A gravidez além de proporcionar transformações visíveis no corpo da mulher, como o crescimento da barriga e momentos de felicidade com a chegada do bebê, pode provocar em algumas grávidas os indesejáveis enjoos. Entretanto, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que esse sintoma é mais comum do que se pensa: cerca de 3 milhões de brasileiras sofrem com náuseas e vômitos durante a gestação ocasionados por aversão a algum tipo de cheiro ou ingestão de alimentos. Segundo a obstetra do Hospital Memorial São José, Eva Miranda, o aumento do beta-hCG, hormônio da gravidez, é o principal responsável pelos enjoos, assim como outras alterações, no início da gestação, de hormônios como estrogênio e progesterona. Também pode ter como causa o déficit de vitamina B. “Esse sintoma é natural nos primeiros três meses, principalmente nas grávidas que têm níveis do hormônio hCG mais alto. Sendo assim, os enjoos, náuseas e vômitos vão variar de mulher para mulher, podendo se manifestar de forma mais suave em algumas e em outras mais fortemente”, esclarece Eva. Além disso, grávidas “de primeira viagem” e ainda de gêmeos têm uma tendência maior a ter esses sintomas. A obstetra explica que durante a gravidez as mulheres apresentam um “estômago mais preguiçoso”, provocado pelo nível do hormônio, que age no trato gastrointestinal (composto pela boca, faringe, esôfago e estômago). “Com isso, quando o alimento é ingerido, ele demora para realizar a digestão, provocando um efeito de saciedade precoce. Assim, muitas mulheres ficam enjoadas facilmente e, por causa disso, deixam de se alimentar de forma adequada”, observa. Geralmente o pico dos enjoos acontece a partir da quarta semana de gestação e prossegue até a vigésima. Depois desse período, a frequência diminui, raramente prolongando-se por toda a gravidez. Algumas vezes esse sintoma surge acompanhado com um atraso menstrual, como primeiro sinal da vinda de um bebê. É comum também durante este período, além dos enjoos, a gestante apresentar alterações no olfato e no paladar. O obstetra do Hospital Santa Joana, Carlos Leite, informa que o aumento da taxa de progesterona provocado pela gravidez, afina o cheiro e o sabor dos alimentos. “Por isso que as mulheres passam a rejeitar algumas comidas e também a ter o famoso desejo”, destaca. A assessora jurídica Athina Lays descobriu que estava grávida após ingerir uma banana frita e sentir fortes enjoos. Depois dessa circunstância, ela passou três dias vomitando intensamente até fazer o exame com o médico e descobrir que já estava na 17ª semana de gestação. “Foi uma surpresa, eu não esperava. Durante todo período fiquei abusada com o cheiro de alguns perfumes e de comida, como nhoque e café, mas nada muito grave”, recorda. Já o motivo do enjoo da professora Bruna Saldanha, grávida de 4 meses de gêmeos, ao contrário da maioria das mulheres, não foi com alimentos, mas sim com o perfume que o seu marido, Rodrigo Pessoa, usava. “O mal-estar começou logo no início do segundo mês. Mas meu marido só veio acreditar que o cheiro me incomodava, quando eu estava na casa da minha avó, no segundo andar de um prédio, e ele me ligou de dentro do carro, na garagem, avisando de sua chegada. Respondi, dizendo que sabia que ele havia chegado porque senti o cheiro de seu perfume de longe”, lembra. O marido, por sua vez, precisou trocar de fragrância. “Ele que não me apareça com esse perfume na minha frente”, brinca Bruna. É importante destacar que os enjoos não vêm necessariamente acompanhados de vômitos, porque 25% das gestantes sentem apenas náuseas. Este sintoma é mais comum no período da manhã, devido ao movimento brusco ao se levantar e é reflexo da alimentação da noite anterior. Na maioria dos casos, a gestante não precisa de medicamentos, basta ajustar a dieta. O mal-estar provocado pelo enjoo não oferece perigo à paciente e ao bebê, inclusive reduz os riscos de aborto, exceto em alguns casos, quando vem acompanhado com o regurgitamento do alimento em excesso, podendo causar a hiperemese gravídica, uma manifestação anormal de enjoos, seguidos por uma desidratação alimentar e perda de peso. Nos casos mais graves é necessário o internamento da gestante para receber uma hidratação venosa e antieméticos, medicamentos utilizado para enjoos, náuseas e vômitos, e de vitaminas do complexo B. Além de medicamentos, que os médicos recomendam utilizá-los antes de levantar da cama, em jejum, na maioria das vezes, é possível evitar o surgimento desses indesejáveis enjoos mantendo alguns hábitos alimentares e saudáveis. É fundamental, porém a grávida conhecer o que está provocando o mal-estar para que possa evitá-lo. “Algumas recomendações são válidas, mas cada gestante reagirá de forma diferente”, destaca Carlos leite. Ele ainda ressalta que uma gravidez ideal é aquela em que há o enjoo, mas não em demasia. “Quando os sintomas são passageiros, dá para tratar com medicamentos, mas quando não, é importante procurar um médico”, adverte o obstetra. *Por Paulo Ricardo Mendes, repórter da Revista Algomais(Publicado em 9 de agosto de 2017 )