Arquivos Z_Destaque_algomais_saude - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco

Z_Destaque_algomais_saude

amaury cantilino

"O homem contemporâneo está exausto por se autoexplorar", alerta psiquiatra

Em entrevista à Revista Algomais, especialista analisa as raízes da Sociedade do Cansaço, critica a glamourização da produtividade e defende o direito ao descanso como forma de preservar a saúde mental e emocional Vivemos uma era em que estar cansado virou sinônimo de sucesso. A exaustão crônica, longe de ser um sinal de alerta, passou a ser romantizada em discursos que celebram a produtividade sem limites e a ocupação constante. Mas esse modelo tem cobrado um preço alto da sociedade. Para o psiquiatra e psicoterapeuta Amaury Cantilino, estamos imersos em uma lógica que glamouriza o desempenho e silencia o sofrimento — uma engrenagem que afeta não apenas os adultos, mas também crianças e adolescentes, gerando um ciclo contínuo de esgotamento físico e mental. Nesta entrevista ao jornalista Rafael Dantas, Cantilino aprofunda as raízes da chamada "Sociedade do Cansaço", conceito popularizado pelo filósofo Byung-Chul Han, e aponta os efeitos psicossomáticos de uma cultura que não permite pausas. Ele defende que é preciso reinventar o tempo, valorizar o ócio criativo e construir políticas públicas que reconheçam o direito ao descanso como parte essencial da saúde integral. O que nos levou a chegar à Sociedade do Cansaço? Vivemos uma época em que o tempo deixou de ser vivido, passou a ser apenas usado. A lógica da produtividade tomou conta de quase todas as áreas da vida, do trabalho aos relacionamentos, da estética pessoal à presença nas redes sociais. Mais do que fazer bem feito, temos que fazer tudo e ainda parecer felizes e incansáveis no processo. O ser humano está completamente exposto ao excesso de estímulos, cobranças e tarefas. Mas o pior: esse homem contemporâneo também está exausto por se autoexplorar. Essa autoexigência constante vem gerando o que o filósofo Byung-Chul Han chamou de “Sociedade do Cansaço”. O “animal laborans” de que Han fala tenta provar seu valor o tempo todo. É alguém que, mesmo sem necessariamente sofrer uma opressão externa, se impõe metas inalcançáveis e acaba esgotado, deprimido, em guerra consigo mesmo. Para ele, a depressão é, antes de tudo, um cansaço de fazer, de tentar dar conta. A queixa típica de quem está deprimido, que é “não consigo mais fazer nada”, só faz sentido em uma sociedade que vive dizendo que tudo é possível, desde que você se esforce o suficiente. Quando a pessoa já não consegue mais “poder”, ela se volta contra si mesma. Se culpa. Se machuca. Que indicadores apontam para uma situação de epidemia desse problema? Os sinais de que estamos diante de um problema são evidentes: crescimento nos diagnósticos de ansiedade, depressão e burnout; e uma percepção generalizada de exaustão, mesmo entre pessoas jovens e saudáveis. Há uma sensação coletiva de que estamos todos sobrecarregados, tentando dar conta de mais do que é possível. Tem algum público específico para essa sensação de cansaço mais aguda? Apesar de pensar que atinge principalmente os profissionais, tenho visto matérias falando até das crianças. É verdade. O cansaço deixou de ser um problema exclusivo dos adultos ou dos profissionais altamente exigidos. Hoje ele atinge praticamente todas as faixas etárias, inclusive as crianças e adolescentes. Nas crianças, vemos sinais de esgotamento ligados ao excesso de estímulos, à agenda cheia de compromissos (aulas, cursos, telas, redes) e à falta de tempo livre para brincar, descansar ou simplesmente “não fazer nada”, algo que é essencial no desenvolvimento saudável. É nesse tempo livre, aparentemente vazio, que a criança pode inventar mundos, conversar consigo mesma, perceber o que sente, criar. É no tédio que ela aprende a lidar com o silêncio, com a espera, com a frustração. A adolescência, que deveria ser um tempo de descobertas, experimentações e construção da identidade, tem se transformado em um período de pressão. Cada vez mais cedo, os adolescentes entram em rotinas que se assemelham às de executivos: escola pela manhã, cursinho à tarde, estudos à noite, finais de semana com simulados, redações, revisão. Pouco tempo para lazer, quase nenhum tempo para si. O vestibular, que deveria ser uma etapa importante, mas pontual, da vida escolar, virou um centro de ansiedade desde o 1º ano do ensino médio. Muitos adolescentes internalizam a ideia de que precisam estar sempre produzindo, sempre rendendo. E quando não conseguem, sentem culpa, medo, ou se julgam incapazes. Já entre os adultos, isso se intensifica com as demandas de carreira, família e um ideal de sucesso que parece inalcançável. Cada grupo vive o cansaço à sua maneira, mas o que todos compartilham é a sensação de estar sempre “no limite”. No corpo, quais os efeitos negativos gerados pelo esgotamento que vivemos, que é mental e físico? A que extremos esse problema pode levar? O corpo e a mente estão profundamente interligados — quando um adoece, o outro também sofre. O cansaço crônico, seja ele físico, mental ou emocional, pode levar a uma série de sintomas: insônia, dores musculares, enxaqueca, problemas gastrointestinais, baixa imunidade, alterações hormonais, crises de ansiedade e até quadros depressivos. Quando esse estado se prolonga, a pessoa pode chegar a um ponto de esgotamento completo. É quando o corpo literalmente “desliga”. Esse esgotamento pode levar a afastamentos do trabalho, prejuízos nos relacionamentos e perda de propósito. Porém é importante reconhecer que, embora o cansaço esteja frequentemente ligado a fatores emocionais, sociais e existenciais, como o excesso de trabalho, a pressão por desempenho ou a falta de vínculos, muitas vezes ele tem causas físicas que não podem ser ignoradas. Distúrbios do sono, alterações hormonais (como hipotireoidismo), deficiências nutricionais (especialmente ferro e vitamina B12), doenças autoimunes, cardiovasculares ou infecciosas, entre outras condições clínicas, podem se manifestar inicialmente por meio de um cansaço persistente. Por isso, diante de uma fadiga prolongada, é fundamental realizar uma avaliação médica cuidadosa, que investigue tanto os aspectos físicos quanto os emocionais. Cuidar da saúde de forma integral é compreender que corpo e mente não estão separados e que o cansaço pode ser o primeiro sinal de que algo, em alguma dessas dimensões, precisa de atenção. Diferente de outros males, como a solidão e a depressão, penso que parte do cansaço

"O homem contemporâneo está exausto por se autoexplorar", alerta psiquiatra Read More »

terapia aquatica criancas

Fisioterapia aquática auxilia no desenvolvimento motor infantil com segurança e bem-estar

Tratamento pode ser iniciado nos primeiros meses de vida e é indicado para crianças com TEA, paralisia cerebral e atraso motor A fisioterapia aquática vem se consolidando como uma ferramenta eficaz e segura no cuidado com o desenvolvimento motor de crianças com condições médicas ou neurológicas. Realizada em piscinas aquecidas e sob a orientação de profissionais especializados, a técnica utiliza os benefícios da água para promover ganho de força, equilíbrio, coordenação e autonomia funcional, de forma lúdica e prazerosa. Na Clínica Fisio FPS, localizada na Imbiribeira, o atendimento especializado ocorre de segunda à quinta, das 14h20 às 17h05. A fisioterapeuta pediátrica Juliana Calábria explica que o meio aquático favorece a execução de movimentos difíceis de realizar em solo firme. “A flutuação reduz o impacto nas articulações e facilita o deslocamento corporal. Além disso, a resistência natural da água contribui para o fortalecimento muscular de forma segura e lúdica”, ressalta. “A água é um ambiente que estimula o corpo todo. A criança se sente mais livre para explorar seus movimentos, o que favorece a reabilitação e o aprendizado motor com mais prazer e segurança”, acrescenta Juliana. Entre os benefícios observados estão também melhorias no sono, no estado emocional e na autoestima, além da promoção da socialização infantil. O tratamento pode ser iniciado desde os primeiros meses de vida, sempre com avaliação prévia e indicação profissional. Crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), paralisia cerebral, Síndrome de Down ou atraso no desenvolvimento motor estão entre as que mais se beneficiam com a fisioterapia aquática. A avaliação individualizada é essencial para descartar contraindicações absolutas ou relativas. Serviço📍 Clínica Fisio FPS – Imbiribeira, Recife🗓 Segunda à quinta, das 14h20 às 17h05📞 Informações e marcações: (81) 3312-8268 | WhatsApp: (81) 9.7335-5602💧 Atendimento gratuito para as comunidades de Tijolos e Tijolinhos; valores acessíveis para outras localidades.

Fisioterapia aquática auxilia no desenvolvimento motor infantil com segurança e bem-estar Read More »

FW Revista Algomais saude mental capa

Reflexões sobre Saúde Mental: palestra propõe nova forma de lidar com os desafios da vida

Psicóloga Adriana Moraes apresenta abordagem baseada na terapia cognitivo-comportamental em evento no dia 29 de julho, no Centro Cultural Marcos Hacker de Melo Você já parou para pensar como a forma de encarar os problemas pode impactar diretamente sua saúde mental? Em tempos de pressa, sobrecarga e conexões digitais constantes, refletir sobre o bem-estar emocional se tornou uma necessidade urgente. Com esse propósito, a psicóloga, professora e escritora Adriana Moraes ministra a palestra “Reflexões sobre saúde mental” na próxima terça-feira, 29 de julho de 2025, às 19h30, no auditório do Centro Cultural Marcos Hacker de Melo (MHM), em Boa Viagem, Recife. Os ingressos custam R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia-entrada). Como lidar melhor com as adversidades da vida? A proposta da palestra parte de uma perspectiva da terapia cognitivo-comportamental (TCC), método terapêutico que ajuda a compreender como pensamentos, emoções e comportamentos se conectam. A ideia é ensinar, de forma acessível, como é possível desenvolver habilidades emocionais para lidar com situações difíceis do dia a dia, enfrentando os desafios com mais equilíbrio e inteligência emocional. Segundo Adriana Moraes, ao observar e reinterpretar os pensamentos automáticos que temos diante das situações, é possível mudar comportamentos e promover maior bem-estar subjetivo. A psicóloga convida o público a refletir sobre como criar uma “mente tranquila”, fazendo referência à sabedoria oriental de Lao-Tsé: “O universo inteiro se rende a uma mente tranquila.” Conteúdo prático com exemplo de vida real Durante a palestra, será apresentada a história de uma personagem fictícia, criada com base em atendimentos terapêuticos reais, para exemplificar como crenças limitantes podem ser identificadas e modificadas. Através dessa narrativa, os participantes aprenderão a: Por que participar? O evento é uma excelente oportunidade para quem deseja aprimorar o autoconhecimento, aprender estratégias eficazes para cuidar da saúde mental e começar uma jornada de crescimento pessoal e emocional. A palestra é voltada ao público geral, não sendo necessário conhecimento prévio em psicologia. Serviço: Palestra “Reflexões sobre saúde mental” 📅 Data: Terça-feira, 29 de julho de 2025🕢 Horário: 19h30📍 Local: Auditório do Centro Cultural Marcos Hacker de Melo – Boa Viagem, Recife🎟️ Ingressos: R$ 60,00 (inteira) | R$ 30,00 (meia-entrada)

Reflexões sobre Saúde Mental: palestra propõe nova forma de lidar com os desafios da vida Read More »

FW Revista Algomais Capa Masso

Massoterapia e treino: um combo poderoso para sua performance

Mais do que relaxar, a massagem certa pode acelerar sua evolução na academia. Com técnicas terapêuticas e orientais, a massoterapia tem conquistado cada vez mais atletas e praticantes de musculação, corrida e crossfit. Alívio das tensões, recuperação muscular e foco mental são apenas alguns dos ganhos observados por quem inclui esse cuidado na rotina. A força do toque: como a massoterapia pode turbinar seus treinos. Confira dicas com a personal trainer e massoterapeuta Eva Samantha. Massoterapeuta e profissional de Educação Física Eva Samantha da Silva explica como a prática, cada vez mais procurada por homens e mulheres, contribui para a performance, prevenção de lesões e equilíbrio do corpo e da mente Treinar forte não é apenas sobre levantar peso ou correr mais. Também é sobre saber recuperar, respeitar o corpo e se preparar para os próximos estímulos. É aí que entra a massoterapia como aliada poderosa na jornada fitness. A profissional de Educação Física e massoterapeuta Eva Samantha da Silva, que atua como personal trainer há 7 anos e há 4 também com terapias corporais, tem percebido um crescimento constante da procura por seus atendimentos — tanto em consultório quanto domiciliar. “A massoterapia tem deixado de ser vista apenas como algo relaxante e passou a ser uma estratégia real para melhorar o desempenho físico. Ela acelera a recuperação, ajuda a prevenir lesões e ainda contribui para o foco emocional, algo essencial em treinos de força e resistência”, afirma Eva. Entre os públicos mais frequentes estão praticantes de musculação, crossfit e corredores de rua. “As mulheres lideram na procura, mas o número de homens que estão se cuidando com massoterapia para melhorar a performance também está crescendo”, revela a profissional. As técnicas utilizadas variam de acordo com o perfil e a demanda de cada pessoa. Entre as mais procuradas estão a massagem terapêutica, a ventosoterapia, o uso de pedras quentes e a técnica Guasha — todas com o objetivo de promover o equilíbrio corporal e acelerar a recuperação entre uma sessão de treino e outra. “Após um treino intenso, o músculo precisa de estímulo para liberar as tensões acumuladas e se regenerar. Com o auxílio da massoterapia, esse processo é mais rápido e eficaz. Além disso, o aumento da flexibilidade e o relaxamento muscular ajudam a executar os exercícios com mais amplitude e segurança, o que evita lesões e melhora os resultados”, explica. Por que incluir a massoterapia na sua rotina fitness? Recuperação muscular mais rápidaMassagem terapêutica e ventosas aliviam tensões e otimizam o tempo entre treinos. Melhora da flexibilidadeMúsculos relaxados e irrigados ampliam os movimentos com mais conforto. Prevenção de lesõesA liberação de tensões evita sobrecargas e dores que comprometem os treinos. Mais energia e desempenhoTécnicas como pedras quentes e Guasha revitalizam e diminuem retenções. Equilíbrio emocional e focoMenos estresse, mais concentração nos treinos e nos resultados. Cuidar do corpo vai além da musculação ou da corrida. É preciso recuperar, regenerar e reconectar. Incorporar a massoterapia na rotina de treinos é um investimento inteligente que transforma o desempenho, protege contra lesões e renova sua disposição. Porque, no fundo, tão importante quanto levantar peso, é saber aliviar a carga. Informações: @evapersonal Colônia de férias gratuita Dança, esportes, atividades lúdicas e muita brincadeira. De olho nos pequenos que estão em férias escolares, a Prefeitura do Recife lança o programa Brinca Recife. As atividades, totalmente gratuitas, ocorrem até 27 de julho. A programação completa está no app Conecta Recife  ou pelo site https://conecta.recife.pe.gov.br, onde os papais, mamães e cuidadores também podem conferir quais são as oficinas e atividades que requerem inscrições prévias e como fazê-las.  Condomínios Caruaru investem em bem-estar, fitness e qualidade de vida Diante da rotina agitada de muitos brasileiros, condomínios de alto padrão vêm se adaptando às novas demandas de estilo de vida ao integrar soluções voltadas ao bem-estar e qualidade de vida. Em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, o Reserva Portugal – primeiro empreendimento de alto padrão dentro da cidade – incorpora essa tendência com mais de 3.000 m² de áreas comuns projetadas para lazer, convívio e práticas saudáveis. Estrutura fitness completa e funcional A academia do condomínio foi pensada com consultoria especializada para unir conforto, eficiência de treino e design. Com equipamentos modernos de musculação, espaços para atividades aeróbicas, funcionais e aulas coletivas, o destaque é o box de cross training – uma estrutura inédita na região, adaptada também para públicos infantil e 60+. O objetivo é garantir treinos seguros e frequentes, otimizando tempo sem sair de casa. Natureza e relaxamento integrados ao dia a dia Para quem prefere se exercitar ao ar livre, o Bosque Clarice Gomes, com trilhas em meio à mata nativa, oferece uma experiência de conexão com a natureza e saúde mental. Já no SPA, os moradores contam com sala de massagem, sauna, hidromassagem e piscina aquecida – ambientes criados para restaurar corpo e mente com tranquilidade e conforto. O Reserva Portugal ainda conta com quadras de beach tennis, tênis, futebol society e piscina de 60 metros com borda infinita, reafirmando o compromisso de entregar um condomínio que vai além da moradia: promove equilíbrio, saúde e bem-estar em cada detalhe do projeto. CREF12/PE se reúne com TCE-PE para fortalecer políticas públicas em esporte, saúde e educação O Conselho Regional de Educação Física da 12ª Região/Pernambuco (CREF12/PE) esteve reunido com o vice-presidente do Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco (TCE-PE), conselheiro Carlos Neves. O encontro teve como foco o fortalecimento da relação institucional entre os órgãos e a articulação de ações conjuntas para fiscalizar recursos públicos, combater irregularidades e aprimorar políticas públicas nas áreas de esporte, educação e saúde. O CREF12/PE apresentou propostas que incluem a orientação a gestores públicos na criação dos Sistemas Municipais e Estaduais de Esporte, abrangendo a implantação de planos, conselhos, conferências, fundos, bolsas e leis de incentivo ao esporte. O Conselho também reforçou a importância do cumprimento da Lei Lucas (13.722/2018), da garantia do novo piso salarial nacional dos professores da rede pública, do pagamento de horas-aula de planejamento e da melhoria da infraestrutura das instituições de ensino. Desde

Massoterapia e treino: um combo poderoso para sua performance Read More »

ana elizabeth

Ana Elizabeth Cavalcanti: "Vivemos numa sociedade incompatível com a vida humana"

A psicanalista Ana Elizabeth Cavalcanti, sócia do CPPL (Centro de Pesquisa em Psicanálise e Linguagem), faz uma análise contundente da crise de saúde mental no Brasil, apontando as raízes estruturais que adoecem o sujeito contemporâneo: hiperindividualismo, precarização do trabalho, colapso ambiental e culto à alta performance. Ansiedade, depressão, síndrome de burnout, compulsões, fobias. Esses sintomas têm se alastrado como uma epidemia silenciosa, atravessando faixas etárias, classes sociais e ocupações diversas. Mas o que há de comum nas causas desse adoecimento coletivo? Para a psicanalista Ana Elisabeth Cavalcanti, o problema não está nas pessoas, mas no sistema. “O capitalismo tardio, em sua versão neoliberal, criou um ambiente hostil à vida”, afirma. Na entrevista a seguir, Elizabeth traça conexões entre saúde mental, desigualdade, solidão, tecnologia e cultura da performance. E alerta: tratar os sintomas sem questionar o modelo de sociedade é como tentar conter um grande incêndio com baldes d’água. Com linguagem acessível e posicionamento firme, ela propõe que as saídas não sejam apenas individuais, mas comunitárias e políticas, pautadas no fortalecimento de vínculos, na solidariedade e na reconstrução de um ideal de bem-estar coletivo. Qual é o cenário base para explicar o avanço dos problemas de saúde mental que tem nos afetado com sintomas tão distintos? A gente está vivendo um capitalismo tardio que, do meu ponto de vista, é incompatível com a vida humana. Então, temos uma concentração de riqueza absurda e muitos em situação de vulnerabilidade extrema. Atualmente, o que importa é o lucro, é juntar muito dinheiro. Isso desfaz algumas condições que são indispensáveis para o ser humano, como a questão da solidariedade e das redes de apoio, que inclui família, amigos e também mecanismos sociais.  Hoje, infelizmente, nada é mais retrógrado do que pensar no estado de bem-estar social. Isso não significa que não haja pobres e ricos, mas significa que o estado deveria garantir o mínimo de bem-estar social, seja por meio de políticas públicas, seja por meio de políticas afirmativas ou de programas, como nós temos aqui com o Bolsa Família e o Pé de Meia. Por outro lado, dentro dessa mesma lógica, as pessoas foram “transformadas” em empreendedores de si mesmos. Muitas vezes, são pessoas em condições de miserabilidade, que vivem entregando coisas, atropelando-se nos sinais, voando com as motos e com as bicicletas, porque precisam produzir muito para ganhar pouco. Então, temos hoje esse fenômeno incrível que é o fato de 60% dos jovens abominarem a CLT [Consolidação das Leis do Trabalho]. Preferem ser empreendedores. É uma precarização absurda e que é englobada por esse discurso falacioso do neoliberalismo de que é mais importante empreender do que ter um trabalho com as suas garantias. Vivenciamos esse combate há muito tempo contra a CLT. Isso tem relação com o discurso de incentivo para o indivíduo “sair da zona de conforto”? A rigor, ninguém vive sem zona de conforto. Mas não estou falando de uma pessoa que é preguiçosa. É necessário ter sua zona de conforto, suas ilhas de conforto. Ninguém vive sem isso. É outra falácia.  É uma mensagem de que você não pode descansar, não pode ter seu momento de ócio criativo, nada disso é admitido. Aí, passam a existir apenas duas qualidades: consumidores e produtores. Duas coisas que estão interligadas porque para consumir é preciso ser produtivo.  Acho que a gente caminhou nesse sentido e chegará um momento em que vai surgir outra alternativa. Mas o que se desenvolveu é incompatível, vai surgir aí desse caldo alguma coisa diferente, mais compatível com a condição humana. Há um outro lado. A ideia de que é preciso dar sempre o máximo no trabalho. Quando a pessoa não suporta a pressão ou não atinge as metas incumpríveis, tudo isso é creditado ao indivíduo. Ninguém se pergunta se o que está ali em jogo é um sistema, uma exigência sobre-humana. Todo mundo vai dizer: “ah, isso aconteceu porque você não foi suficientemente competente, você não foi atrás dos seus objetivos; se você for atrás, se você fizer tudo, você vai alcançar os seus objetivos”.  Aliado a isso também, vivemos um período de exigência tecnológica que é imensa e que está corroendo a cabeça de muita gente, sobretudo das crianças, que não sabem mais esperar. Elas ficaram mais imediatistas, o mínimo de espera as torna completamente ansiosas. Não é uma patologia. Mas a criança vive pendurada numa tela, sendo bombardeada com informação de forma passiva, informações muitas vezes de que não dão conta. Daqui a pouco, elas não têm mais paciência de ler um texto de duas páginas porque estão habituadas a essas mensagens curtíssimas que você lê rapidamente. A gente tem o que poderia chamar de um ambiente extremamente hostil à vida humana. Quais são os efeitos no corpo de quem vive constantemente nessa situação de estresse? Existem as doenças chamadas psicossomáticas que são reumatológicas, alergias de todo tipo, gastrite, doenças autoimunes que têm tido um crescimento enorme. E há algo muito preocupante: o aumento exponencial do câncer que tem uma ligação com tudo isso, porque as pessoas não têm tempo de se alimentar, de fazer comida, só comem alimentos ultraprocessado porque são rápidos. Então, é muito contraditório porque a preocupação com a saúde e com o corpo ficou priorizada. Mas, acontece que a preocupação é com a performance, é produzir o máximo, é não envelhecer, é estar magro, é estar com o rosto todo harmonizado… É uma contradição estar se cuidando mas almejando um corpo performático, que não pode envelhecer, que não pode ter nenhum desvio.  É muito incrível porque a gente chama de cuidado, mas nisso entra a utilização de medicamentos, anabolizantes, ou seja, o que se chama de cuidado é voltado para a performance. É também fruto de muita angústia porque esses corpos que aparecem na internet com mil filtros são ideais inalcançáveis.  A exposição das redes sociais proporciona a comparação com esses modelos inalcançáveis? Eu acho que um dado dessa nossa cultura hoje é o oferecimento social de ideais que são inalcançáveis. Isso gera muita angústia. Ninguém vive sem ter ideais.

Ana Elizabeth Cavalcanti: "Vivemos numa sociedade incompatível com a vida humana" Read More »

FW Italo e Emilia Capa

Especialistas garantem: corrida também é coisa de criança 

Há benefícios cardiovasculares, na coordenação motora, no controle da ansiedade e afugenta a meninada das telas e do sedentarismo Correr é uma ação natural para a maioria das crianças e já faz parte de muitas de suas brincadeiras. Já experimentou aproveitar toda a energia que elas têm em uma corrida? Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o esporte auxilia em muitos aspectos no desenvolvimento dos pequenos: flexibilidade, resistência, aperfeiçoamento de coordenação motora, estímulo do metabolismo ósseo, aumento da capacidade respiratória e cardíaca, melhora do humor e do apetite, diminuição do risco de hipertensão, diabetes, cardiopatia e prevenção da obesidade.  O profissional de Tecnologia e Inovação Ítalo Simões, de 46 anos, começou a correr há 13 anos. Já fez 35 maratonas e, este ano, fará novas três. A filha Emília, de seis anos, sempre o viu treinando e nas corridas, por isso, virou fã e o acompanha nas competições. “Minha esposa gosta muito de nadar. Sabemos que atividade física é hábito e é isto que queremos criar nela, sermos exemplo”, explica.  Aos papais e mamães que nunca apresentaram a corrida aos filhos, o profissional de educação física Deco Nonato, que tem mais de 20 anos de experiência no assunto, alivia os corações. “É um dos melhores exercícios cardiovasculares existentes. Também auxilia na manutenção do peso, melhora a resistência e consciência corporal.  Ajuda a aumentar a confiança, além de controlar a ansiedade. Mas é importante que seja prazeroso e que a criança possa guardar na memória a sensação de diversão”, explica.  Segundo a expectativa do mercado, as corridas de rua no Brasil devem registrar alta de 25% em 2025. E parte delas já vem se dedicando ao público infantil. A mais famosa dentre elas é a São Silvestrinha, em São Paulo. A edição de 2025 está prevista para o dia 14 de dezembro, na pista de atletismo do Centro Olímpico. “Corridas infantis, embora sejam curtas, são motivadoras. Enquanto quem as acompanha do lado de fora fica entusiasmado com os atletinhas, quem participa delas começa a tomar gosto pelo esporte”, avalia Deco.  Para quem se animou, já pode ir preparando as pernocas da meninada. Nas férias escolares, uma grande aventura está por vir ao Recife: a Smurf Run, no dia 27 de julho, no Shopping Recife. Diversão e movimento para várias idades, com direito a correr com os pequenos (em dupla ou trio), 5Km para os adultos, além de poder colocar o cãozinho para esticar as patinhas. Uma corrida para integrar e divertir toda a família - com a presença do Papai Smurf e da Smurfette! Lembra da Emília, filha do Ítalo, que falamos lá no começo? Então, ela soube da corrida dos Smurfs, ficou super animada e está treinando com o papai. “Pensamos em fazer uma rotina de treinos. Como moramos próximo ao Parque da Jaqueira, estamos correndo 100 metros e andando outros 100m. E ela já chamou logo as amigas da escola pra correr também. Vai ser uma grande festa…. Vai ser massa!”, completa Ítalo.  À frente da organização técnica da Smurf Run, Deco Nonato lembra que o evento se  propõe como um ambiente lúdico, que não estimula a competição, mas para fazer os pequenos brincarem com novos e velhos amigos. “Quanto maior a variedade de atividades físicas a criança fizer, mais fácil será para ela se dedicar aos esportes quando adultos, livrando-as das telas e do sedentarismo, naturalmente. O importante é colocar o corpo em movimento, desde cedo. Agora, caso ela mostre o desejo de correr regularmente, aí, a atividade pode ser inserida, gradativamente, e com acompanhamento profissional”, orienta o especialista.  Para cada faixa etária, um esporte pra chamar de seu Em maio deste ano, a Sociedade Brasileira de Pediatria lançou um documento científico (https://encr.pw/I1X1T) sobre a prática de esportes entre crianças e adolescentes. O texto faz recomendações gerais de atividades físicas por faixa etária: De 0 a 2 anos: crianças que conseguem andar sozinhas devem permanecer fisicamente ativas todos os dias, durante pelo menos 180 minutos, em atividades leves (ficar de pé, mover-se, rolar e brincar) e atividades mais energéticas (saltar, pular e correr). Recomenda-se que o tempo de tela (TV, tablet, celular, jogos eletrônicos) seja zero; De 3 a 5 anos: devem acumular pelo menos 180 minutos de atividade física de qualquer intensidade distribuída ao longo do dia. Brincadeiras ativas, andar de bicicleta, atividades na água, jogos de perseguir e jogos com bola são as melhores maneiras para essa faixa etária se movimentar; De 6 a 19 anos: devem acumular pelo menos 60 minutos diários de atividades físicas de intensidade moderada a vigorosa, aquelas que fazem a respiração acelerar e o coração bater mais rápido, tais como: pedalar, nadar, brincar em um playground, correr, saltar e outras que tenham, no mínimo, a intensidade de uma caminhada. Atividades de flexibilidade e de intensidade vigorosa, incluindo aquelas que são capazes de fortalecer músculos e ossos, devem ser realizadas pelo menos três dias por semana. Smurf Run, uma experiência para toda a família No dia 27 de julho, a garotada vai estar em peso na Smurf Run, saindo do Shopping Recife, na Zona Sul da cidade. A concentração será às 5h30, com largadas a partir das 7h da manhã. Será uma jornada para toda a família, de (quase) todas as idades e habilidades! Tem percursos desde o de 0,5 Km até o de 2 Km, podendo participar crianças dos dois aos 13 anos.  A experiência pode até ser vivida juntinhos! Para quem quiser acompanhar seus pequenos, pode correr em dupla (01 adulto + 01 criança) ou em trio (01 adulto + 02 crianças). A Smurf Run ainda contempla a Dog Run (2.5 Km), com os pets, e corrida de 5 Km, para os adultos.  A diversão é estar em movimento, mas, claro, terá lazer para todos os gostos. Papai Smurf e Smurfette estarão à disposição dos fãs para sessão de fotos. Também haverá áreas para os aumigos da família e, claro, espaço fun para as crianças, com brinquedos infláveis, pipoca, pinturinha e muito mais!  As inscrições custam a partir

Especialistas garantem: corrida também é coisa de criança  Read More »

ferias brincadeiras ludicas

Férias sem telas priorizam vínculo familiar e estimulam o desenvolvimento infantil  

Especialistas reforçam a importância das brincadeiras lúdicas e alertam para os efeitos do uso excessivo de dispositivos eletrônicos nas férias escolares   Com a chegada das férias escolares de julho, muitas famílias buscam alternativas para entreter as crianças longe das telas. Embora a praticidade dos dispositivos eletrônicos pareça uma solução rápida, especialistas alertam que o uso excessivo desses recursos pode trazer impactos significativos ao desenvolvimento infantil. Para auxiliar pais e responsáveis, educadores destacam o papel fundamental das brincadeiras livres, interativas e com envolvimento direto da família.   Segundo Reginaldo Arthus, professor de Pedagogia da Wyden, a infância é marcada por uma intensa capacidade de aprendizagem e criação, que deve ser estimulada com experiências reais. Ele afirma que a brincadeira é uma ferramenta essencial para o desenvolvimento emocional, social e cognitivo das crianças e, quando envolve a participação dos pais, ganha ainda mais valor afetivo. "A etapa ativa de descoberta das potencialidades do corpo por parte das crianças não deve ser substituída pela passividade pétrea promovida pelo feitiço da Medusa das telas dos celulares. Vamos entregar mais vida ativa para nossas crianças", destaca Arthus.   O especialista explica que o uso prolongado de celulares, tablets e outros eletrônicos pode provocar dificuldades de concentração, problemas de socialização, distúrbios do sono e até aumento dos casos de miopia. Com o avanço da tecnologia, especialmente após a pandemia, as telas passaram a ocupar um espaço expressivo no cotidiano das crianças, o que exige equilíbrio e estímulo a outras formas de lazer e expressão.   Para Arthus, o envolvimento da família nas atividades lúdicas é decisivo. Crianças com menos exposição às telas tendem a ser mais criativas e autônomas, inventam jogos, exploram o ambiente e desenvolvem habilidades importantes para a vida.   Na mesma linha, o professor João Paulo Manechini, docente de Educação Física da Estácio, ressalta que, além dos ganhos emocionais e cognitivos, as brincadeiras ativas são fundamentais para a saúde física das crianças. Ele destaca que atividades como esconde-esconde, pega-pega, corridas e circuitos contribuem para a coordenação motora, o equilíbrio e ajudam a combater o sedentarismo, a obesidade e outros problemas decorrentes da inatividade.   Segundo o docente, brincar é também uma forma natural de praticar exercícios, e as férias escolares representam uma oportunidade para os pais se reconectarem com os filhos por meio de atividades simples. Não é preciso grandes recursos: uma ida ao parque, um jogo de bola, pular corda ou andar de bicicleta já oferecem ótimas ocasiões de lazer em família.   Essas experiências, além de divertidas, fortalecem os vínculos afetivos, desenvolvem a imaginação e criam memórias afetivas duradouras. Para os especialistas, as férias são um convite a desacelerar e estar presente, e, com criatividade e afeto, é possível transformar esse período em algo inesquecível para toda a família.   O médico pediatra Rafael Costa, docente do IDOMED (Instituto de Educação Médica), reforça os alertas sobre os efeitos negativos do excesso de telas na infância. Segundo ele, há uma relação direta entre a superexposição a dispositivos eletrônicos e o aumento de quadros de ansiedade, irritabilidade, atrasos na linguagem e alterações no padrão de sono das crianças. “O cérebro infantil está em formação e é extremamente sensível aos estímulos externos.    Quando exposto por longos períodos a conteúdos digitais, especialmente em idade precoce, esse cérebro pode sofrer alterações nas conexões neurais responsáveis pela atenção, memória e regulação emocional”, explica o médico.   Rafael destaca ainda que o tempo excessivo diante das telas também compromete interações humanas essenciais para o desenvolvimento social. “A criança precisa olhar nos olhos, interpretar gestos, compreender expressões. Esses aprendizados não se dão por meio de um vídeo no celular, mas nas relações reais, com seus pares e com os adultos ao redor”, pontua.   Para o pediatra, o equilíbrio é o caminho: estabelecer limites claros para o uso de eletrônicos e oferecer opções atrativas e envolventes no mundo real são atitudes que fazem diferença. “Desligar a tela é um gesto de cuidado. Brincar, correr, conversar, imaginar, isso sim é infância em sua plenitude”, conclui.

Férias sem telas priorizam vínculo familiar e estimulam o desenvolvimento infantil   Read More »

Epidemia da Solidao

Solidão: um problema de saúde pública que afeta multidões

Segundo a OMS, ela se tornou uma epidemia global, provocada pelo modo de vida contemporânea que afeta de adolescentes a idosos e pode atingir não só a mente, como também influenciar no surgimento de doenças cardiovasculares, diabetes, entre outras. Esta é a primeira reportagem da série Epidemias Contemporâneas. *Por Rafael Dantas A solidão foi classificada desde 2023 pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como uma epidemia global. No Brasil, apesar de toda a imagem de um País alegre e dançante, 38% das pessoas entrevistadas pela pesquisa Gallup-Meta State of Social Connections afirmam sentir-se solitárias com frequência e 5% disseram estar completamente isoladas socialmente. Sejam jovens ou idosos, o avanço desse tipo de sentimento tem múltiplas raízes contemporâneas e traz prejuízos reais para o organismo e o bem-estar de pessoas de todo o mundo. Rayssa Figueiredo, 33 anos, convive há quase 10 anos com o sentimento de solidão. Moradora da cidade de Olinda, a publicitária é casada e tem uma filha. Por muito tempo frequentou igrejas. Mas mesmo com a família e com o convívio em comunidades religiosas, ela luta contra essa sensação que começou com um momento de luto e de várias transições na vida. “A solidão começou no período da morte do meu pai, que coincide com o fim da faculdade, mudança de cidade e tomada da responsabilidade da casa”, explica. As dores desse sentimento mexem com seu estado emocional. “Hoje isso afeta meu humor de forma sufocante. O silêncio da solidão, mesmo que rodeada de pessoas, é constrangedor”. Apesar dessa dor ainda permanecer no seu cotidiano, ela já foi pior. Rayssa revela que houve uma época em que o silêncio era um gatilho para crises suicidas. Ela procurou ajuda com terapia, quando percebeu que se aproximaria uma nova tentativa de suicídio. “A solidão é a minha pedra amarrada na perna. Tem dias que consigo desamarrar a corda e deixar a pedra na cama, em outros momentos ela me afunda em um poço de melancolia” Além do acompanhamento profissional, ela afirma procurar não ficar sozinha fisicamente. E segue enfrentando dia a dia esse sentimento, buscando manter o contato com outras pessoas, mesmo que o ciclo se repita. Amaury Cantilino ressalta os impactos das grandes cidades, que impõem rotinas exaustivas, deslocamentos longos, jornadas competitivas e uma vida vivida em função do trabalho. “Nessa lógica, perdemos a convivência mais cotidiana com a família, com os vizinhos, com os amigos de infância.” RAÍZES DA SOLIDÃO A luta de Rayssa é vivida também por várias pessoas e já é considerada um desafio para a saúde pública. A própria OMS criou uma Comissão Internacional para Conexão Social para enfrentar essa nova pandemia. Após todos os traumas da Covid-19, o termo parece ser um exagero. Mas, segundo o psiquiatra e psicoterapeuta Amaury Cantilino, não é. “Podemos falar em uma verdadeira epidemia da solidão. O termo pode parecer exagerado à primeira vista, mas reflete um fenômeno crescente e silencioso que tem se espalhado em diferentes faixas etárias e classes sociais. Apesar dos avanços tecnológicos, do aumento da expectativa de vida e de vivermos em sociedades mais conectadas do que nunca, nunca estivemos tão sozinhos”, revelou o psiquiatra. As transições acentuadas no estilo de vida contemporâneo estariam relacionadas ao avanço da solidão. A migração de muitas pessoas para os grandes centros urbanos, distantes das suas famílias de origem, seria uma das razões apontadas pelo médico. Além da desconexão com os laços de parentescos, a própria dinâmica das metrópoles obriga a uma rotina com menor interação social e humanizada. “As grandes cidades oferecem muitas oportunidades, mas também impõem rotinas exaustivas, deslocamentos longos, jornadas competitivas e, frequentemente, uma vida vivida em função do trabalho. Nessa lógica, perdemos a convivência mais cotidiana com a família, com os vizinhos, com os amigos de infância. A informalidade das relações – aquele café sem pressa, a conversa na calçada ou o papo que surge do nada – foi sendo substituída por encontros marcados com antecedência e agendas lotadas. Estamos cercados de conhecidos, mas com cada vez menos amigos”, explicou Cantilino. As relações foram ficando cada vez mais profissionais ou mediadas por ferramentas digitais. Conhecer pessoas virou uma experiência de criar um networking. A conversa, a afetividade e o tempo juntos se transformou em uma troca de mensagens de texto ou o envio de emojis numa rede social. Um contexto mais distante que conduz a uma sensação de não pertencimento dos grupos sociais e, também, de não ter alguém por perto para compartilhar o cotidiano. Vários institutos de pesquisa apontam o Brasil nos primeiros lugares no ranking do uso das redes sociais. Porém, os milhares de amigos no Facebook, seguidores no Instagram ou conexões no Linkedin não se refletem em relacionamentos. O próprio WhatsApp, que é uma ferramenta muito relevante para aproximar as famílias e amigos distantes, com as chamadas de vídeo e a facilidade no compartilhamento de mensagens, acaba contribuindo também para o isolamento. Um estudo publicado em 2024 pela We Are Social e da Meltwater revelou que os brasileiros passam 9 horas e 13 minutos por dia na internet. EFEITOS NOCIVOS PARA A SAÚDE (NÃO APENAS MENTAL) A solidão é uma experiência comum e pode até ser positiva em certos momentos, mas merece atenção quando começa a provocar sofrimento e comprometer a qualidade de vida, alerta o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo. “A solidão faz parte da vida de todo mundo em algum momento e às vezes é até bom para o nosso autoconhecimento estar só. Mas ela passa a ser um problema quando se torna constante e começa a afetar o bem-estar. Se uma pessoa se sente sozinha com frequência, mesmo estando cercado de outras pessoas, está sempre triste, desanimada e perde interesse em coisas que antes eram prazerosas, pode ser um sinal de que algo não vai bem”. Além do sofrimento das pessoas que se sentem sozinhas, os efeitos na saúde são múltiplos e já comprovados cientificamente. “Diversos estudos mostram que essas pessoas têm mais risco de desenvolver depressão e ansiedade. Ela desorganiza o sono, afeta

Solidão: um problema de saúde pública que afeta multidões Read More »

FW Revista Algomais CAPA ELTON ALVES PERSONAL

O segredo que muitos corredores ignoram: o poder do treino de força contra lesões

Fortalecer o corpo é tão essencial quanto correr. Especialistas e corredores revelam como o treino de força e neuromuscular impactam a performance e diminuem os riscos de lesão. Conversamos com o Professor Elton Alves sobre o assunto. A base invisível que sustenta cada passo Colocar o tênis, ativar o relógio e sair correndo. Para milhões de brasileiros, a corrida é liberdade, saúde e superação. Mas o que parece simples exige do corpo uma complexidade muscular, articular e neurológica que vai muito além do movimento de correr. E é aí que mora um erro comum: deixar de lado o fortalecimento físico, o que pode custar caro para o corredor, seja ele amador ou experiente. “Evitar lesões de forma absoluta é impossível. Mas conseguimos reduzir muito os riscos com estratégias bem aplicadas. E o treino de força e neuromuscular é uma delas, talvez a principal”, afirma o Profissional de Educação Física Elton Alves. Corrida cresce, mas lesões também O Brasil é hoje o segundo país com mais corredores do mundo. Segundo dados do Strava, são mais de 19 milhões de praticantes, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Em 2024, o país registrou mais de 2.800 eventos de corrida de rua. O esporte atrai cada vez mais adeptos por ser acessível, prazeroso e transformador. Mas há um alerta. Um estudo de 2021 revelou que 80% dos corredores de longa distância já tiveram ao menos uma lesão. Entre os corredores de curta distância, a taxa foi de 44%. A explicação está na sobrecarga dos tecidos corporais — músculos, tendões, ligamentos e ossos — que, sem o preparo adequado, cedem à repetição de impacto. “A corrida é repetitiva, exige demais do corpo e provoca microtraumas. Se o corpo não estiver preparado para suportar essa demanda, as lesões são uma consequência esperada”, reforça Elton. Força e controle: o que o treino específico entrega ao corredor O treino de força envolve muito mais que levantar pesos. Para corredores, ele trabalha pilares como força máxima, potência, resistência muscular e isometria. Já o treinamento neuromuscular ativa o sistema nervoso para melhorar o controle motor, equilíbrio, estabilidade articular e coordenação. Esses dois tipos de treino: “A ideia não é transformar o corredor em uma escultura de academia. O foco é preparar seu corpo para performar melhor e com mais segurança”, destaca Elton. Cada corpo, uma pisada. E cada pisada, uma exigência Outro fator determinante para a individualização do treino é o tipo de pisada: “Sem avaliação, o treino pode gerar mais lesão do que benefício. O corredor precisa entender como pisa, quais músculos estão fracos e o que deve ser fortalecido para que a corrida seja sustentável a longo prazo”, diz Elton Alves. Três trajetórias que mostram como a força transforma a corrida Juliana Souza Leão: força que sustenta a leveza A microempreendedora Juliana Souza Leão, 42 anos, já corre há nove anos. Mas foi só nos últimos dois que percebeu uma verdadeira transformação no corpo e na performance. “Antes, eu corria só correndo. Mas depois que comecei o treino de força voltado para a corrida, tudo mudou. Me sinto mais forte, mais estável. Até quando dou meu máximo numa prova, meu corpo responde bem e se recupera rápido”, conta. Juliana já correu mais de 50 provas, incluindo meias e maratonas. Em 2024, concluiu uma meia em 1h37 e, em 2025, cravou sua maratona em 3h36. “Hoje, não tenho ambição por grandes distâncias. Quero qualidade e saúde para correr bem por muitos anos. E sei que isso só é possível fortalecendo meu corpo com orientação profissional”, afirma. Álvaro Nascimento: potência que vence subidas Com apenas três anos de corrida, o representante comercial Álvaro Nascimento, 32 anos, já surpreende nos resultados. Ele realizou mais de 25 provas e alcançou 1h29 na meia maratona, correndo a 4:14/km. “Antes dos treinos específicos, sofria em provas com subidas. Perdida potência, perdia tempo. Mas com o treino de força voltado para corrida, me transformei. Em Vitória de Santo Antão, que tem um percurso duríssimo, consegui manter um ritmo de 3:57/km por 7 km”, celebra. Além do desempenho, ele sentiu melhora na recuperação: “Fiz 28 km num dia e, no seguinte, estava 100%. Isso nunca tinha acontecido. Hoje me sinto completo, seguro e pronto para enfrentar qualquer percurso. Meu sonho é correr uma maratona sub3h, e sei que estou no caminho certo.” Manoel Messias de Lima: veterano que se reinventou Com 46 anos e mais de 400 provas no currículo, o promotor de vendas Manoel Messias de Lima é um apaixonado pela corrida. Mas, após tantos anos, percebeu que só correr não era mais suficiente. “Comecei a sentir o corpo falhar nos treinos mais longos. Faltava força. Foi aí que busquei ajuda para fazer um trabalho de base, e foi um divisor de águas. O treino de força me deu sustentação, e hoje consigo treinar com mais segurança e buscar novos desafios”, diz. Sonha em correr uma maratona sub3h e não tem dúvida de que o caminho passa pelo treino fora das pistas: “Mais do que números, quero correr com saúde. E sei que, sem força, o corpo cobra a conta. Hoje me sinto mais forte, mais resistente e mais confiante.” Avaliação funcional: o começo de tudo A preparação deve começar com uma avaliação funcional do movimento. Existem tecnologias acessíveis, como apps validados cientificamente, além de análises presenciais detalhadas que observam desde o pé até o core. “Corpo é sistema. Se uma parte falha, outra compensa. Por isso precisamos avaliar tudo: tornozelo, joelho, quadril, core, padrão de pisada. E só depois planejar um treino verdadeiramente individualizado”, explica Elton. Benefícios do treino de força e neuromuscular para corredores Melhora a economia de corridaAumenta resistência à fadigaPrevine lesões musculares e articularesCorrige desequilíbriosMelhora biomecânica e posturaRecuperação mais rápidaMais segurança e confiança nas provas Correr bem é correr com inteligência Treinar a corrida é importante. Mas treinar o corpo para correr é fundamental. A trajetória de Juliana, Álvaro e Manoel mostra que não há idade, nível ou distância que dispense o fortalecimento. “O corredor precisa investir em si, como

O segredo que muitos corredores ignoram: o poder do treino de força contra lesões Read More »

Influenza Wyden

Casos graves de gripe crescem entre idosos e reforçam importância da prevenção

Influenza já supera a Covid-19 como principal causa de SRAG em pessoas com mais de 60 anos; vacinação, higiene e fisioterapia respiratória são aliados fundamentais no enfrentamento A gripe voltou a preocupar especialistas em saúde pública, especialmente no que diz respeito à população idosa. Segundo o boletim InfoGripe da Fiocruz, divulgado em maio, o vírus influenza já ultrapassou o coronavírus como principal causa de morte por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) entre pessoas com 60 anos ou mais. O dado acende um alerta para a importância da imunização e de cuidados preventivos durante os meses mais frios do ano, quando o vírus costuma circular com mais intensidade. A baixa cobertura vacinal tem dificultado o controle da doença, mesmo com a vacina disponível gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “O vírus influenza pode evoluir rapidamente para quadros de insuficiência respiratória, infecções pulmonares e internações prolongadas, especialmente em idosos e pacientes com doenças crônicas. A vacinação anual é a forma mais eficaz de reduzir esse risco”, alerta a médica infectologista Silvia Fonseca, do IDOMED. A composição da vacina muda a cada ano, de acordo com as variantes em circulação no hemisfério sul, tornando a atualização da caderneta vacinal indispensável. Além da vacinação, medidas simples de higiene e cuidado pessoal são fundamentais para conter o avanço da gripe. A professora Tauana Mattar, do curso de Enfermagem da Wyden, lembra que os sintomas podem se apresentar de forma atípica em idosos e que o risco de complicações é alto. “Em idosos, a principal complicação são as pneumonias, responsáveis por muitas internações hospitalares no país”, explica. Ela destaca ainda a importância de lavar as mãos com frequência, manter os ambientes ventilados, evitar aglomerações e adotar uma alimentação saudável e hidratação constante. A recuperação também pode ser otimizada com o apoio da fisioterapia respiratória. “A Influenza compromete a função pulmonar ao causar o aumento na produção de secreções e inflamação das vias respiratórias. A fisioterapia respiratória busca restaurar e otimizar a função pulmonar por meio de técnicas como a higiene brônquica, a reexpansão pulmonar e exercícios respiratórios”, explica Alice Lisboa, professora do curso de Fisioterapia da Wyden. A prática ajuda a evitar complicações como sinusites, pneumonias e insuficiência respiratória, além de melhorar a resposta imunológica em idosos com comorbidades. O acompanhamento profissional torna-se essencial nos casos em que há secreção densa, febre persistente ou dificuldade para respirar. “A influenza pode causar sintomas severos, como fadiga extrema e desidratação, que podem impactar a capacidade do idoso de realizar atividades básicas”, pontua Alice. O cuidado contínuo da família ou de cuidadores especializados pode fazer a diferença na recuperação e na qualidade de vida da pessoa idosa durante e após o quadro gripal.

Casos graves de gripe crescem entre idosos e reforçam importância da prevenção Read More »