Arquivos Colunistas - Página 269 De 299 - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco

Colunistas

Tom Hanks e Steven Spielberg retomam parceria em filme indicado ao Oscar

Mais uma indicação ao Oscar. Algo tão comum à carreira de Steven Spielberg que nem soa mais como novidade. Não que tenha feito grandes filmes ultimamente, exemplo disso é o melodramático ao extremo Cavalo de Guerra, ou o excessivamente chato Lincoln, que só não é mais ruim devido à grande atuação de Daniel Day-Lewis. Sua nova a posta, o longa The Post, está entre os indicados a melhor filme na 90ª edição da mais badalada premiação do cinema mundial. Sem dúvida, Spielberg conhece bem a receita certa para agradar à academia. Para o elenco de seu mais novo trabalho, convocou o parceiro de longas datas, Tom Hanks, e, “debutando” em produções do diretor, a excelente Meryl Streep, indicada mais uma vez ao Oscar de melhor atriz. The Post é inspirado no embate entre imprensa e governo americano ocorrido na década de 70. Em 13 de junho de 1971, uma manchete do The New York Times abalou as estruturas da Casa Branca: “Arquivo Vietnã: Estudo do Pentágono Documenta 3 Décadas de Envolvimento Crescente dos EUA”. A matéria apresentou um documento, batizado de Pentagon Papers, com informações sobre as operações dos Estados Unidos no Vietnã, descortinando um jogo de mentiras sustentado por quatro presidentes americanos. O relatório continha detalhes de assassinatos e violações da Convenção de Genebra. As revelações resultaram na expedição de uma liminar, solicitada pelo presidente Nixon a uma corte federal, proibindo qualquer outra publicação do The New York Times. Com a suspensão do The New York Times, outros jornais também dão início às investigações sobre o fato, entre eles, o The Washington Post, liderado pela editora chefe Katharine Graham, interpretada por Meryl Streep. Cópias dos documentos oficiais ligados à denúncia chegam às mãos do editor executivo Ben Bradlee (Tom Hanks), que as apresenta à Katharine. Ela agora terá que decidir se autoriza ou não a publicação desses documentos, decisão que poderá trazer como consequência a extinção definitiva do The Washington Post. The Post entra para a galeria dos grandes filmes sobre jornalismo, ao lado de clássicos como Todos Os Homens Do Presidente. A história contada por Spielberg tem, inclusive, forte ligação com a protagonizada por Robert Redford e Dustin Hoffman. Além de também envolver jornalistas do The Washington Post, o escândalo dos Pentagon Papers culminou no caso Watergate, pano de fundo do longa dirigido por Alan J. Pakula.   Meryl Streep brilha no papel de Katharine Graham, apresentando uma personagem, à princípio, insegura por assumir sem experiência a liderança de um importante jornal após a morte do marido e, ao mesmo tempo, de personalidade forte, moldada pelos desafios enfrentados ao longo da trama. Quanto a Tom Hanks, este não é um de seus melhores trabalhos, mas também não é o pior. Ele interpreta o fiel editor e amigo de Katharine, Ben Bradlee. Esta é a primeira vez que Hanks e Meryl Streep trabalham juntos. A dupla mostrou ter boa química. Diferente dos grandes clássicos de Spielberg como Tubarão, E.T. – O Extraterrestre e Parque dos Dinossauros, The Post não deve lotar salas de cinema por todo o mundo. Sua história, carregada de jargões do jornalismo, poderá enfadar alguns, mas, por outro lado, agradar a outros. No fim, fica a bela homenagem desse importante diretor à coragem de uma grande mulher e à liberdade de imprensa. The Post chega aos cinemas na quinta, 25 de janeiro.

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Apenas 21,7% se sentem seguros ao andar a pé nas cidades

Insegurança é a principal sensação dos brasileiros que se deslocam a pé pelas cidades. Estudo realizado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) indicou que apenas 21,7% dos pedestres se sentem seguros. Entre as mulheres a situação é ainda pior: 17,5%. Indicadores que demonstram a necessidade de compreender as razões que tem afastado as pessoas dos espaços públicos e, por consequência, alimentado ainda mais esse sentimento. A compreensão dos especialistas em urbanismo é de que uma das principais medidas para combater a violência urbana é ter mais gente nas ruas. Lugares isolados, com pouca movimentação e baixa iluminação são os mais suscetíveis a promoção de violência. Para 75,2% das pessoas entrevistadas a presença de iluminação pública interfere na decisão em andar a pé. Outro fator que estimula a mobilidade a pé é a presença de comércios, serviços, saúde e educação nas proximidades (para 85,4% dos entrevistados). Mais um sinal de que bairros com um bom mix de serviços permite uma mobilidade mais humana e com menos carros nas ruas. Os brasileiros concordam ainda que é preciso mudar a prioridade no trânsito. O estudo revelou que 80,3% concorda que mais ruas e avenidas sejam fechadas aos domingos para circulação de pedestres e ciclistas. Essa percepção é nacional, mas se fosse aplicada ao Recife, é provável que os números seriam ainda mais alarmantes. Com a recente onda de crescimento da violência e as dificuldades de iluminação da cidade, o estímulo à mobilidade a pé por um maior número de recifenses é uma meta com dificuldades de ser superada. A pesquisa ouviu 1,5 mil pessoas das 27 capitais brasileiras, de todas as classes econômicas.

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2018: Como ser um político bom em Pernambuco?

Enquanto escrevo essas linhas no final do ano de 2017, caro político comum de Pernambuco, você já está aí no mês de janeiro de 2018, lendo esta coluna. Resolvi escrever-te daqui do passado para transmitir algumas dicas de como ser, ou continuar sendo, um político comum em nosso Estado. Especialmente em se tratando de ano eleitoral. Primeiro, leia pouco. Leia quase nada. Na sociedade do cansaço, as pessoas não terão tempo para ouvir o que você teria a dizer, caso lessem alguma coisa. As pessoas são preguiçosas em debater e, ainda se tivessem tempo, chegariam atrasadas graças ao trânsito da Agamenon. Não ouça a população. Apenas finja, a cada quatro anos. Já estás no ano oficial do fingimento. A voz do povo é a voz de Deus, mas até Ele parece às vezes se esquecer. Cerque-se de gente que necessite das suas vitórias. Darão a vida por você e farão de tudo para o manter no poder. Ou seja, não perca a relação de dependência da equipe para consigo. Mantenha distância regulamentar dos adversários e controle-se ao falar mal deles. Lembre-se: a roda gira. Fale mal na medida certa porque amanhã, em algum momento, vocês estarão juntos. Se puder, inaugure um partido para chamar de seu. Ter um partido é essencial para o futuro. “Quem manda na porra toda é a dona do cabaré,” já dizia Toinho, meu avô. Se já nasceu espinhas na cara de Juninho, lance-o candidato a alguma coisa. Decore números e frases de efeito. Isso tem um valor essencial para angariar votos. As pessoas podem achar que você está realmente preocupado com os índices e que se apropriou do tamanho do problema. Mas, se preferir, pode trazer algo genérico, do tipo: “para resolver o problema da insegurança é preciso investir em inteligência policial”. Isso pega bem, vá por mim! Tome caldinho nos mercados, distribua abraços, levante as criancinhas ao alto e encham as bichinhas de beijos. Olhe para as câmeras e faça o famoso “v” da vitória. Se puder, contrate um marqueteiro competente. Fale em mudanças. Diga que você representa a grande novidade. Fale de algum político comum do passado que seja bem avaliado pelo povo e diga que ele sempre foi seu guru. Os que não são, chame-os de traidores, especialmente se vocês já dividiram o mesmo palanque. Aproxime-se das mídias e blogueiros. Faça amizades nas redes sociais. Poste vídeos bacanas, de preferência com camisa de mangas arregaçadas e aquele capacete de engenheiro vistoriando obras que é para passar a ideia de homem trabalhador. Compre votos. Compre muitos votos. O máximo que você conseguir. Seus adversários o farão e você não poderá sair atrás na corrida eleitoral. Enfim, se eleito for, dê uma entrevista no outro dia, pela manhã, na varanda da sua casa, dizendo que é hora de reunir todas as forças em prol do bem comum, aparar as arestas e seguir trabalhando por um Estado melhor. Assim que a jornalista sair pela porta, arrume as malas e vá direto para o Aeroporto Internacional dos Guararapes. Pegue o avião e vá para bem longe. Volte descansado e no discurso de posse chore emocionado, dizendo que é hora de olhar para o futuro que se inicia.

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A transformação digital e o telefone

A transformação digital está mudando rapidamente o modo como usamos o telefone. Cada vez menos usamos o recurso de transmissão simultânea da voz de um ponto ao outro: a famosa ligação. A popularidade do Whatsapp e das mensagens diretas das redes sociais provam isso. Outro fato que comprova essa tendência é o quase desaparecimento dos telefones públicos e a grande diminuição da quantidade de telefones fixos residenciais. Essa mudança de comportamento vem também afetando fortemente as empresas. Se antes bastava oferecer o atendimento presencial e o conhecido 0800, os Serviços de Atendimento ao Cliente precisam mudar rapidamente. O cliente conectado não só demanda uma maior diversidade de canais como também vem preferindo o autoatendimento, aquele no qual não é necessária a interação diretamente com pessoas. Nesse sentido, algumas tendências devem ser consideradas: 1. Redes Sociais – Pelo grande tempo gasto nesses canais, o atendimento pelas redes sociais é um movimento quase que natural. Uma mensagem pelo Facebook ou pelo Instagram pode resolver problemas simples, como um esclarecimento de uma dúvida, uma consulta de preço, um pedido de uma pizza. Mais fácil para o cliente e bem mais barato para a empresa, que não precisa de um grande aparato tecnológico, como centrais telefônicas. 2. Chatbots – É um tipo de inteligência artificial que consegue interpretar mensagens de texto e dar a resposta que o cliente precisa sem intervenção humana. O mais famoso é o Watson, da IBM, que é capaz de reduzir call centers ao mínimo de atendentes. Os bancos, como Bradesco e Itaú, têm investido nesse tipo de tecnologia para as demandas mais recorrentes dos clientes. Os atendentes têm sido usados apenas em casos complexos. Melhora a qualidade do atendimento e reduz custo com pessoal. 3. IOT – É a internet das coisas, que permite que objetos se comuniquem e interajam diretamente com a internet. Nessa modalidade, o atendimento não exige nem a participação do cliente nem a do atendente. Ideal para detectar e antecipar demandas, tais como a reposição de itens da despensa das nossas casas, a indicação da oficina mais próxima e mais barata para revisão dos nossos carros, entre outras possibilidades.

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Igrejas de brancos, pretos e pardos

Na cidade de Goiana, município da Zona da Mata Sul de Pernambuco, com 78.940 habitantes, situado a 62 km do Recife, o visitante observador vai encontrar novidades em sua caminhada, dentre as quais, igrejas destinadas ao culto de brancos, pretos e pardos, numa sucessão de oragos (santos) no mínimo curiosa para os nossos dias. No nosso roteiro, que irá se prolongar pelos próximos números da nossa revista, iremos conhecer os templos dedicados à Nossa Senhora do Rosário dos Homens Brancos (Século 17), Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos (Século 17), Convento de Hospital de Nossa Senhora da Conceição dos Homens Pardos (Século 19) e o conjunto da Ordem Terceira e Convento Carmelita de Santo Alberto (Século 17). A primeira dessas igrejas é a Matriz de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Brancos, cuja denominação bem demonstra o sentimento de separação racial existente no Brasil colônia de então. Embora sendo uma pequena vila, Goiana possuía três irmandades distintas, classificadas conforme a coloração da pele dos respectivos irmãos. Ao descrever a Vila de Goiana, em observação datada de 20 de outubro de 1810, o viajante inglês Henry Koster observa ser esta “uma das mais florescentes de Pernambuco, estando situada sobre uma margem do rio do mesmo nome, em uma grande curva nesse local, quase a rodeando”. A paróquia de Nossa Senhora do Rosário fora fundada pelo Bispo do Brasil, dom Frei Antônio Barreiros, provavelmente quando de sua visita pastoral à capitania de Itamaracá no ano de 1584, a quem pertencia, então, a povoação de Goiana. Com a transferência da sede da capitania de Itamaracá, da Vila de Nossa Senhora da Conceição de Itamaracá, para a Vila de Goiana, em 7 de janeiro de 1711, surgiu a necessidade de se criar a Irmandade da Misericórdia, em substituição à extinta Santa Casa de Misericórdia de Vila Velha. A instalação daquela irmandade, porém, só veio a se concretizar em 1º de julho de 1722, funcionando inicialmente na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Brancos. Anos mais tarde, terminadas as obras da igreja, os irmãos da Misericórdia resolvem construir, no mesmo local, um hospital destinado ao atendimento das pessoas pobres e sem recursos, tendo a bênção inaugural acontecido em 1759. O Hospital da Santa Casa de Misericórdia foi o primeiro erguido naquela Vila de Goiana e contava, na sua inauguração, com 20 leitos destinados a enfermos de ambos os sexos, tendo para isso solicitado ao rei de Portugal, “a extensão dos mesmos privilégios e favores de que gozavam as casas de Olinda e da Paraíba”, no que não tiveram a acolhida. Para essa igreja foram trazidos, em 1870, os restos mortais do mestre-de-campo André Vidal de Negreiros (1606-1680), que até então se encontravam na capelinha de Santo Antônio do Engenho Novo de Goiana. Estes, por sua vez, foram posteriormente transferidos para a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, nos Montes Guararapes, onde hoje se encontram ao lado dos restos mortais do mestre-de-campo João Fernandes Vieira, figuras de maior representação no movimento da Insurreição Pernambucana (1645-1654), quando das guerras contra os holandeses.

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O risco político para a retomada econômica

Sim, é certo que a retomada econômica pós-recessão já se iniciou e que, em alguma medida, ela está descolada da crise política. Porém não de todo. Do ponto de vista econômico, existe ainda um importante obstáculo de ordem fiscal a ser removido no meio do caminho da retomada: um déficit orçamentário federal expressivo somado à necessidade de um superávit primário vultoso. Trata-se, no conjunto (um mais o outro), da necessidade de um ajuste fiscal de mais de R$ 300 bilhões, sem o qual o teto da dívida pública não se estabiliza e, por conseguinte, a credibilidade das contas nacionais perante o mercado e os credores (inclusive internacionais) fica comprometida, comprometendo, por sua vez, a retomada. Embora esse seja um obstáculo de natureza econômica, para ser removido requer ação de natureza política, o que confere grande importância ao resultado da próxima eleição presidencial. Se tivermos o azar de eleger um presidente populista que não esteja comprometido com esse ajuste fiscal essencial, vamos ver a partir de 2019, novamente, o filme da deterioração das contas públicas, junto com a retomada da inflação e a da subsequente recessão para baixá-la. Um déjà vu totalmente desnecessário. Um complicador para uma escolha sensata de alguém comprometido com a arrumação das contas públicas, sem a qual a retomada econômica será comprometida, é o clima de radicalismo que se instalou no Brasil nos últimos anos. Um verdadeiro Fla x Flu político, jogo em que os envolvidos se xingam, não se ouvem e todos perdem, o País muito mais... Nunca vi nada nem sequer parecido mesmo tendo entrado na faculdade em 1976, em plena ditadura militar. Fiz passeata e corri da polícia, mas assisti a muitos debates minimamente civilizados em que uma parte ouvia a outra. Discordava, mas ouvia. Hoje, a impressão que tenho é que ninguém mais ouve ninguém e cada um diz (e escreve!) o que lhe vem à cabeça, sem se preocupar minimamente com a manutenção das condições do diálogo... Neste ano que se inicia, de retomada da economia e de eleições presidenciais, faço votos que os ânimos se apaziguem um pouco mais e possamos ter um pleito o menos radicalizado possível, com a eleição de um presidente comprometido com o indispensável ajuste das contas públicas. Que assim seja! *Artigo do consultor Francisco Cunha, publicado na Última Página na edição de janeiro da Revista Algomais 

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A cidade e a nódoa (por Joca Souza Leão)

“O poema também é uma fruta, deve ter sabor e, se for o caso, deixar alguma nódoa. Alguns, como a nódoa do caju, que nunca sai. Uma marca” – disse o poeta Everardo Norões há quase dois anos, quando lançou seu livro Melhores Mangas. Em sua última entrevista, o poeta Manuel Bandeira citou trechos do seu Itinerário de Pasárgada: “Do Recife tenho quatro anos de existência consciente, mas ali está a raiz de toda a minha poesia. Quando comparo esses quatro anos de minha meninice a quaisquer outros quatro anos de minha vida é que vejo o vazio dos últimos.” Bandeira nasceu no Recife. Com dois anos, mudou-se com a família para o Rio. Voltou com seis e viveu aqui até os dez, quando foi de vez para o Rio. “Nesses quatro anos no Recife, construiu-se a minha mitologia.” Ou seja, os tipos por ele celebrados, muitos anos depois, na sua Evocação do Recife. Totônio Rodrigues, Dona Aninha Viegas, a preta Tomásia, Rosa, a ama-seca que lhe contou as primeiras histórias... “A Rua da União, com os quatro quarteirões adjacentes limitados pelas ruas da Aurora, da Saudade, Formosa (hoje, Av. Conde da Boa Vista, que de ‘formosa’ não tem rigorosamente mais nada; o comentário é meu) e Princesa Isabel.” Passados 30 anos, Bandeira voltou. “Este mês que acabo de passar no Recife me repôs inteiramente no amor a minha cidade” – escreveu ele, celebrando um reencontro e lamentando muitos desencontros. “Não pude reprimir o mau humor que me causava o desaparecimento do outro Recife, o Recife velho. (...) Quanta edificação em substituição às velhas casas de balcões, esses balcões tão bonitos, tão pitorescos (....). Um arquiteto inteligente aproveitaria esse detalhe tradicional bem característico do Recife.” O reencontro celebrado deu-se na Rua da União. As casas e sobrados da infância ainda estavam todos lá. Quis até hospedar-se na casa de Totônio Rodrigues, que virara pensão. (Infelizmente, poeta, o que resta, agora, é mau gosto e ruína.) Numa crônica já antiga, citei Italo Calvino: “A cidade não conta o seu passado, ela o contém como as linhas da mão.” A gente a ama e a considera nossa porque a tem na memória afetiva. Porque a reconhece. Porque lembra e sonha com ela. Ninguém ama o que (ou quem) não lembra. Nem sonha. Também citei Nelly Carvalho: “Breve, quem voltar ao Recife estará diante de uma cidade desconhecida.” E Luzilá Gonçalves: “Se a destruição continuar neste ritmo, esta cidade não parecerá mais com nada.” E Circe Monteiro: “Poucas cidades se autodestroem tão rapidamente quanto o Recife”. Volto ao poeta Everardo Norões (que foi embora do Recife para nunca mais voltar): “Há cidades que foram totalmente destruídas. Reconstruídas, voltaram a ser tão belas como antes. Para que isso aconteça é preciso um sentimento coletivo de pertencimento ao lugar, uma forma de amor à cidade, como se ela fosse nossa própria casa. Recife foi uma cidade belíssima, mas está degradada, apodrecida. (...). Aqui, as pessoas cuidam do que é exclusivamente seu, mas ignoram o que é coletivo, o que existe em torno delas.” Recife, pobre Recife. Fruta que, dia a dia, perde a forma e a cor. Caju que não deixa nódoa, não deixa marca, não deixa nada, perde o sabor.

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A importância dos Estaduais para os clubes intermediários (por Houldine Nascimento)

Em geral, a História costuma ser vista sob o ponto de vista dos vencedores. Este é um clichê muito propagado. No futebol, as coisas funcionam de forma parecida. Quando falamos dos campeonatos estaduais, a perspectiva é aquela dos clubes maiores, tratando apenas da baixa qualidade das competições e como são inúteis na preparação para disputas maiores, como Libertadores, Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil. Mas é preciso enxergar o outro lado: o das equipes intermediárias. São nos estaduais que elas mais aparecem. É nesse tipo de campeonato em que têm a chance de enfrentar um grande adversário. No Pernambucano, os três clubes com os maiores orçamentos historicamente são Náutico, Santa Cruz e Sport, não por acaso do Recife, capital do Estado e com grande poder econômico em relação às demais cidades. O que ocorreu na última quarta-feira (17), em Arcoverde, quando o Sport visitou o Flamengo local, é um bom exemplo disso. Quase três mil pessoas foram ao estádio Áureo Bradley ver o jogo que terminou empatado por 0 a 0, mas o que mais chamou atenção foi a renda de R$ 173,5 mil. O valor já seria importante para o Rubro-negro do Recife, que dirá para a equipe sertaneja, com folha salarial de R$ 60 mil? Ao menos, cobrirá dois meses de despesas. Ter em mente que a maioria dos jogadores do futebol brasileiro trabalha em times modestos também ajuda. Os salários baixos e a incerteza sobre o pagamento rondam o cotidiano destes atletas. Além disso, nesses clubes, não há os holofotes direcionados o tempo todo. Por isso, quando enfrentam times de peso, veem uma bela oportunidade de se destacarem e eventualmente ter uma ascensão na carreira. Essa visão não exclui, evidentemente, a limitação técnica dos campeonatos estaduais. A média de público baixa é um reflexo disso. Aos clubes das grandes cidades, só interessam os clássicos e as fases decisivas. Quando um time do interior chega à reta final, é outra festa. Puxando novamente para Pernambuco, o cenário tem se repetido nos últimos anos, com o Salgueiro sendo a grande força do interior e o trio de ferro da capital avançando quase que por osmose. Mesmo com uma cota de tevê bem inferior ao Santa Cruz, por exemplo (110 mil x 950 mil), o Carcará consegue fazer frente e montar elencos competitivos, mais por esforço de seus dirigentes. É no Pernambucano que o Salgueiro enfrenta em pé de igualdade grandes clubes. O troféu nunca saiu do Recife e esse é um tabu a ser quebrado por uma equipe do interior. Por pouco o Salgueiro não conseguiu o feito no ano passado, não fosse a trapalhada do árbitro de vídeo.

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O Guia do Cervejeiro Artesanal Pernambucano

Em 2011 fiz uma viagem onde tive a oportunidade de experimentar muitos estilos de cervejas. Alguns até então já tinha ouvido falar, mas a limitação de rótulos no Brasil era muito grande. Tínhamos uma escassa lista da bebida, com pouquíssimos estilos. Sempre tive predileção sobre bebidas fermentadas, mas a cerveja sempre fui disparadamente a minha preferida. Um tempo depois alguns espaços foram aberto em Recife, o Espaço Gourmet, na rua José Maria e a Beercode, um quiosque no Shopping Center Recife, e o Snaubar em Parnamirim onde tinha uma excelente carta de cervejas. Lojas e bar que infelizmente não existem mais, Comecei a frequentar com alguns amigos e com isso também praticamente “engoli” muita literatura que falava sobre cervejas e seu incrível universo. Posteriormente comecei a frequentar e ainda frequento o Capitão Taberna, um lugar icônico e um dos melhores ambientes para se degustar uma boa cerveja artesanal ou importada na cidade. Depois vieram alguns outros, como destaque para a Beerdock e o Apolo Beer Café. Alguns anos depois o mercado de cervejas artesanais em Pernambuco entrou em ebulição, com o surgimento de várias cervejarias. A princípio sendo envasados como chopp, depois em garrafas, mas o padrão da bebida evoluía para melhor. Em 2016, por sugestão de minha editora Cláudia Santos, comecei a escrever em uma coluna no site da Algomais e assim o espaço passou a ter uma boa aceitação dos leitores que se mostravam ávidos em conhecer um pouco mais sobre a bebida. Em 2017 tivemos a ideia de lançar em janeiro de 2018 uma publicação que falasse das cervejas artesanais pernambucanas, tendo em vista o papel da Algomais em apoiar o sentimento de pernambucanidade e de orgulho das coisas produzidas na nossa terra. Então, na última terça-feira, dia 23, na Beerdock de Boa Viagem a Algomais fez o lançamento do Guia do Cervejeiro Artesanal Pernambucano onde apresentamos a revista e o guia aos leitores e integrantes do mercado de cervejas artesanais de Pernambucano. Trata-se de uma publicação leve, introdutória e divertida sobre alguns assuntos básicos do universo cervejeiro. Na abertura do guia vem com uma matéria feita por Rafael Dantas que trata do panorama do mercado no Estado, onde foram ouvidas as principais cervejarias do setor e suas perspectivas de um mercado ainda inexplorado, mas que traça passadas largas para se consolidar rapidamente como o principal do Nordeste. Quando o guia se inicia, falamos do protagonismo de se produzir cervejas, quando trazido pelo príncipe Maurício de Nassau, o cervejeiro Dick Dicx, vindo da cidade Haarlem, na Holanda, criou a primeira cervejaria das Américas. Tratamos do que é na verdade cervejas artesanais, o que caracteriza uma cervejaria para ser assim chamada e quais processos se diferenciam em uma cadeia de grande produção e de uma produção mais “caseira”. Falamos também das famílias e estilos das cervejas, passando pela parte sensorial da experiência em degustar a bebida nos copos e taças corretos. E por fim um perfil das 15 principais cervejarias do Estado com um breve histórico e os estilos que cada uma dela produz. É uma oportunidade de aproveitar para conhecer as melhores cervejarias artesanais do mundo, todo pernambucano sabe que é assim. Boa leitura!

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Pesquisa: transporte público ineficiente e falta de estacionamento impactam varejo

Pesquisa recém-publicada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) aponta que 52% das pessoas que possuem veículo já desistiram de alguma compra por não conseguir lugar para estacionar. O número não é nenhuma surpresa para qualquer motorista que transita diariamente por uma metrópole brasileira. Mas é um indicador de muito incômodo para o setor varejista. A pesquisa revelou que 57% dos brasileiros dão preferência a realizar compras onde há acesso adequado para pedestres, ciclistas e passageiros de transporte público. O estudo mapeou ainda que sete em cada dez (69%) pessoas motorizadas preferem centros comerciais que oferecem estacionamento próprio ou nas imediações (76%). Um percentual significativo (42%) afirmou ainda que não faz compras em lojas que não possuem fácil acesso ao transporte público.   Os resultados indicam que os estabelecimentos comerciais devem se preocupar cada vez mais com as condições de mobilidade para seus clientes. Não apenas as promoções ou a diversidade de seus produtos interessa aos consumidores, mas o conforto e as condições de chegar e sair na hora de fazer as compras. Uma das surpresas da pesquisa, na minha avaliação, é o fato de 71% dos brasileiros concordarem com medidas que priorizam o transporte coletivo. Ao menos no Recife ainda não percebo esse amadurecimento dos cidadãos na compreensão do valor que o sistema público de transporte tem para a qualidade de vida urbana. O resultado pode ser um indicativo de que o desconforto de vivermos em cidades que dão preferência aos carros está mudando a opinião das pessoas. Uma outra constatação, que é bem óbvia, da pesquisa é que a ausência de acessibilidade e segurança no espaço público tem feito os brasileiros optarem por realizar suas compras cada vez mais em shoppings centers. O estudo revelou que 56% dos entrevistados se sentem mais seguros ao fazer compras dentro de shopping centers do que em lojas do comércio de rua. *Por Rafael Dantas, jornalista da Revista Algomais (rafael@algomais.com)

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