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Em 2017, salário médio dos homens foi 17% maior do que o das mulheres

Com evolução de 2,1%, a remuneração média dos trabalhadores brasileiros subiu para R$ 2.973, de acordo com dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), divulgada hoje (28) pelo Ministério do Trabalho. O salário dos cerca de 46 milhões trabalhadores com empregos formais no setor público e privado, porém, mantém a discrepância de anos anteriores na divisão por gênero. Embora apresente um crescimento maior do que o dos homens, o salário médio feminino fechou o ano passado em R$ 2.708, enquanto o dos homens ficou em R$ 3.181. Os números representam, respectivamente, variação positiva de 1,8% e 2,6% na comparação com 2016. De acordo com o Ministério do Trabalho, em 2017 a remuneração média das mulheres era 85,1% o valor da remuneração masculina, em média. Em outras palavras, o salário dos homens encerrou o ano passado 17,46% acima do das mulheres, representados pelos R$ 473,16 a mais pagos, em média, aos trabalhadores do sexo masculino. Os dados indicam que o rendimento está caminhando para uma menor desigualdade entre os gêneros, porém a passos lentos. Em 2016, a remuneração básica recebida pelas mulheres correspondia a 84,3% do salário dos homens. Em 2015, o valor da remuneração feminina era 83,4% o da masculina e, em 2014, 82,39%. Divulgada anualmente para elaborar estatísticas sobre o perfil dos trabalhadores, a Rais contém informações sobre criação de empregos formais, classificação das vagas de trabalho por setor econômico, região do país e divisão em categorias como sexo, faixa etária e escolaridade. Para a remuneração, o Ministério do Trabalho já divulga dados corrigidos pela inflação relativa a dezembro de 2017. De uma forma global, os números que foram a público nesta sexta-feira (28) indicam uma lenta recuperação no número de empregos formais, pois foram criadas 221 mil novas vagas em 2017, após perda de 3,5 milhões no estoque de vínculos trabalhistas nos dois anos anteriores. Hoje também foi divulgada a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), segundo a qual o Brasil tem 12,7 milhões de pessoas desocupadas. (Da Agência Brasil)

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Mulheres Negras de todas as regiões do Estado promovem encontro neste fim de semana

Tem início nesta sexta-feira (14) e vai até o domingo (16) o Encontro de Mulheres Negras de Pernambuco. O evento acontece em Recife e é parte integrante da agenda de ações que precedem o Encontro Nacional de Mulheres Negras + 30 anos, terceira reunião nacional das mulheres negras desde 1988. Tendo sido construído por 47 coletivos e instituições do movimento negro, de mulheres e movimentos outros que se solidarizam com as demandas das mulheres negras, o Encontro promove um debate sobre a participação das mulheres negras nas mudanças em Pernambuco e no Brasil. As convidadas para a discussão são Denise Botelho, Rivane Arantes, Robeyoncé Lima, Gilamara Santana e Aparecida Nascimento e elas nos darão um retrato sobre como a população negra em geral e sobretudo as mulheres, em suas diferentes especificidades, tem se mantido de pé frente à conjutura cruel que enfrentamos todos os dias. A mediação fica por conta de Rosa Marques, socióloga e representante de Pernambuco na organização do evento nacional, que acontece em dezembro em Goiania, Goiás. A mesa inicial é aberta para todas as pessoas e convida a sociedade civil para a análise de conjuntura e debate sobre o espaço das mulheres negras no decorrer da história. O objetivo é a promoção da unidade estadual na luta contra o racismo e o sexismo e, para isso, o encontro acolheu 200 mulheres de todas as regiões do Estado nesse momento de imersão, discussão e preparação para o encontro nacional, em que todo o Brasil feminino negro estará pensando junto como agir e se portar diante da crescente perda de direitos recentemente adquiridos. O encontro foi organizado em cinco meses e por sete comissões: comunicação; finanças e infraestrutura; metodologia; creche; mobilização; saúde; e cultura. Só poderão participar do evento mulheres que estiveram nas plenárias de organização que aconteceram entre maio e setembro, seja a partir de comissão ou não. Este ano completa-se 30 anos desde a primeira vez que mulheres negras realizaram um encontro de âmbito nacional. O I Encontro Nacional de Mulheres Negras aconteceu no Rio de Janeiro em setembro de 1988 e é em celebração a este evento que foi deliberado no Fórum Permanente de Mulheres Negras, realizado no Fórum Social Mundial de 2018, a organização de outro encontro nacional e a realização de encontros estaduais preparatórios, que em Pernambuco acontece no mês de julho.

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Mutações não hereditárias são principal causa de câncer de mama em mulheres jovens

Maria Fernanda Ziegler/via Agência FAPESP Cerca de 80% dos casos de câncer de mama em mulheres jovens, com idades entre 20 e 35 anos, podem ser causados por mutações somáticas – alterações genéticas nas células da mama que não têm origem hereditária. Foi o que constatou um estudo feito no Centro de Investigação Translacional em Oncologia (LIM 24) do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) com apoio da FAPESP. O câncer de mama é o tipo de câncer mais comum em mulheres – a estimativa é de 59 mil novos casos no Brasil em 2018 – e ocorre principalmente naquelas que têm mais de 50 anos e já se encontram na menopausa. No entanto, 4,5% dos casos da doença acometem mulheres jovens, entre 20 e 35 anos de idade. Por ter diagnóstico mais difícil e ser pouco esperado, normalmente o tratamento nesses casos é iniciado quando a doença já está em estágio mais avançado e apresenta maior taxa de mortalidade que em mulheres mais idosas. Nos resultados do estudo, publicado na revista Oncotarget, são destacados os dois fatores mais importantes para o câncer de mama: o hereditário, quando a pessoa herda uma mutação genética dos pais, que predispõe ao câncer; e as mutações somáticas, que ocorrem na célula da mama ao longo do tempo. “Estudamos esse segundo fator, que descobrimos ser também o mais comum em mulheres jovens com câncer de mama e do qual pouco se sabe”, disse Maria Aparecida Koike Folgueira, pesquisadora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e uma das autoras do artigo, resultado do trabalho de doutorado de Giselly Encinas, com Bolsa da FAPESP. O trabalho teve colaboração de pesquisadores do Icesp, da FMUSP, do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC), do Ontario Institute for Cancer Research (Canadá) e da University of Toronto (Canadá). No estudo, foram analisados os casos de 79 pacientes do Icesp e IBCC com menos de 36 anos e diagnosticadas com câncer de mama. Treze pacientes (16,4%) apresentavam mutações germinativas nos genes BRCA1 e 2, que são alterações que têm a hereditariedade como base. O estudo identificou ainda outros genes herdados, que são menos comuns que o BRCA1 e 2. Dos tumores não hereditários, oito (com expressão positiva de receptores de estrogênio, ou seja, subtipo luminal) foram submetidos ao sequenciamento do exoma – parte do genoma onde estão os genes que codificam proteínas – e integrados para análise a outras 29 amostras luminais existentes em outros bancos de dados. “Dentre todos os tumores que acometem pacientes jovens, 25% são câncer de mama. É também o tipo mais comum em jovens. Há poucos estudos nessa área. Enquanto existem 2 mil tumores de mama sequenciados e disponíveis em bancos de dados, apenas 29 tumores (subtipo luminal) que acometem mulheres jovens tinham sido caracterizados. Nosso grupo sequenciou outros oito e analisamos os dados conjuntamente com os outros 29 já existentes”, disse Folgueira à Agência FAPESP. Com a análise dos dados, a equipe estabeleceu informações importantes sobre a ocorrência de câncer de mama causado por mutações somáticas em mulheres jovens. Folgueira explica que as células da mama, em especial, proliferam a cada ciclo ovulatório – proliferam e entram em apoptose (morte celular) –, o que faz com que elas tenham maior chance de uma mutação ao acaso. “Mais de 40% dos casos estudados apresentaram mutação somática em gene que codifica proteína de reparo de DNA, ou seja, o surgimento do câncer veio de um problema em algum sistema de reparo de DNA, que se originou na própria célula da mama e não foi herdado”, disse Folgueira. BRCA1 e BRCA2 Mutações ocorrem o tempo todo, seja por metabolismo celular ou duplicação das células (replicação do DNA), entre outras causas. Tanto que cabe a uma enzima específica – DNA polimerase – criar duas cadeias de DNA idênticas, a partir de uma única molécula de DNA original. Porém, ela pode não ser muito fiel à cópia, gerando erros nessas replicações. Para que o erro do DNA polimerase não passe adiante, existe ainda um sistema de reparos de DNA e, de acordo com o estudo feito no Icesp, 43% dos casos de câncer de mama em mulheres jovens estão relacionados a mutações em genes desse sistema. “Se a célula prolifera bastante ela tem mais chance de ter uma mutação ao acaso e é isso que parece ocorrer nos casos que estudamos”, disse Folgueira. O problema se assemelha aos casos de mutações genéticas hereditárias, onde o mais comum são alterações nos genes BRCA1 e BRCA2. Eles ficaram mundialmente conhecidos em 2013, quando a atriz norte-americana Angelina Jolie anunciou ter se submetido à mastectomia bilateral após ter descoberto, a partir de um exame com base no sequenciamento genético, que teria risco elevado de desenvolver câncer de mama. “Os genes BRCA1 e BRCA2 codificam proteínas importantes que participam do reparo do DNA. Quando esse sistema não funciona, esse DNA fica mais propício a sofrer mutações, e o acúmulo delas gera uma célula alterada, neoplásica, que pode desencadear o câncer”, disse Folgueira. Além de verificar que a hereditariedade não é a causa principal de câncer de mama em mulheres jovens, o estudo constatou que em torno de 50% dos tumores apresentam mutações somáticas patogênicas em genes que controlam a transcrição gênica e consequentemente a síntese proteica – mais problemática por ser uma função em que é mais difícil dizer se está associada à doença ou não. “No estudo, encontramos também mutações patogênicas em genes associados à regulação positiva da transcrição gênica em 54% dos tumores”, disse. Para a pesquisadora, embora a descoberta não altere momentaneamente o tratamento e atenção à população de mulheres jovens, ela surge como uma indicação. “Reparo de DNA é muito importante e um dos tratamentos no câncer de mama metastático, os inibidores da enzima PARP, por exemplo, é direcionado a pacientes com mutação germinativa em BRCA1 e BRCA2. Existem estudos clínicos em andamento para avaliar se este tratamento pode também beneficiar pacientes que apresentam mutações somáticas em outros genes de reparo, além de BRCA1 e BRCA2. Este

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Seis podcasts que você precisa começar a ouvir

*Por Beatriz Braga Ouvir. Precisamos urgentemente abrir os nossos ouvidos. Ouvir quem está do lado, ouvir quem está distante. Ouvir mulheres, ler mulheres, assistir mulheres. Isso, claro, se quisermos evoluir como humanidade. Uma ótima ideia do mundo moderno foi a invenção do podcast (arquivo digital de áudio transmitido através da internet sem necessariamente uma frequência fixa de episódios). Esse tentáculo do rádio tem ganho cada vez mais atenção dxs produtorxs de mídia, isso inclui centenas de mulheres à frente de programas muito interessantes. Eu sou fiel adepta ao mundo do podcast e não saio de casa sem meu fone. De repente, o caminho até o trabalho ou o exercício na academia tornam-se viagens às águas até então não navegadas individualmente. Também continuo uma fiel amadora do mundo analógico e sigo fascinada pelo tradicional rádio nosso de todo dia. O podcast, pois, une o que o rádio tem de fascinante (a atenção às palavras, à discussão e à conversa entre humanos) com o que o avanço tecnológico trouxe de bom (praticidade, diversidade e democratização de conteúdo). As hashtags #mulherespodcasters e #opodcastédelas são um caminho eficiente para descobrir projetos legais protagonizados por vozes femininas. Se você ainda não começou, por que não hoje? Ouça mulheres. Escute diálogos sobre diferentes experiências da sua. Essa é a nossa maior contribuição para um mundo mais bacana. As opções de programas bons (e gratuitos) são infinitas, mas como acho que cardápios grandes atrapalham mais do que ajudam, selecionei os poucos e bons que me acompanham. Compartilho, aqui, minha lista de podcasts queridinhos. Preencher os tempos ociosos do meu dia ouvindo o que outras mulheres têm a dizer foi uma das melhores coisas que fiz nos últimos tempos. Estão preparadxs para uma lista super interessante? 1. Mamilos | B9 Jornalismo de peito aberto, cabeça fria e personagens bem escolhidos. Conversa boa, bem humorada e inteligente, sobre temas que mudam a cada edição: arte, política, sexo, masculinidade, maternidade, aborto e por aí vai. Meu podcast preferido (sou “mamileira” fiel), apresentado por Juliana Wallauer e Cris Bartis, é ótimo para se atualizar dos assuntos do momento. Polêmicas e tabus são bem-vindos e tratados com respeito. Todo mundo deveria ouvir Mamilos! Saiba mais: www.b9.com.br/podcasts/mamilos/ 2. Feito Por Elas | Anticast Eis a proposta: assistir, toda semana, um filme de uma diretora mulher durante um ano. Topa? O desafio#52FilmsbyWomen (52 Filmes por Mulheres) foi lançado pela organização Women in Film (www.womeninfilm.org), projeto que nasceu para alavancar um universo muitas vezes deixado de lado por falta de oportunidade e preconceito. Foi de olho neste desafio que o podcast Feito Por Elas surgiu. Cada edição apresenta uma mesa redonda de mulheres que já tinham alguma experiência anterior em crítica de cinema (Angelica Hellish, Isabel Wittmann, Samantha Brasil, Camila Vieira, Stephania Amaral e Michelle Henriques). Quinzenalmente, uma diretora é escolhida e três filmes diferentes de sua carreira são analisados. A ideia do projeto é enriquecer o debate em torno de produções assinadas por mulheres e dar mais visibilidade às cineastas que fizeram ou continuam fazendo trabalhos importantes ao redor do mundo. Saiba mais: www.anticast.com.br/2016/08/feitoporelas 3) Baseado em Fatos Surreais Para ouvir depois de um dia pesado e dar risada ou se confortar com esses episódios leves de geralmente algo em torno de 20 minutos. A ideia aqui é dar vozes às histórias anônimas de outras mulheres contadas na primeira pessoa. A cada episódio, uma história enviada por ouvintes é interpretada por uma das apresentadoras em uma conversa aberta com outras parceiras. Tudo isso com empatia, sensibilidade e bom-humor. Claro que rola uma dramatizada e uns pontos a mais nos contos, mas tá tudo certo, a gente gosta mesmo de emoção. As histórias giram em tornos de fatos “surreais” que acontecem na vida de pessoas comuns, envolvendo amizade, sexo, trabalho, família e o que mais couber no roteiro cotidiano de gente como a gente. O projeto é mantido por Marcela Ponce de Leon e Sheylli Caleffi, sempre com convidadas para interpretar e reagir aos causos da vida alheia. Saiba mais: www.bfsurreais.com.br 4) Talvez Seja Isso Um convite às profundezas do “ser mulher”. Nesse podcast, mulheres se reúnem para conversar e analisar a obra clássica “Mulheres que correm com os lobos” de Clarissa Pinkola Estés. O livro é um caminho sem volta para transformação pessoal (para as leitoras interessadas, claro). Assim como a felicidade, toda transformação é mais real se compartilhada. O podcast é um espaço seguro para ouvir sobre os ensinamentos desse livro fantástico. A cada edição, um capítulo entra na berlinda. Eu ainda não terminei o livro, mas quando acabo um capítulo, vou lá e ouço essa conversa entre mulheres, que apesar de não conhecê-las, sinto como se fossem minhas amigas dialogando na mesa de bar - e tem melhor cenário para sair renovada? Não necessariamente é preciso ler o livro para entender as reflexões, mas acho que o combo (leitura + discussão) é a maneira mais legal de aproveitar essa viagem ao centro de nós mesmas. Aos mais distraídos, pode soar como besteira. Às mais dispostas, soa como poder. Saiba mais: www.talvezsejaisso.com 5) About Race | Reni Eddo Loge As duas últimas dicas são podcasts em inglês (uma ótima opção para quem quiser, de quebra, treinar o ouvido para esta língua estrangeira). No site do programa, inclusive, encontramos os episódios transcritos para serem lidos. É muito bom escancarar os ouvidos e saber o que se está falando ao redor do mundo também. About Race é o podcast da jornalista britânica Reni Eddo Loge, autora do livro bestseller “Why I'm No Longer Talking to White People About Race” (Porque eu não falo mais com pessoas brancas sobre racismo, em tradução livre), do qual tenho lido críticas maravilhosas e tem alavancado a carreira da escritora pelo mundo. No programa, pautas interessantíssimas, muitas vezes polêmicas e sempre bons convidados. O tema central é racismo e a autora, enquanto feminista com foco interseccional, tem muito a dizer. Encontrei esse podcast por acaso pela internet e virei fã. Em uma das últimas edições, “The Big Question” (a

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Assegurar inclusão de mulheres melhora a qualidade da ciência

Maria Fernanda Ziegler/via Agência FAPESP  O relatório Gender in the Global Research Landscape, da Elsevier, indicou Brasil e Portugal como os países com maior porcentual de mulheres (49%) entre autores de artigos científicos entre as nações analisadas. O relatório, com dados de 2011 a 2015, mostra um notável avanço no Brasil, uma vez que no período anterior, 1996 a 2000, apenas 38% dos autores de artigos eram mulheres. Somente a Austrália mostrou crescimento semelhante. Apesar da boa notícia, no Brasil falta espaço para mulheres em cargos acadêmicos mais elevados, na liderança e coordenação da ciência. Das universidades federais, por exemplo, apenas um terço tem reitoras mulheres. Nas estaduais, o índice é ainda menor, segundo destacaram as pesquisadoras convidadas do Ciência Aberta no dia 1º de agosto. O programa é produzido pela FAPESP em parceria com o jornal Folha de S.Paulo. “Pode parecer que se preocupar ou discutir gênero e ciência seja para melhorar a vida das cientistas. Não é isso. Discutir gênero e ciência é melhorar a forma como a ciência é feita”, disse a socióloga Alice Rangel de Paiva Abreu, professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretora do GenderInSite (Gender in science, innovation, technology and enginnering). Também participaram do programa Márcia Barbosa, professora de física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e Vanderlan Bolzani, professora titular do Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista (Unesp), vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e membro do Conselho Superior da FAPESP. “Diversidade leva à eficiência. Estudo feito pela empresa da McKinsey, em 2017, mostrou que as empresas com maior diversidade na direção ganhavam mais dinheiro. O estudo concluiu que isso tem relação com a forma que resolvemos problemas, a partir da cooperação. Se em um grupo as pessoas forem diferentes, tiverem culturas diferentes, histórias diferentes, elas vão trazer melhores soluções. Dar espaço para a mulher não é só adicionar 50% da população. A adição da mulher vira uma multiplicação e o que será produzido no final vai ser melhor”, disse Barbosa. De acordo com as pesquisadoras, o machismo é, além de tudo, ineficiente. Dessa forma, situações pouco operacionais – e que até já ganharam termos – como explicar algo óbvio ou que uma mulher já sabe (mansplaining), interromper desnecessariamente para que uma mulher não seja ouvida (manterrupting) ou se apropriar da ideia de uma mulher (bropriating) – permanecem comuns. Outro problema levantado no debate foi o tratamento diferente dado a meninos e meninas desde a infância, em casa e na escola. É comum a noção de que o menino pode ser aventureiro e a menina deve ser contida. “Todos podem ser aventureiros, isso deve ser incentivado em casa e também nas escolas”, disse Bolzani. As pesquisadoras defenderam que a transformação desse cenário para uma maior participação das mulheres em todos os níveis da ciência só será possível a partir de mudanças institucionais. Um exemplo mencionado é o que está sendo feito na União Internacional de Física Pura e Aplicada (Iupap). No fim de 2017, a partir da constatação de que havia pouca participação de mulheres em todos os níveis de discussão da instituição, foi criado um comitê para monitorar e aumentar a participação feminina. Estabeleceu-se, inclusive, a meta mínima de 20% para a presença de mulheres entre os participantes das comissões consultivas. Entre 2015 e 2017, a média mundial de participação feminina nos eventos da instituição foi de 17% entre integrantes das conferências. “Se dá trabalho e não leva prestígio, tem mulher. Se dá prestígio, não tem mulher. O porcentual de mulheres, em qualquer área, diminui à medida que se vai para o topo da carreira. Poder, em qualquer área, ainda é um atributo masculino. Porém, na área de exatas, e isso é universal, o porcentual de entrada das mulheres é menor. Que ingrediente é esse? O poder, porque a área de exatas ainda detém a manufatura econômica, tecnológica, que é fonte de dinheiro e ainda está na mão dos homens”, disse Barbosa. Abreu comentou que é preciso trabalhar de maneira global a percepção de que a mulher deve estar presente em todas as áreas e etapas da ciência “Os países desenvolvidos têm políticas já implementadas que podemos estudar e decidir quais devem ser aplicadas no Brasil”, disse. Bolzani destacou a necessidade de se produzir dados mais concretos e globais sobre o problema. “Temos apenas dados pontuais que não mostram a realidade como um todo. Mesmo que eles mostrem que avançamos nos últimos anos, não temos todo o quadro. É importante ter uma visão geral”, disse. Abreu citou o programa STEM and Gender Advancement (SAGA), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que trabalha com indicadores da situação das mulheres e disparidades nos campos da ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM, na sigla em inglês). “O Brasil não está nesse programa, mas poderíamos. Isso seria importante para saber como estamos nesses indicadores e ter um quadro geral do papel da mulher na ciência”, disse Abreu. Jovem pesquisadora e mãe Outro exemplo abordado no debate foi a iniciativa da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS), que instituiu que mulheres com filhos pequenos recebam uma pequena ajuda financeira quando forem a conferências. Dessa forma, elas podem levar os filhos aos congressos (e contratar babás ou creches). A creche, uma velha reivindicação feminina, continua sendo uma demanda importante para inserção e manutenção das mulheres na ciência. Nessa profissão em especial, a idade fértil da mulher combina com a faixa etária em que a jovem pesquisadora precisa competir por bolsa de estudos, participar de congressos e ganhar destaque para ascender na carreira. Com a maternidade, a mulher é prejudicada também pelo fato de a sua produção científica cair por algum tempo – um a dois anos pelo menos – e esses anos não serem descartados da sua avaliação. Com uma média de produção científica menor, ela perde oportunidades de bolsas e de ascensão profissional. “Temos que ter condições institucionais para isso. Se a mulher

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Mitos e verdades sobre a infertilidade

Muitas mulheres e muitos casais sonham com o dia em que terão filhos. Esse anseio, porém, pode ser afetado por problemas inesperados de infertilidade, além de uma gravidez tardia e outros fatores que diminuem as possibilidades de uma gestação natural. Segundo a ginecologista e especialista em reprodução assistida Cláudia Navarro, quando se consegue detectar a causa da infertilidade, cerca de 40% destas causas são atribuídas à mulher, 40%, ao homem, e 20%, a ambos. Para esclarecer dúvidas sobre infertilidade, a médica lista algumas questões comuns. Confira: 1 - Mulheres que usam continuamente pílulas anticoncepcionais para evitar a menstruação podem ter problemas futuros para engravidar? Não. Contraceptivos hormonais não diminuem a fertilidade. O uso da pílula, entretanto, seja continuamente ou com intervalos, pode mascarar problemas no ciclo menstrual. Segundo Cláudia Navarro, a contracepção hormonal pode ser uma ótima alternativa, mas deve sempre ser individualizada e prescrita por um médico após avaliação clínica criteriosa. 2 - Homens que usam roupas íntimas muito apertadas podem ter problemas de infertilidade? Sim! Embora os casos sejam raros, o aumento na temperatura provocada pelo uso de roupas apertadas, assim como o contato direto com altas temperaturas, pode afetar a qualidade da produção dos espermatozoides. “Outro problema que pode afetar a fertilidade é o excesso de tempo sentado, como ciclistas que praticam o esporte diariamente por longas horas, extraordinariamente motoristas que usam roupas apertadas e ficam muito tempo assentados, além daqueles que lidam diretamente com alguns tipos de produtos químicos”, lembra a especialista. 3 - O café pode aumentar a produção de espermatozoides? Mito! Embora alguns estudos digam que, em doses baixas ou moderadas, o café provoca um estimulo nas células lactato, um elemento essencial para a espermatogénese acontecer, não há nenhuma evidência cientifica que comprove isso. Pelo contrário, as evidencias mostram um resultado negativo do excesso da cafeína principalmente na fertilidade feminina. 4 - O uso do DIU pode gerar algum problema relacionado à fertilidade? Sim! A inserção do Dispositivo Intra uterino - DIU quando não realizada de maneira correta e pelo profissional habilitado, pode facilitar a entrada de bactérias no trato reprodutivo superior promovendo infecção nas trompas. A sequela destas infecções pode resultar em obstrução tubária com consequente infertilidade. “O procedimento para colocar o DIU deve ser feito por um ginecologista capacitado, e o acompanhamento deve ser constante”, alerta Cláudia Navarro. 5 - A obesidade pode levar à infertilidade? Sim! O excesso de peso pode provocar alterações hormonais que irão culminar com a anovulação crônica, que é a ausência de ovulação com consequente infertilidade. Além disto, aquelas pacientes que conseguem engravidar e que se encontram acima do peso, apresentam um maior índice de aborto e de complicações na gravidez. Segundo a médica, manter hábitos saudáveis de vida favorece o organismo como um todo, não somente a parte reprodutora. 6 - Mulheres que se submetem à quimioterapia podem ficar estéreis? Verdade! A quimioterapia pode provocar uma diminuição nas células germinativas tanto na mulher (óvulos) como no homem (espermatozoides), o que pode resultar em infertilidade. Hoje, com os altos índices de sobrevida no tratamento do câncer, tem se preocupado muito com a qualidade de vida dos sobreviventes E a manutenção da fertilidade destas pessoas já pode ser programada através do congelamento prévio dos gametas. “A técnica de congelamento de óvulos ou de sêmen é indicada para aqueles pacientes que irão se submeter ao tratamento contra o câncer, antes do início deste tratamento, para que possam considerar uma gravidez futura”, lembra a ginecologista. 7 - Mulheres que recorrem à fertilização in vitro terão gestação múltipla? Não. Com o avanço da tecnologia, a reprodução assistida tem ganhado cada vez mais precisão em seus resultados. “A técnica tem possibilitado formas eficientes para reduzir ao máximo a taxa de gemelaridade nas gestações”, afirma Cláudia Navarro. Sobre Cláudia Navarro Cláudia Navarro é ginecologista, especialista em reprodução assistida. A médica é diretora clínica da Life Search. Graduada em medicina pela UFMG em 1988, Cláudia titulou-se mestre e doutora em medicina (obstetrícia e ginecologia) pela instituição federal. Atua na área de ginecologia e obstetrícia, com ênfase em reprodução humana, trabalhando principalmente os seguintes temas: infertilidade, reprodução assistida, endocrinologia ginecológica, doação e congelamento de gametas.

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Ansiedade está presente em 50% das mulheres com endometriose, segundo pesquisa brasileira

De acordo com recente pesquisa feita pelo ginecologista Dr. Edvaldo Cavalcante, em parceria com o Grupo de Apoio às Portadoras de Endometriose e Infertilidade (GAPENDI), 50% das mais de 3 mil mulheres que responderam ao estudo foram diagnosticadas com o transtorno da ansiedade generalizada. Outras 34% receberam o diagnóstico de depressão e 50% de estresse. A pesquisa corroborou dados de vários estudos internacionais feitos ao longo dos anos, que mostraram que a endometriose pode levar ao desenvolvimento de transtornos psiquiátricos, como ansiedade e depressão, por exemplo. Segundo Dr. Edvaldo, a cronicidade da endometriose é o principal fator de risco para os transtornos mentais, juntamente com a dor pélvica crônica e a infertilidade. “Uma doença crônica, como a endometriose requer diversos cuidados com a saúde e causa preocupações que podem elevar o nível do estresse. A tensão já começa na busca pelo diagnóstico, que pode levar em média oito anos aqui no Brasil, de acordo com nossa pesquisa, sendo a média mundial sete anos. Passar por vários médicos pode ser desgastante, principalmente quando as queixas são desvalorizadas e há dificuldade em confirmar as suspeitas”, diz o médico. Impacto do diagnóstico Um momento que é de grande importância é o do diagnóstico, pois pode aumentar o estresse e a ansiedade. “Ao receber a notícia, a mulher se dá conta que tem uma doença incurável, que pode afetar diversos aspectos da sua vida, como o trabalho, os estudos, a vida social, o relacionamento e, para algumas, o sonho de ser mãe, por exemplo”, comenta a coordenadora do Gapendi, Marília Gabriela. “A notícia deve ser dada com muito zelo por parte do médico e é interessante que a mulher seja aconselhada a procurar ajuda psicoterápica para lidar com o impacto inicial do diagnóstico”, comenta Dr. Edvaldo. Entretanto, isso não é uma realidade no Brasil. A pesquisa mostrou que apenas 24% das entrevistadas foram orientadas a procurar um psicólogo/terapia e só 13% seguiram a recomendação. Lidando positivamente com a endometriose Os estudos também mostram que não são todas as mulheres com endometriose que irão desenvolver transtornos psiquiátricos por conta da doença. Existem fatores protetores e fatores de risco envolvidos na ansiedade e na depressão. "Há mulheres com histórico familiar destas doenças ou que já tinham o diagnóstico anteriormente ao da endometriose. Mulheres com histórico prévio de baixa autoestima e problemas com a imagem corporal também podem ter um risco maior quando o assunto é ansiedade”, comenta Dr. Edvaldo. Por outro lado, mulheres sem histórico familiar ou pessoal de ansiedade ou de depressão e que têm uma boa autoestima, assim como aquelas com relacionamentos afetivos estáveis podem estar mais protegidas, segundo os estudos. As pesquisas sugerem que, nestes casos, há maior facilidade em ressignificar o diagnóstico e reorganizar a vida para conviver com a doença. Dor é o principal fator de risco De todos os achados sobre o impacto da endometriose na saúde mental, o mais importante, segundo os estudos, é a gravidade da dor pélvica crônica. “Segundo a nossa pesquisa, 91% das brasileiras com endometriose sentem dor em algum momento, sendo que 34% delas sofrem durante 15 dias no mês, entre a ovulação e a menstruação. Certamente, conviver com a dor de forma crônica é o aspecto mais difícil de lidar na endometriose”, comenta Marília. Estratégias e recursos Veja agora algumas dicas que podem prevenir quadros de ansiedade e depressão, assim como podem ajudar a gerenciar o estresse e a lidar melhor com a endometriose: Procure ajuda: O aconselhamento de um terapeuta/psicólogo é fundamental no momento do diagnóstico e depois também. Cuide da alimentação: Há estudos que mostram que a alimentação ajuda muito no tratamento e no controle da dor. Procure um nutricionista para ajudar neste quesito. Pratique atividade física: Além de ajudar a controlar o peso, que pode aumentar por conta do tratamento da endometriose, a atividade física libera substâncias que levam ao prazer e ao bem-estar, diminuem o estresse e ajudam a controlar a ansiedade. Controle a dor: Converse com seu médico. O principal objetivo do tratamento é controlar a dor e isso é possível, seja por meio de cirurgia ou de medicamentos. Gerencie o estresse: encontre uma atividade que você goste de fazer, tenha momentos de lazer, pratique meditação ou qualquer hobby que ajude você a controlar a ansiedade o estresse. Compartilhe sua história: Compartilhar sentimentos, angústias, história pessoal ou dúvidas com outras mulheres que têm endometriose pode ser muito bom. Além do Gapendi, há vários outros grupos espalhados pelo Brasil.

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Tombos amorosos e o poder da amizade

*Por Beatriz Braga Há dez anos, em uma aula de francês, aprendi que a tradução para “se apaixonar” é “tomber amoureux”, sendo “tomber” o mais próximo possível do bom e velho ‘tombar’ em português. Amar é, pois, segundo o país mais romântico do mundo, um inevitável tombo. As personagens das séries que indico aqui provavelmente concordam com os franceses. A primeira é Midge, protagonista de The Marvelous Mrs Maisel (A Maravilhosa Senhora Maisel, em português, disponível na Amazon Prime Video) e Frankie e Grace, personagens centrais da produção da Netflix cujo título leva seus nomes. Midge é uma dona de casa na Nova York de 1958. Jovem, submissa e vive para o marido e filhos. Até que sofre uma desilusão amorosa e acaba se descobrindo uma talentosa comediante. A série narra sua jornada até o palco, onde usa seu papel de esposa de forma irônica e divertida. A premiada Mrs Maisel – da mesma criadora de Gilmore Girls - é a melhor dica que você vai receber nos últimos tempos. Frankie e Grace recentemente estreou sua quarta temporada. Jane Fonda e Lily Tomlin interpretam duas septuagenárias cujos maridos se revelam um par romântico e juntas vão se reerguendo. As duas séries trazem épocas emblemáticas na vida das mulheres comuns. A primeira vive os quase trinta, quando já é “obrigatório” se ter uma vida amorosa bem resolvida. O divórcio é um fracasso para Midge. Ela vive a época retratada por Betty Friedan, num dos livros precursores do movimento feminista -  A mística feminina - no qual relata o descontentamento das mulheres brancas e classe média dos anos 1950, que se descobriam infelizes dentro dos seus casamentos. As mulheres atuais podem se conectar com as angústias de Midge, afinal, o machismo não ficou preso ao passado. Já Frankie e Grace estão na idade não permitida. Envelhecer é um pecado num mundo antirrugas. Nada é bem-vindo: surpresas, amores, sexo, prazer e independência. E aqui estão elas fazendo vibradores desenhados especialmente para idosas. O que os dois roteiros têm em comum é a reinvenção após o tombo. Somos ensinadas a esperar de um relacionamento mais do que ele pode nos dar. Dizem, quando pequenas, que somos metades incompletas, panelas destampadas a procura da tampa perfeita. O outro se torna, então, nossa completude. Deve ser algo construído nas narrativas da nossa infância, quando as mocinhas e princesas tinham no centro das suas histórias a grande ambição de encontrar um amor. Enquanto o seu par lutava, corria atrás de dragões e vencia lutas impossíveis, ela esperava o seu final feliz ser conquistado por outra pessoa. O encontro era o fim e nunca o começo. Era ali, mocinha e mocinho, com os créditos subindo na tela, que a felicidade congelada simulava eternidade. E o depois? O que acontece quando o relacionamento se desgasta, falha ou não nos faz tão feliz como sonhávamos? Nos sentimos como a metade podre da laranja, muitas vezes incapazes de nos desfazer de um caso que já não dá mais certo. Lembro da linguagem amorosa francesa ao observar a rede feminina da qual faço parte. Das mulheres ao meu redor, as mais solitárias são aquelas que estão presas em relacionamentos tão desgastados e opressores que não sentem mais o peso do tombo. Como se o relacionamento fosse um contrato social com a garantia de um futuro bom, muitas vezes as promessas de “final feliz” se transformam em estagnação. O fim da busca da felicidade, do autoconhecimento, da liberdade, da independência e o pior de todos: o fim do amor próprio. Midge, Frankie e Grace são levadas ao recomeço. O outro delicioso ponto em comum das séries é que o combustível das protagonistas está em um elemento especial: a amizade com outra mulher. Enquanto a comediante em aspiração encontra força na parceria com uma funcionária de um bar de stand up comedy, Frankie e Grace tornam-se, uma para outra, a melhor das companhias. Dois novos casamentos que jamais significam o fim. A Maravilhosa Senhora Maisel e Frankie Gracie são daquelas séries que nos fazem sutilmente um carinho no coração. Nos sentimos bem ao ver a dupla de senhoras testando vibradores, dizendo não aos filhos e se libertando das pressões de uma juventude que já passou. Assim como quando assistimos Midge se descobrindo mais talentosa e inteligente que o marido, se permitindo rir da humilhação enquanto esposa traída, arrasando no palco e incomodando os machões. Deixemos que essas histórias sejam um incentivo para nós também. Sejamos velhas. Sejamos falhas. Sejamos desquitadas se for preciso. Tenhamos relacionamentos que signifiquem sempre parte do caminho e não o destino final. Tenhamos a audácia de querer mais da vida do que os planos que fizemos no passado. Tenhamos amigas-combustíveis. Tenhamos coragem de abandonar os nossos roteiros e inventar novos começos. A qualquer idade e status social. *Beatriz Braga é jornalista e empresária

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Eu não sou um homem fácil

*Por Beatriz Braga Você é homem e acorda num dia comum. Abre o guarda-roupa, põe uma calça justa o suficiente para apertar seus sacos. Hoje não é dia de vestir shorts, pois a sua perna “não está feita”. Vai ao trabalho e sua chefe - que fala de fluxo menstrual sem tabu - ignora seu trabalho e sugere troca de favores sexuais. Você é despedido por ser histérico. Sai em um encontro e a parceira reclama da perna peluda, diz que assim não dá pra ter tesão. Tudo que seu pai fala é sobre como você anda promíscuo e o relógio biológico está alarmando. O mundo está ao contrário e só você reparou. Essa é a trama de Eu não sou um homem fácil, primeira comédia francesa da Netflix. Damien sofre um acidente e acorda em um mundo onde os corpos masculinos são hipersexualizados. Mulheres são a maioria nos cargos de liderança e exercem profissões antes consideradas dignas de testosterona, como pintoras e açougueiras. Elas assobiam nas ruas, correm de peitos livres e dizem coisas como “do que você está reclamando? de ganhar presentes e mulheres carregando pesos para você?”. O filme é uma comédia francesa que acerta no tragicômico. O homem recém acordado era um machista mulherengo. Na sociedade às avessas, só aguenta as primeiras horas. No começo, acha graça das mulheres que fixam o olhar na sua bunda. Em pouco tempo, pede pra sair. Logo ele, macho alfa das arábias, torna-se “masculista” (respectivo para feminista no filme) e cheio de “mimimi”. Mulheres, vocês conhecem algum homem que aguentaria o tranco? O cara que estava noO cara que estava notopo da pirâmide, a pica das galáxias, de uma hora para outra, se encontra nafrente do espelho testando enchimento para bunda (porque rapidamente foiatingido pela pressão de ter um corpo perfeito, durinho e preenchido). O filme apela para os estereótipos. As mulheres da trama gostam de carros, futebol, arrotam e traem. Os homens são sentimentais e dependentes. Isso, no entanto, não me incomoda, porque também é uma provocação. Afinal, o mundo nos encaixa em fôrmas pré-definidas cada vez que abrimos os olhos. Dois pontos me chamaram a atenção no roteiro. O primeiro é a linguagem não verbal dos personagens. Falamos não apenas com palavras, mas nossa postura revela muito do que somos e do que achamos que merecemos ser. No filme, ao inverter os papéis, vemos mulheres mais eretas, de braços abertos, com pernas espaçadas e olhares indicando poder. A linguagem corporal implica que elas são os seres dominantes. Ao passo que vemos homens ineditamente se encolhendo, cruzando as pernas, curvando o tronco, olhando para baixo e ocupando menos lugar no sofá. O movimento que revela opressão, timidez e insegurança. As roupas que usamos estimulam essa dicotomia. Enquanto no mundo real os homens sambam em roupas confortáveis o suficiente para fazer o que quiserem com as pernas, mulheres se equilibram em saltos, saias, shorts e sutiens apertados. Além disso, estão sempre na trincheira sobre o que é vulgar, agradável, indecente e adequado. O ato dos homens abrirem as pernas no transporte público recebeu até nome: manspreading. Eles costumeiramente se expandem. As mulheres são ensinadas a se diminuírem. Na palestra “Sua linguagem corporal pode moldar quem você é”, a psicóloga americana Amy Cuddy fala sobre como a atenção às nossas posturas podem amenizar angústias. Ela cita as mulheres como mais propensas a se encolherem corporalmente, como consequência de uma sensação de inferioridade crônica. A dica dela é quase simples: moldar a linguagem corporal a nosso favor. Fingir que nos achamos poderosas até de fato convencermos a nós mesmas que somos. Mulheres, atenção: corpos erguidos, nariz pra cima e braços abertos para dizer ao mundo que sabemos do nosso valor. O outro ponto é uma lembrança. No filme, a sociedade - que tem como verdade inquestionável que Deus é uma mulher - acredita que a natureza concedeu o poder da gravidez ao sexo forte. Mulheres grávidas não são criaturas frágeis destinadas à reclusa de uma alcova, são seres ativos da sociedade. E não são mesmo? São quem aguenta a barra de gerar um ser e parir entre as suas pernas. Estejamos atentos para desmistificar a visão enraizada; afinal são elas que fazem o mundo girar; carregando no ventre a tarefa árdua de dar luz à Terra. Não vou mentir. Dá um certo prazer ver um homem branco e chauvinista ser ridicularizado porque suas angústias são consideradas exageros; ou no momento em que ele entende que assédio não é elogio, porque sentiu na pele o incômodo; e quando percebe que o problema do sexismo está em toda parte da sua vida, sem exceção. Mas a questão não é essa. Não queremos vingança. Não queremos corpos masculinos sendo tratados como objetos para o prazer feminino. Não queremos Magic Mike. Não temos inveja do papel que o homem ocupa na sociedade, nossa meta não é chegar ali. Queremos, sim, mulheres se sentindo confortáveis ao ocupar espaços. Queremos uma lista inquestionável de quereres, mas isso só será possível no meio termo de uma comunidade que reconhece e recusa suas vantagens imparciais. O filme fala de privilégios e da emergente necessidade de questionarmos as nossas posições. A lição é muito simples de entender e difícil demais para pôr em prática neste mundo piramidal: empatia. Colocar-se no lugar do outro. É assim que chegaremos ao equilíbrio. Quando eu, branca, imaginar a perspectiva do negro na rua ou no mercado de trabalho. Quando você, homem, imaginar-se acordando em um matriarcado. Calar-se diante do próximo. É pedir muito? Fica o questionamento: quem estará disposto a abrir mão do privilégio e ser ameaçado pelo desconhecido quando a contraproposta é “apenas” um mundo mais justo? Por Beatriz Braga

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Mulheres devem ter mais atenção aos cuidados com o coração

As doenças cardiovasculares são a maior causa de morte no Brasil, sendo responsáveis por cerca de 360 mil óbitos por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). E de cada dez que acontecem em decorrência de infarto, seis são de homens e quatro de mulheres, de acordo com estudo da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Esse quadro faz com que especialistas alertem o público feminino sobre a importância de cuidar da saúde do coração. Os sintomas de um infarto na mulher costumam aparecer de forma mais discreta do que no homem, segundo o cardiologista Evandro Tinoco, do Hospital Pró-Cardíaco. Muitas vezes, não ocorrem dor no peito e formigamento no braço. “Sintomas como náusea, vômito, suor e problemas de respiração podem ser confundidos com uma crise de ansiedade ou passar despercebidos, o que faz com que a mulher demore a constatar a gravidade do caso”, alerta o médico. Os principais fatores de risco de doenças cardiovasculares nas mulheres são obesidade, sedentarismo, tabagismo, hipertensão, colesterol alto, situações frequentes de estresse (como a jornada dupla no mercado de trabalho e nas tarefas domésticas) e a menopausa, devido à mudança na produção do estrogênio, um hormônio que atua como protetor do coração. “Ações preventivas, como realizar uma avaliação clínica cardiometabólica, por exemplo, devem ocorrer ao longo da vida da mulher, sob a orientação de pediatras, clínicos gerais, ginecologistas, geriatras e cardiologistas. Se houver antecedentes familiares, recomendamos, em especial, realizar check-up a partir dos 35 ou 40 anos de idade, além de evitar os hábitos relacionados aos fatores de risco, com a busca de um estilo de vida saudável. Atualmente, no Brasil, as doenças cardiovasculares matam seis vezes mais mulheres do que o câncer de mama”, aponta Tinoco. Como diminuir os fatores de risco: Praticar atividades físicas; Manter uma alimentação rica em frutas e verduras; Controlar o colesterol; Não fumar.

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