"Hoje somos o maior produtor e exportador de mangas do Brasil"
Diretor da empresa agrícola conta que iniciou os negócios sem conhecer agronomia, num período de hiperinflação e optou por cultivar uma fruta sem tradição na região do São Francisco. Mesmo assim, teve êxito ao exportar para a Europa. Também fala dos projetos sociais nas áreas de saúde e educação e dos planos para conquistar o mercado interno. "A Agrodan tinha tudo para dar errado”, conta o diretor-geral da empresa Paulo Dantas, num misto de orgulho e satisfação por ter construído, junto com os familiares, a maior produtora e exportadora de mangas do Brasil. Mas por que a empresa não daria certo? Engenheiro elétrico, funcionário da Chesf e professor da UPE, ele nada entendia dos negócios rurais, assim como seu pai, médico reconhecido em Belém de São Francisco, e seus outros irmãos. Mas a família possuía umas terras na cidade banhada pelo Velho Chico e o professor pensou que seria interessante cultivá-las com irrigação, para obter uma renda extra. Porém, além de desconhecer agronomia, a conjuntura era desfavorável, com a hiperinflação corroendo a economia brasileira e, para agravar, além de uva e banana, Dantas decidiu plantar mangas, uma cultura sem tradição na na região, outro fator desfavorável para o êxito do empreendimento. Mas foi justamente a manga que salvou o seu projeto, por ser comercializada com altos preços no mercado europeu. Hoje a empresa familiar possui sete fazendas, que produzem 30 mil toneladas de manga por ano e apresentou o faturamento em torno de R$ 168 milhões em 2024 e este ano a expectativa é ampliar para R$ 220 milhões. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Paulo Dantas conta a história de sucesso da Agrodan e destaca como esse êxito tem sido compartilhado com os 1.400 empregados, que recebem participação nos lucros, e com a população de Belém de São Francisco, beneficiada com ações de assistência de saúde. Preocupado com o analfabetismo na região, ele também ergueu a Escola Profª Olindina Roriz Dantas, que atualmente oferece educação de qualidade do maternal ao ensino médio. E os planos não param por aí. “Estou inclinado a fazer um curso técnico agrícola de alto nível usando tecnologias, ofertando um grande laboratório para aprender a cultivar”, arquiteta o ex-professor. Como surgiu a Agrodan? A Agrodan é uma empresa familiar que, em 2025, completa 38 anos, fundada por mim juntamente com meus pais e irmãos. Meu pai, Álvaro Dantas, tinha uma fazenda que havia comprado da herança dos cunhados, mas não realizava nenhum cultivo. Em 1987, eu estava como engenheiro da Chesf e dei a ideia aos meus irmãos de usar as terras plantando algo para ter um rendimento extra. Não sabíamos nem o que plantar. Nenhum de nós era da área agrícola. Meu pai era médico, meu irmão era recém-formado em engenharia mecânica, eu engenheiro elétrico, tive que aprender agronomia para ficar à frente do negócio junto com meu irmão e também outros irmãos que entraram como sócios. Conversamos com pessoas do ramo, em Petrolina, e resolvemos plantar frutas numa parte das terras. Eram 41 hectares, escolhemos 8 para uva, porque uva já era uma cultura tradicional, 14 para banana, porque, em um ano, essa fruta começa a dar retorno, e em 19 hectares, o projetista sugeriu goiaba mas eu sugeri mudar para manga. Convencemos nossos pais a colocarem os bens como garantia de um financiamento bancário e começamos esse projeto, que era desacreditado devido a ingredientes desfavoráveis. O primeiro deles era a hiperinflação brasileira, pois o financiamento que fizemos era indexado à inflação, naquela época, de 15 a 20% ao mês, e a dívida subia todos os dias. O segundo ingrediente desfavorável era a falta de conhecimento da família com agricultura. Na parte da produção, ficávamos meu irmão e eu, minha mãe ajudava muito no financeiro e meu pai ia todos os dias ao banco, para ver como estava a dívida, que subia sempre, mas ninguém tinha intimidade com agricultura. Outro fator desfavorável era que, na época, ninguém produzia manga e não havia consultores que entendessem dessa fruta para ensinar ou implementar projetos, como há muitos hoje em Petrolina. Então, a Agrodan tinha tudo para dar errado e foi sorte ter feito essa opção, porque, quando começou a produção, o preço da manga era muito alto. Os comentários sobre meu pai, na cidade, eram: “vai perder tudo, os filhos o colocaram num abismo”. Meu pai se assustava com o crescimento exponencial da dívida e chegou a dizer que só conseguiríamos pagar se a uva fosse de ouro. Não foi uva de ouro, mas foi manga com o preço de ouro (risos). Um amigo me apresentou a um japonês chamado Victor Kikuti, que já havia começado a produzir manga, nos ensinou sobre colheita e até a diferenciar os tipos, qual era a manga Tommy e a Haden. Vitor também me apresentou a um cliente dele de São Paulo. Assim, em 1990, começamos a vender manga em São Paulo com um preço altíssimo e, apesar da hiperinflação, os anos de 1990 e 1991 foram suficientes para pagar toda dívida do financiamento. Hoje, temos 1125 hectares de mangas próprias e mais 250 hectares de mangas de parceiros. Temos sete fazendas, essa primeira que é a principal, duas na Bahia e quatro nas ilhas que pertencem a Belém de São Francisco. Hoje nós somos os maiores exportadores do Brasil, principalmente para a Europa, que é nosso mercado principal. E o grande desafio é conquistar o mercado interno e gerar muitos empregos. Assim, queremos continuar crescendo na Europa, mas crescer mais no mercado interno, vendendo aqui as variedades novas que vêm surgindo. Começamos com Tommy e Haden. A manga Haden já se erradicou, ainda temos a Tommy e temos ainda a Kent e a Keitt, são mangas quase sem fibra, sem aquele fiapo. A que se deve o crescimento da Agrodan no mercado europeu e quais os desafios desse mercado atualmente? A Agrodan é forte no mercado da Europa. Nosso faturamento de 2024 foi 97% de exportação e apenas 3% de mercado interno. Por isso, um grande desafio é abrir
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