Arquivos Notícias - Página 168 De 680 - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco

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"A competitividade depende de uma formação básica de qualidade"

O que fazer para qualificar a educação brasileira? Qual a relação dessa formação dos nossos jovens com a competitividade dos nossos profissionais? E como tem sido o impacto da pandemia nos diversos sistemas de ensino no País? Conversamos com o professor da UFPE e da Cesar School, Luciano Meira, sobre esse cenário para compreender o momento atual da educação no País e apontar soluções. O docente, que é também sócio-empreendedor da Joy Street, foi um dos entrevistados para a matéria de capa desta semana da Revista Algomais, em que discutimos os desafios para os próximos 15 anos no Estado.   O que você considera fundamental para transformar a educação brasileira no cenário dos próximos 15 anos, na direção de construirmos um sistema educacional de qualidade e que colabore com o desenvolvimento do País e de Pernambuco? - Ordenação e otimização dos recursos garantidos pelo FUNDEB, através de gestão transparente e profissional, incluindo contínua prestação de contas à sociedade. - Completa reformulação dos cursos de pedagogia e licenciaturas e dos programas de formação continuada de professores, através da implementação da Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica (BNC-Formação). - Governança técnica e menos sujeita a interferências políticas de grupos ideológicos nos órgãos de gestão dos sistemas de educação, desde a direção da escola até o alto comando do MEC e suas instituições vinculadas, tais como o INEP. - Articulação nacional para implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), através do desenho de estratégias negociadas entre secretarias de educação, órgãos de classe, educadores, terceiro setor, dentre outros agentes. - Resolução definitiva das questões relativas ao acesso à Internet, através de planos de conectividade, disponibilização de dispositivos apropriados e oferta de recursos digitais eficientes para o engajamento dos estudantes nas atividades escolares e melhoria da aprendizagem. - Uma reformulação completa dos métodos e práticas didáticas implementadas nas escolas, favorecendo a construção de relações intelectuais e afetivas fortes entre educadores e estudantes, inclusive através do uso de tecnologias digitais capazes de criar e escalar novos formatos de aprendizagem, melhor conectados com o novo mundo do trabalho. . Que impactos um avanço consistente na educação pode trazer para a maior competitividade de Pernambuco? O sistema educacional deve conversar mais com o mercado profissional para formar pessoas conectadas com os desafios do nosso tempo? - A competitividade depende de uma formação básica de qualidade, nas várias competências previstas na BNCC, por exemplo, incluindo talvez principalmente os modos de uso dos conhecimentos científicos tradicionalmente trabalhados na escola. Isso quer dizer, entre outras coisas, que devemos promover na escola o exercício da autonomia, da confiança no outro e da cooperação, além do fomento a formas de trabalho menos dependentes de hierarquias rígidas. Essas qualidades têm sido associadas a ganhos de produtividade, e avanços na educação deveriam necessariamente articular conhecimento científico e competências sócio-emocionais, por exemplo. - Dessa forma, nossa maior competitividade pode depender da forma como o espaço escolar está organizado e busca promover o desenvolvimento integral dos estudantes, gerando sujeitos: 1. eticamente mais responsáveis; 2. melhor preparados para uma atuação profissional mais criativa; 3. socialmente mais disponíveis para acolher e promover o outro. - Para que isso aconteça, também é necessário o diálogo entre escola e comunidade, um diálogo que parte de um posicionamento firme da rede escolar acerca de sua missão e propósitos estratégicos. Nesse formato, o mercado de trabalho não dita as regras para a escola, mas se comunica com seus propósitos e é capaz de nela disparar projetos formativos que, ao realizar os resultados listados no item anterior, também contempla as direções inovadoras continuamente construídas pelos setores produtivos representados na comunidade, com a escola no centro. . Quais os impactos a pandemia trouxe para a educação pernambucana e brasileira? Há algum aspecto importante de inovação que experimentamos nesse tempo? O ensino híbrido veio para ficar? - Um primeiro resultado interessante é que, como já prevíamos anteriormente, a maioria dos educadores não são necessariamente resistentes a mudanças ou ao uso de novas tecnologias, como tantos outros preconizavam, e eles podem sim realizar esforços de adaptação, mesmo na ausência de métodos claros e bem estabelecidos de como realizar a mudança ou empregar determinados artefatos e recursos tecnológicos em suas práticas pedagógicas. - Segundo algumas pesquisas recentes, um outro impacto importante foi o reconhecimento do importante papel das relações afetivas de confiança e amparo entre estudantes e professores, e o papel destes últimos na criação de “circuitos de afetos” capazes de manter (ou criar) o lugar da escola no cotidiano daqueles primeiros. - Com a maioria ou todas as atividades acadêmicas realizadas por meio de plataformas digitais, será difícil dispensar seu uso em pelo menos algumas dessas atividades, principalmente em vista da autonomia conquistada por estudantes e professores no processo. por outro lado, ainda experienciamos profundas desigualdades no volume e qualidade do acesso a tecnologias digitais entre estudantes e professores (em termos de conectividade, dispositivos e recursos) e isso será o obstáculo definitivo para manutenção de avanços em suas formas de uso, conquistadas com muito esforço durante a pandemia.

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João Campos analisa os 100 dias de sua gestão na Prefeitura do Recife

Assumir uma prefeitura em plena pandemia não tem sido fácil para os prefeitos eleitos no último pleito. No Recife não tem sido diferente. Mas João Campos tem atuado para não só enfrentar os desafios da crise sanitária mas, também, em outras áreas críticas da cidade como a desigualdade social, a mobilidade e a revitalização do centro do Recife. Nesta entrevista Cláudia Santos, o prefeito faz um balanço dos seus primeiros 100 dias à frente da PCR. Levando em conta esses 100 dias à frente da Prefeitura do Recife, quais os maiores desafios que o senhor tem enfrentado na gestão da cidade? O Brasil tem enfrentado os dias mais difíceis da pandemia da Covid-19 e aqui no Recife não tem sido diferente. Nesses 100 dias, a gente trabalhou em três frentes para vencer o novo coronavírus: a vacinação, a abertura de leitos para o tratamento de pacientes com o reforço às normas sanitárias e o apoio à população mais vulnerável. Ainda em janeiro, o Recife tomou a decisão de fazer o processo da vacinação 100% digital. Em apenas quatro dias, criamos o sistema que permite o cadastro e o agendamento do dia, local e horário de imunização. A sistematização também nos permite ter o controle de estoque e de informações sobre as pessoas vacinadas. O resultado é que o Recife tem uma vacinação rápida e eficiente que permite o município abrir a imunização para outros grupos prioritários antes de outras cidades do País. Mas a pandemia não afetou apenas a saúde das pessoas. São muitos os desempregados e desassistidos pelo governo federal. Voltamos o nosso olhar para o cuidado com as pessoas, por meio de iniciativas de apoio à população como o AME Recife, nosso auxílio emergencial para as famílias que estão na fila do Bolsa Família e para aquelas com crianças até 3 anos. O AME Carnaval, que apoia o setor da cultura um dos mais afetados pela pandemia entre outras ações. E isso tudo sem deixar de dar continuidade aos serviços e projetos que a cidade precisa. Estamos nas ruas com a Ação Inverno, com investimento de R$ 69 milhões para atender quem vive em áreas de risco, asfaltamos ruas e passeios, construímos escolas e continuamos trabalhando pela qualidade de vida dos recifenses e das recifenses. Uma das muitas consequências da pandemia é o aumento da pobreza e da fome. Como a prefeitura tem enfrentado esta situação? A prefeitura do Recife tem uma grande preocupação com a questão socioeconômica. Estamos fazendo grandes esforços para amparar a população neste momento difícil em que as atividades econômicas foram duramente afetadas e o desemprego aumentou. Em março, lançamos o maior programa de proteção social da gestão, o Auxílio Municipal Emergencial Recife (AME Recife), que vai atender cerca de 30 mil famílias nos meses de abril e maio. Essa ajuda foi destinada a dois grupos: um formado por famílias que estão no Cadastro Único (CadÚnico), a chamada “fila” do Bolsa Família, e que estavam há meses sem nenhum tipo de assistência para dar conta das necessidades básicas; e outro formado por famílias que já recebem o benefício do governo federal e têm crianças com idade entre 0 e 3 anos, a primeiríssima infância. O primeiro grupo recebe duas parcelas de R$ 150 e o segundo um complemento de renda de R$ 50 também nos meses de abril e maio. O investimento foi de R$ 6,4 milhões dos cofres municipais. Quem trabalha no Carnaval, a maior festa do Recife, suspensa devido à pandemia, também recebeu ajuda da Prefeitura. Criamos o Auxílio Municipal Emergencial Carnaval (AME Carnaval), destinado a artistas, atrações e agremiações que tiravam da principal festa do Recife o sustento. Ao todo, cerca de 800 agremiações receberão o benefício até o fim do mês de abril. O investimento contou com apoio da Ambev e chegou aos R$ 4 milhões. Também oferecemos apoio aos setores produtivos, para que as empresas mantenham o seu funcionamento e não deixem mais pessoas desempregadas. A prefeitura adiou o pagamento do ISS para setores impactados mais severamente pela restrição de circulação de pessoas, como bares e restaurantes, hotéis, casas de eventos, salões de beleza, clínicas de estética, agências de viagem e espaços de entretenimento. Mas não basta somente fazer a nossa parte. A prefeitura também precisa unir esforços com a população. Por isso, em março, quando o Recife completou 484 anos, lançamos a campanha Aniversário Solidário, para arrecadação de alimentos em diversos pontos da cidade, como a sede da prefeitura, os postos de vacinação e supermercados parceiros. Diante dessa crise econômica, como estão as contas da prefeitura? Recebemos a Prefeitura com as contas em ordem, mesmo diante do cenário desafiador do ano de 2020, com os efeitos da pandemia restringindo receitas e exigindo investimentos na criação da rede emergencial de saúde e no apoio da população mais vulnerável. Porém, sempre é necessário cortar custos e manter um bom equilíbrio fiscal. Tivemos esse compromisso com o povo do Recife, de fazer da maneira correta, respeitando o dinheiro público. Por isso, lançamos um ousado plano de ajuste fiscal para melhorar a pontuação do Recife junto aos órgãos internacionais e conseguir fazer mais investimentos. Revimos contratos, cortamos despesas e atentamos para a gestão de pessoal visando a alcançar uma economia de R$ 100 milhões. Tudo isso apoiado na modernização da máquina pública e no planejamento integrado, para tornar a administração mais ágil e eficaz. Uma nova etapa do Parque Capibaribe está sendo realizada com o Parque das Graças. Qual a perspectiva de serem executadas outras etapas do projeto ainda na sua gestão? No dia do aniversário do Recife, 12 de março, a gente anunciou a construção do Parque das Graças, que vai ser o coração do Parque Capibaribe. É mais uma área verde que chega para a nossa cidade, para que a gente possa oferecer espaços de convivência aos recifenses e, ao mesmo tempo, cuidar do meio ambiente e do nosso Rio Capibaribe. O parque vai ter um quilômetro de extensão e a gente vai dividir em três fases. A primeira, já entrega

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Os partidos e a realidade sem coligações (por Maurício Romão Costa)

A evidência empírica das eleições proporcionais de 2020 no Brasil, sem as coligações, realçou três fenômenos na comparação com o pleito de 2016: (1) diminuiu o número de partidos em disputa; (2) diminuiu o número de partidos com representação nas Câmaras Municipais e (3) diminuiu o número de vereadores eleitos por siglas pequenas. Com respeito ao item (1), considerando uma amostra de cidades de diferentes tamanhos dos 26 estados da federação, constata-se que houve redução média global de 44% no número de partidos disputando as eleições entre 2016 e 2020, algo como de 22 para 14 partidos, conforme se depreende da Tabela abaixo: Chame-se à atenção que nos grupos de cidades de menor porte (40 mil habitantes, 15 mil habitantes, e as menores dos estados) 16 siglas, em média, disputaram as eleições de 2016, mas esse número caiu para sete em 2020, uma queda de cerca de 56%. Ainda com base no exposto nesta Tabela, é concebível inferir que há uma relação direta entre o número de partidos disputando as eleições e o tamanho das cidades: quanto maior o tamanho, maior a quantidade de partidos em concorrência e vice-versa. Por outro lado, na comparação entre 2016 e 2020, nota-se que à medida que o tamanho das cidades vai decrescendo, vai aumentando o percentual de partidos que deixou de concorrer às eleições. É oportuno mencionar ainda que no grupo de menores cidades de cada estado e naquele cuja população gravita no entorno de 15 mil habitantes as coligações eram destacadamente predominantes em 2016. Tanto assim é que nos 26 estados somente coligações disputaram as eleições em 15 cidades de cada grupo mencionado. Não houve nenhum partido isolado, em vôo solo. Isso só aconteceu em 11 cidades de cada grupo, quando uma ou duas siglas, no máximo, destoando do resto, todas coligadas, se aventuraram em competir isoladamente. Os dados retirados da Tabela projetam, assim, a perspectiva de que uma menor quantidade de siglas, aquelas mais sólidas e competitivas, é que subsistirão no emaranhado quadro partidário do país. Evidenciou-se também, ao fim do primeiro turno das eleições recém-findas, expressiva redução do número de partidos com representação nos legislativos locais dos municípios brasileiros, como estatuído no item (2). De fato, os dados mostram [Portal G1, 25/11/20] que as Câmaras com até seis partidos, que em 2016 respondiam por 50% dos municípios, agora são 82% do total. Em contrapartida, caiu a quantidade de municípios com mais de seis legendas nos Legislativos locais, de 50% em 2016 para 18% em 2020. Chamou à atenção, principalmente, o fato de que entre as duas eleições o total de cidades que tinha até três partidos com vereadores nas Câmaras sextuplicou, subindo de 262 para 1.565. Isso quer dizer que 28% das atuais 5.568 Câmaras de Vereadores do Brasil têm, no máximo, três siglas com representação. Essa queda na quantidade de partidos com vereadores eleitos sinaliza para redução da fragmentação partidária brasileira, considerada uma das maiores do mundo, ensejando melhor exercício da governabilidade por parte do executivo, maior racionalização dos trabalhos no Parlamento e conseqüente melhoria da qualidade legislativa. Por último, em relação ao item (3), o número de vereadores eleitos pelos 10 menores partidos (chamados de partidos nanicos) reduziu-se de 1.378 para 623 entre 2016 e 2020 [Poder360], uma queda de 55%, expondo as dificuldades dessas agremiações de pequeno porte de elegerem representantes nos legislativos quando são obrigadas a concorrerem isoladamente. Esses números, vistos em conjunto, mostram que o fim das coligações proporcionais pode estar ensejando um salutar processo de reconfiguração do arcabouço partidário brasileiro ao longo do tempo, com menos disputantes, maior compactação quantitativa de siglas (hoje são 33) e conseqüente diminuição de sua fragmentação. As causas que estão gerando este novo contexto partidário não são estranhas ao meio político. Com efeito, alguns desses partidos são meros expectadores do processo eleitoral. Não têm densidade de votos e muito menos representação parlamentar, exceto um caso esporádico ali, outro acolá (atestado disso é que em 2020 quatro partidos lançaram candidatos, mas não elegeram sequer um vereador nos 5.568 municípios brasileiros). Sobrevivem à custa do fundo partidário e de emprestar apoio a agremiações mais fortes. Como não há mais o exercício de poder dos grandes partidos em atrair siglas para o seu entorno, mediante concessão de vantagens em troca de cauda eleitoral, situação corriqueira na época das coligações, essas siglas ficam sem estímulos externos para concorrer. Ademais, sem absolutamente nenhuma chance de ascenderem ao Legislativo por seus próprios méritos eleitorais, tais siglas preferem não incorrer nos custos da disputa: os administrativo-financeiros, os contábil-fiscais e, pelos resultados inexpressivos nas urnas, os político-eleitorais. O fato é que o longo período do instituto das coligações proporcionais gerou uma perniciosa acomodação no sistema político-partidário-eleitoral do país, criando uma cômoda zona de conforto para a maior parte das agremiações, um verdadeiro jogo de ganha-ganha em que a estruturação, a qualificação e a solidez dos partidos não eram motivo de preocupação. Daí a histórica resistência no Congresso em acabar com o mecanismo das alianças, apesar de haver um quase consenso de que a fórmula era a grande distorção no sistema eleitoral de lista aberta em uso no Brasil. Enfim, mantido, como é de se esperar, o regramento da reforma eleitoral de 2017 - o fim das coligações proporcionais e a cláusula de desempenho partidário -, a solução para as agremiações com pouca ossatura de votos é enveredar pelo único caminho que lhes restam: o da fusão com outras siglas, através da qual podem ganhar envergadura para a disputa eleitoral e justificar a razão política de suas existências. *Por Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos (mauricio-romao@uol.com.br)

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A Operação Mãos Limpas e a Lava Jato: iguais do início ao fim?

*Por Amanda Ribeiro, especial para a Algomais A decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de que o ex-juiz Sergio Moro não teve imparcialidade no julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do triplex do Guarujá ocorreu no dia 23 de março, reacendendo debates antigos sobre a Operação Lava Jato, inclusive relembrando as suas semelhanças com a famosa operação italiana intitulada Mãos Limpas. As semelhanças passam por fatores como a grande atenção midiática, enormes escândalos de corrupção, políticos famosos investigados e grandes volumes financeiros. Como se não fossem suficientes todas as similitudes relacionadas ao processo das Operações, o ex-juiz Sérgio Moro e a Operação Mãos Limpas têm uma conexão antiga. Em 2004, quando ainda iniciava a sua carreira, o ex-juiz inclusive publicou um artigo intitulado Considerações sobre a Operação Mani Pulite, no qual a define como “uma das mais impressionantes cruzadas judiciárias contra a corrupção política e administrativa”. A Operação que desvendou um gigantesco esquema de corrupção na Milão da década de 90 foi um dos temas mais estudados por Sérgio Moro. Mas afinal, como aconteceu a Mãos Limpas, inspiração para a enorme investigação que mexeu com a política no Brasil? A grande Operação italiana Mani Pulite A Operação Mãos Limpas iniciou em 1992 e, até a sua época, foi a maior Operação que investigava um esquema de corrupção sistêmica já vista. O seu marco inicial ocorreu com a prisão de Mário Chiesa, membro do Partido Socialista Italiano e administrador de hospital público, com propinas de sete mil libras nos bolsos (cerca de US $5.000,00 com o câmbio atual). Supostamente, o dinheiro teria vindo de uma companhia de limpeza. Depois da sua prisão, mais de quinze bilhões de libras foram apreendidas em contas bancárias, imóveis e títulos públicos. Mário Chiesa confessou que exigia o pagamento de propina em cada contrato da instituição filantrópica no intuito de financiar ações do seu Partido e manter o cargo que ocupava no hospital. Ele expôs relações de corrupção sistemática em Milão que levou a novas investigações e prisões. Na prática, o sistema de propina estava tão generalizado que a expressão Tangentopoli ou Bribesville (em tradução livre: “cidade da propina”) passou a definir a situação. Ao final da Operação, 1.300 pessoas foram condenadas por corrupção, desvios de verbas, lavagem de dinheiro, etc. Foram revelados também esquemas de desvio de dinheiro para campanhas políticas. O que há de tão semelhante entre a Operação Mãos Limpas e a Lava Jato? As duas operações tiveram um sucesso estrondoso inicialmente, tanto da opinião pública quanto da mídia. Políticos poderosos e outros expoentes da sociedade foram investigados, julgados e condenados. A Operação Lava Jato também tem números que surpreendem: cerca de 80 fases e 550 pessoas denunciadas com 12 bilhões de reais que retornaram aos cofres públicos. Para que fiquem melhor esclarecidas as similitudes entre as operações, o advogado Leandro Felix*, especialista em Direito Público e membro do Centro de Estudos em Direito Eleitoral da ESA/PE, pontua alguns dos tópicos que expõem essa relação entre a Mãos Limpas e a Lava Jato: “Apesar das duas operações terem sido criadas em momentos e distintos da história, é possível concluir que as semelhanças mais evidentes entre elas são: combate a corrupção, grande exposição midiática, excesso na condução dos processos, inclusive na revisão de algumas penas condenatórias aplicadas e utilização da operação para fins políticos”. Uma das semelhanças mais interessantes é a trajetória de dois expoentes das investigações que foram do direito para a política: Antonio Di Pietro e Sérgio Moro. O primeiro, ex-promotor italiano, foi símbolo da Mani Pulite e grande protagonista da investigação. Sobre os fins políticos das operações, Leandro Felix acrescenta: “Antônio di Pietro alçou voos políticos, se tornando membro do parlamento italiano, assim como o ex-juiz Sérgio Moro largou a toga para assumir o Ministério da Justiça e Segurança Pública, que é um cargo político. O mais interessante deste exemplo que trago é que Moro é um entusiasta do trabalho de Di Pietro, na Operação Mãos Limpas, e isso acabou com que ele tomasse o mesmo caminho que o de seu “mentor”. Devido a repercussão de seus trabalhos ambos acreditaram possuir uma força quase irrestrita para levar adiante suas pautas políticas". O ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), chegou a dizer que a suspeição do ex-juiz Sergio Moro podia significar que a Lava Jato teria o mesmo fim que a Operação Mãos Limpas: “em que o sistema impregnado pela corrupção venceu o sistema de apuração de investigação e de condenação dos delitos ligados à corrupção”. É uma preocupação no cenário atual que a Lava Jato acabe terminando como a Mãos Limpas, que chegou a ter um representante da Organização das Nações Unidas (ONU) para atestar a independência do Poder Judiciário italiano. Os investigadores foram até mesmo ameaçados de morte, enquanto a Operação perdia o apoio popular e tinha a sua condução investigada por órgãos de controle. Sobre o caso da suspeição de Moro, o advogado Leandro Felix acrescenta que “tanto Moro quanto Di Pietro acabaram fracassando no caminho político trilhado, sendo aos poucos esvaziados politicamente”. Mas o que a suspeição de Moro realmente significa para a carreira do ex-juiz? O que significa a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro? A suspeição do ex-juiz Sérgio Moro significou afirmar a sua parcialidade no julgamento do ex-presidente Lula. Leandro Felix afirma que a suspeição é uma “cicatriz” na carreira do ex-juiz, e relembra que “a mesma 2ª Turma do STF” já havia se manifestado sobre a quebra de imparcialidade de Moro no Caso Banestado, “anulando a sentença condenatória de Paulo Roberto Krug, por ter tomado, na fase de assinatura do acordo de colaboração premiada, depoimentos de delatores, participando da produção de provas durante a fase de investigação”. O especialista em Direito Público Leandro Felix define que, durante o processo da Lava Jato, foi possível constatar um embate “quase que romano” entre a defesa do ex-presidente Lula e o até então juiz Sérgio Moro e, para explicar em quais momentos o ex-Ministro da Justiça teria sido parcial, cita o “caso

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O que o mercado de cloud e inteligência artificial reserva para 2021?

*Por Diego Santos O ano começou acelerando as inovações tecnológicas e, ainda assim, temos muito o que evoluir neste ponto. As mudanças seguem em alto ritmo devido à pandemia, já que, com isso, muitas empresas tiveram que adotar novos métodos rapidamente para seguir atuando - e aqui vale uma reflexão: a vida mudou e o mundo corporativo virou de pernas para o ar, fazendo com que empresários mais conservadores tomassem decisões paliativas pensando apenas em um curto período de tempo. Essa "maquiagem digital", após um ano, começa a mostrar que não é efetiva e torna obrigatória a adoção de tecnologias que auxiliem no crescimento e dia a dia das equipes. Em parceria com o IDC, levantamos algumas tendências que merecem atenção. Nesta pesquisa, podemos notar, por exemplo, que para 2021 as empresas tendem a olhar mais para atração e retenção de clientes, bem como equilibrar o universo digital com o físico na experiência do consumidor. Já pontos como introduzir novos serviços e reduzir custos da organização devem registrar queda. Assim, ao falarmos de inovação, cada dia mais, poderemos observar termos como segurança, inteligência artificial, cloud computing, 5G e experiência do cliente conquistando espaço. Vamos abordar cada um deles? Inteligência artificial e segurança Conectividade é o termo da vez. Dispositivos móveis, smart homes, assistente virtual etc. O leque de opções é enorme e as facilidades que prometem e proporcionam, são maiores ainda. O uso crescente da IA gera maior conectividade, automação de processos e aceleram o processo de DX (a famosa transformação digital). Tudo isso propicia um modelo híbrido de trabalho, criando novas oportunidades às corporações que passam a olhar com mais atenção para os serviços de rede, permitindo uma conectividade que pode se estender a qualquer usuário e localização. Quanto mais conectados estamos, mais expostos estamos também, certo? Depende! Do ponto de vista do usuário, ao clicar em "aceitar e continuar", você oferece informações para que o aparelho reconheça suas preferências e faça indicações a partir disso. É fundamental saber o que está aceitando, uma vez que tudo isso passa a te moldar. Já do ponto de vista das empresas, é preciso planejar e analisar muito bem o serviço que se contrata para garantir que todo o processo seja seguro do começo ao fim. Cada dia que passa vemos mais casos de vazamentos de dados e, até mesmo, empresas realizando pesquisas de crédito solicitando informações confidenciais, como a senha do banco. Por questões assim, esperamos com grandes expectativas pela LGDP - Lei Geral de Proteção de Dados - que gera duas ações complementares: impacto nas empresas que precisam se adaptar às normas e garantia dos direitos dos consumidores. Cloud computing e infraestrutura em TI Pelo avanço da IA e conectividade, já podemos notar porque cloud computing será umas das grandes tendências de 2021, não? Os investimentos neste ponto podem ser determinantes ao pensar em direções de novas tecnologias para infraestrutura e segurança. Com as necessidades mostradas pela pandemia, a nuvem é um caminho rápido para empresas que precisam ampliar resiliência operacional, revelando uma necessidade de evolução em ambientes híbridos e multicloud. De acordo com pesquisa do IDC, cerca de 90% das organizações de grande porte dizem contar com Data Centers tradicionais, sejam eles próprios ou terceirizados. Destas, 49% afirmam utilizar também algum modelo de Cloud como parte da sua infraestrutura de TI. Ainda de acordo com o IDC, somando os gastos com infraestrutura (IaaS) e plataforma (PaaS) em nuvem pública, o Brasil deve atingir US﹩ 3,0B, o que representa um crescimento de 46,5% em relação a 2020. O modelo de nuvem privada também cresce em bom ritmo, totalizando US ﹩614M em 2021. O maior crescimento vem de nuvens privadas como serviço (DCaaS), que podem avançar 15,5% se comparado com 2020. 5G Este é o ano da massificação do 5G no Brasil e, com uma conexão mais rápida, podemos esperar portas abertas para a adoção de novas tecnologias. Isso porque o uso dos smartphones no B2B rompe barreiras para adoção de outros serviços. Outros fatores que colaboram para o sucesso são as questões regulatórias, econômicas, geopolíticas e do ecossistema de tecnologia, tanto do lado da oferta como da demanda. O IDC estima que nos anos 2021-2022, o 5G proporcionará a geração de US ﹩2,7B de novos negócios envolvendo AI, IoT, Cloud, Segurança e Robotics etc. Experiência do cliente Observando todos os tópicos deste artigo, podemos concluir que o cliente é o foco. Cada tecnologia que aponta como tendência proporciona melhor experiência para o usuário. Ou seja, não importa o seu segmento de atuação, se você oferecer um serviço de qualidade e que proporcione conforto, agilidade e segurança ao cliente, você está no caminho certo. Aqui, a dica é: ouça sempre o seu cliente para adaptar rotas e fique ligado nas novas tecnologias para otimizar pontos fortes, melhorar pontos fracos e seguir conquistando mercado. A inovação é uma chave importante quando se pensa em sucesso. Como um integrante do Ambassador Program da Amazon Web Services (AWS) no Brasil - uma comunidade de especialistas técnicos da comunidade de parceiros de consultoria da AWS, e apaixonado por compartilhar conhecimentos técnicos da AWS e do universo de cloud - reforço: o melhor caminho para uma empresa mergulhar na transformação digital começa com um bom parceiro que vai desenvolver um plano robusto, desde a estratégia mais adequada até a escolha das tecnologias adotadas, para juntos construírem e manterem uma boa gestão na jornada. Tendo conhecimento de tudo isso, te pergunto: o que você fará pela sua empresa neste ano? *Diego Santos é gerente de tecnologia e inovação da Nextios, unidade de negócios corporativa do grupo Locaweb, dedicada a soluções de negócio e serviços gerenciados para nuvens públicas, privada e híbridas.

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"O grande desafio é superar o vício histórico do lucro a todo custo"

Qual o impacto da pandemia no enfrentamento à fome no Brasil? Fizemos esta e outras perguntas relativas à segurança alimentar a Malaquias Batista Filho, que é docente e pesquisador do IMIP e professor emérito da UFPE e da UFBA. PhD em Saúde Pública pela USP, ele foi membro do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) entre 2003 e 2011. Quais os efeitos da pandemia no cenário do enfrentamento à fome no Brasil? Difícil avaliar seguramente, porque não temos sistemas informativos ágeis e específicos para registros consistentes, como sistemas de vigilância alimentar e nutricional. Mas a taxa de 14% de desempregados e o fechamento de parte da rede de comércio varejista é, sem dúvida, a face exposta da insegurança alimentar no Brasil de hoje e de amanhã. Qual a relação entre o agravamento da fome e as ações do atual Governo Federal de desmobilização de algumas estruturas que tratavam do enfrentamento à fome? O Governo Federal extinguiu o Conselho Nacional de Segurança Alimentar (CONSEA) e seus vários programas que colaboraram para retirar o Brasil do Mapa Mundial da Fome. Pelo agravamento do desemprego, desativação de programas de apoio alimentar, elevação dos preços de alimentos, transporte, moradia, custos e crise nas escolas públicas e privadas estamos caminhando para a volta ao mapa da fome. Um retrocesso neste ano em que se completa 75 anos da Geografia da Fome, de Josué de Castro. Quais os caminhos de curto e longo prazo para enfrentar o agravamento da fome no Brasil e construir uma situação mais sustentável de segurança alimentar? A curto prazo: reativar programas de efeito mais imediato, como a Bolsa Família (que tem funcionado precariamente), as cestas básicas de alimentos, as frentes de trabalho em obras públicas e privadas e até o novíssimo (mas já decadente) auxílio emergencial do atual governo. A médio prazo é preciso estimular as atividades que demandam mão de obra intensiva, por ciclos reprodutivos curtos e impacto na desaceleração de preços no mercado alimentar, massificar o ensino atendendo as demandas imediatas e potenciais do mercado de ocupações. Há muitas ações populares para socorrer as famílias em maior situação de vulnerabilidade social neste momento. Mas como a iniciativa privada pode colaborar de maneira mais assertiva neste momento? O grande desafio é superar o vício histórico do lucro a todo custo, como princípio meio e fim do homem e da sociedade. O lucro não deve ser necessariamente um logro. Os objetivos e metas do milênio para os próximos 20, 30 ou 40 anos já devem ser gradualmente implementados desde agora. Ou melhor, desde o começo do milênio, porque são obrigações e compromissos assumidos por todas as nações para referendar os princípios e estratégias para refundar um novo mundo. Isto está valendo, evidentemente, para o Brasil, que infelizmente, vive a maior crise sanitária de sua história com centenas de milhares de casos de covid-19. São vários os desdobramentos: agravamento da pobreza e da indigência, da insegurança alimentar, dos princípios e práticas éticas, incluindo a permissividade política em vários níveis do poder e das instituições. O mundo todo, inclusive os países membros das Nações Unidas, sabem o que fazer e o que pedir com a segurança de compromissos multilaterais. Basta aplicar as anotações claras que compõem os direitos e deveres de cidadania e do milênio. Gostaria de destacar algo mais nessa agenda pela insegurança alimentar? Sim, os efeitos tardios da fome desde a gestação, como o baixo peso ao nascer, o retardo mental, o aumento da mortalidade infantil e outras sequelas orgânicas e sociais.

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"Pessoas influentes devem propagar informações sobre a prevenção da Covid-19"

Por que, em plena pandemia, as pessoas não usam máscaras e descumprem o isolamento social? A resposta parece não ser simples. De acordo com a psicóloga Suzana Konstantinos Livadias, existem questões de cunho econômico e social, que levam indivíduos a questionarem por que podem se aglomerar no transporte público para trabalhar e não podem se unir a uma multidão para se divertir. Suzana, que coordena o Espaço Trans – voltado à população transexual e travesti no Hospital das Clínicas/UFPE – também critica o comportamento do presidente Jair Bolsonaro e de celebridades que não adotam as medidas preventivas e influenciam um grande número de pessoas. Nesta entrevista a Cláudia Santos, a psicóloga analisa essas questões e faz um apelo para que a mídia e as pessoas influentes sejam responsáveis e estimulem a sociedade a se proteger contra o coronavírus. Você considera que muitas pessoas acreditam que não serão contaminadas e por isso não seguem as medidas de prevenção à Covid-19? Acho que tem esse fator. Não posso dizer que essa é a questão que motiva as pessoas a não seguirem as medidas, mas acho que, na medida em que não temos a concretude do vírus, porque ele é algo invisível, talvez as pessoas, de fato, tenham a dificuldade de entender a necessidade de prevenção e até por terem um repertório reduzido de informações e de compreensão da ciência. Mas acho que tem outra questão sobre pessoas representativas que, simbolicamente, têm uma importância. Elas poderiam ser esse intermediador de propagação de informações sobre a prevenção da Covid-19, na medida em que muita gente acreditaria naquilo que alguém importante está dizendo. Quando vemos, por exemplo, o presidente Jair Bolsonaro não usando a máscara, contrário ao isolamento social e ao lockdown, é compreensível o sujeito comum também dizer: “se o presidente, que é o presidente, não está usando, por que eu vou usar?” Ele ocupa um lugar simbólico de representatividade, é o cargo de poder máximo do nosso País. Ele exerce uma influência muito grande na medida em que os comportamentos dele serão divulgados, têm visibilidade, então isso impacta sim, e de uma forma negativa. Há um texto teórico chamado Pacto edípico e pacto social (do psicanalista e escritor Hélio Pelegrino?), é uma análise psicanalítica que vai trazer essa questão de que se essas regras de prevenção não são cumpridas na macroestrutura, por alguém que é responsável por cuidar das pessoas, na sua microesfera, as pessoas também não vão cumprir suas regras. Se os pactos sociais não são cumpridos, os pactos mais individualizados também não serão. Há uma autorização implícita, tácita, que as pessoas acabam também reproduzindo. Existe um desconhecimento das pessoas de que, ao não adotar as medidas de prevenção da Covid, pode impactar na saúde das outras pessoas, inclusive de familiares? Pessoas que têm um repertório mais restrito de informações podem ter dificuldades de entender que sua atitude pode prejudicar os demais. Mas acho que há também um pouco de ausência do senso de coletividade, de uma falta, talvez, de compreensão de que a minha atitude vai refletir num cuidado mais coletivo, de cuidar do outro. As pessoas estão mais voltadas para si, num certo egoísmo, num certo hedonismo, até porque, se a gestão pública, que cuida de todo mundo, informa que você tem que trabalhar, porque senão vai ficar com fome, isso sugere que você é o responsável pela sua sobrevivência. Então, se não há um cuidado de uma gestão pública para se responsabilizar por esse aspecto coletivo, o sujeito, por si, só também acha que não deve se cuidar. Mais uma vez eu volto à questão do pacto social. A população assiste a pessoas significativas, como Gabigol e Elba Ramalho (ambos foram flagrados pela polícia ao organizarem festas para muitas pessoas) fazendo grandes comemorações e podendo curtir, e passa a pensar: “se eles podem, por que que a gente não pode, né?” O fato de as pessoas terem que se expor para trabalhar e pegar transporte público lotado, as levam a pensar que também têm direito de se expor para se divertir? Eu acho que isso é uma relação muito direta. Divertir-se também está sendo colocado um pouco como álibi para sair, porque traria benefícios para a saúde mental. De fato, a saúde mental fica prejudicada se a gente não tem laços no convívio social. Mas é preciso ponderar. Diante das circunstâncias, o que a gente prioriza: a vida, o cuidado, o altruísmo no sentido de cuidar do outro ou aglomerar? Mas, essa relação de poder aglomerar para trabalhar e não poder para se divertir pode não ter sentido para muita gente. Outra questão é que em muitas comunidades vulneráveis, falar em isolamento social é até risível. Muitas pessoas trazem para nós o seguinte pensamento: “como fazer isolamento social se na minha casa moram 13 pessoas e só existem dois cômodos?”. Precisávamos dar alternativas para aqueles que não têm condições de fazer o isolamento social. Então, só os privilegiados, só aqueles que residem num espaço maior vão poder fazer? Leia a entrevista completa na edição 181.1 da Revista Algomais: assine.algomais.com

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Félix, a Ditadura e as Lembranças. Três atos de uma tragédia brasileira

Por Luiz José de França* À propósito dos tempos que vivemos; À propósito do esquecimento e do seu polêmico direito;(de ser esquecido, de ser anistiado pelas atrocidades que afetam a vida de centenas, de milhares); À proposito do dia de ontem - 31.03.1964– que para muitos (sobreviventes, viventes, torturados e torturadores) não dá para esquecer - sem refletir; À propósito de uma Anistia que - à pretexto de reconciliar o Pais - foi incapaz de passar a limpo os erros do passado, para garantir e legitimar os próprios fundamentos que a Constituição de 1988 foi capaz de “positivar” (como dizemos no Direito – tornar imperativo categórico); Me vem as lembranças de um velho comerciante, nascido no Buíque, que fez fama e prosperidade em Arcoverde e consolidou um estilo de ser e de viver que tinha na Verdade e na Transparência, o seu Imperativo Categórico Máximo. Felix de França Galvão. Ato Um. Em 02 de Abril de 1964, no calor do ato adicional 01 (o primeiro ato do regime que se denominava salvador da moral, das liberdades e da “democracia”), onde as delações e entregas, a partir de memórias distorcidas (?) ou de mágoas pessoais era a regra, Félix começa a busca pelo seu cunhado, então Major ou Tenente Coronel (a memoria e as reminiscências das inúmeras conversas com meu Pai sobre estes tempos, me falham quanto a patente) – Solano – meu Tio – que fora preso nos primeiros dois dias do golpe por - segundo o seu “delator premiado” – estar a mando do então governador eleito (naquele momento já preso e deposto) Miguel Arraes – insuflando e armando os trabalhadores da mata norte e sul do Estado, para TOMAR na marra os bens, a dignidade e fidalguia dos nossos senhores da cana. Meu Tio, um homem religioso, era incapaz de um erro sequer. Sua formação evangélica não permitia isso. Era incapaz de um malfeito sequer. Ao contrário do seu “delator premiado” construiu sua carreira dentro do espectro da farda, com dedicação as instituições. Ao contrario da delação, ele ia sim a zona da mata, mas para preservar o Direito de Greve dos Trabalhadores e – ao mesmo tempo – preservar as propriedades privadas daqueles que – mais tarde – já tramavam pela sua prisão. Ou seja, preservar o ambiente democrático, garantir a plenitude do contraditório e assim assegurar consensos que somente se constroem a partir dos dissensos. Mas voltemos ao Ato. Felix então, juntamente com seu outro cunhado, Francisco, começam a perseguir informações. Desencontradas, diziam que Solano não estaria mais em Recife. As incertezas cessam pela intervenção forte e sempre altiva de João Roma (Avô do Atual Ministro do Governo Federal) dono de cartório e cujo pai era padrinho de Felix. Com a intervenção decisiva dele Solano é solto – e meu pai me disse diversas vezes – “Lula, ele pegou o telefone, ligou para o Comandante Cahu (então o comandante do exercito no NE) e disse a ele “que palhaçada é esta Cahu! Solano é um homem de bem!”. Uns 10/15 dias depois, um Solano triste e claramente depressivo, era solto. Isso lhe custou vergonha. Custou a incompatibilidade com a farda. Custou-lhe de forma voluntaria o pedido de aposentadoria, que lhe tolheu uma carreira brilhante. Ato 2. Em 1969, um jovem arcoverdense chamado Zé Áureo (ainda vivo e pode confirmar o relato) participava - nas imediações da praça Joaquim Nabuco - de ato contra os militares que cinco anos depois já não tinham pudores. O AI 5, cassando inclusive Ministros do STF, dava o tom do que Helio Gaspari chamou em sua obra de “a ditadura escancarada”. Por uma destas coincidências, Félix, amigo irmão de Zé Áureo Pai (o pai do Zé Estudante que gritava e protestava contra o regime, na condição de cidadão e acadêmico de Direito, da Faculdade de Direito do Recife) socorre o jovem Zé, retirando-o da encrenca e o escondendo – como de resto fez com mais alguns – por algumas horas e dias. Depois disso, com a intervenção do seu Pai, o jovem Zé Áureo – dali saiu para o auto exilio, para terminar sua formação em Portugal. Ato 3. 1976. Felix chega em casa. 05:30 da manhã de um domingo. Ao chegar no portão da garagem do Edf Apolo é abordado por duas pessoas. Eles não se identificam. Mas, como num passe de mágica descrevem toda a rotina de Félix. Onde ia, onde bebia (bar de seu Manoel) aos domingos, sobre o seu comércio e começam a descrever as pessoas do seu entorno. Seus parentes. No meio deles, um jovem brilhante, acadêmico de medicina, que como tantos, protestou e canalizou os seus protestos para aquilo que até mesmo Lenin, em sua obra doença infantil do comunismo, chamava de “esquerdismo”. Carlos, hoje Doutor e meu doutor também, era investigado pelo aparato. Mas, o comportamento e os hábitos dele não faziam dele – naquele momento – alvo para um sumiço. Era preciso pressionar. Destruir o psicológico para que se não funcionasse, ai sim se invocasse a LSN – Lei de Segurança Nacional – e se tomassem as providencias. A ditadura se sofisticava ou, me socorrendo de Helio Gáspari novamente, “se envergonhava” e criava “métodos” mais sublimes de coerção e de destruição de sonhos. Não sei se por este motivo ou não, meu primo saiu do Recife para o Rio de Janeiro, onde fez sua residência e concluiu com imenso êxito seu curso de medicina. Hoje, uma referencia no mundo, como médico na sua especialidade, não perdeu seu espirito critico. Epilogo. A ditadura passou por nós. Passou pelos nossos. Não há o que comemorar. Não há o que exaltar. A trajetória dos regimes de exceção, venha de onde vierem, é a trajetória das delações – que a pretexto de fazer justiça se travestem em benefícios pessoais – das perseguições infundadas, dos ranços presunçosos e da intolerância. Em tempos de rede social, de incapacidade de se mediar pelo outro, as pontes que levam a evolução social e econômica de qualquer Pais ou Povo –

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Comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica deixam cargos

Da Agência Brasil O Ministério da Defesa anunciou a saída dos comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. A mudança ocorre um dia após Fernando Azevedo e Silva ter deixado o cargo de ministro da Defesa, assumido então por Braga Netto, que chefiava a Casa Civil. A nota do ministério não informa o motivo das saídas nem os nomes de quem ocupará os comandos das três Forças Armadas. Segundo a pasta, a decisão foi tomada durante reunião com a presença de Fernando Azevedo e Silva, Braga Netto e dos três comandantes substituídos – Edson Pujol (Exército), Ilques Barbosa (Marinha) e Antônio Carlos Moretti Bermudez (Aeronáutica). Na segunda-feira (29), ao anunciar que deixaria o cargo de ministro da Defesa, Azevedo e Silva agradeceu ao presidente Jair Bolsonaro a oportunidade de “servir ao país”, integrando o governo por mais de dois anos. “Nesse período, preservei as Forças Armadas como instituições de Estado”, afirmou, destacando que deixa o posto com a certeza de ter cumprido sua “missão”. Azevedo e Silva também disse ter dedicado total lealdade ao presidente, e agradeceu aos comandantes das Forças Armadas (Aeronáutica, Exército e Marinha), bem como às respectivas tropas, “que nunca mediram esforços para atender às necessidades e emergências da população brasileira”.

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Advocacia é tema de palestras virtuais em abril

O advogado e professor Almir Reis fará duas palestras virtuais, no início de abril. A primeira será nesta quinta-feira (01/04), às 15h, para alunos do curso de Direito da Faculdade Maurício de Nassau (Uninassau). Vai falar sobre desafios da área e suas experiências na advocacia. Também participará do debate o advogado e ex-candidato à Prefeitura do Recife, Carlos Andrade Lima (PSL). Já no próximo dia 07 de abril, a convite do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP), Almir fará a palestra de encerramento do 1º Seminário Online IBDP Jovem. No evento jurídico, o professor vai falar para mais de mil advogados sobre como empreender na advocacia, em tempos de pandemia. O evento virtual será transmitido ao vivo pela plataforma Zoom.

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