Arquivos Paulo Caldas - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco

Paulo Caldas

mirela destinos cruzados

Mirela conquista leitores

*Paulo Caldas “Destinos Cruzados”, escrito de Mirela Paes, em alguns momentos reflete o perfil dos romances juvenis de um certo tempo passado; personagens cheios de energia, diálogos que versam sobre o universo do atual cotidiano, que buscam conquistar o leitor pela inserção de elementos da moda, diálogos com viagens, confissões passadas e conquistas, coisas que por certo agradam aos jovens sonhadores... No texto, com a narrativa intimista e apego ao monólogo interior ou tantas vezes conduzido por um narrador oculto, a autora, ao optar por seguir a estrada, confere destino para Sarah Clark, acrescenta doses de ação que por certo trazem à protagonista um bocado de lembranças a cada quilômetro vencido. Reflexões da antiga timidez e coisas outras do passado e do agora ... como ficará o seu caso de amor com o jovem James Scott, um pop star de filmes para teens? A publicação traz o selo da Editora Qualis, com elogiável projeto gráfico: diagramação de Marcos Jundurian, concepção e projeto de capa de Renato Klisman. Os exemplares podem ser adquiridos através da Amazon. *Paulo Caldas é escritor

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No encontro de céu e mar - Por Paulo Caldas

Em ''A azul sereno" Ed Arruda se atém ao ofício dos faroleiros, aqui com foco nas letras, as ilumina e as liberta dos matizes opacos até o encontro de céu e mar (onde mora a paz), quando o horizonte se faz em prosa e verso. Seguindo o destino dos ourives, lentes e cadinhos, dá brilho às frases: "Por ser cristal, a alma em êxtase, sob a mistura de sal e chuva, filtra a luz e revela-se arco-íris ". Tal bailarino, em ritmo de tango, faz das estrofes partners e conduz seus versos pela pista com ritmo e harmonia: “Quarta-Feira de Cinzas a floresta se rende, a morte toca o clarim do silêncio". Sobre esta primeira incursão solo de Ed Arruda aos oceanos da literatura, diz na contracapa a talentosa Aline Saraiva: "Navegar não é o bastante; as ondas desse 'azul sereno' submergem o leitor em mergulhos intensos''. No posfácio, a professora associada da UFRN Valdenides Cabral de Araújo Dias destaca a seriedade expressiva do autor em colocar no mesmo espaço prosa e verso, lirismo e crítica social. Asunción González, pós-graduada em língua portuguesa, nas orelhas comenta: " a poética aqui não acalanta, grita, acorda os anjos de pedra para enxergar o mundo cru, sem ervas aromáticas". "Azul sereno" traz na capa a arte de Lúcia Ramos, a editoração eletrônica de Lourdes Duarte, coordenação editorial Lourdes Nicácio, produção editorial Edições Novo Horizonte e impressão de Luci Artes Gráficas. Os exemplares podem ser adquiridos no Varejão do Estudante (Av Manoel Borba) e no Espaço Cultura Nordestina (Poço da Panela)

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Sobretudo humano por Paulo Caldas

* Paulo Caldas Os contrastes do comportamento humano, alvo permanente dos escritos de Raimundo Carrero, emergem da crueza neste Colégio de Freiras (Editora Iluminuras – 2019, projeto visual de Hallina Beltrão e posfácio assinado por Sidney Rocha). O livro é ambientado num Recife áspero, universo literário do escritor e pátria da inveja, revolta e rancor vivenciados pelos protagonistas: Vânia, dona de beleza incômoda e psicológico enigmático, vítima do preconceito torpe inerente à estupidez do pai, doutor Vesúvio, um crápula asqueroso, “defensor das vaginas intocadas”; Dona Quermesse, cafetina, madre superiora generosa, afável mãe e guardiã da casa de diversão; Milena, aluna experiente a quem são confiados trechos da narrativa, amante do recalque, cativa do ódio, sensível à degradação de Vânia, que na infância já tentou matar. O enredo expõe o drama da mãe presidiária, apartada do rebento encaminhado para um suposto orfanato ou, quem sabe, para o ninho de casais sem filhos. O festejado romancista transita com autoridade no mundo imaginoso da loucura onde abriga figuras fantásticas, tal o quase deus Abdon, inventor, entre outros fenômenos, dos domingos sombrios e, em dado momento, cuidador da higiene íntima de Vânia quando menina. Ali também habita o mitológico profeta Daniel, líder da Congregação das Guerreiras, mistura de seita e sindicato, concebido para a defesa das mulheres, inclusive pelo uso de poderes infinitos, na perspectiva de uma invasão de óvnis, quando transforma personagens em ETs, além de padre confessor, atento vigilante aos desejos mundanos das internas. Do ponto de vista da técnica literária, Carrero mais uma vez exibe a costumeira maestria no despertar das palavras. O livro mostra a perfeita definição dos perfis físicos e psicológicos, traquejo traduzido por singular habilidade. Há predominância dos diálogos internos em vários trechos da narrativa, prática que se transmuda do narrador oculto à falsa terceira pessoa, das vozes entrecruzadas ao discurso indireto livre, tudo com a destreza dos alquimistas. E Carrero é dos melhores. O autor ainda brinca com os tempos verbais: perfeito, imperfeito, mais-que-perfeito obedecem ao seu comando qual marionetes presas aos cordéis. * Escritor

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Um murmúrio de rosa

*Paulo Caldas   Doçura e leveza andam de mãos dadas na prosa de Luzilá Gonçalves Ferreira. Abraçada aos princípios do bem escrever, neste “Um Murmúrio de Rosa” (Editora Nova Presença - projeto gráfico de Marcos Galindo), ela exercita com esmero sua arte. Com sutis elipses narrativas, Luzilá conduz o enredo em torno da protagonista Anna Coelho, desde a passagem de uma procissão e segue por outros momentos perpassados por fatos históricos, e volta à presença de Anna, como se manuseasse as cenas tal marionetes levadas por cordões invisíveis. Em diversos trechos, a autora destaca detalhes certificadores, como neste exemplo sobre a figura do alferes André Vieira de Melo, arrematados com uma símile: "A voz de André se fazia doce, as luvas pouco ajustadas, deixava ver as mãos brancas, como as de uma donzela, como pensar que semanas atrás haviam empunhado espadas atravessando corpos vivos?” As cenas se passam no cenário de cidades cativas da cana de açúcar: Ipojuca remota, Recife ainda vila tomada por mascates, Olinda feita da elite arrogante, cujos aspectos políticos, religiosos, sociológicos e econômicos são narrados com habilidade nas conversas entre os personagens. Eram tempos de Bernardo Vieira de Melo e sua prepotência refletida no filho, o garboso alferes André, presente nos anseios sentimentais de Anna, cujo sonho sofre rejeição paterna. Época dos saraus, banquetes, tertúlias, padres, neófitos, intrigas e sentimentos revoltosos reprimidos ante os ditames do além-mar. No decorrer das narrativas, além de preciosas passagens de tempo que vão das núpcias à chegada do rebento, entre outras, a autora, por capricho, usa a linguagem da época e transporta o leitor para situações vividas por orgulhosos sobrenomes, embora falidos, guarnecidos em sobrados austeros, erguidos pelo preconceito e a falsa moral. O tom ameno se prolonga e permanece até nas cenas mais tocantes, como a inesperada transformação vivenciada pela protagonista no desfecho da trama. *Escritor

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Ao modo dos alquimistas

Por Paulo Caldas* Glauce Brennand já atravessou as fronteiras do ineditismo quando publicou Dorí e os micróbios (2013), livro editado pela CEPE. Em seguida integrou as coletâneas Todo amor vale a pena, em 2015, O dito pelo não dito, em 2016 e Insólitos, em 2017, editadas pelo selo Novo Cenário das Letras em Pernambuco-Edições Bagaço, escritos produzidos na Oficina Literária Paulo Caldas. Com este Encruzilhada das lembranças, Glauce chega ao público leitor com um texto ungido ao modo dos alquimistas, dosada a mistura exata de sentimentos, emoções reveladas à ótica da autora e observadas nas contradições humanas do cotidiano: mistura do prazer doído, ansiedade serena, fidelidade traída, lucidez com loucura e o amor à família, livro cujo principal cenário é o tradicional bairro recifense da Encruzilhada. Dona de uma escrita delicada, ela transpassa o doce viver da classe alta, divide o teor das narrativas com o amargo das carências suburbanas. Os protagonistas procuram espaços por vias paralelas, obedecendo às ordens da lógica, embora sob sua pena, deslizam com suavidade e rigor ao mesmo tempo. Com elogiável sagacidade, consegue intervir na trama dos acontecidos e das opiniões sisudas, símiles e metáforas instrumentos que, sob medida, manejados com a necessária perícia, são de extrema valia na construção da estética desejada. A autora possui mestrado e doutorado em Genética Bacteriana e Antibióticos, professora adjunta de Microbiologia e Imunologia do Centro de Ciências da Saúde (UFPE), busca compor crônicas e contos além de adequar textos científicos à linguagem acessível. Impresso pela CEPE, o livro tem a diagramação de Bel Caldas e projeto de capa assinado por Luís Arrais. *Paulo Caldas é escritor.

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Um texto de boa têmpera - Por Paulo Caldas

*Paulo Caldas Walther Moreira Santos, no seu "0 metal de que somos feitos" - Companhia Editora de Pernambuco-(Cepe) 2013, demonstra o domínio na arte de escrever. No conto "Herança", por exemplo, passa ao leitor agruras de uma guerra revelada no clamor dos oprimidos, sem contudo esmaecer o culto e a coragem de um povo digno e autêntico. A rigor, no entanto, reside na criatividade a virtude de sua escrita, o que por certo motivou a conquista dos prêmios Pernambuco e São Paulo de Literatura e ser finalista do cobiçado Portugal - Telecom. Neste livro, a narrativa se mostra madura, própria de quem conhece os labirintos da prosa ficcional. Em diversos trechos o autor sobrepõe as vozes (narrador e personagem) manuseando com perícia o artifício da falsa terceira pessoa. Mesmo que, embora eventualmente, busque refúgio em pronomes e marcações na identificação dos diálogos, esse pecado venial foge à retina do leitor envolvido pela sedução das cenas. O autor abraça a beleza estética quando forja, no capricho, sua poética com imagens marcantes, vindas da concepção de símiles e metáforas bem encaixadas: "a pobreza é uma ratazana suja que ninguém quer como companhia", ou quando constrói esta alegoria: "nem sempre a culpa é um rochedo que surge inteiriço do nada e em cima da pessoa vai esmagando-a aos poucos até que não possa respirar. Às vezes a culpa é uma areia fina que aparece calada e mansamente vai se acumulando sem a pessoa perceber até que esteja completamente enterrada numa duna". Dentre tantas outras virtudes do livro, a dinâmica narrativa é consolidada pelo apego aos detalhes certificadores e se acentua ao ritmo de aventura vivenciado no conto (quase novela) "Campo semeado em tempo morto", passado na cidade imaginária de Alto Paraíso, com destaque para a montagem dos personagens Max, Ernesto, Cassandra e Dona Olga, que fogem pela contramão do meramente convencional. Nesses trechos, particularmente elogiáveis, concebeu esmeradas metáforas: " a doçura do piano de Dona Olga", "a dor de Seu Júlio transbordava da biblioteca", “a presença de sua ausência nos dava nós na garganta" e "silêncios amontoados pelos cantos". Não obstante os cinco anos de lançado, vale a pena uma busca pelo livro nas plataformas de venda da editora. *Escritor

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Nostalgia acalantada

*Paulo Caldas Tempos Perdidos - Memórias, Edições Bagaço, 2018, são sentimentos e emoções revividas transformadas em livro pela escritora Fátima Quintas, que vão além do primoroso projeto visual. O conteúdo intimista da publicação contempla, ao mesmo tempo, o universo vivenciado pelo recifense, com especial significado para os que já venceram as 60 primaveras. Do interior dos capítulos surge um Recife nostálgico, revelador de aspectos sociológicos, econômicos, artísticos, quando se vivia numa cidade mais lenta, menos estressante, mais romântica e menos pragmática. O texto traz o foco narrativo na primeira pessoa, característica peculiar do escrever da autora e já consagrado nas crônicas semanais curtidas pelos leitores do Jornal do Commercio, todos cativos da criatividade presente nos contos, ensaios e romances, dentre as suas 50 obras publicadas. O texto é requintado; bem-apessoado, obediente aos rigores gramaticais: “Não me recordo do nome da sua esposa, uma senhora forte, igualmente elegante, ‘dir-se-ia’ um casal distinto”. A crônica Ir ao Recife reproduz com fidelidade na mente de quem lê as vozes daquela hora: “deforete”, “fidalgo”, “garbo”, “encontros fortuitos”, o real significado de momentos indeléveis que permanecem vivos, apesar deste desembestado galope do tempo. No dobrar das páginas, entramos no seu mundo guardado: a casa, objetos, família e amigos. Esta voz intimista segreda ao leitor, na crônica Sussurros, nuances do tipo: “A vida nunca me aconteceu de dia, nunca à luz do sol, só à noite é que o mundo se resolve para mim, e lentamente”. E assim, vai conversando e na mesma crônica enfatiza: “O mundo de hoje não tem lugar para suspiros secretos. Soam como perda de tempo ou algo anacrônico, em pleno desuso”. No texto de Jamais esquecer, confessa: “Em mim, há pedaços tão vivos de passados, que os tempos não se separam em caixinhas isoladas de costura, cada uma com a sua função específica”. Há uma prática interessante no decorrer da leitura: a intertextualidade, com expressões de autores consagrados: Marguerite Yourcenar, Ernesto Sábato, Miguel Torga, Gilberto Freyre e Clarice Lispector, estes dois mais próximos da gente. Com sutil habilidade, Fátima Quintas nos apresenta, além de imagens bem desenhadas, o sentir dos sabores e odores, seja no Mercado da Encruzilhada ou na Casa Matos, virtude rara na arte literária, considerando que dispomos apenas da palavra escrita como instrumento de expressão. Ao fim, sentimos o cheiro e sabor da "cartola", iguaria nativa preferida desde quando não havia a invasão dos hambúrgueres.

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Rumo à poesia de Valda Colares

*Paulo Caldas “Rota do Âmbar” – Editora Confraria do Vento - 2018 - livro de estreia de Valda Colares na galeria dos Poetas de Pernambuco, traz no prefácio assinado por Magna Santos, uma espécie de carta náutica que traça com fidelidade a viagem da autora, de velas enfunadas, rumo a poesia. Nessa travessia, ela navega com perícia e durante o curso manobra o leme dos sentimentos. Assim, a cada píer, a cada porto, a bordo, estibordo, bombordo, boreste, oferece mimos de emoções singrados em versos curtidos a suor, vinho e lágrimas, e outros tantos ornados por rimas internas,metáforas bem compostas, símiles criativas. E já no primeiro ancoradouro, de nome “Não espera”, iça as estrofes: “Seus olhos de fome observam o dia que já vai longe, sol a pino na retina, íris dentro da íris, porque ele reflete nela e só ela sabe que o espera, e ele não sabe nada de sua história, mas sabe bebê-la com os olhos”. No porto “Flores de Frida Kahlo”, Valda escreve: “Joguei fora os sonhos junto com as flores de Frida e desde então as cores desistiram, amontoavam-se em sépia até a noite era sépia, a sépia como tu não gostas, sépia a comida que passa disputada”. No píer chamado “Abismo”, onde a palavra não sai, fica presa na garganta, engasgada, estrangulada, a autora clama: “Fecha a cortina, encosta a porta, traz-me a garrafa de água benta de vinho tinto, e o livro com as folhas amassadas, como a saia de cetim que arrancaste de mim, com tua áspera sensualidade”. Nascida maranhense, Valda Colares homenageia Pernambuco, seu porto abraçado, com a sequência: “Sou Pernambuco sedutor, filha bastarda de uma explosão de amor, o tenho forte em mim, em cada ponte, concreto em mim, em cada rio caudaloso em mim, em cada beco estreito em mim, sombrio em mim, cheios de sombras sem fim”. Quase ao fim da rota, ao atracar no “Réquiem Aeternam”, decreta: “Também se morre na alma, quando a espada afiada da palavra crava no peito, e decreta a morte de uma intrépida fantasia”. E arremata: “Também se morre no leito,quando a febre da saudade pega de jeito, e sem anunciar se instala atrevida, aquilo que impende do fruto brotar”.

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As letras caminham (Por Paulo Caldas)

Neste "Cantos da Casa", Fatima Militão mantém um diálogo confortável com a memória, espécie de abraço afetuoso em fantasmas parceiros, sem o ranço nostálgico de um tempo póstumo. Não obstante o título sugerir cenas confinadas ao cenário restrito de um casarão ancestral, as letras caminham sem pressa pelas alamedas daquele Recife provinciano, desde as margens do Cão sem plumas até um bucólico Jaboatão dos Guararapes, certificando com precisão aos leitores maduros que o passado não passou. Quem imagina que por mostrar relatos de memória a autora deu os braços à pieguice, comum em algumas composições desse viés, incorre no equívoco. Além de tais virtudes o livro, ainda mostra outras, quando sublima os versos de Nelson Ferreira e Aldemar Paiva, dois ícones do frevo: “Quem tem saudade não está sozinho tem o carinho da recordação”, e tantas vivências da época apoiadas nas sutilezas de um texto leve, sem artifícios sofisticados, todavia com elementos estéticos colocados com exatidão a esquadro e compasso. Fatima Militão é médica, pesquisadora e docente do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Fiocruz-PE. Ao lado de seu entusiasmo e amor pela ciência, começou a transformar o hábito da leitura que a acompanhou durante a vida, em primeiras tentativas de redação ficcional, ao frequentar Oficinas Literárias e publicar alguns contos em coletâneas. "Escrever me harmoniza com o universo e hoje sinto que a 'arte existe porque a vida não basta'”. É mãe de Camila e Francisco, casada com João Carlos, adotou de coração Luíza e Joana. Diz que formam uma só família com os genros – Mario, Bruno e Tony - e a nora Marcela. Fatima tem cinco netos: Henrique, Pedro, Clara, Tomás e Helena. Paulo Caldas é escritor.

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Marechal de Costas (por Paulo Caldas)

Ocultar é preciso. Ancorado na máxima da técnica literária “não revele; mostre”, entre outros tantos recursos que levam ao bem escrever, José Luiz Passos, pernambucano, professor de Literatura Brasileira e Portuguesa na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, que já concebera o elogiado Sonâmbulo Amador - vencedor do prêmio Bienal do Livro de Brasília e o cobiçado Portugal Telecom de literatura, além do Romance com Pessoas, sobre a dimensão moral dos personagens de Machado de Assis, trouxe à luz, no ano passado, Marechal de Costas (Alfaguara). No universo das palavras, no qual gravita com absoluta autoridade, José Luiz Passos revela com sutil descrição o perfil do protagonista Marechal Floriano Peixoto, a partir do trecho que escreve: “ele fecha os olhos e respirando a página, em seguida põe o livro sobre a cama”, aqui o gestual do protagonista na cena permite ao leitor intuir que Floriano também amava os livros. No mesmo trecho, o autor destaca a movimentação do personagem na cena diante de um cenário natural focado como se fosse por uma câmera com ângulo aberto e aos poucos fecha, com vagar, a lente nos detalhes certificadores presentes no cenário interno. Aí, faz a uso da destreza ao somar a luz do mundo exterior refletir a do lampião posto sobre a mesa “a luz arroxeada que se mistura o brilho do lampião em cima da mesinha cabeceira onde estão sua escova de pelos para farda, no estojo de lata, com a tesoura e navalha, a lupa e um abridor de cartas, uma caneta tinteiro, um feixe de lápis atados com a fita vermelha. Floriano embrulha cada um desses objetos numa peça de roupa e coloca uma por uma dentro da maleta aberta em cima da cama”, mostra um jovem metódico e disciplinado. Além do protagonista, construído literalmente com fidelidade, dois personagens merecem citação: um tal Napoleão que faz às vezes de tutor do menino Floriano cujo perfil autoritário, afeito a citações de eminências evocadas no campo da filosofia, como uma espécie de sargentão intelectualizado, e a menina Josina. O envolvimento de Floriano com sua meia irmã, Josina, começa com ela ainda criança. Aos sete anos de idade chamava Floriano de Floreão (flor dente-de-leão), com brincadeiras, incursões ao pé de castanhola, escondidos dos olhos do tio e tutor, Vieira Peixoto ou lendo as páginas do mesmo livro. Com ela casaria, não obstante a diferença de idade teriam filhos, chegariam à velhice. Em dado momento, longe dela, tratando da saúde, lhe escreve: “Sinhá... O que tenho passado na sua ausência, já de oito dias, só eu sei e é Deus que assim manda... tem tido umas saudades, uma tristeza tão grande por aqui, só, isolado, sem poder trocar palavras, que e ainda vivo por misericórdia de Deus. Saudades da mulher e dos filhos. José, Flor e a caboclinha Anunciada. A benção aos meus filhos. Adeus, minha mulher. Sou sempre seu marido inválido. Floriano”. Do afeto aos rancores - O conteúdo do livro perpassa duas fases marcantes da nossa história, tendo como fio condutor a narrativa de uma cozinheira supostamente aparentada de Floriano que, nos dias de hoje, 2013, testemunha o impeachment da então presidente Dilma Rousseff. O Marechal de Costas é um belo livro, essencial para se ler e guardar.

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