Arquivos Nordeste - Página 2 De 7 - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco

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Quais as oportunidades para Pernambuco no cenário do Nordeste?

Em palestra do projeto Pernambuco em Perspectiva, realizada pela Algomais e pela Rede Gestão, o superintendente da Sudene, Danilo Cabral anunciou que a região vai crescer acima da média nacional, mas o Estado precisa de união e mobilização para aproveitar os investimentos *Por Rafael Dantas | Fotos: Tom Cabral O PIB do Nordeste está reagindo e promete voltar a crescer acima da média nacional. Em um contexto de aumento dos investimentos federais na região, além de grande interesse privado nos setores de energia e infraestrutura, o Estado tem oportunidades visíveis para construir um novo ciclo de desenvolvimento. No evento de agosto do projeto Pernambuco em Perspectiva – Estratégia de Longo Prazo, realizado pela Revista Algomais e pela Rede Gestão, o superintendente da Sudene, Danilo Cabral, destacou alguns dos principais potenciais de crescimento mas revelou também o cenário preocupante de redução do protagonismo dos pernambucanos na economia regional. Os nove Estados da região Nordeste respondem por 13,8% do Produto Interno Bruto do Brasil (ano de 2021, último com números divulgados), embora abriguem cerca de 26,9% da população brasileira, segundo o Censo 2022. Apesar dessa disparidade, várias consultorias projetam um crescimento econômico na região superior à média nacional nos próximos anos. A Tendências, por exemplo, estima que o Nordeste terá um avanço anual de 3,4% entre 2026 e 2034, superando a expectativa média de 2,5% para o Brasil no mesmo período. Danilo Cabral ressaltou a elevação do volume de investimentos destinados à região, como o FNE (Fundo Constitucional de Desenvolvimento do Nordeste) e o FDNE (Fundo do Desenvolvimento do Nordeste). Enquanto o primeiro tem R$ 39 bilhões, dividido em 20 linhas de crédito, o segundo em 2023 liberou R$ 2,46 bilhões e atualmente detém um orçamento de R$ 1,1 bilhão. Esses números e um conjunto de outros programas e parcerias da instituição revelam uma nova vitalidade da Sudene, que ainda é pouco conhecida pela sociedade. Há ainda diversos outros instrumentos de incentivo ao desenvolvimento regional em andamento dentro da superintendência. “É preciso desconcentrar o crescimento do País (entre as regiões) e dentro do Nordeste, também, porque ficou muito centralizado na beira do mar. É preciso levar para o interior e consolidar um conjunto de cidades policêntricas, com crescimento que transborda para os municípios próximos. Em Pernambuco, por exemplo, Serra Talhada é uma cidade com essa característica. Quando ela cresce, a borda do Pajeú cresce também”, afirmou Danilo Cabral. Além de uma melhor distribuição geográfica do crescimento do País, com foco na redução das desigualdades, o superintendente destacou ainda uma preocupação acerca do tipo desse desenvolvimento. O foco de atração de investimentos e de criação de novos polos deve ser conectado com as tendências globais. “Os eixos com que queremos atuar dialogam com a pauta do mundo de hoje. Queremos um desenvolvimento sustentável, que trabalhe a inovação, o meio ambiente, a infraestrutura, a educação e o desenvolvimento social e produtivo, além da capacidade de governança”, destacou Danilo Cabral. Essas diretrizes estão no Plano Regional do Desenvolvimento Nordeste que orienta as políticas e projetos da instituição. INDÚSTRIA NO HORIZONTE DA REGIÃO O novo ciclo de desenvolvimento do Nordeste deve ser puxado pelo setor industrial, segundo a Consultoria Tendências. A estimativa é que o PIB Industrial cresça 4,3% entre 2026 a 2034. Muito dessa estimativa vem dos anúncios feitos pelo Governo Federal com o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e o Nova Indústria Brasil. Em ambos a Região tem um papel de destaque, com boas parcelas do orçamento. No PAC, do total de R$ 1,7 trilhão previsto, a parcela de R$ 700 bilhões é para o Nordeste. Só em Pernambuco há uma previsão de aportes de R$ 91,9 bilhões. As áreas com mais investimentos esperados no Estado são Educação, Ciência e Tecnologia (R$ 21,1 bilhões), Transição e Segurança Energética (R$ 16,8 bilhões) e Cidades Sustentáveis e Resilientes (R$ 14,8 bilhões). No programa Nova Indústria Brasil, as expectativas são de mobilização de R$ 360 bilhões. A diversidade de áreas é extensa, devido à complexidade do tecido industrial pernambucano. No entanto, Danilo Cabral elencou algumas das principais. O campo fica contemplado com aportes em mecanização da agricultura familiar, na fruticultura, na produção de etanol, além de um olhar atencioso aos potenciais da Caatinga. O polo automotivo tem como destaque os incentivos às cadeias produtivas da Baterias Moura e da Stellantis. Há ainda investimentos previstos para impulsionar os serviços de transformação digital da indústria, conectadas ao Porto Digital e à Rede de ICTs (Instituições Científicas e de Inovação Tecnológica). Outros destaques são para a indústria da biotecnologia, com oportunidades para o Lafepe e para a Hemobrás, além do investimento robusto na Escola de Sargentos, que deve contribuir para pesquisas na área de defesa. Há também um movimento recente na região de investimentos bilionários em parques de energias renováveis (eólicas e solares). No radar de vários Estados estão também projetos de muitos bilhões para produção de hidrogênio verde, que é a grande aposta para a descarbonização da matriz energética global no médio prazo. Apesar dos investimentos que chegam para a região nesse setor energético, é importante ressalvar que existe uma forte crítica dos impactos desses parques industriais na Caatinga. Há embates tanto com as populações tradicionais, quanto em reação ao avanço do desmatamento da vegetação. Um cenário que contribui para ampliar o risco de desertificação nessas áreas, já afetadas pelos efeitos extremos das mudanças climáticas. DESAFIO DA TRANSNORDESTINA Em uma introdução à apresentação de Danilo Cabral, o consultor da TGI Francisco Cunha destacou a necessidade de fomentar um novo ciclo de desenvolvimento de Pernambuco. Apesar da percepção do esgotamento dos horizontes traçados nos anos 1950 para o futuro do Estado, uma peça prevista que não foi realizada é a ferrovia que conectaria o porto ao Sertão. “A única previsão do desenho original traçado pelo Padre Lebret para Pernambuco, que não se concretizou, é a Transnordestina”, sentenciou o consultor. Essa infraestrutura, fundamental para a logística da região, começou a ser construída na primeira gestão do Governo Lula, no ano de 2006, mas nunca foi concluída. Em 2022, no

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José Teles: "A história da música é muito contada do ponto de vista dos cariocas e paulistas"

No momento em que existe uma discussão sobre as diferentes narrativas dos acontecimentos, é interessante e oportuno o lançamento do livro Choro e Frevo, Duas Viagens Épicas, de José Teles (que pode ser adquirido pelo Whatsapp 81 98871-9261). Jornalista e crítico de música com anos de experiência em jornais, Teles é autor de vários livros sobre a história musical de Pernambuco. Sua mais recente obra descortina fatos pouco conhecidos ou que foram “inviabilizados” com o passar dos anos, muitas vezes, em razão do maior destaque dado à cultura do Sudeste. A começar pelas duas viagens mencionadas no título ocorridas nos anos 1950. Numa delas, um grupo de instrumentistas de Pernambuco percorre o trajeto do Recife ao Rio de Janeiro num Jeep, de 1951, para se encontrar com Jacob do Bandolim, então, já venerado como um craque do choro. Na casa do bandolinista uniram- se músicos cariocas e pernambucanos numa apresentação virtuosa. Um adolescente que assistia a tudo, ficou tão extasiado que decidiu ser também violonista: ninguém menos que Paulinho da Viola, que se impressionou, principalmente, com a performance de Chico Soares, o Canhoto. Outra “viagem épica” contada no livro foi a do bloco Vassourinhas para o Rio de Janeiro. Recebido com entusiasmo pelo povo e pela imprensa cariocas, o grupo porém enfrentou muita confusão na volta ao Recife. Antes, fizeram uma escala na Bahia, onde inspiraram Dodô e Osmar a criar o trio elétrico. Como surgiu a ideia de produzir este livro e como foi o processo de pesquisa? Nunca ninguém havia escrito essa história sobre essa viagem do Vassourinhas. Muitos escreveram no oba-oba, que a ida ao Rio e a Salvador foi um sucesso. Mas teve muita confusão. Eu escrevi uma matéria grande no Jornal do Commercio, tempos atrás, sobre o assunto. Na época até falei com uma pessoa que viajou junto com o Vassourinhas. Desde então, eu tinha a ideia de escrever esse livro. Um dia estava conversando com Amaro Filho (radialista, produtor cultural e documentarista) num bar na rua Mamede Simões, e ele me falou de uma outra viagem de chorões pernambucanos que foram num Jeep para um encontro com Jacob do Bandolim no Rio de Janeiro. Ele queria fazer um documentário sobre isso. Aí eu falei da ideia de fazer um livro da viagem do Vassourinhas. Então, pensamos: por que não fazer um livro sobre as duas viagens? O Vassourinhas já era uma lenda do Carnaval, conhecido no Brasil inteiro nos anos 1950. Existiam vários clubes com o nome de Vassourinhas pelas cidades. Era uma espécie de Flamengo (risos). A quantidade de matéria sobre a chegada do Vassourinhas na imprensa do Rio foi absurda. Decidi fazer o livro, mas, dessa vez, não conseguiu falar com ninguém que participou da viagem e o edital do Funcultura tinha um prazo para terminar. Já a viagem dos chorões foi muito pouco noticiada na imprensa. Mas, por sorte, Amaro encontrou-se com Chico, filho de João Dias, marido de dona Ceça. Ele foi na casa de Chico que forneceu um material enorme. O pai dele se correspondia com Jacob e tinha muita foto, gravação. Aí já foi um grande avanço. Depois, Amaro teve acesso ao diário de dona Melita (Conceição Melin), que era esposa do violonista Zé do Carmo. O diário dela já dava um livro, é muito meticuloso. Amaro também conseguiu falar com o pessoal de Jacob do Bandolim que mandou muito material pra gente, até as gravações feitas naquela noite que tinham Jacob falando quem era cada um dos chorões que tocavam. No livro você fala na quantidade de exímios violonistas pernambucanos e como eles influenciaram o choro e gente bamba como Pixinguinha, um fato que pouca gente sabe. Por que Pernambuco tinha tantos bons instrumentistas de violão? A história da música é muito contada do ponto de vista dos cariocas e paulistas. É sempre de lá pra cá e nunca daqui pra lá. Por exemplo, João Pernambuco foi um dos maiores violonistas do Brasil, influenciou vários artistas no Rio, como o próprio Pixinguinha. Sua influência na música que se fazia no Rio nas primeiras décadas do século 20 é imensa e o violão popular brasileiro se fundamenta na sua obra. Muitos expoentes do samba e do choro, como Pixinguinha e Donga beberam na fonte de João Pernambuco. A presença do violão na música do Brasil é uma história que nunca foi contada. Na verdade, os escravos sempre tiveram uma relação forte com o instrumento, porque na África não havia só tambor, mas também muito instrumento de corda. No livro, eu mostro anúncios de jornais sobre escravos fugidos, que ressaltavam o fato deles tocarem violão. Quando surgiram os blocos no Carnaval, eles desfilavam com muitos violões. Blocos como Apôs-Fum e das Flores, saíam com 70 violonistas, além de bandolim, banjo. Esses instrumentos eram muito comuns no Recife e havia muitos frevos compostos para eles. Havia um violonista daqui que era muito bom, que foi importantíssimo: Alfredo Medeiros. Eles foi para o Rio, por causa de uma perseguição do governador Agamenon Magalhães que o exonerou do cargo que ocupava no Tesouro Estadual. Era uma pessoa muito conhecida no Rio. No Recife havia dois programas de grande audiência com violonistas: o Clube das Cordas, na Rádio Clube de Pernambuco, e Quando os Violões se Encontram, na Rádio Jornal do Commercio. Já Rossini Ferreira, que participou da viagem até a casa de Jacob, era muito bom no bandolim. Ele trabalhava como administrador de um empresário pernambucano, que se mudou para o Rio e ele foi junto. No anos 1970 houve um movimento de revalorização do choro e em 1977 aconteceu o Concurso do Choro 77, do qual foi vencedor o grupo Amigos do Choro que Rossini integrava. O grupo concorreu com uma música do bandolinista pernambucano. Em seguida aconteceu o Festival Nacional do Choro, com muita gente experiente concorrendo e que teve grande cobertura da imprensa. E, mais uma vez, Rossini ganhou. Entre os chorões pernambucanos que viajam no Jeep está Ceça Dias. Quem era essa instrumentista e era comum mulheres

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Água de pote: a boa água de beber

A boa água é essencialmente limpa, e quando fresca melhor ainda. São muitos os imaginários sobre a água, e a esses imaginários integram-se os cenários culturais e sociais que ritualizam esse tão precioso líquido.  Água de pote é uma categoria regional, uma tipologia de “lugar” para a água na casa. É a água guardada em potes de barro com várias características estéticas. Geralmente um pote de barro pode comportar de dez a vinte litros de água. Além de ser um utensílio, o pote é também um objeto fundamental por preservar a água de beber; ele exibe e comunica: “temos água, água boa porque está no pote”. Quase sempre os potes têm tampas de madeira que são feitas especialmente para o uso doméstico. Ainda, é comum que a boca do pote esteja protegida por uma toalha de pano, pano alvíssimo, como se atestasse uma qualidade de limpeza, assim, a água ali guardada é tão limpa, tão pura, quanto a brancura do pano. Normalmente, o pote está na cozinha ou, como ocorre em muitas casas do Nordeste, ou em ambiente único da casa. O pote quase sempre, nesse contexto, ocupa um tipo de mobília chamada de banca de pote, que é “entronizado” com destaque na casa. Geralmente no entorno do pote estão às fotografias da família, os quadros de santos, ou outras informações visuais importantes que são concentradas e exibidas próximas ao espaço da água; assim, como os copos, as canecas, as cuias, e as meias cabaças, que são para se beber a água, e também os utensílios para se retirar a água dos recipientes. Vê-se o aproveitamento do coco seco para se fazer o “coco d’água” – tipo de caneca especial para se retirar a água do pote. Há outro tipo de utensílio para se retirar água do pote que é feito de flandres, e apresenta as bordas dentadas, justamente para evitar que se coloque na boca, e assim se mantém a água limpa e boa para o consumo. Sem dúvida, o pote participa do processo de decantação das impurezas da água, pois as águas chegam de muitos e diferentes lugares. O pote confere à água odor e sabor especial que vem do barro. Essa água é comparada à “água de quartinha”, que é outro tipo de recipiente de barro, só que de uso individual, para conter e servir água.  Há a tradição de se dizer que: “água de quartinha e água de pote são mais gostosas”. Atribui-se, por isso, uma qualidade especial a esse tipo de armazenagem. Esses recipientes mostram as possibilidades de preservação da pureza desse tão preciosos líquido para o consumo humano. Esse é um processo tradicional de filtragem. Como ainda acontecem com os tradicionais filtros de barro, alguns artesanais e outros industrializados. Beber água de pote é um componente da construção do paladar, é a inclusão de um novo sabor que também está na comida preparada com esta água de sabor especial e peculiar. O pote na maioria dos casos é a única opção de se ter água “potável” em casa. São milhares de casas no Nordeste, na região amazônica, e em outras regiões que utilizam esse utensílio como sendo a única maneira possível de acondicionar água. A água de pote é um forte retrato da vida de milhares de brasileiros que ainda recorrem a esse costume para se ter certa qualidade na água que é destinada ao consumo na casa. Água para se beber e para se fazer comida. Em outros cenários é crescente o cuidado gastronômico no consumo da água, inclusive numa valorização que requer até os serviços de um “sommelier” especializado para água.

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Pesquisa do ViajaNet: Recife é o destino nacional mais procurado pelos brasileiros

Em meio ao período mais desafiador para o turismo em todo o mundo, a capital pernambucana foi o destino preferido pelos brasileiros que fizeram suas viagens de avião em 2020. Essa é a revelação da Pesquisa realizada pela agência virtual de turismo ViajaNet. O levantamento reuniu informações de todas as vendas de passagens aéreas para o Brasil entre janeiro e novembro do ano passado. O Recife contabilizou sozinho 3,3% das viagens domésticas do País. Na lista dos destinos mais visitados estão na sequência as cidades de Salvador, na Bahia (2,5% das vendas de viagens nacionais), Fortaleza, no Ceará (quase 2% do montante de bilhetes emitidos), São Paulo, Rio de Janeiro e Maceió. Para o head of marketing do ViajaNet, Gustavo Mariotto, as cidades do Nordeste ainda são a preferência dos brasileiros que viajam dentro do País. “Entretanto, observa-se uma ligeira mudança de comportamento do consumidor, com um interesse crescente por cidades com grande estrutura para atividades culturais e gastronômicas, como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, por exemplo”, comenta Mariotto.

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Feijoeiros , Feijoadas e os paladares cotidianos.

Sob as denominações de feijoeiros e feijões estão incluídas plantas e sementes de diversas espécies, reunindo dezenas de tipos. As espécies principais são do gênero Phaseolus. Phaseolus aconitifolius Jac. var. – origem americana Phaseolus angulares Wild – origem japonesa Phaseolus aureus Roxhg – cultivado a muito tempo na Índia Phaseolus lunatus L – origem na Guatemala Phaseolus vulgaris L – origem na América do Sul Levado para Portugal, Phasedus vulgaris L, no século 16 resulta em profundas transformações na agricultura e na alimentação, combinando-se com o milho e a abóbora, substituindo algumas leguminosas como as lentilhas, resultando em novos cardápios. Para Angola, introduzido pelo brasileiro chega o Phasedus aureus Roxhg, bem como a nossa mandioca, nativa que também compõe com o feijão a dieta mais popular e nacional desse país africano Os pratos misturados, reunindo diferentes tipos de carnes, pescados, crustáceos, temperos, leguminosas, é uma antiga tradição européia, reunindo assim em uma mesma panela ingredientes que se complementam, intercambiando sabores e adquirindo rica e especial identidade. Exemplos: o cozido português, o cozido espanhol, ou ainda o cassoulet na França, feito de feijão branco, incluindo carnes de carneiro, porco, toucinho de porco, pato, ganso e muitos outros temperos. Certamente, em contextos históricos no Brasil Colônia e Império os cardápios dos escravos eram variáveis conforme as opções dos ingredientes. Contudo vigorava uma base formada de pirões de milho, de farinha de mandioca, opções de peixes salgados e frutas que integrando-se aos outros cardápios, digam-se os europeus, trazendo dos muitos contatos com especiarias, receitas e modos de fazer e de servir orientais, ampliando assim os gostos e as opções gastronômicas. O homem português, já habituado as misturas de legumes e carnes variadas, de certa maneira, é um agente civilizador do comer no Brasil, estando também sensível aos aspectos econômicos e sociais para novos pratos e novas misturas. Atribui-se o valor nutritivo e aceitação nacional da feijoada, que é muito além de um prato, sendo verdadeiro cardápio. O feijão e misturas, reflete também uma grande mistura de povos, etnias e culturas que caracterizam o brasileiro em diferentes cenários ecológicos do litoral atlântico aos sertões, serrados, pantanais, grandes bacias hidrográficas como a amazônica entre outros. Além de forte inspiração na cozinha ibérica, Portugal e Espanha, os encontros com a África, com a vida brasileira fazem da feijoada um prato/cardápio que traduz aspectos desse ser brasileiro. Desse encontro plural, complexo e de identidades tão marcadas pelo que come e se manifesta pelos rituais diversos da alimentação Spix e Von Martius, falam de uma alimentação grosseira de feijão preto, fubá de milho e toucinho de porco, sendo um cardápio bem popular, semelhante ao cardápio de escravos em Minas Gerais e na Bahia, constando de feijão, banana, toucinho e carne-seca. Aí está a base da nossa tão celebrada feijoada brasileira, segundo um estilo à carioca, feita de feijão preto, porco em diferentes interpretações: orelhas, pés, rabinhos, toucinho todos devidamente bem salgados para assim conservar as iguarias, acrescentando-se carne fresca, daí o nome verde e de boi; carne-seca ou carne-de-charque, também salgada, além dos embutidos tais como: lingüiças de carne de porco de diferentes tipos: defumada, do tipo paio entre outras. O feijão bem cozido, deixando aquele caldo grosso, generoso e as carnes em quantidade, pois comer feijoada é o mesmo que comer muito e com muita gente, pois se há um prato socializador é, sem dúvida, a feijoada. Atribui-se a feijoada uma procedência afrodescendente, trazendo, em especial, os miúdos do porco para um aproveitamento gastronômico, ampliando e enriquecendo as opções da dieta alimentar dos escravos, sempre combinadas com as frutas disponíveis como banana entre outras. Há ainda uma combinação obrigatória na feijoada histórica e na contemporânea que é a do acompanhamento de frutas cítricas. A laranja em pedaços e o limão misturado com cachaça e açúcar, certamente para apurar e apontar sabores das carnes salgadas, do arroz, da farinha de mandioca que cobre o feijão ou em forma de farofa acrescida de ovos e demais temperos. Ainda as pimentas, sempre frescas, especialmente vermelhas, como vermelho é o fogo e o sabor que amplia o gosto e estimula comer, comer muito em tempo quase mágico que a comida indica e traduzindo inúmeros significados para o cotidiano e a festa. Além da nacional feijoada de feijão preto, notadamente no Nordeste há a feijoada de feijão mulato ou feijão mulatinho, seguindo o mesmo princípio de carnes, contudo prevalecendo carne-de-charque, carne fresca e acréscimos com as chamadas verduras – quiabo, abóbora ou jerimum, jiló, maxixe entre outros. Essa feijoada caracteriza-se pelos adubos frescos.  

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"O Hidrogênio Verde pode abrir grandes oportunidades para o Nordeste"

Sérgio Xavier é ex-secretário de Meio Ambiente de Pernambuco e foi um dos entrevistados pra a última edição em que tratamos sobre a possível retomada da economia mundial sob matrizes mais sustentáveis. Ativista da causa ambiental, ele lançou recentemente a plataforma “Política Pelo Clima”, com uma proposta de qualificar o debate público e driblar a polarização que se instalou no nosso País para avançar num projeto de desenvolvimento sustentável. Confira abaixo. Conceitualmente o que seria uma "economia verde"? Sérgio Xavier - Uma economia verde ou sustentável harmoniza processos produtivos com os ciclos naturais. Regenera e fortalece biodiversidade e recursos ambientais em vez de destruir e degradar. É muito mais forte, segura e pode ser infinita. Hoje, a velha economia está quebrando diversos ciclos biogeoquímicos, como o do carbono, que está em excesso na atmosfera, provocando mudanças climáticas e levando a humanidade a uma situação altamente crítica. Muito tem se falado sobre uma tendência da retomada da economia global pós-crise da pandemia acontecer com um viés mais sustentável, ancorada por exemplo em investimentos de projetos de baixo carbono. Você acredita nessa tendência? Que sinais poderíamos apontar para isso? Sérgio Xavier - A União Europeia lançou um robusto plano nesta direção. Considero uma ótima referência prática para o mundo. Grandes investimentos já estão em curso, incentivando tecnologias de descarbono, sistemas de economia circular e fontes energéticas renováveis, com ênfase para o emergente Hidrogênio Verde, que pode, inclusive abrir grandes oportunidades para o nordeste do Brasil. O Hidrogênio é abundante no planeta e pode ser a solução para carros, ônibus, caminhões e Indústrias, eliminando a poluição nas cidades e evitando as emissões de carbono. Pode ser produzido com Eletrólise, separando o Oxigenio da água (H2O). No processo de produção verde pode ser usada energia solar, hidrelétrica, éolica ou biomassa, fontes que o Brasil possui em grandes quantidades. Você visualiza em Pernambuco o crescimento do discurso e de iniciativas de fomento da economia verde? O que você considera mais significativo nesse sentido aqui no Estado? Sérgio Xavier - Pernambuco tem todas as condições para se destacar nas energias renováveis, incluindo Hidrogênio Verde. Pode inclusive envolver a base instalada de cana de açúcar no processo produtivo e ressignificar este setor que enfrenta várias dificuldades. O estado já tem uma lei pioneira no arquipélago de Fernando de Noronha, que motiva a criação de modelos econômicos carbono neutro. Em parceria com diversas empresas, sem uso de recursos públicos, estamos implantando um Laboratório de inovações que vai testar novos negócios e vai servir de modelo a ser replicado em outras cidades. Quais as motivações e os resultados que você espera da criação da plataforma “Política Pelo Clima”? Sérgio Xavier - Vai despertar para as emergências sociais e climáticas e, ao mesmo tempo, articular soluções colaborativas, inovadoras e práticas. A proposta visa despolarizar o ambiente partidário, superar o radicalismo político e focar na construção de saídas efetivas para acelerar a redução de desigualdades e, simultaneamente, construir uma economia sustentável, que aumente a resiliência ambiental da cidade, uma das mais vulneráveis do mundo em relação aos efeitos das mudanças climáticas. Recife já sofre com chuvas fortes, inundações, deslizamentos, elevação de nível do mar, ondas de calor etc e precisa agir com velocidade para não piorar ainda mais seus indicadores sociais. A plataforma vai agregar compromissos do máximo de candidatos; indicar soluções desenvolvidas com parceiros qualificados nos mais diversos setores e definir indicadores para que a população acompanhe o andamento das ações de forma transparente. A ideia é ajudar a catalisar soluções e reunir os melhores conhecimentos e ideias. Para acelerar a superação dos graves problemas socioambientais é fundamental unir todas as forças em nome do interesse comum.

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Lançado programa de apoio à agricultura familiar

O Programa de Alimentos Saudáveis do Nordeste (PAS/NE) e  Sistema de Informação Regional da Agricultura Familiar (Siraf/NE) foram lançados em evento online promovido pelo Fórum dos Gestores da Agricultura Familiar do Nordeste, com a participação do governador Paulo Câmara.  Os programas têm como objetivo principal o fortalecimento da agricultura familiar, estimulando a aquisição de alimentos, a criação de plataformas e ações que garantam apoio e melhores condições para quem atua no segmento. “Esses programas dialogam com o que acreditamos para o fortalecimento da agricultura familiar no Nordeste. Além disso, e apesar de estarmos em meio a uma pandemia, mostram que, de nenhuma maneira, deixamos de cuidar das pessoas, do homem do campo, e de planejar o futuro. São ações como essas que fazem a diferença. O compromisso político dos governadores do Nordeste com o bem-estar da população, a expansão e o fortalecimento da agricultura familiar é um valor inegociável e está presente no dia a dia de todos nós”, afirmou Paulo Câmara, reiterando sua satisfação com a integração de Pernambuco a essas ações, que buscam uma unidade cada vez maior da região, “colaborando para um Nordeste cada vez menos desigual e para que a população possa ter acesso ao trabalho, para que os agricultores possam criar suas famílias.” O PAS/NE é uma estratégia do fórum com o Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste, e tem a finalidade de fortalecer e expandir a agricultura familiar, construída em diálogo com os movimentos sociais e a sociedade civil organizada. A implantação do programa acontece a partir das diferentes possibilidades dos governos estaduais, e cada avanço é compartilhado no ambiente do fórum, permitindo que sejam replicados de forma colaborativa. Já, o Siraf/NE é um portal regional que sistematizará a oferta dos produtos da agricultura familiar existentes na região Nordeste. Além de facilitar o acesso e qualificar as informações de mercado, agilizando os processos de compras governamentais e abrindo novos canais de comercialização com o setor privado, contribuirá com o fortalecimento das cooperativas e associações da agricultura familiar, que serão responsáveis pela alimentação de sua base de dados, dando visibilidade à diversidade dos produtos e ao volume de produção. O evento também contou com a participação de outros governadores do Nordeste, secretários estaduais responsáveis pelas políticas agrárias, técnicos e dirigentes dos governos estaduais, lideranças e assessores dos movimentos sociais e organismos internacionais.  

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