,para a nutricionista Lígi a Barros, tutora do curso de nutrição da FPS (Faculdade Pernambucana de Saúde), o momento não é para condenar esses quilinhos a mais. Afinal, a quarentena tem provocado um quadro psíquico de medo e ansiedade que leva muitos a engodar. “O peso não deve ser o foco. Ele pode até ser analisado depois, quando a rotina se estabelecer mais normal”, recomenda a especialista.Nesta conversa com Cláudia Santos, Lígia também comenta o número maior de famílias cozinhando em casa nesta quarentena, incipalmente fazendo pães a ponto de se criar o neologismo “pãodemia”. Ela também dá dicas de como higienizar os alimentos e oferecer uma alimentação saudável para as crianças. Há muita fake news em relação à capacidade dos alimentos em prevenir a Covid-19. Afinal, qual a importância da alimentação na prevenção desta doença e na imunidade doser humano? Há muita fake news em relação aos alimentos, principalmente porque há uma tendência das pessoas tanto de subestimarem o poder da alimentação, quanto superestimarem. Os alimentos são veículos que ajudam na melhora da nossa saúde e na prevenção. Mas, isolados, eles não fazem tudo. Então a alimentação é, sim, muito importante, frutas e verduras têm muitos elementos antioxidantes que ajudam na prevenção da oxidação celular, do envelhecimento, do aparecimento de algumas doenças. Mas o alimento não é milagroso. Por outro lado, também deve-se ter cuidadocom o pensamento contrário, de que o alimento não tem função, pelo contrário, ele é de suma importância, aliado a um bom sono, à prática de exercícios físicos, a hábitos saudáveis. É possível acontecer a contaminação pelo novo coronavírus por meio dos alimentos? A contaminação dos alimentos pelo cononavírus ainda é controversa. Não existem dados contundentes, mas por questões de medidas sanitárias, para evitar a transmissão de outras doenças, valea pena ressaltar: aqueles alimentos que vão ser consumidos crus, in natura, precisam ser sanitizados. Por exemplo, no caso da cozinha oriental, que consome muito peixe cru, o alimento tem que ter uma boa procedência e a manutenção da sua temperatura. No nosso caso, que consumimos muitas hortaliças, temos que sanitizá-las com hipoclorito, por 15 minutos, fazendo o mesmo com as frutas consumidas com a casca. Deve-se utilizar uma colher de sopa de hipoclorito ou água sanitária sem branqueador num litro de água ou, no caso de produtos específicos vendidos em supermercado, seguir a diluição da embalagem. E lógico, se forem verduras que vieram com grande quantidade de terra, fazer uma limpeza geral com água corrente, antes de colocar nessa solução. Depois, secar bem para poder guardar. Os alimentos que vão ao fogo, devemos manter a temperatura do tempo de cozimento e também manter a temperatura após a cocção, que é uma coisa que geralmente não fazemos. Ou seja, se o alimento não for consumido logo, não se deve esperar que ele esfrie completamente para guardá-lo na geladeira. Deve-se mudar o recipiente e refrigerar o alimento assim que possível para evitar a proliferação de bactérias e de microorganismos de maneira geral. É preciso estar de máscara para fazer essa higienização? Temos uma mania muito grande de passar a mão no nariz, na boca, no olho, no cabelo e isso pode ser uma forma de transmissão do vírus. E é por isso que se pede a higienização dos alimentos usando a máscara, não é porque o vírus vai sair circulando e subir no seu nariz. Você tem dados se a população tem engordado na quarentena? O ganho de peso na quarentena é tido como normal. Lembrando que as pessoas tiveram um decréscimo da atividade física, se depararam com algumas questões emocionais mais complexas, a própria ansiedade pelo isolamento social, o medo de ser acometido pelo vírus ou ainda o medo das pessoas que foram acometidas pela Covid-19. Esse ganho de peso pode ter ocorrido, mas ele não é significativo. Se esse ganho de peso tem a ver com o comportamento das pessoas, esse comportamento não foi criado só na quarentena, são hábitos que vêm sendo estruturados. A quarenta pode ter potencializado algumas coisas, mas ela não modificou tudo. Então, é importante atentarmos, inclusive para o estigma do peso. Não devemos crucificar pessoas que estão em sofrimento psíquico por causa do ganho de peso na quarentena, quando, no momento, o peso não deve ser o foco, sabe? Ele pode até ser analisado depois, quando a rotina se estabelecer mais normal. É preciso cuidado para não trazer outro fator estressante, a partir do momento em que se condena alguém porque engordou. Assine a Revista Algomais para ler a entrevista completa da edição 173.2 assine.algomais.com 

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Airles Fragoso: “A Covid-19 trouxe um medo não controlável para as pessoas"

Logo no início da pandemia, a Prefeitura do Recife lançou o aplicativo web Atende em Casa com orientações virtuais sobre a Covid-19. O objetivo era evitar que a população procurasse as unidades de saúde desnecessariamente durante a quarentena. Com o tempo, os atendentes do serviço perceberam que muitos recorriam ao app com dor no peito e calafrios, que não eram sintomas da infecção pelo novo coronavírus. Era a consequência emocional provocada pela pandemia. A solução foi criar um teleatendimento psicossocial. Hoje, 87 profissionais da rede de saúde municipal atuam nesse acolhimento. Airles Ribeiro Fragoso, um dos coordenadores do serviço, informa, nesta conversa com Cláudia Santos, as estratégias utilizadas para auxiliar os usuários e revela as principais aflições daqueles que recorrem à ajuda. Não deixa de ser um retrato de como a Covid-19 afeta o emocional das pessoas. Como funciona esse o serviço de acolhimento emocional? É feito por meio do aplicativo Atende em Casa. Surgiu quando constatamos que a pandemia impacta as pessoas, não só na questão corpórea, clínica, mas também na sua dinâmica psicossocial. Muita gente entrou em contato conosco com falta de ar, calafrio, mas não eram sintomas da Covid-19 e, sim, o impacto psicossocial da doença. A ideia é acolher essas pessoas, fazendo a escuta ativa, com o recorte da saúde mental. Oferecemos algumas estratégias para minimizar esse impacto dentro da possibilidade de se estar em casa. Fizemos uma junta de profissionais de psicologia, assistência social, médicos, psiquiatras e das práticas integrativas. Qual o perfil das pessoas que buscam o serviço? Pessoas idosas, pessoas em isolamento domiciliar (aquelas que estão com sintomas relacionados à Covid-19 e precisam se isolar dentro da própria casa para não infectar os familiares que moram com elas), pessoas que moram sozinhas e aquelas em luto, além de pessoas que estavam antes da pandemia em atendimento psicológico ou psiquiátrico. A maioria são mulheres dos 30 aos 60 anos em isolamento domiciliar, que, por estarem isoladas e não poderem cuidar da família, se sentem culpadas e com isso aumenta a ansiedade. As mulheres têm, socialmente, infelizmente, esse lugar de cuidadora. Como estratégia, pactuamos com elas uma rotina com qualidade. Explicamos que isolamento não significa cárcere e que elas podem ter contato com familiares respeitando o distanciamento de 2m, com uso de máscara e fazendo higienização das mãos. Também há muitos homens adultos, que estão em isolamento domiciliar e estão com medo de infectar pessoas queridas. Há ainda jovens que tiveram a rotina fragmentada. O que atormenta esses homens? Trata-se de um homem fragilizado por estar demonstrando, de alguma forma, aos seus familiares e amigos que tem medo. A Covid-19 trouxe um medo não controlável. Uma coisa é ter medo de assalto, em que se pode ter controle e evitar, mas de algo invisível, como um vírus, não se tem controle. A questão do desemprego também afetou muito esse homem e sua posição social de chefe de família. E não foi por uma escolha sua, foi uma questão social que colocou esse homem em casa, deixando-o mais frágil. Fiz um teleacolhimento no qual um deles dizia: “estou muito mal, e não quero que ninguém me veja chorando”. Trabalhamos no atendimento dessa masculinidade que naquele momento não estava sendo positiva para ele. Para muitos homens foi uma oportunidade para ressignificar esse lugar do masculino. Assine a Revista Algomais para ler a entrevista completa na Edição 173.1: assine.algomais.com

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Gustavo Costa: “A premissa de que ninguém pode perder atrapalha a reforma tributária.”

A reforma tributária, segundo Gustavo Cavalcanti Costa, advogado e sócio do escritório Cavalcanti Costa Advogados, seria uma excelente oportunidade para reconstruir o pacto federativo. Seria a chance de não só descentralizar recursos e distribuir poderes, mas, também, de refundar o projeto federativo nacional com o propósito de dinamizar as livres trocas econômicas de bens e serviços no continental mercado comum brasileiro. Infelizmente, porém, na análise de Costa, que é mestre em direito tributário internacional pela Queen Mary, Universidade de Londres, tal objetivo não será alcançado no fatiamento da reforma proposta pelo ministro Paulo Guedes, e corre o risco de ser distorcido pelos projetos elaborados pela Câmara e pelo Senado. O motivo? Não há um esforço conjunto visando ao benefício do País como um todo. “Cada um quer um IVA (imposto de valor agregado) pra chamar de seu”, constata o advogado. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Gustavo Costa, que é ex-auditor da Sefaz/PE e, atualmente, colabora como vice-presidente da Comissão de Estudos Tributários do IAP (Instituto dos Advogados de Pernambuco), analisa a realidade tributária do País e repudia a retomada do debate sobre um imposto sobre transações financeiras neste momento. Quais os principais entraves proporcionados pelo atual sistema tributário ao setor produtivo? Vamos começar com um pouco de perspectiva: o relatório anual do Banco Mundial sobre ranking de competitividade entre os países (Doing Business, 2020) destaca o Brasil na 124ª posição entre 190 economias comparadas. O nosso indicador tributário é pior deles, colocando-nos na 184a posição. Ou seja, nossas empresas competem na última divisão, vendendo produtos caros e com uma alta carga de tributos, custos de transação e controles embutidos nos preços, em um efeito cascata direto e indireto nas cadeias produtivas. Sequer sabemos o quanto pagamos na ponta, o que por si só revela uma curiosa tolerância com nosso déficit de cidadania tributária. Essa não é uma obra do acaso: durante todo Século 20, e até agora, houve considerável esforço de acomodação e improvisos entre os atores responsáveis por criar um sincrético modelo de tributação sobre o consumo de bens e serviços, jogando as suas muitas distorções embaixo do tapete. São muitos os entraves derivados desse modelo exótico, mas tudo começa com nossa enorme dificuldade de assimilar a ideia e as vantagens de uma federação, que na sua origem etimológica, carrega o sentido de pacto (foedus), ou seja, união de interesses para um objetivo comum. Pacto não apenas para descentralizar e dividir poderes, mas principalmente para integrar e promover dinamismo econômico ao espaço federativo. Desperdiçamos a enorme vantagem de ter um espaço territorial continental e um bloco econômico federativo de potenciais 210 milhões de consumidores, desintegrando, desarmonizando e fracionando nosso modelo de tributação sobre o consumo. Os bens e serviços não circulam livremente na federação brasileira. Ela está repleta de barreiras tributárias. Há mais de 30 anos o Congresso debate a reforma tributá ria. Por que é tão difícil aprová-la? O senhor acredita que a pandemia pode acelerar a sua aprovação? Por quê? A pandemia desperta maior senso de urgência e a aprovação de uma reforma tributária constitucional nunca esteve tão perto. Todavia, é necessário muito cuidado para que o açodamento não comprometa a clareza do debate e distraia a origem das questões centrais, inclusive os muitos detalhes dos interesses ocultos, não raro escondidos nos textos. Não pode ser uma reforma tributária para conservar os mesmos interesses e distorções com uma roupagem jurídica nova. Muito menos para gerar caixa para combater os efeitos fiscais imediatos da pandemia. É preciso não apenas eliminar o atual modelo de tributação sobre o consumo, mas a sua obra. Se o Congresso debate a reforma tributária há mais de 30 anos é porque o consenso entre os atores políticos é dificílimo, e envolve nova acomodação no balanço de interesses federativos entre União, estados e municípios, em nível vertical e horizontal. Isto é, um novo pacto federativo para remodelar, por completo, a tributação sobre o consumo em outras bases políticas e com objetivos distintos, voltados à integração e dinamismo do mercado brasileiro de bens e serviços. Sempre fico intrigado quando vejo ser vendida a reforma com a premissa de que deve ser “neutra” para ninguém perder. Se o consenso pretendido for para conservar os mesmos interesses e distorções federativas na mesma situação, os grandes perdedores mais uma vez seremos nós, os contribuintes. Uma boa reforma tributária pode trazer um ganha-ganha na base tributária e na federação, mesmo com redução de alíquotas. O ministro Paulo Guedes apresentou um projeto que propõe a troca do PIS e da Cofins por uma nova contribuição, a CBS, com uma alíquota única de 12%, com o intuito de eliminar o efeito cascata dos impostos. Mas tributaristas criticam o projeto afirmando que ele pode até beneficiar o setor industrial, que possui várias etapas de produção, mas não o setor de serviços, principalmente as pequenas empresas, formadas apenas por mão de obra, que antes pagavam de 3,5% a 9,5% de imposto e vão passar a pagar 12%. O senhor concorda? Sim, concordo, mas não pelas razões apresentadas. O projeto de Paulo Guedes sinaliza para avanços técnicos importantes sobre os atuais entraves do modelo de tributação sobre o consumo. Um deles é o destaque do tributo por fora do preço, permitindo sua transparência, um avanço enorme do ponto de vista da cidadania tributária. Por sua vez, a possibilidade de creditamento largo de insumos também aponta para redução do efeito cascata, inclusive nos serviços, cuja cadeia produtiva é integrada num ciclo muito maior do que apenas a mão de obra utilizada, que não gera crédito. A própria alíquota nominal geral proposta (12%) incidiria sobre uma base de valor agregado que ainda não conhecemos e temos dificuldade de projetar, tamanho é o grau de opacidade sobre o quanto de tributos incide na atual formação dos preços dos bens e serviços brasileiros. A alíquota real pode e deve ser muito menor e, de alguma maneira, todos esses problemas apontados também estão nas duas PECs em tramitação no Congresso. O problema maior da proposta não é técnico ou de definição

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Gabriel Serrano: "Meu medo é a interferência da política em conduta de saúde"

A probabilidade de o Brasil sofrer uma segunda onda da Covid-19 é pequena, segundo o infectologista do Hospital do Imip e da consultoria Superare, Gabriel Aureliano Serrano. Mas não se trata propriamente de um mérito do País. Segundo o especialista, que também atua na Prefeitura de Olinda, muitos países que apresentaram elevação no número de casos, após um período de queda, foram aqueles que fizeram o isolamento corretamente e depois reabriram as atividades. Ele acredita que no Brasil, ao contrário, haverá um período de estabilidade da quantidade de contaminados, com um volume elevado de mortes até a chegada da vacina. Mas nem tudo são más notícias. Serrano ressalta que nunca a ciência produziu tanto sobre um tema como na pandemia da Covid-19. Novas maneiras de seproduzirem vacinas são esperadas, assim como tratamentos baseados na medicina genética. Cidades que estão com planos de abertura mais avançados no País, no Norte e Nordeste, seguem há mais de um mês apresentando queda em números de infectados e mortes. Quais as possíveis hipóteses para esse desempenho? Temos que lembrar que Pernambuco, assim como outros locais do País, tem uma taxa de testagem muito baixa. Não existe nenhum estado que tem a quantidade de teste suficiente. O Brasil chegou recentemente à taxa de 1,5 milhão de testes, quando algumas cidades do mundo conseguiram atingir cinco, seis vezes esse volume no primeiro mês de combate à infecção. Participamos de uma promoção de saúde que não tem informação de forma atualizada, mas vimos que há uma tendência de estabilidade (não de queda franca) do número de infectados. Foram também criados mais leitos de forma emergencial. Isso fez com que diminuísse a lotação nos hospitais e a quantidade de pessoas precisando de respirador na fila de espera. O que também ajuda na articulação de condutas públicas, porque ao diminuir essa fila, consegue-se propor ações que alterem menos a rotina das pessoas. Em Pernambuco e em alguns estados do Nordeste, foram adotadas algumas condutas, que não foram verificadas em outros lugares do Brasil. Moramos num país continental, assim como na Europa vimos alguns países tendo quadros epidemiológicos diferentes de outros, em momentos diferentes, ao mesmo tempo às vezes, no nosso País, há estados também que podem ter um momento epidemiológico diferente de outros. Como vemos, agora, Curitiba aumentando o número de casos em mais de 100%, enquanto Pernambuco mantém estabilidade há mais de um mês, com a tendência de redução. Mas, temos que lembrar que o dado que usamos aqui no Estado e no Brasil é referente principalmente a mortalidade e ocupação de leitos. Isso faz com que aumente a quantidade de tempo para termos noção da consequência daquilo que está sendo adotado como conduta. Quais as chances de enfrentarmos uma segunda onda da transmissão da Covid-19? Isso é muito complicado. Houve uma segunda onda em alguns locais, muito em razão de que havia muita gente respeitando o isolamento. Quando as pessoas saíram dessa condição, teve esse risco de uma segunda onda. Mas aqui no Brasil não alcançamos uma taxa de isolamento maior do que 70% em lugar nenhum. Não conseguimos ter essa disciplina, tivemos um resultado muito pior, constatado pelo número de morte que o País apresenta. Então, a chance de ocorrer a segunda onda por causa de uma reabertura é menor. A gente pode ter uma segunda microelevação, mas não seria uma onda como a primeira. Na sua opinião qual é a perspectiva de evolução da pandemia em Pernambuco e no Brasil? Fazemos muito pouco teste, temos que brigar contra as fake news e contra uma série de problemas com que não precisaríamos brigar. Não vemos essa briga acontecendo em alguns países. Não basta a gente brigar contra um vírus novo, temos que brigar com outras pessoas que insistem com a desinformação, isso atrapalha muito. Temos um governo que não tem ministro da Saúde, não é a questão de ser de direita ou esquerda, a questão é a necessidade de um planejamento. Qual é o planejamento do Ministério da Saúde no País agora? Ninguém sabe. O que temos é a sorte de que, pelo azar de sermos o epicentro da infecção, as empresas quererem fazer testes aqui, porque temos muita gente infectada e com uma taxa de infecção aumentando ainda. Tivemos 1.364 mortes ontem (dia 21), em 24 horas, um número absurdo. E há estados, como São Paulo, reabrindo algumas atividades, enquanto o número de mortes aumenta. Temos que entender que a ciência tem que ser usada como motivo para a conduta em todos os momentos, não só pela conveniência, ou seja, no começo ao se fazer o lockdown, a ciência era soberana. Agora, para reabertura, a ciência é esquecida? Há muito mais política do que ciência sendo levada em consideração. Meu medo é a interferência da política em conduta de saúde. Veja, eu discuto com gente sobre hidroxicloroquina, que quatro meses atrás, nunca tinha ouvido falar nesse assunto. Como é que alguém vai opinar sobre o medicamento que não sabe o que é, nunca viu um estudo a respeito do remédio, não entende de dose ou de efeito colateral, não sabe como funciona e fica dando palpite se o medicamento precisa ou não ser prescrito? Inclusive há médicos prescrevendo medicação como se off label significasse que pode ser prescrito (off label é quando o medicamento pode ser usado para o tratamento de determinada doença diferente daquela para a qual é formalmente indicado.) Todos os argumentos que usam para utilizar hidroxicloroquina eu poderia usar para dipirona para tratar a Covid-19. Ambos não têm prova que funcione. Mas alguns argumentam: mas a hidroxicloroquina tem indícios de que pode ser eficaz contra o novo coronavírus. Não tem. A dipirona também não tem. A minha perspectiva da evolução da doença é que eu acho que vai continuar tendo muitas mortes, por causa dessa grande taxa de pessoas infectadas e da baixa testagem. Vamos ficar num platô durante muito tempo, até chegar um ponto em que pode haver uma redução, mas isso só vai começar a mudar, na minha opinião, quando a

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