Engenharias no interior de Pernambuco: presente e futuro
*Por Geraldo Eugênio As gerações acima de 50 anos sabem que, até pouco tempo, era difícil a vida de um jovem do interior que pretendesse estudar algum curso de engenharia, agronomia ou geociências. Somente os mais afortunados se davam ao luxo de estudar no Recife, centro de ensino médio e superior que atraiu até o final do Século 20 estudantes do interior e de todos os estados nordestinos. O Recife competia com Salvador a primazia de quem era o centro cultural da região, com a certeza de que, do ponto de vista do ensino superior na maioria das áreas – destacando-se as engenharias, a agronomia e a geologia –, era a capital nordestina que oferecia as melhores opções. Vale chamar a atenção para o fato de que não se ousava imaginar que alguma cidade do interior pudesse contar com cursos em ciências exatas e da natureza. Tudo estava concentrado na capital. Não apenas de Pernambuco, mas de todos os estados nordestinos. Hoje, o que se vê é o fruto da consolidação dos programas de pós-graduação em todo o País, que permitiu a milhares de jovens doutores migrarem dos centros maiores para as cidades do interior onde foram instaladas as novas universidades e campi. O REUNI No primeiro mandato do presidente Lula, uma decisão foi tomada sobre a expansão do ensino médio e superior para o interior do País, iniciativa que foi denominada Reuni (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais). A primeira universidade a se beneficiar desse movimento foi a UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco), resultando na instalação do Campus de Garanhuns, em 2005, hoje Universidade Federal do Agreste de Pernambuco, seguindo-se do Campus de Serra Talhada, a UFRPE-UAST. Simultaneamente a UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), a Univasf (Universidade Federal do Vale do São Francisco), a UPE (Universidade de Pernambuco), o IFPE (Instituto Federal de Pernambuco) o IF Sertão (Instituto Federal do Sertão) foram tomando corpo e instalando suas sedes em todo território pernambucano. Esse movimento em direção ao interior do Estado e do País foi algo inédito em termos de democratização do ensino médio e superior e consistiu na real universalização da universidade pública. Algo que os Estados Unidos da América, por exemplo, haviam realizado a partir da Lei Hatch que, em 1862, em um momento de conflagração, decidiu pela instalação das Land Grant Universities. Uma iniciativa que chegou ao Brasil 150 anos depois, mas que não deixou de ser oportuna. Afinal, no momento, alguém encontrará cursos de todas as áreas e vocações em municípios distantes centenas de quilômetros das capitais. Um sonho que se tornou realidade. As engenharias se fizerem presentes O que sempre se considerou difícil, em poucos anos, o que se viu foi a presença de cursos de engenharias no Agreste e Sertão do Estado. Atualmente, entre as universidades públicas e os dois institutos federais são ofertados 30 cursos de engenharia, com mais dois em implantação quando da completa instalação do Campus de Sertânia da UFPE. Nessa ação vale ressaltar o papel da UFRPE que, nos municípios de Cabo de Santo Agostinho, Belo Jardim e Serra Talhada, oferece 10 cursos de engenharias e um de agronomia. O impacto da geração de mão de obra qualificada no interior pode ser sentido visivelmente quando se analisa a qualidade do corpo técnico das empresas de construção civil, metalmecânica, eletroeletrônica e, na última década, das empresas de instalação de parques de energia eólica e fotovoltaica, bem como das dezenas de pequenas e médias empresas no setor de energia solar em toda cidade de médio e grande porte do Estado. Valendo esclarecer que, apesar do ceticismo de alguns empresários do setor, continua em expansão acelerada. Ainda falta algo? Com essa quantidade de cursos ofertados, ainda falta algo a ser feito em termos de apoio à área das ciências exatas e da natureza no interior de Pernambuco. Há alguns hiatos não bem explicados, dentre eles o que se refere à região do Araripe e, em particular, ao município de Araripina. Como se justificar que uma cidade com aproximadamente 80 mil habitantes, localizada estrategicamente entre os estados de Pernambuco, Piauí e Ceará, tendo como principais atividades econômicas as energias renováveis e a mineração da gipsita, não possa hospedar ao menos uma universidade com ênfase em engenharia? As jazidas de gipsita e de calcário presentes no Sertão do Araripe demandam uma ação coordenada de pesquisa e difusão tecnológica, de forma que os produtos provenientes dessas duas rochas sejam melhor valorizados. Ressalte-se os ganhos que o gesso e o calcário têm proporcionado à agricultura brasileira no Cerrado, em termos de elevação de produtividade das culturas da soja, milho, algodão, café, ao oferecer tolerância à acidez do solo e o mais eficiente uso da água. Uma outra questão de natureza de mercado diz respeito à remuneração dos engenheiros. Sabidamente, os cursos de engenharia são os que demandam maior dedicação e horas de estudo por parte dos jovens estudantes. O que também faz com que os engenheiros sejam demandados para funções em administração e finanças. Por outro lado, há um certo vício em se subvalorizar essa mão de obra. Não é incomum alguém se deparar com editais de concursos de prefeituras da região oferecendo uma remuneração de dois ou três salários mínimos, algo significativamente inferior ao disposto pela legislação trabalhista para a categoria. Essa atitude, por parte dos empregadores, é um desestímulo ao ingresso nas escolas de engenharia, bem como ao ingresso de novos estudantes, correndo-se o risco de a região continuar sendo uma provedora de mão de obra para outros locais mais dinâmicos. Chegou a hora de corrigir tal distorção e valorizar os profissionais que têm a contribuir para o desenvolvimento regional em qualquer segmento econômico. Afinal, quem já viu região desenvolvida e próspera sem uma presença marcante dos profissionais das engenharias?
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